A minha forma de estar na politica
Como se anda a falar muito de cristãos na política, porque o tópico anda por aqui, e porque o descrédito na política e nos políticos é crescente, aproveito o momento para “sair do armário” e partilhar convosco as minhas experiências nestas áreas.
Espero que estejam com paciência para ler. Porque ao invés de tecer considerações teóricas sobre ética na política, vou partilhar convosco o que sou, o que sinto e o que faço. Espero, que respeitem e compreendam a forma, de como passarei a explanar algumas coisas tão importantes na minha vida cristã e politica, onde se incluem pessoas que muito estimo.
Como já tive oportunidade de vos dizer a minha educação é de matriz católica e julgo ter herdado do meu avô paterno a noção de responsabilidade e participação cívicas. Pois, para mim, estar na política é uma forma activa, participativa, responsável e crítica de estar em sociedade civil.
Vou começar este texto com algumas memórias, para que compreendam o meu percurso pessoal, na vida politica e cívica, o qual ocorreu de forma muito natural.
Lembro-me de quando era miúda, deveria ter uns 7ou 8 anos, ia por vezes, a chorar para a cama, porque via frequentemente, no telejornal, histórias de fome violentíssima na Etiópia e guerras na terra de Jesus. Como é que tal poderia acontecer?! Então os meus pais, na sua infinita paciência, procuravam explicar-me de uma forma racional e carinhosa os processos políticos por de trás de tantas desgraças. Mas como sempre fui uma rapariga muito teimosa, não me contentava com as suas explicações e antes de dormir, rezava, pedindo a Deus que organizasse o mundo, de maneira a que essas “coisas” acabassem de vez. Claro que a meio das minhas orações já estava num diálogo empolgante, com o meu Senhor, em que lhe dava algumas dicas, de como Ele, devia ajudar os homens a acabar com as guerras e a fome. Posso dar-lhes alguns exemplo muito simples:
___Por exemplo, para acabar com a fome, Deus só teria de ajudar os cientistas a evoluírem as suas tecnologias, para que estes pudessem transformar a água do mar em água potável, que depois seria transportada por grandes aviões cisternas, que pulverizavam as áreas mais secas. A água fazia com que crescessem ervas e as árvores davam frutos (assim as vacas magras poderiam comer e ficando melhor alimentadas poderiam dar leite, enquanto que os frutos e legumes os homens poderiam colhe-los facilmente). Com a regularidade das chuvas forçadas, e com os homens cada vez mais fortes e melhor alimentados, então poderiam, gradualmente, começar a agricultar a terra e então recomeçar a sua economia. (claro que para isto, Deus teria de contar com a ajuda dos países mais ricos, como os Estados Unidos, que iriam colocar os seus esforços, na construção de enormes tanques e fábricas para tirar o sal da água do mar)
___Para a acabar com a guerra, Deus teria que escolher, e dar ordens sérias, a uns quantos políticos que tivessem formação Cristã (esta era, no meu sistema de intenções, uma forma de garantir a confiança nos homens). Assim, esses chefes dos Estados, reunir-se-iam, numa assembleia mundial, onde assinariam um acordo de paz. E claro, todos, seriam obrigados a cumpri-lo. Colocou-se-me a questão dos países não Cristãos, como Israel e a Palestina,...mas se Deus coloca-se nesses governos pessoas com boa formação, que fossem fraternas, caridosas e humildes, e com a preciosa ajuda do Papa, então era possível haver paz no mundo. Eventualmente se Ele precisasse de ajuda, para governar essa organização mundial, eu estaria disponível, pois na minha pessoa Ele podia confiar, porque Lhe seria sempre fiel.
(A imaginação das crianças é fértil e extraordinária...eu própria fico surpreendida!)
Bem, entretanto cresci e continuei a rezar para que Deus fizesse alguma coisa. Quando Cheguei ao 8º ano de escolaridade, descobri que Deus já tinha pensado nessas coisas todas e que já havia a ONU (foi então que descobri a sua história e fundamentos). E pronto, como Deus já não precisava de mim, porque afinal a grande assembleia mundial já existia, certamente as pessoas que a governavam eram as escolhidas por Deus e eu estava fora dessa corrida. Confesso-vos que foi a minha 1ª desilusão profissional! Achei então que deveria tirar o curso de história, dar aulas e explicar aos jovens a história da humanidade e a importância de sermos fraternos, humanos, e porque é que as guerras existem. No entanto, quando chegou a altura de decidir pelo curso universitário, achei que a vida de professor era muito complicada e optei por uma coisa diferente, Relações Internacionais, uma espécie de dois em um (tinha história e possibilitava-me interagir com o mundo actual).
Quando cheguei à faculdade deparei-me com uma cadeira extraordinária que se chama “Direito Internacional Público” e descobri que Deus andava perdido, ou então me tinha enganado, porque a final não só tinha cometido a asneira de criar a ONU, como ainda por cima a organização não funcionava, pois não há coercibilidade que funcione quando todos querem manter a sua soberania. Eis uma questão inultrapassável! (sinceramente acho que já não tenho imaginação suficiente que resolva esta questão. Hoje, acho que se resume a uma questão de Fé e que um dia os homens serão irmãos).
Entretanto, a minha aprendizagem foi extraordinária. Aprendi coisas muito importantes que definiram e poliram o meu carácter, a saber:
___Nas aulas de história de Ideias politicas, com o Prof. Sousa Lara, que nos obrigava a ler “De principatibus” ou “o Principie”, do qual se faziam frequências sobre a história de Lucrécia Bórgia e seus amantes, descobri que 1º- a politica é amoral, 2º- os estados são egoístas (tal como os homens), 3º- que o sistema é conflituoso e anárquico (tal como muitas vezes os homens, quando perdem a coerência e verticalidade).
___Nas aulas de Teoria das RI, com o Prof. Vasco Rato, aprendi a arte da retórica, novas ideias, novas formas e modelos de organização e descobri a tecnocracia.
___Nas aulas de História Politica e Diplomática com o Prof. João Castro Fernandes, homem de Fé e práticas cristãs contagiantes, aprendi que, se a politica é amoral, eu sujeito não o sou. Tenho uma história, uma formação e se acredito em Cristo, então devo honrar o que sou e colocar ao Seu serviço a minha pessoa, fazendo os possíveis para tornar a politica mais humana, mais correcta, mais fraterna e mais transparente. Eis a minha 1ª grande luz, afinal havia alguém que concordava comigo...e então as memórias de infância voltaram, e voltei a acreditar que talvez fosse possível fazer politica, sendo cristão.
Pelo caminho fiz parte, durante 2 anos, da Associação de Acção Social da Universidade Lusíada (AASUL) pela qual participei em actividades de acção social na Área Metropolitana de Lisboa e em dois projectos de missão ad gentis em Cabo Verde. Nos projectos de missão, recebi muito mais do que dei e aprendi a partilhar corações, reaprendi que a caridade, a humildade, e a abnegação, começam em casa, junto daqueles que estão ao nosso lado, no nosso trabalho ou na nossa rua.
Entretanto descobri a arte da Diplomacia. Ou melhor não a descobri e eis a 2ª grande desilusão profissional...deveria andar mesmo enganada relativamente ás minhas opções.
De regresso à terra natal, Faro, iniciei um 2º curso, em Gestão de Recursos Humanos, no ISMAT de Portimão. Envolvi-me na Associação Académica, onde cumpri 2 mandatos, participei activamente no movimento associativo nacional e internacional (ENDA’s e FNESPC e FAIRe, estando ainda ligada a este último, [
faire.no.sapo.pt]).
Em resultado dos 2 mandatos na AA, convidaram-me para mandatária da juventude, de uma lista candidata às eleições autárquicas de 2001. Não pertencendo, na altura, a nenhum partido político, por considerar que a politica local e o associativismo universitário não se devem misturar, aceitei o convite, pois na altura, já estava de saída da Associação Académica. Mas porque gosto de me envolver verdadeiramente nos projectos onde estou inserida, passado pouco tempo convidaram-me para reactivar a juventude partidária em causa, o que fiz primeiro através de uma comissão da juventude e depois como presidente de secção, da dita juventude partidária.
Passado uns anos, já sem idade para continuar na “jotinha”, passei para o grupo do partido e fiz, por duas vezes parte da Comissão Politica de Secção. Não há dúvida, Deus tem os seus segredos!!!!!
Como poderia querer mudar o mundo, sem me mudar a mim primeiro? Como poderia querer acabar com a fome no mundo, quando ela grassa na minha rua? Como poderia querer acabar com a hipocrisia no mundo quando ela existe na minha cidade?.....
Digo-vos amigos, “fazer política” local pode ser tão extraordinário como mudar o mundo. E o mundo da política é tão vasto! E há tantas coisas para fazer, tantas injustiças cometidas, mas que nós muitas vezes não vemos, porque estamos demasiado cegos e virados para nós mesmos, para coisas importantes do nosso dia-a-dia. Cada um de nós, faz parte do mundo, e podemos começar por ai. Podemos mudar o mundo, começando por nós.
Nas últimas eleições legislativas fui directora de campanha em Portimão, cidade onde actualmente resido, e a operacional de 1ª linha na direcção de campanha do barlavento algarvio. Cabe a partir deste momento falar-vos de um grupo de pessoas em geral e de um homem em particular. João Amado, 45 anos, médico, casado, 2 filhos e candidato à Câmara Municipal.
A Comissão Politica à qual pertenço está, na oposição ao poder instituído, há 30 anos, e tem nos últimos 3 anos, procurado inverter o envelhecimento da CPS e a sua falta de quadros. Esta inversão tem sido possível graças à sensibilidade de equilibrar as novas gerações com as gerações dos senhores de cabelos brancos. No entanto o que melhor caracteriza a postura desta comissão politica é: a verticalidade, a incorruptibilidade, e a assertividade, de tal forma, que todos aqueles que não se identificaram com esta postura, acabaram por pedir demissão ou simplesmente foram-se gradualmente afastando, da Comissão Política, não do partido!
O Candidato que a CPS apoia, recebeu dos seus pais uma educação católica. Apesar de não ser assíduo às missas dominicais, apresenta no seu dia-a-dia, práticas bem mais cristãs, do que muitos cristãos, que vão todos os domingos à missa, bater com a mão no peito e comungar. João Amado, vive de acordo com a noção, de que, “o mais importante são as pessoas”. É candidato à CM por 3 motivos: responsabilidade, prazer e ambição. A responsabilidade de contribuir para a alternância de poder que a Democracia pressupõe, pois à àqueles que tem intervenção politica, pede-se mais do que a crítica fácil ou acção inconsequente, exige-se que dê o seu melhor na defesa dos valores em que acredita. O prazer de fazer politica, pois não acredita nos políticos que baseiam os seus discursos no sacrifício pessoal, que parecem estar sempre a fazer um enorme favor aos outros. Está convicto de que pode prestar um bom serviço à cidade, de forma séria e responsável mas com o prazer de quem gosta de poder influenciar positivamente a vida daqueles que nos rodeiam. E por fim a ambição, não a mesquinha ambição pessoal dos “penachos” ou da auto-promoção, mas a ambição de poder contribuir de forma decisiva para a mudança que é indispensável para o desenvolvimento de Portimão.
João Amado, tem como principais características a força de carácter, a verticalidade, uma noção muito real da sua consciência e dos seus limites, e gosta principalmente, de dormir com a consciência tranquila. A conquista da CMP, é muito difícil, mas para quem já chegou até aqui, recusando tachos, poleiros e dinheiro, já conquistou muitos corações. Recusar estas tentações nos dias de hoje, não é fácil. Imaginem como pode um pai explicar ao seu filho, que deixou as suas convicções de lado em troca de dinheiro? Ou como pode um sujeito dormir descansado, sabendo que traiu a educação que os seus pais lhe transmitiram? Ou o indivíduo rege-se por princípios muito rígidos, ou então cede facilmente. Por tudo isto, considero-me muito privilegiada, por ter encontrado gente correcta, honesta, séria, com valores e princípios iguais aos meus, e que lutam, tal como eu, por um mundo melhor.
Por ter tido, uma proposta de trabalho, no jornal Região Sul, [
www.regiao-sul.pt], o qual tem cerca de 55.000 visitas por mês, na sua página on-line, na sexta-feira, dia 3 de Junho, pedi suspensão de funções da Comissão Politica de Secção, de forma a tornar inquestionável a minha idoneidade profissional. Mas a surpresa das surpresas vem a seguir. Não sei se o meu novo patrão é católico ou não, o que sei é que gere um jornal em 2 versões (on-line e papel), que procura ser imparcial, não anda atrás de patrocínios nem publicidades, apenas defende os interesses culturais, políticos e económicos da região com rectidão, justiça e imparcialidade. Isto parece impossível, mas é verdade. Por isso, apesar de muito me custar, o afastamento de minha família politica, sinto-me muito privilegiada, por conhecer gente séria, trabalhadora e sendo cristãos ou não, são capazes de fazer a diferença e de com o seu exemplo dar o contributo para um mundo melhor.
Infelizmente, todos nós vemos demasiados telejornais e compramos demasiados jornais, os quais, a maioria deles, não prima pela imparcialidade, antes pelo contrário, manipulam a opinião pública, ao invés de servir e formar consciências, e potenciar a massa critica. Por isso, só temos informação sobre corrupções, trapalhices, negócios estranhos, quando há por este país fora, tantos episódios e gentes para louvar.
Contei-vos todas estas coisas, para vos dizer, que compreendo a importância de haver cristãos na política, mas o mais importante é que haja respeito pelos valores, princípios e regras. Há falta de cristãos na política, mas quando dizemos isto, é importante dizer também, que nos referimos a verdadeiros cristãos, daqueles que têm Cristo no seu coração e que vêm o seu semelhante com respeito reverencial. Pois afinal, em cada um de nós há uma centelha de Cristo e para reconhecer isto não é preciso ir à missa, ou à Igreja, é preciso simplesmente, seguir Cristo, ser igual a Ele, e isto na prática significa simplesmente saber AMAR.