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Re: "Uma cultura de Vida"
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 15 de October de 2005 12:08

Ah.... Mentiras inconscientes... OK, está explicado.

( Já agora, em nenhum momento o insultei, limitei-me a afirmar que as coisas que

escreveu são mentiras, nomeadamente, que o aborto melhora a condição física

das mulheres.)

Ainda bem que o admite.

Penso que um bom ponto de partida para as pessoas conversarem é utilizarem

argumentos verdadeiros e não "discursos de pacotilha".




Re: "Uma cultura de Vida"
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 15 de October de 2005 12:15

Releia o que escreveu e verá que me tem insultado de forma quase sitematica.

Quanto a discursos de pacortilha, é a sua opinião, não saberei fazer melhor. Procuro a verdade e confio mais na opinião de especialista que numa sabe tudo que manifestamente não sabe nada.

Re: "Uma cultura de Vida"
Escrito por: Joaquim José Galvao (IP registado)
Data: 15 de October de 2005 18:49

Pessoal com calma e moderação centralizemo-nos no tema...

A cultura da vida, como qualquer outra forma de cultura, implica o discernimento e a aceitação de valores e princípios, senão não é cultura mas apenas uma análise e uma especulação temática sem identidade própria.

A cultura da vida é já hoje um valor, é a confirmação do primeiro e do mais fundamental dos direitos humanos, é a afirmação do direito à vida. A ela se associam as ciências da vida, os princípios da medicina, os deveres sociais para a dignidade da vida, tudo o que dá qualidade, liberdade e dignidade à vida.

A cultura da vida começa e acaba nas formas e nos modelos de os humanos viverem os seus quotidianos, com base no valor da pessoa e da comunidade de seres humanos, nas mais diversas formas de vida pessoal e social, da qual a mais importante é sem duvida a família, fonte e origem da própria vida.

Começos por ser dignos da nossa cultura e da nossa vivência civilizacional, pessoal e social e, melhor que nunca, compreenderemos a importância da verdadeira e ampla cultura da vida humana.



Re: "Uma cultura de Vida"
Escrito por: Miguel D (IP registado)
Data: 15 de October de 2005 20:44

Eu não quero originar mais polémicas, nem tomar partidos... Já observei que as posições por aqui estão divididas...

A única questão que gostaria de colocar é a seguinte:

Portugal é um país laico, ou seja, não professa nenhuma confissão religiosa a nível institucional. É isto que a nossa constituição afirma. A minha pergunta é a seguinte: podemos nós cristãos, católicos, condicionar a moral de um estado laico...? Temos esse direito...? Nem toda a gente em Portugal é católica, nem todos são contra o aborto. Independentemente de ser ou não legal ao nível cívil a realização do aborto, a sua liberalização não obriga os católicos a fazerem-nos... Ou os católicos só não o fazem porque é crime? não o deveriam fazer porque é pecado, independentemente de ser crime ou não...

Por isso, relembro a minha questão: Temos o direito de influenciar as leis civis de um estado laico...?

E relembro também outros temas que foram despenalizados pelo estado e não o foram pela Igreja: o divorcio e o adultério... Contudo, enquanto cristão, e católico, eu observo estas leis, independentemente da sua despenalização no código cívil.

(frizo que em nenhuma parte deste texto tomo alguma posição face à lei do aborto. Nem favoravel nem contraria. Simplesmente coloco aqui uma pergunta de nível institucional. Noutro momento, com mais tempo, poderei falar sobre a minha posição face ao aborto.)

Miguel Dias

Re: "Uma cultura de Vida"
Escrito por: (IP registado)
Data: 15 de October de 2005 21:22

Caro Miguel, acho que nunca poderemos influenciar as leis civis em questões meramente morais. Porém, aqui trata-se de um conflito de direitos: o direito a escolher o momento de ter um filho contra o direito do ser ainda não nascido a sobreviver. Por isso, eu responderia com um "sim" à tua pergunta. Não é o mesmo que questões como o divórcio ou o adultério, em que não há um conflito de direitos assim tão acentuado.

Re: "Uma cultura de Vida"
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 16 de October de 2005 01:18

Caro Miguel:

Às tuas questões urge acrescentar outras (a ler pausadamente!), que exigem reflexão acurada e resposta necessariamente comprometida:

[li]Podemos prescindir da justificação/reflexão ética na vida humana?

[li]Será o Estado e as suas leis o referente último no que diz respeito à licitude ética ou moral de uma determinada prática? [Esta reflexão deve ir bem longe, até tocar as questões da fundamentação filosófica (!) da autoridade do Estado e seu alcance legítimo…]

[li]Os cristãos, sejam eles católicos ou outros, têm diante do Estado um estatuto diferente dos outros? Se os outros lutam por institucionalizar os valores em que acreditam (incluindo aqueles que colidem contra os princípios cristãos), não são os cristãos membros da mesma pólis? Deverão abster-se, por serem cristãos?

[li]Devem os católicos estar fora do «jogo democrático», onde entram elementos tão importantes como a liberdade de expressão, a persuasão, a manifestação, o empenhamento público por uma causa?

[li]Que o Estado seja laico significa que a dimensão religiosa deve ser relegada para o nível do privado? Não será essa já uma posição vincadamente orientadora ou até coerciva em matéria de religião? E não será essa já uma visão muito particular de Estado? Que limites são legítimos no que diz respeito à liberdade religiosa?

[li]Será a Ética uma questão «subjectiva», que me diz respeito apenas a mim e eventualmente aos «meus»? Se eu vir uma acção que considero injusta devo calar-me? Devem os cristãos calar-se diante de uma injustiça, qualquer que ela seja? Não é a justiça um verdadeiro imperativo para os cristãos? A luta pela justiça não implica sempre algum tempo de oposição e até perseguição, muitas vezes sob a capa da «defesa da legalidade»?

[li]Que relação há entre Ética e Direito? É o legal sinónimo de justo? Se não forem sinónimos e estiverem em conflito o legal e o justo, onde recai a prioridade? Como se situam aqui as questões tão importantes como o aborto ou a eutanásia? São questões meramente morais ou religiosas? Porquê?

Evidentemente, a lista de questões está incompleta...

Alef

Re: "Uma cultura de Vida"
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 16 de October de 2005 12:33

A grande questão é esta:


"Será a Ética uma questão «subjectiva», que me diz respeito apenas a mim e eventualmente aos «meus»?"

Ou seja, devo apenas tentar defender os valores privados do meu grupinho ( religioso, futebolístico, político, social) e fazer impor esses velores , que na minha perspectiva são os únicos válidos, a toda a comunidade???

E isso vale apenas para os "cristãos" ou vale também pra a os muçulmanos?

è legítimo que os MUçulmanos façam Lobbies para que a prática religiosa da mutilação genital feminina seja aceite e implementada pelo Estado laico???


Re: "Uma cultura de Vida"
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 16 de October de 2005 18:44

Cara catolicapraticante:

Claro que essa é uma questão importante, mas não é «A» questão, porque ela é derivada. Em Ética é sempre necessário abordar prioritariamente a questão dos fundamentos, sob o risco de ficarmos pelo mero coleccionismo de «casos». O desdobramento que fazes da questão deveria passar, por exemplo, por uma reflexão sobre a realidade dos valores. Que são os valores? Como «aparecem»? São meras criações culturais ou limitamo-nos a reconhecer a sua força objectiva? Podem ser critério de universalidade? Cada uma destas questões abre muitas outras...

[Por exemplo, se os valores são meras criações culturais, não é possível contestar as sistemáticas violações dos direitos humanos em certas culturas; podemos ser acusados de imposição cultural...]

É claro que uma reflexão sobre os fundamentos é mais árdua e aparentemente menos «concreta», mas o seu contrário, o mero «disparar» de «casos», construídos com pressupostos não discutidos, nada mais consegue que a confusão, alimenta o relativismo, eventualmente anestesia a consciência moral com «justificações ad hoc»...

De qualquer forma -- e voltando ao início --, parece-me que da lista que apresentei nenhuma questão deve ser ignorada.

* * *


Indo ao concreto da discussão sobre o aborto -- e comecemos pela reflexão ética e só depois passemos a outros âmbitos! --, a discussão tem que começar pela fundamentação ética de um acto abortivo e não pela casuística do foro penal. Pretender uma reflexão ética sobre o aborto pela questão do referendo ou pelos «casos complicados» é viciar a questão desde o início.

Então, é necessária a resposta directa a esta questão (espero, catolicapraticante, que respondas, com princípio, meio e fim e atendas à literalidade da pergunta):

[li]
Quais os fundamentos antropológicos e éticos para que um acto abortivo seja bom?


Bom», do ponto de vista moral, já se vê. Afinal, todos estamos de acordo que devemos fazer o bem e evitar o mal.]

Alef

Re: "Uma cultura de Vida"
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 16 de October de 2005 20:55



Em primeiro lugar há delimitar os termos em que se colocam certas perguntas e esclarecer o que é um "acto abortivo".

Aborto - significa interromper uma gravidez. A gravidez inicia-se com a implantação de um embrião no útero. Logo, quando se fala em "procedimento abortivo" ou "acto abortivo" exclui-se desde logo outras situações / procedimentos destinados e evitar a que uma gravidez ocorra. ( métodos contraceptivos de barreira, pílula anticoncepcional, , DIU, contracepção de emergência, etc.etc, )


Respondendo á pergunta do Alef:


Não hà nenhum fundamento antropológico ou ético que defenda que um acto abortivo (ou seja, o acto voluntário de provocar a interrupção de uma gravidez) seja, em simesmo, um acto bom.

È sempre um acto moralmente errado.

Como o acto de roubar, por exemplo.

No entanto, há determinadas circunstãncias me que as pessoas que realizam um

determinado acto que morlmente pode ter um juízo negativo , não são merecedoras

de especial censura
, , porque realizam essa opção em siuações tais que outro

comportamento não lhe sseria exigível, ou porque, desse ACTO RESULTA UM MAL MENOR.

Por exemplo, roubar é moralmente errado.

Mas se alguém, em estado de absoluta necessidade roubar para sobreviver á fome ou para impedir que alguém morra á fome, esse gesto negativo é moralmente aceitável, e não merece censura.

.

Re: "Uma cultura de Vida"
Escrito por: Miguel D (IP registado)
Data: 16 de October de 2005 22:29

Caro Alef

concordo contigo. Pois essa foi a minha intenção... Tendo enconta as posições extremadas sobre o tópico do aborto, pensei que era melhor deixarmo-nos de argumentos fundamentalistas e discutirmos este problema de um ponto de vista ético, social, moral e cívil.

Porque o que se tem passado aqui está a passar-se tambem na sociedade cívil. Estão a extremar-se posições. Temos um lado cristão e um lado, que não me encontro qualificado para qualificar, mas que direi "arreligioso" - pró-aborto. E sabes qual é o meu principal receio, Alef...? É que no fundo tudo isto seja reduzido a uma guerra de lobbies e que no fim ganhe o lobby mais forte... Isto originará uma maior divisão social e uma maior desinformação da população.

Eu gostava de poder pedir a ambos os lados da questão que discutissem este assunto racionalmente, e que trocassem os argumentos agressivos por uma discussão saudável e também ela ética e moralmente boa.

Quando coloquei a minha questão não tinha em mente uma resposta... Porque a resposta que eu gostaria de poder dar é utopica... Uma sociedade livre de lobbies!! Nessa sociedade eu não tinha o direito de influenciar as leis de um Estado justo. Claro, que sei, que isto é uma utopia... e bem grande!!

Devo dizer-te Alef que sou partidário de uma separação efectiva e total entre Estado e religião. Acho que ambos têm o seu papel, mas sempre em campos diferentes. E tambem acho que uma moral cívil não tem de ser igual à moral religiosa. Concordo com uma separação entre o mundo terreno e o mundo espiritual. Mas claro, isto é a minha opinião. Não devemos criar duas sociedades, como é obvio... Eu vivo na sociedade cívil, mas sigo as leis morais da minha religião. Esta é a minha opção de vida.

As tuas perguntas são na sua totalidade muito pertinentes. Exigem uma enorme ponderação e reflecção... Prometo tentar responde-las, mas so depois de bem reflectir sobre elas.

Um grande abraço para todos

Miguel Dias

Re: "Uma cultura de Vida"
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 16 de October de 2005 22:52

Miguel D, as leis não nascem por geração espontanea, alguem as faz.
O que é a justiça depende do ponto de vista de quem faz as leis.
Se alguem perde o direito a opinar, logo a influenciar, as leis passa a ser um cidadão menorizado nessa sociedade. Esse modo de agir só existe em estados totalitarios. Num estado democratico aonde todos são essencialmente iguais todos podem e diria que até devem influenciar as leis. Devem sim tentar libertar essa influencia dos meros interesses egoistas individuais procurando a justiça (sendo esta subjectiva), o bem como e outros direitos fundamentais, tais como o direito à vida.

Não me aborrece que considerem que tenho sobre este assunto uma posição extremada. Tenho-a, tal como tenho uma oposição extremada contra a escravatura, a pedofilia, o roubo por ganancia e outras situações que colidem contra os mais basicos direitos do homem. Nestes assuntos não aprecio possições mornas, meias-tintas.

Isto embora perantes casos concretos possam ser considerados atenuantes mais ou menos relevantes. Por exemplo, uma mulher mata o marido.

É um homicidio. Mas podem existir atenuantes mais ou menos relevantes. A mulher podia ser alvo de maus tratos sistematicos. No entanto não é por isso que o homicidio é legalizado. A lei penaliza-o mas dá margem aos juizes para ponderarem os atenuantes.
No caso de roubo por necessidade, o juiz pode não só absolver o ladrão como penalizar alguem que tenha recusado socorro a alguem em extrema necessidade. Mas o roubo não deixa de ser criminalizado por existirem casos pontuais em que tal acto seja permissivel.

Peço desculpa ao Alef mas não tenho a preparação filosofica para reflectir sobre estes assuntos num absoluto abstrato sem fazer uma balização com casos concretos, aliás reconhecendo que a expressividade e clareza da minha escrita não é propriamente a ideal penso que estas balizações ajudam a tornar mais compreensivel o essencial das ideias que pretendo transmitir.

Re: "Uma cultura de Vida"
Escrito por: Miguel D (IP registado)
Data: 16 de October de 2005 23:25

Camilo, as leis não nascem de geração espontanea como tu dizes. Eles advêm de uma reflecção ética e moral. A priori existe na lei uma penalização do mal, sendo que a lei cria a difença entre bem e mal, entre correcto e errado.

O que me custa na actual sociedade é por vezes uma certa confusão moral e ética. Se reparares, um bom exemplo disso são os Estados Unidos da América. A maior parte dos estados que condena criminalmente o aborto aplica a pena de morte. Isto eu não consigo compreender. Como se pode defender a vida de um feto e não a vida de um adulto...? Uma pessoa condenada judicialmente não tem direito a uma segunda hipotese...? Ainda bem que vivemos num estado que não usa a pena de morte. Eu acho que nos EUA, nesses estados, é um sistema hipócrita. Porque todas as vidas têm valor e nunca se deve desvalorizar uma vida.

Agora permite-me que discurde de ti. Eu não concordo que qualquer cidadão possa influenciar o codigo de leis, seja ele civil ou religioso.

Gostava de te colocar uma questão. Tu concordas que em democracia todos os cidadãos têm o direito de influenciar as leis. Mas referias-te às leis civis. A igreja também tem leis que saõ do foro humano, terreno, civil. Concordas que tambem podemos influenciar essas leis ou que essas devem ser redigidas e aprovadas só pela Igreja, materializada no Vaticano...?

Um abraço a todos

MIguel Dias

Re: "Uma cultura de Vida"
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 17 de October de 2005 01:12

Cara catolicapraticante:

Agradeço-te a resposta à minha questão anterior e registo a tua posição:
Citação:
Não hà nenhum fundamento antropológico ou ético que defenda que um acto abortivo (ou seja, o acto voluntário de provocar a interrupção de uma gravidez) seja, em si mesmo, um acto bom.
È sempre um acto moralmente errado.
[Por enquanto, não coloco reservas quanto à tua «delimitação» do que consideras um acto abortivo.]

Entretanto, abres caminho para uma «extensão» da tua posição: o aborto (provocado) será sempre um acto moralmente errado, mas não necessariamente sempre censurável da mesma forma. Estabeleces então um paralelo com o caso do roubar, sempre moralmente errado mas não especialmente censurável, por exemplo, «para sobreviver á fome ou para impedir que alguém morra á fome».

Embora não queira que nos percamos em pormenores, chamo, no entanto, a atenção para o facto de que este pretendido paralelo não é totalmente legítimo. Quando muito poderá haver uma «analogia» ou uma comparação parcial. A razão é a seguinte: se alguém se apodera de comida que não lhe pertence «para sobreviver á fome ou para impedir que alguém morra á fome», este acto NÃO é eticamente censurável. É uma questão de justiça moral, é um direito que lhe assiste, mesmo que um tribunal o condene a uma pena de prisão. Do ponto de vista ético, o direito à vida sobrepõe-se ao da propriedade privada de outrem. Mais uma vez se vê que nem sempre o nível moral é devidamente sancionado pelo legal.

Ora, mesmo nos chamados casos mais difíceis do aborto (mas não vamos entrar por eles na reflexão ética sobre o aborto) não se dá nunca tal paralelo em termos de direitos ou valores.


Em todo o caso, o importante desta mensagem está no registo que faço da tua resposta à minha questão.

Ouso agora colocar uma nova questão (prolongamento da anterior), cuja resposta te agradeço com antecipação. Cá vai ela:

[li]
Por que razão um acto abortivo «é sempre um acto moralmente errado»?


Alef

Re: "Uma cultura de Vida"
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 17 de October de 2005 01:21

O Camilo escreveu:

"Mas o roubo não deixa de ser criminalizado por existirem casos pontuais em que tal acto seja permissível. "

Exactamente.

Pode-se fazer uam analogia com o aborto...

Na legislação penal portuguesa a interrupção voluntária da gravidez é um crime,

mas há casos específicos em que o aborto não é penalizado com pena de prisão,

porque há causas concretas que excluem a ilicitude do acto ou a culpa de quem o

pratica.

Ou seja, um acto, moralmente negativo pode não implicar um juízo de censura ou

uma punição penal.
, precisamente devido a critérios éticos fundamentais

subjacentes á lei penal.

A mesma coisa em relação ao aborto.

Face à lei portuguesa, o aborto é um crime, mas há circunstãncias específicas em

que quem o pratica não pode ser alvo de censura moral ou jurídica, e por isso

mesmo, não fica sujeito a sanções penais.

Na actual lei penal, como já foi aqui referido, estão estabelecidas várias causas em que

o aborto é lícito e não implica sanções penais. ( po exemplo, garvidez resultante d e

violação, malformações fetais, grave riscos para a vida ou saude da mulher)

Isso não faz com que o aborto seja um "bem jurídico" ou deixe de ser um crime ou

seja "moralmente bom".

Os pressupostos introduzidos pelo Alef que aqui se discutem a propósito do referendo

são descabidos porque:

1) Não há nenhum projecto legal para descriminalizar o aborto

2) ou para defender que o aborto é "moralmente bom".


Pelo contrário, o que se pretende é manter o aborto como crime, mas, para além

das situações já previstas na lei, e com um limite temporal muito restrito abolir a

pena de prisão até três anos
para mulheres que interrompem a gravidez até às 10

semanas em instituições de saúde.

Re: "Uma cultura de Vida"
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 17 de October de 2005 01:40

Respondendo à pergunta do Alef:

( E desde já quero dizer que os meus conhecimentos de filosofia são restritos pelo que a

minha argumentação pode conter erros. Trata-se de uma reflexão pessoal de acordo

com o meu sistema de valores, a minha mundivivência concreta e a minha formação

profissional).



Por que razão um acto abortivo «é sempre um acto moralmente errado»?

1) È sempre algo negativo porque vai impedir que uma vida humana em

potencial possa concretizar o seu processo biológico de desenvolvimento e dar origem a

uma [i]Pessoa
.


a) Embora, em algumas situações em que temos a certeza de que o processo

desenvolvimental iniciado com a nidação nunca poderá originar um ser humano

viável, isto é uma Pessoa ( por exemplo, malformações fetais incompatíveis com a

vida, não me pareça que o aborto nessas circunstãncias seja um acto moralmente

errado, pelo contrário.

b)Para responder á tua "pergunta generalista" , para mim é especialmente importante o

timing ou o tempo de gestação em que o acto abortivo se realiza.

Ou seja, não é a mesma coisa um aborto às cinco semanas ou um aborto ás 18 semanas.


Por ùltimo, acho muito estranho que o Alef não queira basear a sua reflexão ética

"nos chamados casos mais difíceis do aborto (mas não vamos entrar por eles na reflexão ética sobre o aborto) ".

Embora compreenda a sua dificuldade.





Re: "Uma cultura de Vida"
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 17 de October de 2005 01:42

Cara catolicapraticante:

Dizes:
Citação:
Os pressupostos introduzidos pelo Alef que aqui se discutem a propósito do referendo são descabidos porque:
1) Não há nenhum projecto legal para descriminalizar o aborto
2) ou para defender que o aborto é "moralmente bom".
Ora bem:

[li]Todos os meus pressupostos (mesmo que não saiba muito bem aqueles a que te referes) NÃO se discutem a propósito do referendo, mas da reflexão ética sobre um acto abortivo, mesmo que a discussão tenha sido suscitada pela proximidade de um referendo (são coisas diferentes); fui muito claro em estabelecer o âmbito em que me coloco; antes de se poder discutir a questão concreta do referendo, é preciso passar por este nível da reflexão ética, ao qual se segue ainda um outro; não se podem queimar etapas;

[li]Nunca entrei nas discussões específicas sobre o referendo; sempre disse que não se podem passar por cima as questões dos fundamentos;

[li]As questões que coloquei têm todo o enquadramento possível no âmbito em que as coloquei: a reflexão ética. É neste âmbito que mais falta a reflexão, pelo que se justifica o esforço, especialmente num fórum como este.

Alef

Re: "Uma cultura de Vida"
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 17 de October de 2005 01:59

Cara catolicapraticante:

Mais tarde darei o meu «feedback» mais detalhado à tua mensagem de resposta à minha questão. Aproveito este pouco tempo que me resta para responder imediatamente à última parte da tua mensagem que diz o seguinte:
Citação:
Por ùltimo, acho muito estranho que o Alef não queira basear a sua reflexão ética "nos chamados casos mais difíceis do aborto (mas não vamos entrar por eles na reflexão ética sobre o aborto) ".
Embora compreenda a sua dificuldade.
A razão é bastante simples: a reflexão ética pretende ser também normativa, pois lida com «princípios», valores, ajuíza, etc. Ora, qualquer reflexão deste género tem que começar por aquilo que é de alguma forma «universalizável» e só depois se verá aquilo que poderão ser os «casos difíceis» ou eventuais «excepções». Uma pretensa reflexão que não conseguisse ir para lá dos casos concretos seria apenas uma amálgama de «casos» particulares. De resto, o simples facto de que já chamamos a certas situações «casos especiais» ou «mais difíceis» faz «adivinhar» uma «regra» de que estes poderão ser excepção ou precisamente casos «especiais»...
Mas a excepção não impugna a regra, nem se começa da excepção...

Bastaria pensar no exemplo da Gramática para ver algo semelhante. No fundo, a Ética é também uma espécie de «Gramática Judicativa dos Actos Humanos».

Alef

Re: "Uma cultura de Vida"
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 17 de October de 2005 02:22

Alef:

Continuo sem compreender bem o porquê de uma " reflexão ética sobre um ( ou

o ???) acto abortivo" quando tem existido neste Forum o mais amplo consenso

relativamente à valoração moral deste tipo de actos.


Ou seja, não há qualquer divergência entre os intervenientes neste Forum

quanto á valoração negativa dos actos abortivos - isto é, procedimentso

voluntários destinados a interromper uma gravidez .

ESte consenso está também presente na sociedade portuguesa e nos valores

ético -jurídicos dominantes na nossa comunidade
, valores esses que se encontram

reflectidos, em grande parte, na actual lei penal.

As àreas em que existe alguma divergência dizem precisamente respeito áquelas

situações me que existem dilemas éticos que implicam abordagens diferenciadas e

ponderação de valores, por vezes conflituantes.

Ou seja, precisamente naqueles temas que tu chamas "os chamados casos mais

difíceis do aborto ", precisamente os temas que não queres ver discutidos e

analisados do ponto de vista da reflexão ética.


Desculpa-me a franqueza, mas a tua atitude parece-me paradoxal, embora eu a

interprete como uma atitude defensiva que resulta da dificuldade extrema em

manter uma coerência argumentativa inflexível relativamente a questões tão complexas.


O único tema que tem sido verdadeiramente fracturante neste Forum e (embora

minoritariamente) na sociedade portuguesa, tem a ver com as respostas do sistema

jurídico penal face à realidade do aborto, nomeadamente a questão de saber se as

mulheres devem ser condenadas a penas de prisão efectiva quando realizam a

aborto antes das 10 semanas.

Re: "Uma cultura de Vida"
Escrito por: Miguel D (IP registado)
Data: 17 de October de 2005 02:41

pelo que já li por aqui, existem situações em que é moralmente aceitavel roubar e condições especiais em que um aborto é moralmente e juridicamente um acto bom.

A minha pergunta é: quando é que moralmente e eticamente um aborto é mau? e pode-se fazer a distinção entre aborto bom e aborto mau...? (entre roubo bom e roubo mau...?)

E já agora reparem... aquilo a que voces chamam «condições especias» que eticamente permitem a pratica abortiva, pode abrir precedentes dentro da praxis etica para uma maior generalização... Contudo, cada caso é um caso, à luz de uma analise ética... e no entanto, quer o movimento pró-vida, quer o pró-aborto tentam generalizar os argumentos...

Alef e Catolica praticante, eticamente o aborto será sempre um circulo fechado, acabando a discussão por tornar-se num discurso retórico... porque cada caso é e será sempre um caso distinto, movido por acções e actos diversos.

Um abraço para todos

Miguel Dias

Re: "Uma cultura de Vida"
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 17 de October de 2005 03:00

Miguel:

Desculpa, mas não compreendeste bem.

Não existem "condições especiais em que um aborto é moralmente e juridicamente um acto bom. "

O que existem é situações concretas em que o aborto, embora seja um acto moralmente

negativo em si mesmo, quem o pratica não pode ser alvo de censura

moral ou jurídica
, ( precisamente devido a um juízo ético) e por isso mesmo, essa

mulhernão fica sujeita a sanções penais.


Por exemplo, utilizemos como analogia um outro crime - o crime de homicídio, ou seja a

morte ( intencional) de uma pessoa.

Matar intencionalmente uma pessoa é sempre um acto moralmente negativo.

Mas, se matares em legítima defesa , porque foste agredido e essa foi a única

forma
de salvares a tua vida, esse acto, embora moralmente negativo, não é

especialmente censurável
, nem é sancionável penalmente.

Ou seja, não há homicídios bons, mas há situações que a prática de homicídio não

origina uma especial censura a quem o realiza ; há situações específicas em que

matar um outro ser humano é compreensível e não seria exigível à pessoa ter agir de

outra forma, atendendo às circunstãncias que determinaram a sua atitude.





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