Caro Miguel:
Aqui ficam algumas notas a propósito do que escreveste ultimamente neste tópico.
A morte natural de uma enorme percentagem de (pré-)embriões constitui um problema muito importante do ponto de vista teológico. A meu ver, este problema, juntamente com a possibilidade de gemelação (para além de outros casos «bizarros» como a «fusão») são importantes objecções com as quais a visão «maximalista» da Igreja sobre o estatuto do embrião humano, «conferindo-lhe» (ou, segundo outros, reconhecendo-lhe) um estatuto antropológico «similar» ao de um nascido. Creio que colocas o problema correctamente: como se explica então que uma tão grande percentagem da humanidade se destine a uma existência tão efémera? Não creio que alguém tenha uma resposta.
Contudo, isto não significa nada definitivo nem probatório. Se fosse probatório, o problema deixaria de existir. Permanecem enormes interrogações, que vale a pena ir colocando uma e outra vez.
Daqui sugeres, no entanto, uma conclusão que não me parece legítima. Escreves:
«partindo do princípio da CP e do Camilo acerca do 14º dia, os tantos e tantos embriões que não `nidam', ainda não chegaram até ao 14º dia na sua larga maioria? Sendo assim, a própria natureza não provoca um genocídio diário e geral?»
Ora bem: «genocídio» é uma noção do foro ético. A natureza não provoca genocídios, nem homicídios…
[Já agora: o significado de «genocídio» não significa simplesmente a morte de muita gente, mas para aqui este matiz não é relevante.]
Esta nota é importante para a «aproximação» à natureza, o argumento que tanto invoca o CA (pontosvista) e que eu contesto. Não é legítimo tal argumento. É, pelo contrário, muito perigoso.
No que diz respeito à pílula do dia seguinte, há a dizer várias coisas. Neste momento, ocorre-me o seguinte:
a) A esmagadora maioria da comunidade médica assegura que a pílula do dia seguinte é um «contraceptivo de emergência» que (a) pode impedir a fecundação (dado que este é um processo não imediato ao coito, mas podendo tardar até umas dezenas de horas) ou então (b) impede a nidação do óvulo fecundado. Como a comunidade médica tende a usar «Interrupção voluntária de gravidez» em vez de «aborto» e considera que só há gravidez quando se dá a nidação, então facilmente se inclui a pílula do dia seguinte entre os contraceptivos, mesmo que este seja algo «especial» e não totalmente isento de riscos.
b) A diferença terminológica não é inocente. Nos «links» que deixei antes aparece essa problemática a propósito do termo «pré-embrião». No caso do «IVG» vs. «aborto» a Igreja usa o termo «aborto» em sentido abrangente. Todo o processo que interrompa voluntariamente uma vida iniciada e não nascida é considerado um aborto (aborta-se um processo iniciado que em condições normais levaria ao nascimento de uma criança). Basta ver os textos da
Pontifícia Academia Para a Vida para notar a diferença.
c) A Academia Para a Vida, constituída por médicos, cientistas, bioéticos e teólogos,
declarou publicamente que a pílula do dia seguinte não é outra coisa que um aborto químico e que não se pode fazer qualquer distinção de valor humano entre um óvulo fecundado e outro indivíduo humano. Não se usa a palavra «pessoa», mas sim «indivíduo humano». Uma notícia sobre dita declaração pode ser encontrada
aqui, em espanhol (está mais ou menos a meio, no meio de outras notícias).
d) Em tempos
discutiu-se neste fórum este tema, com alguma «efusividade»...
Alef
Editado 1 vezes. Última edição em 07/06/2006 12:56 por Alef.