Pois é, parece que estes «Maussenhores» andam a fazer a vida dos católicos um bocado mais difícil. :-P
Dado que isto tem sido bastante badalado e noticiado em
vários meios, aqui fica um brevíssimo resumo, feito de «links», que permitirão corrigir alguma incorrecção da minha redacção. A coisa é mais ou menos
assim: um canal de televisão (La7) prepara um programa («Exit») onde pretende tratar (pôr a nu) o problema da homossexualidade entre o clero. Através dos canais de «chat» «especializados» entram em contacto com três clérigos que confessam ser homossexuais, e, se bem me lembro, todos «activos». O terceiro é um importante Monsenhor da Cúria Romana, da Congregação Para o Clero. O programa usou uma câmara oculta, onde se notam alguns «avanços» do clérigo, além de algumas «confissões» relativamente ao reiterado desrespeito da promessa de celibato. O programa mostra um
vídeo com a imagem desfocada e a voz distorcida, mas há pessoas no Vaticano que reconhecem o espaço, móveis e identificam o «protagonista»: Monsenhor Tommaso Stenico. A Santa Sé
anuncia a sua suspensão imediata. O «acusado», em
carta e em
entrevista confirma ser o protagonista do vídeo, dando uma
justificação que ninguém parece levar a sério.
Há aqui vários problemas muito sérios.
Por um lado, está a atitude doutrinária da Igreja «institucional» face à homossexualidade. O Magistério da Igreja não tem aceitado de modo nenhum a licitude moral de qualquer relação homossexual, pelo que um elemento da Cúria Romana conotado com tal prática torna-se impensável.
Em segundo lugar, está o problema do celibato e, em terceiro lugar, a sua visibilidade pública. O problema não está simplesmente no ser homossexual – ainda que recentemente o Vaticano tenha dado instruções para que não se aceitem como seminaristas pessoas com tendências homossexuais – enquanto orientação sexual não desejada, mas no assumir viver numa atitude de deliberada violação do celibato (embora isto pudesse de alguma maneira ser matizado). Pior, o problema está em tornar-se público. A Igreja institucional considera isto um escândalo para o resto da Igreja, pelo que as medidas disciplinares são sempre «a direito».
Num quadro como este não há propriamente surpresa neste caso. Sempre que algo parecido se passe (o assumir público da homossexualidade activa), o desfecho será parecido: suspensão das funções sacerdotais. O mesmo se diga de alguém que assuma, contra a promessa de celibato, uma vida heterossexual activa.
Mas há algumas considerações inevitáveis. Indicarei uma das menos invocadas. A mim faz-me pensar muito seriamente no significado da existência deste «infra-mundo» da clandestinidade e de uma certa perversão, com questões morais que não quero particularizar no fulano A ou B. O que leva à existência disto e como se justifica isto? Trata-se apenas de uma justificação natural contra uma injustiça imposta por uma doutrina? Trata-se de imaturidade, a de não ser capaz de assumir uma vida de forma transparente? A imaturidade de não ser capaz de respeitar os compromissos próprios? Há nisto algo de perversidade humana que não compreendo muito bem.
As outras habituais considerações já foram invocadas pelas anteriores intervenções: a hipocrisia, a hipocrisia e a hipocrisia.
O que me parece é que isto é um convite muito sério a purificar a fé. Quase ia a dizer que acredito não «por causa» do clero, mas «apesar de» algum clero. Mas apontar o dedo é muito fácil e muito pouco humanizador. Cada vez hoje se torna evidente que, ao contrário do que dizem certos «iluminados», crer e manter a fé, é um acto de coragem, assumir que não somos perfeitos e que não nos podemos escorar na mera pertença ao grupo dos «perfeitos». Acho que nunca pensámos muito a sério que todo o grupo dos Doze começou mal, traindo o Mestre.
«Quem de vós estiver sem pecados…»
Alef