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Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 15 de June de 2004 09:58

Caro João,

Chovendo no molhado, direi que

1- Eu não consigo aferir com certeza se alguém é católico ou não, porque não sei o que pensa e qual a sua relação com Deus. Penso que nenhuma pessoa o consegue. Conseguia Cristo, segundo os Evangelhos, ler no íntimo da pessoa. Eu não consigo, se tu consegues, lá saberás.

Não há nenhum "desejo de indefinição", mas não me tomo por Deus, para saber da relação de um meu semelhante para com Ele. E penso que só no íntimo de cada um é possível conhecer quem pratica ou não o que Cristo ensinou.

2- "o caso que referes não está errado e é um preconceito teu (uma ideia mal feita que tens)"
não sei qual o preconceito:
que não existe um "medidor de catolicismo" porque o catolicismo não é mensurável?;
ou que o Catecismo não pode ser "medidor" de coisa alguma porque estava errado no exemplo que dei?

Quanto à questão do Catecismo, Escritura e Tradição só posso repetir o que já disse: respondes com o Catecismo como se ele fosse argumento final, o que não é. E o catecismo não é infalível: já te dei uma prova disso.

3- A anterior formulação do catecismo no que se refere à pena de morte estava errada e era aberrante.

Foi corrigida na actual versão, para a versão e entendimento mais moderado que eu dei no tópico e mensagens que referiste.

Essa correcção foi devida à desadequação que tinha e, naturalmente à pressão da Igreja, nomeadamente das Conferências episcopais, das quais destaco a Alemã e a dos EUA.

E foi a isso que me referi nessas mensagens.

Era aí nítido o contraste entre o valor absoluto da vida numa parte e a permissão para matar explícita nessa parte. Um valor absoluto não contempla excepções.

Mas agora passo a referir uma outra questão:
mesmo na actual formulação mais "moderada" da pena de morte, não há aqui uma contradição?
não estaremos a tornar relativo o direito à vida?

Uma boa questão para o Abelardo (ainda não te cumprimentei, Abelardo, e confesso que gostei muito da tua última mensagem deste tópico): a vida humana é para os Católicos um valor absoluto ou um valor relativo? Permitir a pena de morte, mesmo em termos muito mitigados como é o caso não será tornar relativo esse valor?

Esta questão é também para todos os outros, naturalmente!

4 - Em suma, tenho sérias dúvidas sobre considerar aceitável a possibilidade da pena de morte, mesmo na versão mitigada do catecismo. Acho mais adequada a situação portuguesa que já a baniu. Em meu entender a posição portuguesa, decorrente da nossa inculturação do Cristianismo, bem como do peso de uma Igreja colocada no seu tempo e dentro do seu Povo é bem mais correcta.

O Catecismo, tal como a Igreja, deve estar sempre em remodelação. Ecclesia semper reformanda (ou uma expressão em latim correcto com este significado :o))
Assim deve ser com o Catecismo.

5 - A Igreja Portuguesa é um símbolo daquela que considero a Igreja mais próxima dos ensinamentos de Cristo para os homens do nosso tempo.

São precisamente homens como os nossos bispos - aqueles que criticas, por exemplo - que permitem que a Igreja Portuguesa seja uma referência no nosso mundo.

E os padres, com ou sem cabeção, que apesar de um excessivo centralismo do Vaticano - não é heresia, que o Ratzinger já o reconheceu - continuam a exercer a sua actividade pastoral, com dificuldades acrescidas por diversas formulações também do Catecismo.

Porque a Igreja de hoje não prega ao vento, nem está de costas voltadas para o Povo, mas pratica aquilo que Cristo ensinou: toda a questão moral de hoje não encontra tanto as respostas nas leis dos homens, mas sim numa Pastoral da Caridade.

(João, escrevi ao correr das teclas, se sentires que te critico não leves a mal, mas na linha do que disse o Abelardo, aceitemos as nossas diferenças e usemo-las para nos esclarecermos mutuamente)



João (JMA)

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: rmcf (IP registado)
Data: 15 de June de 2004 11:00

Obrigado pelas palavras, Abelardo... Estamos em sintonia...

Abraço

Miguel

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 15 de June de 2004 12:41

rmcf,

Bom, ao comentares, dás conta de várias incongruências. Manifestas também que não me conheces e afirmas coisas sobre mim de forma precipitada. Aconselho-te a perguntares se será assim que sou ou não, antes de o dizeres (e disseste muita coisa de seguida).

Quem discorda abertamente do que a Igreja ensina, universalmente, não é fiel a Jesus Cristo. Partilha algumas ideias, tem cócegas no coração, reconhece um pouco a grandeza de Cristo, professa a "fraternidade universal" e a "solidariedade". Por vezes, há pessoas honestamente católicas, que têm dificuldades com as questões morais. Como em tudo, as pessoas podem ser muito boas e estarem muito erradas num ou noutro ponto. Mas qualquer pessoa que discorde abertamente de algo como a contracepção, não levou a sua fidelidade a Jesus Cristo até às últimas consequências e, para chegar a pensar dessa forma, está a beber noutras fontes. Se há alguns que "sentem" que não estão a ser "penalizados" (??) na sua "condição" (???) de católicos, isso é prova da sua ignorância e falta de devoção, ou vais dizer que não? Parece-me que seja mesmo assim.

1) Talvez aches Jesus Cristo um arrogante. Talvez o "temperes" com condescendências e faças misturas. A única coisa que digo é que não estou a ser arrogante, mas a dar testemunho daquilo que é, de facto, a doutrina católica. A questão concreta da contracepção está amplamente explanada e discutida, em boas fontes, e o que me dizes é que o ignoras. Afinal, referes-te apenas aos meus argumentos. Não são nem em primeiro lugar nem principalmente meus; são apenas uma pequena e limitada amostra do que a Igreja ensina. Fazes uma comparação indevida com a "alteração" (em quê?) da posição da Igreja em relação ao Modernismo. Nunca disse que o Magistério não fosse vivo, não me deves ter lido com atenção, ou simplesmente não entendeste bem o que disse. Digo é que a doutrina sobre a contracepção, assim como a ordenação de mulheres, entre outras, é definitiva.

Quando falo em "doutrina universal" não digo que seja "universalmente aceite". Acho que não percebeste a diferença. Este tópico tem razão precisamente por causa da desgraça que é a situação actual da maioria dos católicos faltarem abertamente à castidade e/ou de usarem segundo a sua "consciência" contraceptivos, estirilizações, abortos, fecundação artificial, etc.

A tua é uma má esperança, digo-o com abertura e caridade. O que esperas que mude, afinal? Esperas condescendência, "compreensão", omissão da verdade em favor do conforto pessoal? Não é essa a missão da Igreja... E talvez seja melhor conheceres em pormenor estes aspectos da doutrina da Igreja, especialmente a Teologia do Corpo e seus desenvolvimentos e aplicações. Não estou a dizer que eu a conheço bem; estou a dizer que, essencialmente, essa esperança que dizes ter não se realizará nem está realmente baseada na razão da verdadeira esperança: Jesus Cristo.

2) Não sei que ideia é tua... O objectivo da vida humana é que sejamos perfeitos à semelhança com Deus. Isso de dizeres que um cristão não tem que ser isto nem aquilo é falso. Os cristãos têm que ser "algo". Têm que ser como Cristo. A medida da salvação não é a daqueles que se "sentem" perto de Cristo e continuam a duvidar, sem procurar decididamente as verdadeiras respostas, mas é daqueles que realizam a vontade de Deus, que implica, também, encontrar essas respostas e ser fiel. Ser cristão é ser fiel a Jesus Cristo, ser obediente, dócil ao Espírito Santo, confiar na misericórdia de Deus Pai... A Igreja, na sua hierarquia -- hás-de dizer-me onde é que encaro a Igreja só como o Vaticano; não o faço, mas aponto quem, na Igreja, tem a autoridade -- não aponta caminhos "mais ou menos", procura apontar a plenitude da vida cristã. Que muitos fiquem aquém disso? Sim, com certeza, sempre foi assim. A questão mais problemática de hoje é a falta de humildade dos que dizem que "não tem que ser assim" e que "a Igreja vai mudar, porque ninguém faz isso", etc.

3) Acho que nos faz bem encarar o reverso da arrogância que apontamos. No teu caso, que tal pensares se não será arrogante não dar ouvidos ao Magistério nem procurar com boa vontade descobrir e aceitar tudo o que nos é proposto -- e é proposto porque é para ser aceite --, com docilidade e inteligência? Eu não vejo que esteja a ser "arrogante" nem a faltar à compreensão. Não podemos é confundir a compreensão com a omissão de dizer a verdade.

Eu não suponho que "os outros" fora da Igreja sejam necessariamente pervertidos. Estou a dizer é que aqueles que não vivem fielmente segundo os preceitos da Igreja, sejam católicos ou não (há muitos católicos infiéis), acabam por ser perversos em diversas coisas e isso tem um impacto social grave. Sempre fui bastante aberto quanto a assuntos culturais que envolvem a Igreja, especialmente verificando a enormidade dos preconceitos que sobre ela se têm. Daí que acho fundamental a educação sobre assuntos da Igreja. E a principal educação é a experiência pessoal de Jesus Cristo, íntima, fundamentada e transformadora! Sem isso, não se percebe o que é a Igreja e nos seus pormenores teremos sempre algo a acusar e a querer "mudar" -- porque não estamos sintonizados com a sua fonte e seu centro.

4) Tu és um irreverente e pretendes justificar-te?! "Não me apetece, sou filho do meu tempo"?? Então não és filho de Deus? Então, ao entrar na Igreja, ao tornares-te católico -- continuamente! --, não ganhaste a estatura e a idade de um homem com uma experiência e uma sabedoria de 2000 anos, como diz Chesterton? Preferes ficar preso nas malhas da parcialidade do "teu próprio tempo"? «Apenas a Igreja Católica pode salvar os homens da escravidão destruidora e rebaixante de ser filho da sua época.» (Chesterton) Acabas de demonstrar o fundamento da tua recusa da autoridade: és filho da tua época, recusando seres filho da Igreja, nossa Mãe e Mestra! Não há "desculpas" que te valham, porque não há autoridade mais libertadora que a da Igreja, nem a da tua própria "consciência". Talvez tenha sido Jesus Cristo o primeiro "clericalista" quando nos chamou de "ovelhas", não? E quando falou em "pastores"? Ou é a tua idolatria do livre-pensamento que não te permite analizar bem as coisas? Ou tens má relação com os Padres com carisma de "mestres" que foste conhecendo? Abramos os olhos, olhemos para o Santo Padre João Paulo II como a mais clara evidência do nosso tempo para esclarecer essas coisas!!

5) Além de teres uma ideia exageradamente reformista, como se a Igreja ainda não tivesse percebido que os católicos precisam de respostas e formação, e não os impele a encontrá-las -- e que OUTRAS respostas queres tu senão aquelas que conduzem à fidelidade?? será que dizes tudo isto só porque achas que a Igreja não tem razão?? --, estás a fazer uma dicotomia que é bastante criticável, e admira-me que ainda não o tenhas percebido. A separação entre a cultura, razão e a fé, não tem de se verificar. Não é por seres obediente que tens de fazer com que a tua razão "ceda" em acreditares e praticares aquilo que não compreendes. Até porque há muito na fé que é Mistério e não se compreende racionalmente (apenas razoavelmente). Quanto aos assuntos morais, pretendes "racionalizá-los". Ora, há que praticar, pela fé, a virtude de realizar não só aquilo que faz sentido, mas dando sentido ao que é necessário que façamos, pela fidelidade.

A ideia fundamental é que tudo na tua vida tem de ter o seu centro em Cristo. Acho que as questões fundamentais em todas estas dúvidas tem que ver com falta de boa catequese. E o ponto central que falhou na catequização de muitos (bem, depreendo pelo que dizes, que "catequização" te soe mal), é esta radicalidade no nosso crescimento em tudo para Cristo. Isso é que falta. E por isso é que muitos não se podem, verdadeiramente, dizer cristãos, senão na medida em que Jesus é realmente o centro das suas vidas, e isso ainda não só como eles pensam que seja, mas avaliando-o com a revelação que Ele mesmo fez e se ensina na Igreja.



...«Se permanecerdes fiéis à minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres.» ~ Jo 8,31-32

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 15 de June de 2004 13:36

Alef,

Mais uma vez, as confusões.

Eu aceito que o Magistério é algo vivo. Eu o disse claramente neste fórum.

Por outro lado, o desenvolvimento da doutrina cristã não implica que seja "filha do seu tempo" (??)! É comum apontarem-se certos "erros" e "mudanças" na Igreja, umas vezes para demonstrar que as coisas podem mudar (assuntos tipicamente liberais, desmoralizadores), ou para procurar demonstrar que a infalibilidade não existe (criticando a veracidade da doutrina cristã). Já se levantaram aqui várias, torna-se a colocar a do Modernismo e da escravatura. Sem fundamento próprio naquilo que se procura demonstrar. É muito fácil, impreciso (e enganador?) que se apresentem as coisas dessa forma. Seria preciso apresentar circunstâncias concretas em que a actuação da Igreja fosse menos eficaz em lidar com a escravatura do que qualquer outra -- com melhores resultados globais, sem grandes revoluções mas agindo individualmente, evangelizando as culturas! Mas isso é outra questão.

Ora, o que digo, e o que não parecem querer aceitar -- por isso é que continua a discussão, é o que querem! -- é que a doutrina da Igreja sobre a ilicitude da contracepção é definitiva. Assim como é definitivo, embora com uma maior gravidade, a ilicitude do aborto, da fecundação artificial, a eutanásia, etc. Como prentendem deixar o assunto em aberto, por estarem conscientes de que o Magistério é vivo, é que continuam a insistir nas supostas "mudanças" de doutrina que tenha havida na Igreja. Mas não se verifica, não sendo assimilável nem aplicável ao caso concreto da contracepção. É que os fundamentos sempre foram os mesmos. Certamente que a Igreja "criticou" os desenvolvimentos ocorridos através dos tempos e se foi reformando consoante o que, conhecidas a fundo as questões, havendo sempre diversas considerações comuns não vinculativas, se verificou estar de acordo com o Evangelho. Dizer que é recente a condenação da Igreja dos contraceptivos, é inteiramente falso. Desde o princípio da Igreja que haviam formas primitivas de fazer infértil a mulher e o homem, e há abundantes escritos patrísticos a condená-lo, principalmente por causa dos seus resultados morais, assim como se condenou o infanticídio, etc.

As últimas questões que colocas vejo-as como absurdas!!

Primeiro, claro que é de dizer e "exigir" aos Padres que apoiem moralmente os seus fiéis em viver precisamente o ensinamento da Igreja, especialmente na castidade. Isso deve ser um imperativo para todos! Nessa medida, o versículo que citaste não condena a objectividade da doutrina, mas a omissão dos pastores por não fazerem tudo o que podem para ajudar os fiéis a praticá-lo! "FAZEI O QUE ELES DIZEM!" E isso é, como já repeti várias vezes, provavelmente a primeira causa para se chegar à situação que temos: os Padres omitem falar da radicalidade da vida cristã! Há tanta gente à procura que lhes falem e dêm apoio espiritual no amor de Jesus Cristo, de uma forma que lhes transforme a vida, e quão difícil é encontrar Padres que nos possam ajudar assim! Também é claro que não temos Padres suficientes para dar esse apoio concreto a todos, mas a beleza de tudo isto é que a Igreja não deixa de o ensinar só por não ser já praticável, mas preserva-o porque o tem, bem discernido, como mandamento divino! Além do mais, nem tudo depende dos Padres: há diversos interesses instalados na indústria farmacêutiva, há pouca formação de médicos e enfermeiros nos métodos naturais, e tudo se torna ainda mais complicado. Mas os pastores da Igreja e os fiéis devem procurar mudar as coisas conforme o que se acredita, e apesar das dificuldades, um pouco por todo o mundo, essas mudanças e renovamento vão tendo lugar. O que é frustrante são as posições dos que "duvidam" e insistem em não querer acreditar que só pode ser a perfeição o alvo dos cristãos! É isso que devemos almejar, apesar de "ir respondendo" às situações concretas!

Estás a dizer que os actos homossexuais e de uso de contraceptivos não sejam, em si mesmos, independentemente das suas supostas motivações ou justificações, errados? Estás a dizer que a sodomia pode ser justificada e que a voluntária contrariedade imposta aos propósitos da sexualidade, possam ser "admissíveis", em si mesmos?? Que são boas ou pelo menos amorais, em si mesmas??

Afinal o que é que estás a dizer? Sê claro, por favor!

O que disse essa mulher no debate, é uma mera parvoíce! Não se vê "propósito de emenda"?? O Papa é humilde e reconhece os próprios pecados, confiando na misericórdia de Deus! Quanto a reparação e emenda, bom, não sei bem o que ela possa ignorar, se os documentos e referências explícitas do Papa à condição da mulher no mundo actual, ou se a questão é outra, a de pretender promover os tais "direitos sexuais e reprodutivos" ou se é o reconhecimento social através do ministério sacerdotal (que não é para servir idolatrias feministas nem "quotas" da emancipação feminina na sociedade!), ou ainda, se pretende chegar a abater a "idolatria do Deus Pai masculino", pretendendo uma "divindade" feminista... Seja como for, essa afirmação não faz sentido e só dá para pensar no sentido em que a ignorância e a falta de obediência podem conduzir a que se pense assim...!! Sinceramente, esse é que é o principal problema em toda esta discussão.



...«Se permanecerdes fiéis à minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres.» ~ Jo 8,31-32

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 15 de June de 2004 13:55

João:

Não há necessidade de subir o tom. A tua mensagem mostra um espírito defensivo e alérgico à auto-crítica que não vejo em muitos prelados mais conservadores. A reacção ao texto bíblico que citei é esclarecedora.

Se tudo quanto não queres "ouvir" é absurdo e parvoíce (sic), o diálogo é impossível. Lamento.

Lembro que muito do que foi anteriormente declarado "de perpétua memória" e "irrevogável" (definitivo) foi mudado. O rito tridentino é apenas um de muitos exemplos possíveis.

Alef

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 15 de June de 2004 14:10


rmcf,

Pareces ter uma ideia incorrecta de que a obediência faz silenciar as dúvidas e não conduz às verdadeiras respostas. Pretendes alimentar-te "do seu tempo", sem o confrontares e iluminares devidamente com o Evangelho (é o que parece)? Eu não digo que não se aprenda nada com o mundo que não conhece o Evangelho, é claro que muitas das suas inquietações são dons que Deus que enriquecem as nossas vidas. Mas a questão é a de considerar que a resposta fundamental às nossas vidas, que lhes dá o verdadeiro sabor e sentido, é outra que não ser Igreja de Jesus Cristo. Eu já não duvido disso! :o) Mas é claro que por considerar isto não me manifesto com condescendência despropositada, como "superior"... Nem o posso fazer, por estar consciente de não ser grande exemplo moral. O Senhor chama-me a ser humilde, a rezar pelos meus inimigos, a amá-los, e se é assim devo amar a todos como Deus me ama; quando não é assim, falho ao propósito que me proponho testemunhar. E esta é a verdadeira iluminação da vida dos outros: a autenticidade cristã, que professa a verdade doutrinalmente e a pratica admiravelmente!

Já tenho dito que os problemas de hoje apenas repetem, essencialmente, os do passado. Claro que sempre houve esta tensão entre ser fiel a tudo a Cristo e não o fazer: é o grande drama de sermos pecadores! Mas hoje, como acontece em cada tempo, vamos tendo maiores desenvolvimentos, melhores explicações, maior veiculação da informação. Daí que olhe para todas as dúvidas e infidelidades (é mesmo assim, ser infiel nisto e naquilo, no que se faz de errado e sem amor -- não é tanto "ser infiel") não como algo perfeitamente justificável em si mesmo, mas como algo a resolver, colocando o inquisidor cada vez mais estreitamente no caminho que conduz a Jesus. O problema é que, por sua própria falta de decisão, não se procura o suficiente, ou, por omissão dos outros cristãos, não lhe fazem chegar a resposta decisiva da conversão.


Abelardo,

Claro que devemos ter caridade em tudo, ser claros e sem ofensas, antes questionando a forma de pensar -- e porque não de viver? -- do outro, sem deixar de passar pela nossa.

Acho que não são precisas tantas palavras... :o) E também me parece que está a ser um pouco "porreiro" demais...

Há um problema essencial que é deixar de questionar a nossa falta de conversão, justificada pelas nossas "limitadas capacidades" e de "não sermos obrigados a mais do que a consciência manda", o que pode atropelar mesmo gravemente a fidelidade daqueles que professam a necessidade da autoridade da Igreja, negando-a na prática e contrariando a própria doutrina. Daí que por vezes se caia no liberalismo ou no tradicionalismo. Acho que isto dá que pensar (e pensar em cada um de nós -- e também me vem à ideia a influência que essa atitude teve em Martinho Lutero e na sociedade ocidental, com alguma psicologia, etc. ...).



...«Se permanecerdes fiéis à minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres.» ~ Jo 8,31-32

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 15 de June de 2004 14:22


Alef,

Sim, subo o tom. Subo o tom porque te trago à responsabilidade e à definição?

A "reacção" que tive à citação bíblica está explicada. Não atires poeira à questão dizendo que eu não pretendo dialogar. Tu é que deves agora dizer, pormenorizadamente, aquilo em que "me achas" incorrecto. Acho, sinceramente, que vais ter algumas dificuldades. Mas o que estás a fazer agora é omitir-te de o fazer, dizendo que "achas" que não pretendo dialogar.

Quando uso palavras como "absurdo" ou "parvoíce", quero mesmo dizer isso. Não é por querer ofender que o digo, é porque as palavras expressam mesmo como analizo as coisas -- sem as "classificar", isolar de uma crítica, porque sempre o acompanho de justificações para tal. Sim, explico em que consiste a falta de razão e a de entendimento sobre as coisas, juntamente com a ligeireza da interpretação. É somente isso que quero dizer. Certamente que já usaste, devidamente, este tipo de expressões. Espero que sejas tu mesmo, também, auto-crítico, e me digas em que é que achas que não fui exacto ou justo. Se não o fizeres satisfatoriamente, a crítica que "lamentavelmente" apresentas, também não faz sentido.

O que dizes propriamente do que se considerou "irrevogável" entra na ambiguidade de considerar em que é que algo tem essa qualidade, em pormenor, e a autoridade de quem o disse, juntamente com o seu âmbito. A questão moral da contracepção não é semelhante à da aceitação de ritos algo diferentes, mantendo os mesmos aspectos fundamentais, ou recuperando práticas mais antigas. A contracepção sempre foi recusada e é uma prática moral bastante objectiva, em que o fundamental tem sido sempre o mesmo: não há bondade em directamente fazer infértil o acto sexual.

Continuo a esperar que te possas definir melhor.

Um abraço,



...«Se permanecerdes fiéis à minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres.» ~ Jo 8,31-32

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 15 de June de 2004 14:32

Caro João,

Continuando agora a minha resposta à tua mensagem de 13/06/04 16:44

6- Recepção
Coloquei neste tópico e recoloco agora a questão da recepção da Encíclica: em termos teológicos a recepção de um documento pela Igreja é um dos critérios aferidores da legitimidade da doutrina nela exposta.

Não é uma ideia nova, mas um princípio muito antigo. Atrevo-me a dizer (sem certeza) que o cânone referente aos Livros que constituem a Bíblia do Concílio de Trento corporizou de alguma forma o conjunto de livros que a Tradição tinha consagrado. E que essa corporização teve como base uma recepção generalizada dos mesmos pelas comunidades cristãs no seu todo.

Mas, mesmo independentemente deste facto ter também génese na recepção, esta constitui um dos critérios aferidores da legitimidade da doutrina.

E eu pergunto se, face à não aceitação generalizada que a mesma teve, podemos ou não dizer que a doutrina da mesma está colocada em causa.

Vou ser ainda mais preciso: não estou aqui a valorizar a doutrina da Encíclica. Não me estou a pronunciar sobre essa mesma doutrina. Estou apenas a questionar se:
O documento foi recebido ou não?
Em caso de resposta negativa, qual a sua validade?

7- ao contrário do que me parece ser tua ideia, não discuti nenhum dos princípios expostos na encíclica. Aliás falei na “bondade dos ideais”.

Falei na não recepção e na sua linguagem clerical que no caso concreto referi que se consubstanciava no regresso “ao ambiente pré-conciliar em que se discutia mais uma moral abstracta que a sua aplicação prática para as pessoas”.

Esta linguagem clerical é precisamente o contrário da metodologia utilizada pelos teólogos, nomeadamente Ratzinger, ao colocar estas questões sobretudo ao cuidado dos agentes da pastoral.

8- Assim como não falei em “moral sexual” mas em “moral familiar”: para mim as diferenças entre ambas são óbvias.

Já agora adiantando nesta matéria, e em consequência das minhas posições em que tomo a família como “célula essencial” do Povo Cristão parece-me que a Igreja deveria ter uma especial preocupação com a mesma.

A preocupação excessiva com a parcela da sexualidade sem correspondente no restante parece-me algo desiquilibrada.

9- Parece-me que se pode retirar da tua intervenção (agradeço a correcção no caso de estar enganado) que a “actual doutrina da Igreja sobre o sexo” seria radicada em Jesus Cristo. Agradeço-te a ti e aos demais membros desta comunidade virtual a indicação sobre os pronunciamentos de Cristo quanto a esta matéria, com indicação das fontes.



João (JMA)

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 15 de June de 2004 15:09

JMA,

1 - Acho que ninguém te pede que saibas se este ou aquele está realmente em comunhão com a Igreja. O que se pede é que se aceite o que a Igreja diz que é um católico. Se alguém diz que é católico mas não se identifica com a Igreja, então realmente não pode ser católico porque o que faz dele católico... é o que o define a própria Igreja! Também considero que seja bem visível, em atitudes concretas, que são sempre tão diversas e possam ser devidas apenas a uma moralidade segundo a lei natural, que alguém faça o bem e por isso se aproxime de Deus. Mas o que estou a falar é daqueles que contrariam abertamente doutrinas bem definidas da Igreja -- aí vê-se que nisso não comungam com a Igreja em matérias essenciais (apesar de considerarem que são negligenciáveis), e por isso não podem estar a fazer a vontade de Deus. Ou achas que "podem"??

2 - Falei do caso, ou seja, a reformulação sobre a pena de morte no Catecismo. Como já te disse para evitares a expressão "medidor de catolicismo", vou desde já definitivamente abster-me de a usar. Estás a dizer que o Catecismo não pode ser usado como referência de coisa nenhuma? Espero que penses bem antes de responder. Acho inteiramente ilógico que consideres que por ter sido reformulado correctamente não lhe traga mais autoridade mas que continues a afirmar que como se reformulou (atenção, não foi nenhuma mudança radical!), então tudo o resto está sujeito a grandes mudanças. No fundo, o que não percebes foi a situação que já procurei explicar, que o sentido da doutrina apenas foi reformulado consoante o sentido da pena já não se justificar. É uma confusão.

Estás a recusar o Catecismo como "argumento final". Mas o Catecismo é uma boa síntese do que contém a Tradição e a Escritura, segundo o Magistério. De resto, acho que estás a fugir à questão, sem estares muito interessado em reconheceres "o argumento final" (especialmente quando citei bastante o Concílio Vaticano II); por mais citações que te apresente, não sei onde queres encontrar a autoridade final.

3 - Não lhe chamo "aberrante". Tratou-se de uma reformulação no entendimento da situação por parte do discernimento da Igreja, sendo que estás a fazer uma circunscrição demasiada limitada apontando como "pressões" apenas a Igreja nos EUA e na Alemanha. João Paulo II escreveu a [url=]Evangelium Vitae[/url] em 1995 (a actualização do Catecismo só ocorreu em 1999) e certamente que, apesar de ser um escrito espiritual dos mais admiráveis, boa parte das considerações sobre a pena de morte, não eram novas nem para ele, nem para boa parte da hierarquia.

Sobre o que dizes de um valor absoluto não contemplar excepções, parece-me que ainda não entendeste a questão da auto-defesa. É preciso salientar que se trata de ter como último recurso -- fundamental, isto! -- a morte do agressor, como uma consequência não procurada, mas sim procurando-se a defesa da vida primeiro e tendo a consequência da eliminação do agressor para preservar a vida de uma maior injustiça. Explica as circunstâncias em que achas que não se devia matar alguém que cometesse ou apoiasse quem lidera a execução de genocídios (como um caso extremo, o princípio é o mesmo se matares alguém na consequência última de tentares travar que te mate) se esse fosse o único meio de o travar.

Por outro lado, a Igreja sempre coroou o martírio dos que, preservando ao máximo proteger-se do mal infligido por alguém, sofre com isso até que lhe provoquem a morte, por não provocar a do outro. Mas podemos esperar que esta seja a solução para todos os casos? Se dissermos que não -- como me parece plausível --, temos de admitir a "pena de morte"...

4 - O Catecismo diz que as situações em que as situações em que seria necessária a pena de morte são hoje "praticamente inexistentes". Não sei se o Catecismo e a Igreja "devem" estar "sempre" em "remodelação". Não sei se entendes bem o que quer dizer a reforma contínua da Igreja... E se falas em Igreja, falas em Escritura, Tradição e Magistério. E em Catecismo. E em ti mesmo. E será tudo "provisório"?

5 - Uiii...! :o) O quê?! A Igreja Portuguesa é um "símbolo"? :o) Porquê? Achas que somos exemplo de "praticantes"? Ou apenas que temos uma sociedade em que coisas como a pena de morte e o aborto ainda não foram legisladas? Assim de repente, até acho que sejamos um povo bastante "morno" na radicalidade de Jesus Cristo... Encontro muito maior vitalidade eclesial, para bem e mal, nos EUA, por exemplo, para não falar na Espanha, na Itália, na Alemanha, etc..

A pastoral da caridade, implica precisamente crescer na liberdade interior de poder viver a caridade de Deus na própria vida. Não é uma moral de circunstância, mas crescer na perfeição. E acho que, em muito, a Igreja ainda prega ao vento -- porque não a escutam --, e que está de costas voltadas para o Povo (?) -- porque não manifesta, muitas vezes, a verdadeira radicalidade de Jesus Cristo, não passando muitas vezes de uma noção de "fraternidade" que não vai fundo.

E com isto, não estou a ser pessimista, nem a "ver o copo meio vazio". Estou de pé no chão e a procurar conhecer melhor a realidade e as soluções mais completas.



...«Se permanecerdes fiéis à minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres.» ~ Jo 8,31-32

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 15 de June de 2004 15:48


(isto hoje está "quente") :o)

JMA,

6 - Não há legitimidade no teu argumento. A doutrina sobre a contracepção remota aos primórdios da Igreja. Até 1930, esse ensino era preservado por todas as igrejas cristãs! Assim, a recepção, mais ou menos, sempre se verificou. A resposta da Humanae Vitae veio avaliar "problemas [que] exigiam do Magistério da Igreja uma reflexão nova e aprofundada sobre os princípios da doutrina moral do matrimônio: doutrina fundada sobre a lei natural, iluminada e enriquecida pela Revelação divina." (HV, 4) E a conclusão foi a mesma de sempre (HV, 14). A doutrina é legítima, porque sempre foi. O que não é legítimo é a contestação desta doutrina por quem acusa a Igreja de infidelidade ao "espírito do Evangelho". Isso não é legítimo, e é isso o que mais se acusa à Igreja, de essa doutrina "não ter a ver" com o Evangelho. Ora, a contracepção pode até ser fatal para a fé (uma questão que se pode explorar depois). O que está colocado em causa é a catolicidade do estilo de vida de muitos que se dizem católicos.

A doutrina era recebida antes. Foi a partir das mudanças acontecidas desde o século anterior e até à década de 1960 que as críticas se avolumaram. No entanto, em dois pontos centrais, quando as igrejas começaram a reconhecer a contracepção em alguns casos, a partir de 1930, e após o Concílio Vaticano II, numa época muito revolucionária, a Igreja se pronunciou, reafirmando a doutrina perene sobre o matrimónio e o sexo (Casti Connubii, Pio XII, 1930; Humanae Vitae, Paulo VI, 1968). Estamos ainda hoje com a Tradição bem e actualmente exposta pelo Magistério.

A recepção deste documento, como já foi dito neste fórum, representa um ponto de viragem na sintonia entre a hierarquia e os leigos, numa altura em que, essencialmente por pressões de estilos de vida e pela recusa da sua autoridade -- e também pela falta de formação dos Padres para esta nova situação --, se criou uma crise que se arrasta até hoje. Felizmente, hoje em dia, vemos Padres novos bem formados, que eles mesmos fazem e desenvolvem cursos e formações para se informarem sobre assuntos de sexualidade, incluindo os métodos naturais de planeamento familiar.

A recepção não dá grandes sinais de remar para trás, entre os jovens, mas de vir a ser realmente recebida.

7 - Qual é a linguagem "clerical"? E o que é uma linguagem "laical"? E o que é uma linguagem "magisterial"? Do que é que falas, afinal, quando o documento não tem como objectivo explicar tudo sobre como aplicar, embora faça apelos directos a vários actores sociais, quanto aos fundamentos. Há diversos documentos da Cúria, livros, Padres e leigos com capacidade de fazer aplicar os princípios nas questões concretas. Estás a desaprovar a Encíclica por não desenvolver um âmbito que não seria propriamente o seu -- e chamas-lhe "clerical". Pois, as Encíclicas são coisas de Igreja...

8 - Quais são as diferenças "óbvias"? O matrimónio tem que ver com sexo! É de facto, o único âmbito para o qual está orientado. As questões que falam exclusivamente da família envolvem essencialmente o sexo. A conversão pessoal em lidar com os outros, a oração em família e a educação, entre outras coisas, fazem parte de áreas globais para todos os católicos, de qualquer vocação. O matrimónio em si trata do amor entre os esposos, e da sua aliança, renovada e nutrida pela intimidade sexual, da união, a todos os níveis, entre um homem e uma mulher com um amor único e exclusivo.

Estás a falar de uma "preocupação excessiva" com a parcela da sexualidade, olha que isso não existe. E ainda que se preocupasse em pormenor com a sexualidade do casal -- o que está muito elucidado no livro "Amor e Responsabilidade" (Editora Rei dos Livros) de João Paulo II quando ainda não era Papa --, não faltaria em nada, porque dá, devidamente, atenção a todos os assuntos da família. Não sei como é que podes dizer uma coisa dessas, só por desconhecimento. Só uma indicação: João Paulo II criou o Instituto de Estudos sobre o Matrimónio e a Família, já com várias Faculdades em diversos países. Tem escrito abundantemente sobre o assunto, diz-se que já escreveu 2/3 de tudo quanto a Igreja já ensinou sobre o assunto. É verdadeiramente admirável. E entristece ainda fazeres afirmações desse tipo...

9 - Podes ter a certeza de que a "actual (e de sempre!) doutrina da Igreja sobre o sexo" está radicada em Jesus Cristo. Devo pedir-te que leias o que já se disse aqui pelo fórum, que leias os documentos da Cúria sobre o assunto, que leias o livro que já citei, que leias sobre a Teologia do Corpo...

Já coloquei vários recursos pelo fórum, mas posso ainda procurar mais, se não deres com isso sozinho.



...«Se permanecerdes fiéis à minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres.» ~ Jo 8,31-32

Re: Moral católica esquizofrénica? / Crise de Fé
Escrito por: Abelardo (IP registado)
Data: 15 de June de 2004 17:33


João (JMA)

Antes de tocar no assunto que me propões, começo por cumprimentar-te fraternalmente.
Não leves a mal o facto de não ter adquirido ainda o hábito de comentar a generalidade, ou uma relativa/mínima parte, das tuas mensagens, tão boas e oportunas como as demais – incluindo as minhas, embora estas cada vez mais pobres e confusas, coitadas, pois são, como sempre, fustigadas pelas intempéries e outras adversidades, por artes mafarricas e forunáuticas...! –, pois tenho o campo muito limitado, como deves calcular, pelo que apenas jogo à defesa, com a agravante de não perceber nada de futebol, talvez por ser avesso à bola, e não tanto ao desporto, mas ainda mais à corrupção e fanatismo do mesmo futebol, como de tantas outras coisas mundanas e anticristãs, ou imorais e materialistas...

Como deves calcular, a minha linha de pensamento moral e cristão/católico coincide, em cerca de 99% (felizmente!), com a do nosso amigo João Oliveira, por isso mesmo poderás considerar o que ele argumentar (em matéria de Doutrina e Fé) como sendo subscrito por mim, salvo raras e pontuais excepções, a considerar oportunamente se necessário...
Mas não penses que estamos combinados, e muito menos constituímos qualquer tipo de hierarquia ou clericalismo (embora respeitemos os mesmos), até porque ambos somos leigos e independentes, embora nos anime um ideal comum: o de tentarmos ser, a todo o custo, fiéis/leais aos princípios fundamentais da Igreja católica, apostólica e romana, embora esteja (e nisso apenas falo por mim, claro) muito longe de sê-lo, infelizmente, e por isso mesmo estou pagando uma pesada factura, em desconto dos meus pecados, pelo menos, louvado seja Deus...

Quanto ao genérico da questão, dá para entender que é meu dever tentar ser, tanto quanto possível (embora ainda esteja longe de sê-lo, lamentavelmente...) um católico radical e genuíno, à imitação de Cristo e de todos os Santos como Seus exemplares discípulos, no sentido de uma vivência muito séria e autêntica do Evangelho, no que diz respeito a mandamentos essenciais, tais como estes:
* "Amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos"...
* "Se queres ser Meu discípulo, renuncia a ti mesmo, toma a tua cruz e segue-Me"...
* "Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens, dá o dinheiro aos pobres, e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segue-Me"...
* "Que importa ao homem possuir todo o mundo [todos os prazeres e vaidades] se vier [por isso mesmo] a perder a sua alma?"...
* " Assim como é Santo Aquele que vos chamou, sede vós também santos, em todo o vosso proceder, conforme diz a Escritura: Sede santos, porque Eu sou Santo"...
* "Procurai primeiro o Reino de Deus e a Sua Justiça, e tudo o mais vos será dado por acréscimo"...

Como estas, por mero exemplo, há centenas de exortações evangélicas - "máximas eternas" -, visando, acima de tudo, a maior Glória de Deus e a Salvação das almas, da nossa própria alma, o que deveria realmente constituir o nosso maior negócio e empenho neste mundo efémero e ilusório, dominado maioritariamente pelas terríveis forças do mal, isto é, por Satanás e todos os seus espíritos malignos!...
Quem se preocupa verdadeiramente com tudo isso? Muito poucos, mesmo entre os católicos, tragicamente, sobretudo por ignorância, tibieza, hedonismo e muita falta de Fé/Fidelidade!...

Atenciosa e solicitamente,

Abelardo


N.B.: Uma vez que me alonguei bastante com este preâmbulo, de todo pertinente e essencial, a minha resposta ao tema proposto ficará para uma próxima e melhor oportunidade (se necessário), não obstante tal assunto coincidir, aproximadamente, com a tese do João Oliveira.


Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 15 de June de 2004 17:39


Errata: a Casti Connubii foi escrita no pontificado de Pio XI, não de Pio XII.

Bem, podia ser mais delicado na forma como acabei a mensagem anterior... :o) Quis dizer que se não o encontrares sozinho, podes perguntar-me, mas uma coisa de cada vez, para que se possa ler com atenção. Deixo já aqui uma boa lista. Costumo pegar em tudo em Inglês, parece-me que estás à vontade com essa língua, por isso aqui fica (algumas páginas referem alguns dos mesmos artigos ou documentos encontrados nas outras).

- Sobre o tal Instituto:

[www.pul.it]

[www.jp2institute.org]

[www.johnpaulii.edu]

- Encílclica de Pio XI (em Inglês, também disponível em Espanhol e Francês:

Casti Connubii (sobre o matrimónio cristão - 1930)

- Encíclica de Paulo VI (em Português):

Humanae Vitae (sobre a regulação da natalidade - 1968)

- Documentos de João Paulo II (em Português):

Exortação Apostólica Familiaris Consortio (sobre a função da família cristã no mundo de hoje - 1981)

Encíclica Evangelium Vitae (sobre o valor e a inviolabilidade da vida humana - 1995)

Carta Apostólica Mulieris Dignitatem (sobre a dignidade e a vocação da mulher - 1988)

Carta às Mulheres (1995)

Carta às Famílias (1994)

- Paragráfos do Catecismo:

"O Homem" > 355 - 384;
"O Pecado Original" > 396 - 409;
"A Igreja - Corpo de Cristo" > 787 - 796;
"O Sacramento do Matrimónio" > 1601 - 1666;
"A Família no plano de Deus" > 2201 - 2206;
"O Sexto Mandamento (Castidade)" > 2331 - 2400;
"O Nono Mandamento (Pureza de Coração)" > 2514 - 2533.


- Documento "Orientações Educativas sobre o Amor Humano" - 1983 (em Português):

[www.vatican.va]

- Documentos do Pontifício Conselho para a Família:

[www.vatican.va]

- Particularmente:

Preparação para o Sacramento do Matrimónio (1996)

Sexualidade humana: verdade e significado (1995)

- Um dos livros de Karol Wojtyla, futuro Papa João Paulo II:

"Amor e Responsabilidade"

- As catequeses da Teologia do Corpo (lista - muito - incompleta!):

[www.ewtn.com]

-> Nota: Há edições com todas as catequeses em várias línguas, e em breve, suponho eu, estarão disponíveis numa edição portuguesa pela Verbo. Em relação às catequeses que focaram a Humanae Vitae, são das últimas, e estão editadas na íntegra em português num caderno das Edições Prumo (disponíveis na Rei dos Livros) ver aqui. Podem ser encontradas todas elas, em Italiano, na página do Vaticano (ver entre 1979-1984):

[www.vatican.va]

- Uma página muito boa, de um serviço arqui-diocesano americano:

[www.nfpoutreach.org]

- Uma página com diversos recursos sobre a Teologia do Corpo:

[www.theologyofthebody.net]

- Uma selecção de artigos sobre a Teologia do Corpo:

[www.omsoul.com]

- Artigos de Christopher West:

[www.theologyofthebody.com]

- Artigos de Janet Smith:

[www.aodonline.org]


P.S.: Sobre as tuas críticas ao Catecismo, era bom leres (vêm antes do texto de Catecismo nas edições portuguesas da Gráfica de Coimbra):

- Constituição Apostólica Fidei Depositum (publicação do Catecismo - 1992)

- Carta Apostólica Laetamur Magnopere (aprovação e promulgação da edição típica latina do Catecismo - 1997)



...«Se permanecerdes fiéis à minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres.» ~ Jo 8,31-32

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 15 de June de 2004 18:05

Caro João,

No ponto 9 solicitei-te "a indicação sobre os pronunciamentos de Cristo quanto a esta matéria, com indicação das fontes".
A matéria era “actual doutrina da Igreja sobre o sexo”.

As fontes - parece-me - só poderão ser a Sagrada Escritura e a Sagrada Tradição.

Não querendo ser irónico, direi que nas "fontes" citadas não vejo que fossem escritas por contemporâneos de Cristo e dos Doze Apóstolos.

Agradeço as indicações destas, que irei verificar, mas continuo a aguardar o que solicitei.



João (JMA)

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 15 de June de 2004 18:10

Caro Abelardo,

E no entanto a pergunta é simples:
A vida é um valor absoluto ou um valor relativo?

Quanto ao facto de te identificares mais com o João Oliveira, isso parece-me claro.

Mas como tens escrito bastante sobre o direito à vida, gostava de saber qual a tua opinião sobre o Catecismo, na parte em que permite a pena de morte.



João (JMA)

Re: Moral católica esquizofrénica? / Vida como valor Absoluto
Escrito por: Abelardo (IP registado)
Data: 16 de June de 2004 01:29


João (JMA) pergunta:

– "A vida é um valor absoluto, ou um valor relativo?"

1. A vida humana é sempre, em si mesma, um VALOR ABSOLUTO, isto é, é um valor sagrado, o mais precioso que temos, não só por ser humana, mas sobretudo (para quem acredita de alma e coração) por termos sido criados à imagem e semelhança de Deus, portanto todos destinados, sem excepção alguma, a regressar ao seio do Criador, após a morte natural, apenas permitida por Deus, e jamais, em caso algum, provocada pelo homem.

2. Quem assassinar um ser humano, ou atentar gravemente contra a vida de alguém, transgride gravemente o quinto Mandamento da Lei de Deus.

3. Para a Igreja católica, assim como para a Sagrada Escritura, assassinar um ser humano, engloba todo o estádio de gestação, a partir do momento da concepção.

4. Assim, qualquer aborto provocado (inclusive através de contraceptivos), mesmo que seja tolerado pela lei humana, é sempre crime e pecado grave, equivalente ao infanticídio, e sujeito a excomunhão automática (embora reversível, em caso de emenda definitiva, através do sacramento da Confissão).

4.1. Mesmo em casos extremos de deficiência física ou mental, porquanto só a morte natural (quando Deus permitir), poderá pôr termo a tais vidas humanas defeituosas, vazias e/ou traumáticas, por mais dolorosas que sejam.

5. Quanto à eutanásia, existe a mesma proibição radical que em relação ao aborto.

6. Quanto à pena capital, derivada de leis humanas, não é permitida, em nenhum caso, pela Igreja Católica.

7. Finalmente, quanto à LEGÍTIMA DEFESA de último recurso, quer em situação de "guerra justa", quer em perigo de homicídio iminente ou traiçoeiro..., bem, aí, "excepcionalmente", já não se trata de atentar contra um "valor absoluto", porquanto o bem absoluto passa a ser, automaticamente, a defesa, a todo o custo, da vida inocente, ou da vida grave, injusta e violentamente ameaçada, por alguém que é apenas um "perigoso e pérfido homicida a aniquilar em tempo útil"..., a menos que a vítima inocente, ou alguém por ela, decida dar a vida heróica e voluntariamente, às mãos do agressor assassino...

Espero ter sido claro, amigo JMA.

Saudações pró-vida.

Abelardo


Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: rmcf (IP registado)
Data: 16 de June de 2004 01:43

Caro João Oliveira,

Depois de ter lido as tuas várias mensagens de ontem, devo dizer que, com a excepção do que te possa ter dito e te tenha magoado ou ofendido, não retiro uma vírgula ao que já escrevi, até porque não me conseguiste apontar as tais incongruências.
Nunca disse que Jesus Cristo é arrogante. Mas digo e repito que muitos dos que se arrogam a dizer definitivamente o que ele terá dito (felizmente nem todos nem talvez a maioria) são insuportavelmente arrogantes. Porque consideram que o Espírito só sopra na direcção deles e na sua iluminada capacidade de interpretação. E a arrogância não está, como eu disse no início da mensagem de ontem, tanto na explicitação da doutrina mas na forma como a apresentam e como estendem o libelo sobre os que não a aceitam com docilidade como supostamente seria o seu dever.

Alguns pontos:

1) É tão arrogante dizer que a doutrina sobre a concepção ou ordenação de mulheres, por exemplo, é definitiva como dizer o contrário… isso é, antes de mais, prender o Espírito. O melhor seria afirmar o desconhecimento da vontade insondável de Deus pelo menos quanto à definitude ou concepção absolutamente ontológica (como diz o Alef) dos temas morais… A verdade é que a Bíblia não é clara e expressa em relação a nenhuma dessas duas concepções e penso que o Magistério, como intérprete do Espírito, pode eventualmente vir a tomar posição diferenciada. São inúmeros os exemplos: se não sabes que a Igreja modificou a sua posição em face de algumas das consequências do Modernismo e sobre o próprio Modernismo em si, é, no mínimo, porque não estudaste devidamente o século XIX e porque não ouves o que a própria Igreja hoje diz: o próprio Leão XIII, já depois de Gregório XVI ou de Pio IX, continuava a condenar como demoníaca a liberdade de opinião, a liberdade religiosa, a liberdade de associação, a liberdade política, etc, etc. Em tempos estudei um jornal católico português, do Porto, A Nação, que defendia o catolicismo tal como emanava da sede de Pio IX. Eles eram os ‘fiéis’…. Mas hoje ninguém (espero) sobrescreveria quase nada das posições ali defendidas. Por isso, mesmo tendo estudado a Humanae Vitae ou o Evangelium Vitae, dos quais não discordo na substância e até aplaudo porque os acho notáveis documentos a favor da vida, penso no entanto que, na defesa do valor intrínseco da Vida e da sua origem absoluta em Deus, essas sim definitivas, tomam determinadas posições em relação à contracepção que, a mim como a tantos católicos, leigos, bispos, religiosos, me parecem não ter a definitude da posição que a Igreja tem sobre o aborto, por exemplo… aliás, parece-me completamente ridículo pôr-se tudo no mesmo saco: a contracepção não é o mesmo que o aborto, as posições da Igreja sobre ambos não têm a mesma fundamentação, nem bíblica nem ontológica… Concordo com o João (JMA). Eu continuo a dizer que não há nada que venha directamente nos Evangelhos (e sublinho directamente) que se relacione explicitamente com a contracepção… simplesmente, esse é um tema não referido… junto a minha voz à do JMA: gostava também da citação bíblica explícita que permite defender que a doutrina sobre a concepção vem directamente de Jesus Cristo… Já agora: quais os escritos patrísticos que condenam explicitamente a contracepção e com que fundamentos? Sabes?… é que eu sei, porque de facto os há… lê e vê todos os fundamentos… se calhar vais ter surpresas. É que são quase sempre os mesmos que negam o prazer ao acto sexual e dão mostras da inferioridade feminina ou do papel da mulher simplesmente como portadora da descendência masculina. Mas talvez para ti isso não seja problema :o) Já agora, por que razão não há bondade em fazer infértil o acto sexual? Em si, onde está a contradição lógica? É que depende do que se entende por acto sexual e pelos seus fins... A tua tradução não ficou particularmente clara… Desculpa a ignorância ;o)

2) Não quiseste perceber o que quis dizer com ‘sou filho do meu tempo’… essa expressão não implica uma ideologia, mas uma inserção social. Não vivo há 50 anos ou 100 anos atrás, mas vivo em 2004. Na sociedade de 2004. Não recuso ser filho da Igreja (!!!!), nem idolatro o livre-pensamento… mas de facto julgo que a Igreja não pode tolher o pensamento… chama-me o que quiseres. Pessoalmente, sinto-me católico em completa comunhão e amor com a Igreja, mesmo se não concordo com tudo ou se critico a Igreja em algumas coisas … também o faço em relação aos meus pais biológicos (obviamente também têm imperfeições) ou em relação a amigos ou aos meus irmãos. E amo-os. E também amo a Igreja, acredita ;o). Mas, de facto, não sou clericalista e penso que as franjas ‘clericalistas’ da Igreja que não apostam nos leigos e nos seus carismas e os trata simplesmente como ovelhas dóceis (e Jesus, quando fala de ovelhas, não se refere a seres sem pensamento que se limitam a seguir o pastor…; sendo essa uma metáfora pastoral, não me parece que seja uma metáfora ontológica) foge ao essencial da mensagem cristã e ao reconhecimento da dignidade do Homem como dotado de razão e de liberdade. Felizmente, nem todo a Igreja é assim… E depois, quem és para me chamares exageradamente reformista?… simplesmente não sabes o futuro, para me chamares exagerado… eu também não… Se calhar dirias o mesmo de João XXIII… imagina abrir a janela à reforma da Igreja…

3) Já agora: eu penso que mesmo quando um católico não comunga em todas, todas as ideias com a Igreja, não é por isso que pode não estar a fazer a vontade de Deus… simplesmente, coloco essa possibilidade (heresia!!!). É que simplesmente não sei como o Espírito por vezes bate à nossa porta… por exemplo, os liberais católicos do século XIX, anatemizados várias vezes pelos documentos pontifícios, estavam ou não a fazer a vontade de Deus? Se se tivessem submetido como Pio IX exigia, e não tivessem participado (ao quase completo arrepio da doutrina da Igreja sobre o assunto), na formação do liberalismo político, económico e social, estariam ou não a fazer a vontade de Deus? O que achas que teria acontecido à Europa Ocidental católica, se tivesse apenas ‘comido e calado’ o que a Igreja do seu tempo determinava, por vezes com grande violência verbal? Quem fazia de facto a vontade de Deus, em relação àquelas concepções concretas, expressas por exemplo na Quanta cura ou no Syllabus (é bom lê-los)? O papa? Os católicos ‘infiés´? Ambos e em que medida? Ninguém?

4) É claro que os Cristãos têm de ser como Cristo… concordamos. E Ele é a única medida da salvação… concordamos… e concordo que é em Igreja (mais do que na Igreja como algo que nos é exterior) que nos reunimos como seres em comunhão, mas discordo que seja tornando-nos dóceis à doutrina que nos tornamos mais Cristãos… E por que razão há-de haver apenas uma formatação para se ser cristão?

5) Acho também pouco maduras as concepções demasiado legalistas da doutrina bem como os julgamentos apressados da maior ou menor catolicidade com base nas reflexões pessoais de cada um, quando não coincidentes com a mesma doutrina…

6) Peço desculpa, se te ofendi no que te disse em anteriores mensagens. Mas digo-te o mesmo em relação a mim: tu não me conheces nem sabes o que faço nem a minha formação nem ‘o que faço da vida’… Se calhar ficarias ainda mais surpreendido… É por isso que os piropos com que me mimoseaste acerca da ignorância dos que discordam ou se sentem pouco à vontade com determinados pontos da doutrina, me fazem simplesmente sorrir ;.)


Abraço

Miguel

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 27 de August de 2004 19:15

Sobre a questão da contracepção:
"Quem estiver convencido que a absoluta proibição dos meios artificiais de controle de nascimentos como referido pela Humanae Vitae é a correcta interpretação da lei divina deve honestamente tentar viver de acordo com esta convicção. Quem, no entanto, depois de séria reflexão e oração esteja convencido/a que no seu caso tal proibição não pode ser a vontade de Deus deve, em paz interior, seguir a sua consciência e não se sentir por isso como um Católico de segunda classe."
Quem terá sido o ignorante-progressista-modernista-herege-excomungado que escreveu tal coisa?



João (JMA)

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: (IP registado)
Data: 02 de February de 2006 19:07

Trata-se de um artigo bastante longo, mas penso que interessante. Retirado daqui.


Una vuelta de hoja

Idania Trujillo *

Adital -
Regresa a La Habana por emoción y entusiasmo, luego de ocho años de ausencia involuntaria. Esta vez, vuelve para enfrentarse a nuevas interrogantes, a nuevos rostros, a nuevas expectativas. Lo mueven el afán de búsqueda y discernimiento, y la confianza que el Programa de Reflexión/Formación Socioteológica y Pastoral del Centro Memorial Martin Luther King le tiene a su bien ganada fama de "experto" en temas sobre moral cristiana.




El salón es amplio. Los talleristas son jóvenes que no rebasan, como promedio, los 25 años. Vienen de todas las provincias de Cuba para reflexionar sobre "Ética sexual y fe cristiana: certezas, debates y desafíos". Han traído guitarra, música y un montón de preguntas. Sobre los papelógrafos, que cuelgan de las paredes, se despliegan frases, dibujos, trozos de poemas…



Benjamín Forcano intenta esconderse detrás de las palabras pero está atrapado. El sacerdote claretiano, que ha impartido clases de teología moral en Roma, Salamanca, Madrid, Colombia, y dice "vivir con pasión e ilusión la tarea de enseñar que se ha traducido, también, en numerosos escritos, conferencias, viajes, encuentros y simposios, está, irremediablemente, atrapado por un puñado de ojos y oídos, de manos y cuerpos jóvenes que intentan descubrir ciertas esencias sobre cómo entender la sexualidad y la moral cristianas en el mundo de hoy y en el trabajo pastoral de las iglesias.



Pero el maestro, entrenado en el ejercicio de la palabra, se toma el tiempo justo para romper el "hielo" e iniciar el diálogo. "Como docente, dice, me interesa poner al día la teología y la teología moral, llevar el mensaje de Jesús, que es humanizante y liberador; y tratar de cambiar la imagen que existe sobre la moral cristiana entendida como represora, despersonalizadora, autoritaria, impositiva e infantilizante".



¿Qué tan polémico resulta hoy en día el tema de la sexualidad para las iglesias?



La sexualidad dentro de la iglesia ha sido un tema muy controvertido sobre el cual se han mantenido posturas muy erráticas, muy dogmáticas. Hay que pensar que los tiempos avanzan, los aportes de la ciencia están ahí, no pueden ignorarse como tampoco los nuevos progresos de la exégesis bíblica, la teología y la teología moral.



Una gran generación de teólogos, biblistas, pastoralistas y moralistas se tomó en serio el Concilio Vaticano II; el decreto y el deseo de seguir adelante, de renovar y de poner al día a la iglesia. Uno de los puntos donde había que poner a punto esa renovación era en el campo completo de la moral; sin embargo esa esperanza, esa expectativa -saludada por muchos, con mucho optimismo- no prosperó postconcilio, quedó frenada, impedida. Hubo un malestar creciente, una protesta por parte de muchos fieles dentro de la iglesia. El cambio prometido no llegó y, concretamente, en el campo de la moral sexual fue donde menos se hizo de manera oficial.



Es evidente que han existido progresos en la investigación, incluso, en el campo de la ciencia moral; pero en la normativa oficial establecida, la institución ha mantenido inamovibles sus posturas. Todo esto ha creado una especie de desamor, de alejamiento de muchos fieles de la iglesia, pues la normativa oficial va por un lado y la vida, por otro; es decir, se produce una disociación entre lo que se manda y lo que se hace.



Nosotros, al menos, intentamos hacer ver que las cosas no pueden ignorarse, eludirse. Luego, al confrontarlas con el Evangelio hay muchas normas que no responden ni al espíritu del Evangelio ni al momento histórico actual, ni siquiera a las exigencias actuales de la ciencia, de la antropología, de la filosofía. Eso supone un desfase de la realidad. De ahí, pues, la urgencia y la responsabilidad tremenda que tenemos todos y todas para evitar que la iglesia se quede anclada en el pasado, pierda credibilidad, y no crezca a ritmo y en consonancia con los tiempos actuales.



¿Qué lecturas hace la moral cristiana sobre la sexualidad, y en qué lugar coloca al hombre y a la mujer?



La ética cristiana, la ética sexual cristiana o la moral sexual cristiana era precisamente uno de los puntos que requería mayor renovación. El Concilio Vaticano II dijo que había que renovarla, ponerla al día porque este tema no se había fundamentado debidamente en la Biblia, se había desvinculado de las aportaciones de la cultura y de la ciencia.



Entonces, la moral cristiana, a lo largo de los siglos, trató de llevar el mensaje de Jesús al mundo, a la sociedad; y para lograrlo utilizó como vehículo la cultura y los paradigmas culturales de entonces. Creo que el gran problema que enfrentamos en estos últimos siglos es que ese modelo de moral cristiana, forjado en épocas pasadas, se ha tomado de modo absoluto, incluso se ha dicho que la herencia recibida de la primitiva cristiandad, -más aún, de la matrística, de los orígenes de San Ambrosio, de San Agustín, de San Jerónimo, de Santo Tomás, ya desde la Edad Media- es intocable, como si hubiese una identificación de este modelo cultural, antropológico, con el Evangelio.



Pienso que este es un gran equívoco. Los santos padres de entonces tuvieron una magnífica interlocución con la cultura de su tiempo; utilizaron las categorías antropológicas culturales de su tiempo para dar respuesta a los problemas y a las preguntas de su generación; pero ese modelo cultural, aquel paradigma antropológico, filosófico, cosmológico -que siempre se utiliza a la hora de transmitir o resolver los problemas humanos- ya hoy está desfasado, es decir, no nos sirve, está en otra interpretación muy distinta a la que hoy tenemos, ¿por qué?, porque ha avanzado el conocimiento científico, la hermenéutica bíblica, sobretodo, ha avanzado la teología y lo que no podemos es seguir interpretando y dando respuesta a los problemas morales de nuestro tiempo con las respuestas que les dieron los santos padres.



Creo que este es el problema. Existe una confusión y un temor en apartarse de este modelo anterior, como si eso implicara ser infiel al Evangelio. Y no es así. Hay que distinguir que el contenido del Evangelio es un contenido básico, fundamental, está ahí, no cambia; pero el Evangelio no se pronuncia sobre cantidad de cuestiones que afectan a la sociedad, a la familia, a la pareja, a las personas y, en cada época, hay que utilizar categorías distintas porque la vida cambia, avanza, evoluciona.



Por otra parte, esa absolutización de los modelos del pasado impide abrirnos al mundo presente. El mundo y la historia no los detiene nada ni nadie. Evidentemente hay cantidad de cuestiones que los santos padres, por muy ilustres que hayan sido, no podían sospechar, ni imaginar siquiera.



La inamovilidad y el aferramiento al pasado, quizás hecho de buena fe, no lo sé, es algo injusto que paraliza el progreso de la iglesia y, además, le hace perder credibilidad de cara a la cultura y a la ciencia modernas.



En la sociedad en que vivimos todos nosotros, también creo que en la cubana, se ha establecido un modelo de moral sexual que ha tratado de inspirar y configurar nuestra conducta, con todo lo que la compone: pensar, sentir y obrar. Este modelo tiene siglos de arraigo, ha sido clave, uniforme y ha tenido validez prácticamente hasta nuestros días.



Las personas no pueden vivir sin moralidad, es decir, sin dar un determinado sentido a la vida y, en este caso concreto, un sentido a la sexualidad. El que diga que no tiene un proyecto moral de su vida, miente. Todo el mundo se guía por un proyecto de moralidad, por unos ideales, por unos principios.



Por otra parte, nadie aprende por sí solo este proyecto de moralidad. Somos seres dependientes, receptivos; pero al mismo tiempo tenemos la capacidad innata de ser libres, de actuar con una autonomía propia, personal. Somos, por lo tanto, hijos de una cultura que nos moldea; pero no esclavos de ella.



Esto que acabo de decir, aplicado a la moral cristiana, cobra un especial relieve. En veinte siglos de historia, hemos sido más herederos que creativos, más tradicionalistas que modernos, más repetidores que innovadores. Y esa es la cuestión.



Desde el principio, el cristianismo se fue configurando todo un cuerpo doctrinal, muy peculiar, que se hizo casi universal y casi, casi, intocable. Un cuerpo que ha moldeado a generaciones enteras de cristianos y que ha durado prácticamente hasta nuestros días, dentro de la iglesia católica y pongo como punto de referencia el siglo XX, los años anteriores al Concilio y sobre todo, los del Concilio.



El Vaticano II reconoce, finalmente, a un nivel oficial -se dice en la iglesia católica- que la historia está sometida a un proceso tal de aceleración que apenas es posible al hombre solucionar. El género humano, el hombre, corre una misma suerte y no se diversifica ya en historias diversas. La humanidad pasa así de una convención más bien estática a otra más dinámica y evolutiva, de donde surge un nuevo conjunto de problemas que requieren nuevos análisis y nuevas leyes. Claro, esas instituciones y esas leyes heredadas del pasado no siempre se adaptan bien a las circunstancias actuales. He ahí esa profunda transformación en el comportamiento y aún en las más reguladoras normas morales.



Ahora bien, si esto es así yo me pregunto, ¿cuáles serían las características más sobresalientes de este nuevo poder desfasado? Voy a señalar algunas: Este modelo de moral ha enaltecido la abstinencia sexual, la continencia, la castidad, el celibato por encima del ejercicio de la sexualidad. Ha presentado la castidad como una forma de vida cristiana más perfecta, como un camino más directo para la realización del matrimonio. El matrimonio representaba un camino de seguridad.



Por otro lado, nuestra moral, nuestro modelo de moralidad, establecía la procreación como razón determinante en la relación entre varón y mujer en el matrimonio. Varón y mujer existen como diferentes, son diferentes, se unen en el matrimonio, se unen sexualmente desde el matrimonio para asegurar el bien de la prole, era biológicamente complementario. Biológicamente el varón por sí sólo no podía engendrar, la mujer por sí sola no podía engendrar, se necesitan, tenían que concurrir complementariamente para asegurar el efecto común del hijo.



Pero el hijo era producto y resultado de un proceso biológico más bien disyuntivo que humano y espiritual. Era producto de una naturaleza intuitiva biológica.



Este planteamiento iba acompañado de algunas consecuencias, creo yo, importantes. Primero, los esposos al unirse sexualmente lo hacían para procrear no para amarse, porque tal como se formulaba, nada menos que en el Código de Derecho Canónico, que ha durado hasta el año 1992, el matrimonio era un contrato entre un varón y una mujer, que otorgaba el derecho al uso mutuo de los cuerpos para procrear. Por tanto, era concebido como una agencia de procreación.



Dentro de esta definición de matrimonio, el placer sexual, quedaba descartado como algo impropio, inmoral y vejaminoso. Era un pecado. No podía buscarse por sí mismo. En todo caso era un mal de dos que había que tolerar, porque si hay que procrear no se puede procrear sin placer, entonces la bondad del placer no depende de sí mismo sino de su subordinación al fin altísimo de la procreación. Pero el ideal sería poder procrear sin placer.



Si en aquellos tiempos se hubiera conocido la inseminación artificial se hubiera podido procrear sin placer.



Decir que el matrimonio sirve solamente o exclusivamente para procrear esto es lo que no puedo admitir como derecho. Es para procrear, es cierto, pero no es el sentido ni la razón fundamental e importante del matrimonio la procreación; existen muchos matrimonios que se constituyen como un proyecto de vida desde el amor para construir ese proyecto en común sin que exista procreación.



Veamos otro aspecto: la mujer dentro de la pareja y de la familia desempeñaba un papel de inferioridad y de sometimiento, el varón era todo: el dinero, el dueño, el propietario. La mujer y los hijos estaban subordinados. La mujer estaba sometida al varón ¿por qué razones?; porque era más débil, era inferior, menos inteligente, en caso de engendrarse el pecado de segundo, la serpiente sabría muy bien a quién se dirigiría, a quién podría sacudir con mayor facilidad. La mujer ahora ¡se acabó! y para que no vuelva a descarriarse, tiene que estar bajo la tutela del varón, bajo el dominio del varón, bajo la dominación del varón.



La mujer representaba el desorden, la oscuridad, el caos, la tentación, en tanto el varón, representaba la racionalidad, el orden, la claridad y la seguridad. La mujer no podía figurar en la vida pública. Una mujer pública sabemos lo que significaba en términos populares, una mujer pública, es una puta. Era incompatible la vida pública con la mujer, eso era pecado, era invadir un terreno impropio y reservado exclusivamente para el varón. La mujer no podía desempeñar ningún trabajo, no podía desempeñar ninguna responsabilidad pública. Su lugar natural era el hogar. Y así se concibió y transmitió una imagen de la mujer como la paridora y cuidadora de los hijos.



En esa visión o modelo de la moral, ¿cuál era la aptitud por excelencia y cuál era el pecado por el que todo el mundo iba al infierno? Todos podrían ser pecadores, todos podrían condenarse por uno u otro pecado; pero a todos se condenaba por el pecado de la carne. La virtud por excelencia, la virtud evangélica era la continencia, no el amor.



Los pecados mayormente perseguidos eran los pecados del sexto y noveno mandamiento, no los pecados contra la justicia o contra el amor. Era tanta la importancia dada a la moral sexual, a las transgresiones sexuales que prácticamente se producía esa peligrosa distinción, entre moral y moral pública, entre moral sexual y moral pública. La moral pública, en tiempos no muy lejanos, se reducía solamente a eso: velar por las buenas costumbres.



Por tanto, era ciertamente esta una reflexión unilateral que dejaba fuera aspectos mucho más importantes, básicos de la moral. No es de extrañar que a raíz de estas posiciones una opción fuera la transgresión de la sexualidad, viendo en todo pecado y determinando que dichas transgresiones sexuales eran todas ellas graves, porque en el campo de la moralidad sexual no cabía la parquedad… Ahí todo era grave. Todo pensamiento, toda mirada era grave. Esto viene de algunos sitios de la iglesia, de la cristiandad.



Se estableció, además, una severidad y una rigurosidad especial contra el placer sexual, que es difícil de encontrar en otras religiones. El placer sexual por su vehemencia podía fascinar, podía enajenar, podía ser convertido en algo absoluto, como si la felicidad que el hombre busca se encontrara en el placer sexual y no en Dios que es la meca de la felicidad.



Es decir, el placer sexual podía convertirse en un falso Dios. Podía absolutizarse. Y para evitar ese riesgo es que se decreta una ley sistemática contra el amor. Para que no haya lugar a dudas, para que no haya ni siquiera oportunidad de equivocación alguna: el placer sexual fue congelado. La moral absoluta era incompatible con la vida de transgresión sexual.



Concretamente en el tema de la sexualidad, ¿hasta dónde llegó el Concilio Vaticano II y cuáles han sido sus límites?



El Concilio Vaticano II fue un paso gigantesco, fue el acontecimiento más importante del siglo XX en la iglesia católica, sobretodo, si lo comparamos con todo el período anterior, remontándonos al Concilio de Trento. No cabe duda, que el cambio fue como una especie de giro copernicano dentro de la iglesia. Hubo puntos que afectaban profundamente al campo de la eclesiología, la cristología, la misión de la iglesia en el mundo actual. Y eso está ahí como un logro impresionante.



Pero, por supuesto, muchas otras cuestiones quedaron abiertas, quedaron sin resolver para un futuro. Ya me daría por satisfecho si hubiésemos avanzado más en el programa del Vaticano II, y lo real es que no se ha cumplido.



Todo el pontificado de Juan Pablo II, por ejemplo, fue más bien involucionista; es decir, aunque aparentemente se nombraba y se decía que había que cumplir con el Vaticano II, de hecho, en la práctica, fue un retroceso constante. Durante todo ese tiempo se trataron de reintroducir planteamientos y posturas que, de alguna manera, ya se habían sobrepasado. A eso fue lo que se llamó la "restauración" llevada a cabo, por quien es hoy Papa de la Iglesia, Benedicto XVI, que entonces era el prefecto de la Sagrada Congregación para la Doctrina de la Fe, guardián de la ortodoxia, quien marcó de cerca, muy rígida y severamente, a sus colegas, a los teólogos. Muchos de los peritos que intervinieron el Vaticano II, sufrieron, posteriormente, la censura por parte de la curia romana, de la congregación para la doctrina de la fe.



De manera, que el Concilio está ahí como un momento histórico de gran importancia en la iglesia, con unos planteamientos, unas perspectivas y unos cambios fundamentales que no se han llevado todavía a la práctica, por lo menos, del todo.



Por otro lado, ha habido un paro, un retroceso, es decir, una desvirtuación de sus propios dinamismos renovadores.



Todos estos límites dentro de la iglesia -que podemos encontrar en esto que hemos llamado la encrucijada del caos, un cierto malestar, una inconformidad, una disidencia- parten del hecho de observar que las normas oficiales van un camino y la vida del pueblo, por otro. Entonces, ¿quién tiene razón, la jerarquía o la comunidad? Y fíjate que es una jerarquía mayormente celibataria, pues los maestros y los expertos en la materia son los médicos. Se trata entonces de que este problema ha sido elaborado, principalmente por los célibes, pero también por célibes, como yo, que estamos abriendo caminos…



Toda esta moral tiene este rasgo de lo que ha sido y ha estado en monopolio. Por lo tanto, tenemos un enaltecimiento exagerado de la castidad, de la continencia como superior a la no-castidad, a la no-continencia. Una comprensión estrecha, muy reducida de la sexualidad que la ciñe solamente a la procreación, una desigualdad de la mujer, un considerar que la sexualidad es exclusivamente derecho de procreación y no signo, medio y expresión de amor.



¿Qué es lo que está en crisis, entonces?



Cuando decimos está en crisis la moral, está en crisis la familia, está en crisis la pareja, debemos distinguir, ¿qué está realmente en crisis? La moral o un determinado modelo de moral; la familia o un determinado modelo burgués de familia; un modelo de familia donde el varón tiene la primacía, dispone de todo, es propietario y señor; y la mujer, una enjerta menor subordinada a los caprichos del varón; donde los hijos no pueden ni chistar; donde la mujer pierde hasta su propio apellido porque se dice fulana de tal, señora de más cual… Fíjate cuántas cosas han tenido que cambiar tardíamente en los códigos, pues hasta hace muy poco la mujer no podía ir a testamentar, no podía ir a declarar a un juicio...



Creo que ese modelo de moralidad familiar, de pareja donde hay una desigualdad radical, se viene abajo. Ahora, eso es ¿llegar al fin?, ¿llevar a pique la familia?, ¿irse a menos?, ¿eso supone un deterioro, un detrimento de la familia? Para mí no.



Hoy ha crecido de tal manera la conciencia de la dignidad humana, la conciencia de la igualdad entre el varón y la mujer, que ya no permitimos tan fácilmente esa situación de discriminación, de desigualdad tan presente en nuestras vidas y culturas.



Y en la iglesia, ¿qué papel tienen las mujeres, en cuántos puestos directivos de las iglesias están las mujeres, quiénes ocupan los puestos directivos? Hoy todavía esto no se ve de una manera clara. Precisamente porque lo de la mujer viene de lejos, de la rueda del tiempo de la historia, de todo ese largo proceso patriarcal que hemos construido por siglos y siglos.



Ahora bien, cuántos son los que crean, los que renuevan, los que abren caminos y los que la pasan mal porque se adelantan a su tiempo, rompen esquemas, echan a atrás prejuicios y provocan automáticamente la resistencia, la maledicencia, la persecución y, en algunos casos, hasta la muerte.



Todo ese tiempo en que estuvo vigente el régimen de cristiandad, la religión católica ejerció su hegemonía sobre la sociedad, sobre las otras las religiones. Los valores cristianos, los valores religiosos eran la cumbre, a ellos tenían que estar subordinados todos los demás valores. El saber teológico era el primero al cual tenían que estar supeditados todos los demás valores humanos y, por lo tanto, el saber que se apartara del saber teológico, era reprimido.



En un mundo cada vez más caótico, donde prima la ley del más fuerte, la violencia, la guerra y la banalidad, ¿qué entiende un cristiano por salvación, qué se salva, y de quién?



En los días del taller socioteológico, conversando con muchachas y muchachos cubanos que pertenecen a diversas denominaciones religiosas, tuve oportunidad de hacer un ejercicio muy interesante, que tiene que ver con un aspecto que ha motivado poco entusiasmo y reflexión dentro de las iglesias, me refiero a sus percepciones sobre la sexualidad y a la moral cristiana.



Etimológicamente, la salvación, coincide con la palabra salud. Es paradójico, es sorprendente que en latín salud significa salvación. La persona cuando está sana vive en armonía, vive con fuerza, vive con bienestar, feliz, no le falta nada. Cuando está enferma, cuando carece de salud se produce una disfunción, una alteración, entonces, viene el desajuste, el deterioro. Esto es en nivel individual. En el ámbito social pasa lo mismo, porque la persona tiene una dimensión no sólo personal, sino social y política. Si la persona está llamada a convivir, a relacionarse con los demás dentro de una sociedad nacional e internacional, esa convivencia, esa relación, para que sea sana y sea salvadora, tiene que estar hecha de acuerdo con los postulados de la justicia, la igual, la fraternidad, el amor, que nos llevan a la paz. Entonces, las relaciones son armónicas; pero cuando estas leyes de la convivencia, que son las leyes de la salud y la salvación, son sustituidas por el egoísmo, la ley del más fuerte, entonces, viene la desarmonía, el desajuste, enfermedad y hasta la muerte.



En este sentido pienso que hoy tenemos claro el camino para conseguir esa salvación y es implantar en todas partes el respeto a los derechos humanos, como lo dice la Carta de las Naciones Unidas. Sabemos que eso supone no solamente proclamar sino cumplir, de hecho, el programa mínimo de los derechos humanos de todas las naciones del mundo. Si lo cumplimos obtendríamos unas relaciones nuevas, una sociedad justa, más igualitaria, más respetuosa, más pacífica, más humana.



Evidentemente en este proceso hacia una sociedad nueva, construida sobre los pilares de la justicia, la fraternidad y la libertad, entra el mensaje de Jesús, que es un mensaje de amor, de fraternidad y de justicia, de lucha por los más pobres. Él no anula ese proceso sino que lo potencia, lo estimula, lo ratifica. Y eso es lo que tiene que hacer el cristiano.



Imagino que cuando se refiere a ese proceso de salvación, incluya también la plena sexualidad del ser humano.



Por supuesto, porque la sexualidad no es un mundo aparte de la persona. La sexualidad no es un sujeto de nada, ni es sujeto de educación; pues la sexualidad no se puede educar, ni orientar en una u otra parte; lo único que puede educar se es la persona; la persona es el sujeto al cual pertenece la sexualidad, como una dimensión, como un valor. Por tanto, la mejor educación sexual es la mejor educación personal.



Una persona que desde el principio es educada en las actitudes fundamentales del amor, de la igualdad, de la justicia, de la sinceridad, del respeto al otro, de la tolerancia, la lucha contra el orgullo, contra la dureza de corazón, tiene una base formidable para poder vivir bien cuando se relaciona con el otro, como persona y como mujer o como hombre, y por consiguiente, evita todo aquello que pueda ser contraproducente, nefasto, pernicioso para la convivencia. Ahí está la salvación también de la sexualidad. En la medida en que la persona está ajustada, está bien integrada en los valores fundamentales del amor, la justicia y el respeto, la sexualidad lo está también.



Bueno y también en esa capacidad que tiene que ir formándose cada ser humano para aceptar al otro como sea, ¿no?



Claro, es que la persona significa eso. Es relacional, hecha para la convivencia. Yo no puedo ser yo sin el otro, no puedo realizarme al margen del otro o en contra del otro, sino que mi propia realización incluye al otro. Esa es la ética que yo llamo conjuntiva: tú y yo a la par, y no la ética disyuntiva: tú o yo. Es decir, no puedo considerarme libre, no puedo considerarme feliz mientras una sola persona en este mundo no sea libre y no sea feliz.



Hemos hablamos mucho de modernidad y de la cristiandad. Me gustaría saber qué es para usted la posmodernidad?



Francamente no sé lo que quiere decir la gente con eso. Te confieso que esa palabra no me resulta nada atrayente. Entiendo más o menos, lo que significa el término: hoy a la gente no le interesa las grandes causas, los grandes principios, sobretodo porque se parte de cierto fracaso de todos los ideales de la modernidad; pero, cuidado, esto sólo es hasta cierto punto. Realmente ¿ha habido un fracaso? La modernidad es ambigua y es la gran asignatura que tiene pendiente la iglesia, una materia que no ha logrado aceptar.



Evidentemente han existido puntos oscuros, deficientes; pero el gran mensaje de la modernidad es aquel que ubica al hombre como protagonista de la historia, y como tal ha logrado conquistar la democracia, la igualdad, el pluralismo, la tolerancia y la libertad. Estos valores son absolutos en el sentido de que no pueden negarse. Y entonces, con la posmodernidad se trata de inducir un lenguaje y una visión que intenta dar por terminado algo que, según algunos, no pudo concluir la modernidad.



¿Hay esperanza, futuro?



Estamos en un nuevo momento histórico donde el hombre reclama su protagonismo en la historia, su libertad, su autonomía, su creatividad. Y aparte de la religión y, con razón, sacudiendo la estera de la religión porque ha sido opresora y opresiva, algunos ponen el grito en el cielo ¿qué es lo que está pasando hoy en los llamados países democráticos, desarrollados?



Por ejemplo, en España se ha producido un grito histérico de la derecha política y de la derecha eclesiástica que ha comenzado a decir: una ola del ateísmo, una ola paralizante nos está invadiendo, nos quiere borrar a Dios de la sociedad, nos quiere arrinconar los valores religiosos. Creo que a lo que se teme es al impacto que ha tenido el movimiento humanista, auténtico, al cual nos tenemos que hacer porque hemos vivido de espaldas a la historia y no hemos reconocido el protagonismo del hombre, su autonomía, sus valores. Estamos acostumbrados a estar siempre arriba, mandando, dirigiendo, imponiéndonos y ya la cultura política no le da paso a eso.



Venimos de una historia larga, estamos en un momento de cambio, en una encrucijada, pero hay un inconveniente en todo esto y es que el modelo de moralidad que hemos recibido, que hemos perfilado, que hemos mantenido se considera ahora como un modelo eterno.



Claro, que hay esperanza y hay futuro. Pero ese futuro tiene que sustentarse en un replanteamiento de toda la moral y, sobre todo, de la moral cristiana. Ahora la renovación, quede bien claro, no va a venir de afuera, no va a venir de las elites dirigentes, no va a venir de las instituciones, a las que les conviene seguir donde están y como están. La edad, la educación, los privilegios que tienen, el poder de que disfrutan, todo eso automáticamente les lleva a una oposición contra todo lo que sea renovación, novedad, cambio.



Para ponerse en cambio, en aptitud de cambio hay que tener unos grandes principios, unas grandes convicciones. Hay que estar muy firmes en la propia interioridad porque si no ante la más mínima adversidad, contrariedad, echamos atrás, nos doblegamos y desistimos. Hay que tener coraje, audacia, espíritu evangélico. La fidelidad al Evangelio, el anuncio de la Nueva Buena de Jesús nos exige acrisolar, echar fuera todo ese lastre histórico, comprensible en otro momento de la historia, pero hoy intolerable, hoy insoportable.

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: rmcf (IP registado)
Data: 05 de February de 2006 14:45

Também por falar em esquizofrenia: uma posição que a mim me entristece...


Retirada de [dn.sapo.pt]




Questões de bioética dissentir 'na' Igreja


Anselmo Borges Padre e professor de Filosofia

Oteólogo jesuíta Juan Masiá viveu 27 anos no Japão, onde foi director do Departamento de Bioética no Instituto de Ciências da Vida da Universidade Sofia e professor de Antropologia na mesma universidade, da Companhia de Jesus, em Tóquio.

Especialista em bioética, foi chamado a Madrid em 2004 como director da cátedra de Bioética na Pontifícia Universidade Comillas. Em 20 de Janeiro de 2006, foi-lhe comunicado que abandonaria a direcção antes do fim do mês e que no termo do presente ano académico cessariam todos os seus serviços na universidade.

Em carta dirigida aos membros do Conselho da Cátedra, Masiá pede que "não culpem o reitor da universidade, José Ramón Busto, pois ele assumiu a humilhação de carregar sozinho com toda a responsabilidade de algo de que não tem culpa, poupando às autoridade eclesiásticas o mal-estar de darem a cara para responsabilizar-se".

As fortes pressões de uma parte da hierarquia eclesiástica espanhola - fala-se nomeadamente nos cardeais Rouco, em Madrid, e Trujillo, em Roma - vinham em crescendo desde Outubro de 2004. Como razões para a decisão são aduzidas as suas "tomadas de posição sobre alguns temas de bioética". O livro Tertulias de Bioética, apesar de ter aparecido "com as devidas licenças" canónicas, terá sido decisivo. Entretanto, foi proibida a sua venda e reedição.

Masiá defende uma ética de interrogações, dialogante e criativa, tendo na base o respeito pela dignidade humana. Não se pode cair numa moral situacionista nem ficar em princípios abstractos que não têm em atenção os dados das ciências, a cultura democrática, a autonomia responsável e as pessoas concretas. "É necessário falar sem medo. Os cristãos têm de ser tratados como adultos e não como crianças." A moral deve ser uma bússola que indica o norte, mas "quem tem de caminhar és tu, mesmo que por vezes no escuro". Há, por parte da Igreja, o risco de "intromissões inoportunas para ditar moralidade à sociedade civil". Nos debates éticos, a Igreja não deve ser nem privilegiada nem excluída. E, por amor à Igreja, é preciso às vezes dissentir dentro da Igreja - não dissentir "da" Igreja, mas "na" Igreja.

Neste contexto, o preservativo "não devia sequer ser problema". Pode usar-se "não só como prevenção de um contágio, mas também como anticonceptivo corrente, para evitar uma gravidez não desejada e evitar o aborto". No caso de sida, é mesmo necessário.

Masiá situa-se entre extremismos. Assim, se é um exagero "apoiar-se na biologia para justificar uma legislação permissiva sobre o aborto em fases avançadas da gestação (por exemplo, aos três meses)", também se não pode deduzir dela "a presença de uma realidade pessoal em cada embrião antes da implantação no útero materno".

É fundamental a distinção entre anticoncepção, intercepção, concepção e interrupção da gravidez. Assim, a pílula do dia seguinte ou outros procedimentos a que se recorre, por exemplo, no caso de violação ou situação equivalente, "não são abortivos, mas interceptivos".

Quando se não conhecia a fecundação do óvulo pelo espermatozóide, não se distinguia entre anticoncepção e aborto. Agora, com os novos conhecimentos, impõe-se não só essa distinção, mas também o reconhecimento de "uma nova zona entre ambos" a intercepção ou interrupção do processo durante os primeiros dias, quando o óvulo fecundado está a caminho da implantação no seio materno.

Esta distinção é decisiva, pois abre a possibilidade da anticoncepção de emergência e da intervenção nos embriões no estádio pré-implantatório, tanto nos programas de fecundação in vitro como de diagnóstico antes da implantação e de investigação em células estaminais.

A procriação de um novo ser humano é processual. Mesmo o que se chama "momen- to da fecundação" é um processo que dura mais de 20 horas. Quando se pode então falar de pessoa humana? Parece razoável uma "posição prudencial", que traça duas linhas de segurança nem antes dos 14 dias nem depois da oitava semana, quando o embrião se constitui em feto.

A clonagem reprodutiva não faz sentido. A possibilidade de clonagem com fins terapêuticos terá de ser enquadrada em leis estritas, para evitar, por exemplo, a comercialização. Juan Masiá tem em português A Sabedoria do Oriente, e esteve em Portugal para conferências nos colóquios "Igreja e Missão" e no congresso "Deus no século XXI e o futuro do cristianismo", no seminário da Boa Nova, Valadares, e também na Universidade de Coimbra".




Pelos visto, isto de dissentir na Igreja... não é muito possível...

Abraço fraterno

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: rmcf (IP registado)
Data: 05 de February de 2006 14:59

De Masiá




DE VUELTA EN MI PAÍS*
El ambiente extraño de la iglesia española

JUAN MASIÁ, jesuita, facultad de teología de la Universidad Pontificia de Comillas

MADRID

Me ha llamado la atención durante estos últimos meses, la situación tan exagerada por los dos extremos que se percibe en los debates éticos en este país. Se habla, por ejemplo, sobre investigación con células madre y es chocante la politización de la discusión sobre temas científico-éticos y la polarización radicalizada por los dos extremos. Por una parte, posturas presuntamente defensoras de la vida humana hacen un flaco favor a esa defensa con su actitud negativa y condenatoria. Por otra parte, eso suscita la reacción opuesta de quienes sospechan de la ética como mero freno y enemiga del progreso. Viniendo de una cultura como la japonesa, tan caracterizada por la conciliación y el consenso, este ambiente en nuestro país me resulta, por decirlo suavemente, desconcertante.

Me llama también la atención la intromisión inoportuna de instancias eclesiásticas para dictar moralidad a la sociedad civil. He de decir que estoy acostumbrado a vivir en Japón, en el seno de una iglesia minoritaria, en medio de una sociedad civil plural y democrática, secularizada y laica, en el mejor sentido de estas palabras, y con un episcopado acostumbrado a respetar escrupulosamente la separación de Iglesia y Estado, una iglesia que no está ni privilegiada ni excluida, en un contexto intercultural e interreligioso.

Viniendo de ese mundo, me sorprenden los malentendidos sobre ética o sobre iglesia y sociedad en nuestro país. Por ejemplo, el caso, mitad cómico mitad anacrónico, en torno al preservativo; uno no sabe si reir o llorar. Ni siquiera tenía que ser problema. No sólo como prevención de un contagio, sino como anticonceptivo corriente, se puede usar para evitar un embarazo no deseado y evitar el aborto. Hace mucho tiempo que la teología moral seria ha superado ese falso problema. Aunque diga lo contrario un dicasterio romano o los asesores de una conferencia episcopal, o los que redactan para el Papa un discurso, se puede disentir en la iglesia por fidelidad hacia la misma iglesia. Sobre todo, sabiendo que ni es cuestión de fe, ni es cuestión de moral, ni es cuestión de pecado. Es cuestión de sentido común, responsabilidad y buen humor.

Pero, al fin y al cabo, el tema del preservativo es un pseudo-problema secundario que no merece darle más importancia. Por cierto, que lo que afirmaba el otro día el portavoz de los obispos después de su diálogo con la ministra de sanidad es algo que estaba escrito hace años en libros y revistas especializadas de teología y estaba dicho también en documentos de episcopados; no es nada nuevo. Tanto el admirarse de lo que dijo como si fuera una novedad como el creer que hay que obligarle a desdecirse, lo que indican es ignorancia de por donde va la reflexión teológica seria.

Otros temas son más serios. Por ejemplo, decía el otro día cierta personalidad eclesiástica que la obtención de células madre a partir de embriones pre-implantatorios es una matanza de inocentes. Expresarse así es originar malentendidos científicos, éticos y teológicos.

Hablaba otra personalidad eclesiástica el otro día sobre los problemas de la sexualidad en tales términos como si la orientación sexual en sí misma, independientemente de su ejercicio, fuese algo desordenado, pecaminoso e intrínsecamente malo. Expresarse así, usando la palabra pecaminoso para referirse a la orientación en sí misma, es algo que va contra lo que está explícitamente dicho tanto en el catecismo de la Iglesia católica como en la declaración de la Congregación de la fe acerca de la no discriminación de personas al tratar ese tema.

Opiniones como éstas hacen un flaco favor a la iglesia que representan y a la ortodoxia que desean defender. Por eso, por fidelidad a la Iglesia, por sentirnos iglesia y sentirnos en la iglesia, nos vemos obligados, no sólo a sentir con la Iglesia sino, en algunas ocasiones, a disentir en la iglesia, a disentir razonable y responsablemente dentro de la iglesia. (Nótese que no he dicho disentir “de” la iglesia. El que está fuera disiente “de” la iglesia, los que estamos dentro, disentimos “en” la iglesia, sintiendo la responsabilidad de hacerlo y la responsabilidad de hablar). Y no olvidemos que la iglesia no es como esos partidos políticos en los que si te mueves no sales en la foto.

También escuchábamos el otro día a otra personalidad eclesiástica hablar sobre el final de la vida confundiendo la legalización de un comportamiento con la despenalización y confundiendo la despenalización con la aprobación y recomendación.

Otro responsable eclesiástico confundía el estudio escolar del hecho religioso con la imposición obligatoria de la religión. No habría leído lo que dice la encíclica Redemptoris missio sobre la fe, que “no se impone, sino se propone”.

Y también hemos oído a personas católicas hablar sobre laicidad de la sociedad civil, como si fuera algo malo. Se ve que no conocen la Constitución sobre la Iglesia en el mundo actual, del Concilio Vaticano II.

Todo esto produce la impresión de una iglesia quejumbrosa, pesimista y gruñona, que habla más del pecado que de la esperanza. Me recuerda los versos de Calderón en La vida es sueño:

Que tal placer había

En quejarse, un filósofo decía,

Que a trueque de quejarse

Habían las desdichas de buscarse.

Un último ejemplo. En el año 2001 se debatió en Japón sobre la legislación acerca de las técnicas de clonación; era una ley que, rechazando la clonación reproductiva dejaba abierta la puerta a dos posibilidades: el uso de embriones sobrantes de técnicas de fecundación in vitro y el uso, controlado y regulado públicamente, de técnicas de clonación con finalidad no reproductiva, con miras a sus resultados en medicina regenerativa. En esa ocasión nuestro Instituto de Ciencias de la Vida, de la Universidad Sophia, la universidad de los jesuitas en Tokio, apoyó positivamente esa legislación, que me parece bastante prudente a la vez que abierta. Precisamente con ocasión de la visita a Japón del Padre Javier Gafo, que asesoró al Comité de la Vida de aquella Conferencia episcopal, compartió nuestro Instituto con él las conclusiones del Comité de Expertos sobre Bioética y Clonación, publicadas por la Fundación de Ciencias de la Salud en Madrid. Estábamos de acuerdo en evitar posturas extremas y en distinguir, como hacía ese comité, dos niveles en el razonamiento moral: el exhortativo y el prohibitivo. Una cosa es manifestar reservas hacia determinada práctica, percibidas como vinculantes para uno mismo desde la propia cosmovisión, y otra cosa es pretender imponerlas forzosamente a los demás en una sociedad plural que no comparte necesariamente esa cosmovisión. De hecho, el texto inglés de las conclusiones de ese comité fue muy bien recibido entre los colegas japoneses, por contraste con el insuficiente aprovechamiento que se ha hecho de él aquí en España. Confío en que se va a aprovechar mejor en las próximas etapas legislativas, pues hace tiempo que estamos necesitados de una reforma de conjunto en temas de bioética, así como de una comisión científica y éticamente imparcial a nivel estatal.

Así percibo estos problemas y así lo he querido compartirlo con ustedes, con sinceridad humana y cristiana, desde una fidelidad a la fe y a la iglesia que nos urge y apremia a disentir dentro de la iglesia. No sí si alguien pensará que decir todo esto es imprudente, yo creo sinceramente que no decirlo es lo que sería inmoral. Que la fe nos anime siempre a hablar más de la esperanza que del pecado, a optar por la paz en vez de la guerra, por el talante de encuentros y diálogos, en vez de los conflictos, crispaciones y confrontaciones.

*Tomado del texto de una conferencia en el Aula Pedro Arrupe, Iglesia de los Jesuitas, Madrid, 25 de enero de 2005.




Os sublinhados são meus.

Abraço fraterno,

Miguel





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