Um homem foi assassinado por um grupo de 14 (CATORZE!) adolescente que frequentavam uma IPSS Católica. [
dn.sapo.pt]
Não se tratou de um homicídio acidental, ou fruto de um momento de desvario. Não. Este grupo espancou e torturou um homem durante dois ou três dias e depois deixaram-no agonizar durante 48 horas. As torturas incluíram sevícia sexual. [
jn.sapo.pt] Depois, voltaram ao local do crime para tentarem deliberadamente esconder o cadáver.
A violência deste comportamento parece ter deixado em estado de choque alguns opinion makers e o mainstream.
Outros, mais sabedores destas questões, fizeram alguma reflexões sobre as novas formas de criminalidade infantil ( sim infantil), de uma violência atroz, onde as vítimas têm como único ponto em comum serem sós, doentes ou terem uma especial vulnerabilidade que as torna um alvo fácil da brutalidade alheia. As questões psico-sociológicas ligadas à problemática da adolescência e aos comportamentos de "bando"também forma esgrimidas…
Outros elementos foram entretanto colocados no puzzle para tentar compreender este comportamento – as crianças agressoras eram problemáticas, oriundas de famílias disfuncionais ou violentas e alguns deles tinham antecedentes de comportamentos delinquentes.
Mas nada disto explica totalmente o homicídio com estas características específicas – em que o alvo da violência foi escolhido por causa dos seus comportamentos homossexuais.
Para além de ser um sem abrigo, um Toxicodependente, a vítima era um trans-sexual : uma mulher num corpo de homem, e doente, que se prostituía para sobreviver.
Foi aliás esta condição específica que motivou a violência inaudita das crianças e sobretudo as sevícias sexuais que foram perpetradas.
E este homicídio aponta para um contexto social muito específico que larva na sociedade portuguesa nos últimos tempos.
Surge num período balizado simbolicamente pelo caso Casa Pia, e por um rasto de homofobia latente e cada vez mais violenta na sociedade portuguesa, que a questão da pretensão dos homossexuais ao casamento civil veio agudizar.
È certo que, " O que está em causa são os mecanismos da exclusão, e esses não são apenas a homossexualidade, mas também a miséria, a droga, a marginalidade, de onde vieram criminosos e a vítima"…in www.abruptoblogspot.com…
E que o facto de existirem pessoas como nós a viverem em Portugal, em situações da exclusão mais extrema e mais absurda, deveria confrontar-nos com a nossa responsabilidade colectiva.
Sim, já sei que os habituais irão produzir o discurso estéril de que"só é pobre quem quer, só é excluído quem quer, só se prostitui quem, quer, etc, etc , etc…" numa desresponsabilização fácil e egoísta. Quem trabalha no terreno, mais próximo da realidade e das pessoas sabe bem que este é o caminho mais fácil, ( em termos de respostas e co-responsabilidado pelos que vivem ao nosso lado) mas não é o caminho mais humano e, sobretudo, o mais cristão.
È que, o contrário do que afirma P.P., ( e muitos outros) a condição específica da homossexualidade da vítima tem aqui um relevo especial.
Foi especificamente pela sua condição e pelo seu comportamento ligado à sexualidade que esta pessoa de 45 anos foi torturada e morta. As sevícias sexuais que lhe foram provocadas têm as suas raízes numa grosseira e brutal homofobia. SE não fosses trans-sexual, esta pessoa não seria morta e, sobretudo, não seria morta desta maneira.
E aqui surge um outro nível da nossa de responsabilização colectiva.
Os discursos que pretendem identificar a homossexualidade ou os transtornos de género com a pedofilia têm sido sibilinamente propalados de forma continuada em certos meios e no discurso do senso comum (incluindo aqui no Fórum), embora seja uma falsidade. As generalizações e o incentivo ao ódio face aos homossexuais – considerados todos com potenciais agressores de menores, foi plenamente assimilado por este grupo de adolescentes. (Aliás, tal facto constituiria, nas palavras de um dos padres responsáveis da instituição, uma explicação plausível para o seu comportamento)
Ora esta dimensão é especialmente grave e tem surgido com alguma insistência ( e uma grande dose de demagogia) em alguns sectores católicos.
POR último, um outro nível de responsabilização colectiva que interpela especialmente especialmente os que se dizem católicos. O facto destes adolescentes estarem numa instituição de acolhimento católica deve questionar-nos se estas instituições têm de facto condições e capacidades técnicas para responder às necessidades específicas aos problemas e às dificuldades comportamentais destas crianças. Depois, que tipo de orientação, de acompanhamento, de apoio psicoterapêutico, que tipo de educação, que projecto de vida e que valores é que são transmitidos ou propostos dentro de instituições deste tipo???" www.muralidades.blogspot.com
"*Podem estabelecer-se, teórica e academicamente, infindáveis diferenças entre homofobia e transfobia. Mas, "no fim do dia", a transfobia pertence à homofobia, como dispositivo mais vasto e abrangente de estigmatização, preconceito e violência sobre orientações sexuais e identificações de género que não correspondam ao padrão heterossexista. Seja através do machismo de rua puro e duro, seja através das "subtilezas" da educação católica integrista, a masculinidade da rapaziada constroi-se sobretudo através de duas negações: a da feminilidade e a da homossexualidade. Imaginem o que isto não faz quando nas suas cabeças se pensa a figura da transexual."Miguel Vale de Almeida www.ostemposquecorrem.blogspot.com