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Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 16 de February de 2004 16:12

VM,

Acho que o dogma da Infalibilidade merecia por si só ser discutido noutro tópico. Penso que mais cedo ou mais tarde, este será revisto num futuro concílio.

Luis

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: taliban (IP registado)
Data: 16 de February de 2004 16:47

O dogma da inaflibilidade não se aplica nesta questão....

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 16 de February de 2004 17:03

Alef,

Este é um assunto que tem muito a ver com os católicos de hoje. E se não diz, é porque, como tu dizes, os católicos já "resolveram" a questão. Há algum tempo atrás, o João Oliveira apresentou os métodos naturais de contracepção muito cor-de-rosa. Na altura tive oportunidade de lhe dizer que os métodos são bons não apenas na teoria como são aplicados na prática. Na prática, e no meu caso pessoal/familiar, somos três irmãos, todos eles resultado da utilização de métodos naturais de contracepção. Não teriam os meus pais utilizado-os bem? É provável. Mas nesse caso, quantos mais outros casais terão passado pelos mesmos índices de "sucesso"?

Sabemos das estatísticas que nenhum método é 100% fiável. Também sabemos que o contraceptivo oral feminino, (vulgo 'pílula') é dos que tem mais sucesso e, provavelmente o mais discreto. Quanto às questões que levantas, aqui deixo a minha opinião.

1 - Não me parece que a utilização de contraceptivos não-naturais vá contra os valores morais cristãos! A "Humanae Vitae" é por assim dizer, um laivo de clericalismo, uma marcha-atrás do Vaticano II, ou uma distração do Espírito Santo, como preferirem. Não me parece que no âmbito de uma relação de Amor entre um casal (homem e mulher), o uso do preservativo seja incompatível com os Dez Mandamentos, ou a Sagrada Escritura.

2 - Será a "Humanae Vitae" fiel ao Evangelho? Não terá sido uma tentativa de "adenda" que nada tem a ver com o mesmo?

3 - Esta esquizofrenia é típica de algo mais generalizado. Na minha opinião,a Igreja é vítima de um trauma sexual que é urgente resolver. Prazer sexual não é pecado. E se os Doutores da Igreja influenciaram negativamente o aspecto da sexualidade (estou a lembrar-me de S. Agostinho e S. Tomás de Aquino), temos de os interpretar à luz do seu tempo. Foram homens magníficos autores de uma obra de inquestionável valor teológico. Mas é necessário contextualizarmos na sua época para os compreendermos devidamente.

Uma Igreja que continua a defender o celibato como algo superior à vida conjugal está a ir contra o Espírito da Sagrada Escritura. Sem dúvida que S. Paulo tem a sua quota parte de "culpa" neste capítulo. Porém, quantos dos Apóstolos eram solteiros? E se todos os católicos decidem ser celibatários, teremos próxima geração? Castidade não é exclusiva dos celibatários.

Muitos se perguntarão como é possível ter um "Cântico dos Cânticos" no cânon bíblico. Ele está lá por algum motivo.

Recentemente, tem-se falado sobre a Teologia do Corpo. Receio que tenha alguns séculos de atraso.

A dualidade platónica de matéria e espírito está desactualizada. E se até Deus encarnou para nos salvar, porque continuaremos a insistir na aniquilição do corpo como caminho para a salvação?



JMA,

O facto dos católicos não terem lido a "Humanae Vitae" não impedem que pense que a utilização de contraceptivos é contra a doutrina da Igreja. E se tivermos em conta a "Humanae Vitae" é-o de facto.

Luis

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: taliban (IP registado)
Data: 16 de February de 2004 20:59

Uma coisa é certa - è preciso a frontalidade e firmeza de um dos nossos bispos para que se ouse falar com verdade sobre esta questão. Já foi aqui discutida no forum e parece haver um consenso entre os católicos sobre esta questão. A escolha de metodos contraceptivos seguros não é um acto de egoismo mas de amor.
Além disso o controle da função reprodutiva liberta verdadeiramente os casais para uma comunhão de amor.



O Luís fala de um trauma sexual da Igreja. Assim é. A Igreja teve sempre muitas dificuldades em lidar com a sexualidade humana, em particular a sexualidade feminina.

Este medo do amor, da carne e do prazer, a teoria segundo a qual todo o coito era pecaminoso nunca deixou de estar mais ou menos presente na Igreja. AS mitigações deste conceito, que foram pouco a pouco sendo introduzidas, para pelo menos justificar um certo afecto entre os casais, trouxeram algumas mudanças. Mas muito lentas.
A actual teoria da negação de métodos contraceptivos eficazes é uma reminiscência dos conceitos agostinianos sobre as finalidades do coito.

O coito estava proibido fora do casamento, tal como hoje e, durante algum tempo, era muito mal visto dentro do casamento!
O Papa inocêncio III escreveu "sabemos que a cópula não acontece sem o prurido da carne, a fermentação do desejo e o fedor da luxúria".

Ao ler os fantásticos escritos do abelardo e seus heterónimos, reconheço um tipo de discurso que ainda hoje permance na mente de muitos ditos católicos. Santo agostinho só tolerava o acto sexual porque era um mal menor e tinha por fim a procriação - mas uma coisa que se permite continua a ser pecado.

DE certa forma, a teoria de santo Agostinho continua válida na moral sexual da Igreja " Quanto mais os esposos se abstiverem um do outro melhor"... è esse o sentido dos métodos de abstinência periódica e dos discursos sobre castidade conjugal...

A Igreja Católica ( ou melhor, os padres) sempre tentou deitar-se no leito conjugal, para limitar a lascívia do amor, isto é todas as formas de prazer e erotismo , mesmo entre conjuges.

A igreja do seculo XXI mantém a "doutrina da continência periódica ", com origem na Idade Média! Nessa altura foram produzidas todo um conjunto de proibições quanto aos lugares, momentos, modalidades e posições convenientes para o coito. Por exemplo, era proibido ter relações sexuais durante o periodo menstrual, a gravidez ou o aleitamento, no Domingo, em dias de festas religiosas, na quaresma, a semana do natal, etc, etc...

Quanto ás posições, havia algumas que eram pecado mortal, que poderiam comprometer a salvação da alma, por exemploa posiçao mulier super virum ( a mulher por cima do homem) , segundo os teólogos é uma posição que só se escolhe por vício... ( das mulheres, claro...
De igual forma, o sexo oral e o coito anal eram considerados pecados gravíssimos... e o mesmo em relação ás carícias entre os esposos...


Em finais do século XVIII, um padre normando assinalava, no seu livro "Catecismo para pessoas casadas" que seria conveniente interrogar mais detalhadamente os casais sobre a sua vida sexual. Segundo ele, o leito conjugal era um lugar de comportamentos abomináveis....
Outra ideia dominante é que a gravidez e o parto seriam uma espécie de "justo preço" que as mulheres deveriam pagar pela luxúria da carne. A ideia da gravidez como castigo divino ( e de facto era, pois para uma larga percentagem de mulheres as gravidezes eram uma sentença de morte)...
Esta ideia não desapareceu completamente. POr exemplo, a propósito da discussão sobre o aborto, este argumento tem sido utilizado...

A orientação contra todas as formas de contracepção surgiu no início do século XX, com uma enorme intensidade..
Quan do o método Ogino -Knaus foi divulgado, em finais da década de vinte do século xX, a Igreja tentou opor-se a o seu uso. Actualmente recomenda esse método, considerando "natural", mas, quando ele surgiu, foi desaconselhado pela Igreja!!!!

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: taliban (IP registado)
Data: 16 de February de 2004 21:03

SE vocês acham que são a Igreja, entaõ vocês estão certos e algum clero e o papa - apenas mais um ao serviço de todos, como todos estão - ESTÃO ERRADOS.

E a era dos pecados por decreto - e das absolvições por decreto - já passaram.

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 17 de February de 2004 11:40

Algumas notas muito rápidas, por falta de mais tempo:

1. Ainda a “esquizofrenia”. Quando falo de “esquizofrenia” refiro-me não meramente à rigidez da linguagem dos documentos mas ao todo complexo de “duas personalidades”: uma, inflexível, que é a que a maior parte das pessoas vê nos documentos e no Catecismo da Igreja Católica; outra, dita “pastoral” que em muitos casos chega a ser muito flexível nuns casos, enquanto noutros casos não se passa da repetição da primeira.


2. Planeamento familiar e outros âmbitos: o caso da homossexualidade. Foi dado o exemplo do planeamento familiar, mas poderia ser também dado o outro caso bem delicado das pessoas homossexuais (e com isto não mudo de tema): ao usar da categoria teologicamente muito discutível de “actos intrinsecamente maus” (!!!), os documentos da Igreja enveredaram por caminhos, a meu ver perigosos, no que diz respeito à homossexualidade. E de novo aqui se vê a tal “esquizofrenia”, talvez ainda mais patente: por um lado, é dito que as pessoas homossexuais devem ser acolhidas com grande respeito, por outro diz-se que todos os actos íntimos entre pessoas do mesmo sexo são “actos intrinsecamente maus”.

E a dupla personalidade manifesta-se mais uma vez: há agentes pastorais que acentuam o lado do acolhimento e minimizam a questão do “intrinsecamente mau”, achando que ninguém pode mutilar a pessoa homossexual da sua realização afectiva (!); há outros que só de saber que uma pessoa é homossexual olham essa pessoa como uma espécie de pecadora pública destinada ao inferno. Não nos iludamos. Se alguns de vocês conhecerem pessoas homossexuais profundamente católicos, verão o sofrimento que trazem consigo. Com que direito se pode oprimir tais pessoas com as habituais “promessas” do inferno? Claro, não sejamos simplistas: pessoalmente, parece-me a homossexualidade põe problemas muito complexos, que não vou agora abordar para não sairmos do tema geral, mas é problemático a meu ver o modo taxativo com que se menorizam e se “ghettizam” as pessoas homossexuais dentro (fora!) da Igreja. De novo, a pergunta: que fazer para conseguir conciliar o centro do evangelho neste caso? Não se pode cair no “tudo vale”, mas...


3. Ir para além do simples “bota-abaixo”; a necessidade da autocrítica. Embora possa ter algo provocador no “tom”, a minha posição está longe de ser a do mero “bota-abaixo”. Acho que seria muito mau e redutor ver toda a questão nos documentos ou continuar a bater no ceguinho que é hierarquia. Creio que os documentos são necessários e respondem a questões importantes. Podemos estar em desacordo com a linguagem, mas demos o passo hermenêutico necessário de descobrir as questões a que eles pretendem responder...

Aceitem ou não esta opinião, acho que vivemos num grande “déficit” de generosidade no seio das famílias e particularmente de muitos casais, que a médio prazo se está a tornar desastroso. Muitos jovens casais de hoje provêm de famílias (muito) numerosas e viveram naturais privações. Hoje eles querem dar aos filhos aquilo que eles não tiveram. Por isso muitos decidem ter apenas um filho. Enchem-no de “mimos”, querem fazer dele a cobaia de todas as experiências de sucesso do menino prodígio: inscrevem-no no inglês, no piano, nas aulas de dança, na patinagem, no volley, etc, etc... Não estou a brincar e estou a pensar em casos muito concretos: há casais que metem o filho único num “stress” absolutamente estúpido. Querem fazer do filho o que eles não puderam ser, caindo numa instrumentalização do filho, o que é imoral. Ora, acontece também que muitas vezes o filho único a certa altura se cansa e se dá conta que nem precisa de tanto esforço para ter o que quer. Nem tem “competidores”... E não são raros os casos de absoluto insucesso dos filhos únicos... Tenho para muito claro uma coisa que poderá ser chocante para alguns: a abundância não educa! Atenção, pois, ao mundo que estamos a querer construir quando “muito modernos”, achamos que o melhor é – para contradizer a hierarquia – planear tudo muito bem, um filho apenas, e por aí fora... Portanto, não cair na mera demonização, de nenhuma das partes!

Que tem isto a ver com o tema? Muito. Os documentos da Igreja sobre a matéria, com todas as críticas que tenho apresentado aqui, têm o grande “mérito” (errando na comunicação) de “abanar” para o egoísmo em que muitas vezes nos deixamos embalar e acabamos por ser vítimas dos próprios mitos de sucesso que a nossa sociedade fabrica. É claro que isto não se resolve com a “mera” proibição dos métodos contraceptivos (lembro que os métodos naturais não são, estritamente falando, contraceptivos), mas com a tal educação para o amor generoso.

[Quando falo de “errar na comunicação”, digo algo muito sério. Os documentos podem tratar de problemas muito pertinentes, mas se não são tratados de forma que o interlocutor possa compreender, estamos perante uma pura perda de tempo e energias...]

O Albino dizia que «por vezes espantamo-nos com o "milagre" de famílias numerosas, onde tudo acontece graciosamente». Mesmo com a contestação da Ana taliban a esta expressão, eu creio que ela é muito verdadeira. Não significa isto que isto aconteça sempre -- longe disso --, mas são muitos os casos de famílias onde os muitos filhos foram aceites (o termo é correcto) com a maior das generosidades e, sem serem ricos, são famílias onde abunda a grande riqueza de uma intensa socialização das relações pessoais. Muitas destas pessoas (não todas, evidentemente) estão de alguma forma mais preparadas para viver com a partilha e com a privação, dois elementos fundamentais para a formação da “estrutura dorsal” do “sujeito”. E poderia dar muitos exemplos, mas não acho tal pertinente. Também não se trata de mero automatismo, mas registo o elemento central: atenção aos mitos que estamos a construir!

Há, portanto, que não cair na mera “lusitana” lamúria de que as culpas são do estado, ou, no caso presente, que tudo é culpa da hierarquia. Também me parece que, mesmo sendo verdade que muita gente justifica o seu afastamento da Igreja por causa da moral familiar e sexual, usar isso como argumento é pura e simplesmente um infantilismo, sem querer ofender ninguém. A ver se me explico: que isto acontece, é um facto; mas usar isso como argumento é cair numa lógica de desresponsabilização (“a culpada foi a cobra”), imprópria para cristãos adultos que sabem o que querem da vida. Isto liga-se directamente com o tópico que foi lançado que tinha como título “Hipocrisia católica”. Ou seja, se leio o evangelho, percebo que não posso estar à espera de uma Igreja pura (ou dos puros) para manifestar a minha adesão a Cristo, que não é puro individualismo, porque o Cristianismo é incompatível com uma visão individualista da religião.

Mas, claro, os pastores têm uma especial responsabilidade e é por isso necessário que se lhes faça ver que o clericalismo não é cristão. Seria bom lembrar que Jesus combateu o clericalismo...


4. A “Humanae Vitae”, o seu peso doutrinal e a questão da infalibilidade papal. Sobre esta questão, há muito a dizer e tocam-se questões muito complexas como a do direito ou não à dissensão em matérias como esta, tema que valeria a pena ser estudado. Em todo o caso, convém deixar claro que a “Humanae Vitae” não é um dogma de fé e só em matéria dogmática se aplica estritamente a infalibilidade papal. Ao contrário do que diz o Luís, o dogma da infalibilidade papal não precisa de ser reformado, só precisa de ser entendido e aplicado. O concílio que o definiu (Vaticano I) é muito preciso em estabelecer as condições necessárias para se dar a prerrogativa da infalibilidade papal, que em duzentos anos apenas se deu duas vezes, para definir dois dogmas marianos. O dogma da infalibilidade papal é necessário, porque precisamos de uma garantia de que aquilo em que cremos é verdadeiro. Não é uma prerrogativa “pessoal” do papa (não se trata de um poder mágico), mas é parte do seu múnus quando se realizam as tais condições definidas pelo Concílio Vaticano I (ou, para os puristas: “Primeiro Concílio do Vaticano”). É a Igreja que, animada pelo Espírito Santo, é infalível (para evitar confusões, note-se que "infalível" não é o mesmo que "santidade". Quando toda a Igreja expressa um determinado elemento de fé e o papa, em união com a Igreja, o proclama como tal, dizendo “ex cathedra” que esse elemento é parte da fé da Igreja, nesse momento o papa é infalível, isto é, aquilo que é proclamado é parte integrante e (em maior ou menor grau) determinante do ponto de vista da teologia da salvação. Isso não aconteceu com a “Humanae Vitae”, que é uma encíclica.

De qualquer forma, mesmo não sendo um dogma de fé, a “Humanae Vitae” tem uma enorme importância. Se não fosse assim, não valeria a pena discutirmos este tópico, pois “poderia ignorar-se”. Na verdade, embora em menor grau, os católicos devem-lhe “obediência” (digo eu: “senão na letra, pelo menos no espírito”). Certamente a “Humanae Vitae” não é “verdade eterna”, pelo menos na sua materialidade, mas este é um ponto de discussão complicado, já que alguns dizem que é matéria “irreformável”. Eu contesto esta expressão, porque muitas outras coisas “irreformáveis” e “de durabilidade eterna” como o Rito de S. Pio V também foram reformados...


5. Uma palavra sobre o tal “trauma sexual” da Igreja. Há dias uma conferência episcopal publicou um documento de teor muito conservador sobre a família e matéria sexual, culpando a “revolução sexual” da crise da família, nomeadamente a violência doméstica. Um jornal publicou então uma caricatura notável: Deus, no céu, lamentava-Se: “Os bispos continuam sem Me perdoar que Eu tenha criado o sexo!” É fácil exagerar nos “anátemas ao contrário” (os “nossos”), mas convém notar que a Igreja ficou muito marcada ao nível da moral pelo estoicismo(corrente filosófica) e em parte pelo maniqueísmo. Foi referido e com razão o caso de Santo Agostinho. Foi um dos grandes génios da humanidade (não tenham dúvidas!), mas o seu passado filosófico acabou por marcar em muito a linguagem da Igreja.

Não podemos discutir estas questões abstraindo-nos de toda a história do pensamento ocidental, concretamente do peso que a filosofia grega (do pitagorismo, passando pelo platonismo e neoplatonismo, até aos estóicos) teve nos chamados Padres da Igreja. É importante ver que os Padres da Igreja foram fundamentais no diálogo com a cultura grega; foram eles que “elevaram” o Cristianismo à discussão filosófica, que até então arriscava-se a ser visto como uma “religião de ex-escravos”, algo de terceira categoria. Mas importa não esquecer as fontes e essas estão ainda antes dos Padres da Igreja. A antropologia bíblica não é maniqueísta nem sequer dualista. Na Bíblia não existe o dualismo corpo-alma como existe nas filosofias gregas e ver tal coisa na Bíblia acaba por ser um anacronismo. “Alma” e “corpo” na Bíblia têm um sentido diferente ao que têm nos filósofos gregos. Na Bíblia o homem é um todo não separado. Falar de "corpo" ou de "carne" significa o homem visto desde a sua realidade mais vulnerável, mas também relacional (o corpo é o nosso modo de estarmos no mundo e de nos relacionarmos com os outros), enquanto que “alma” ou “espírito” significa o homem enquanto “ser espiritual”, mas muito distinto da ideia platónica de que a alma vive por si no mundo das ideias, e que o “entrar” no corpo acaba por ser uma “desgraça”. Na Bíblia Deus cria o homem por amor e para uma relação de amor e não se trata de um “castigo” a vida no corpo. E quando falamos de salvação, salva-se o homem todo. Não é por acaso que a Encarnação é um elemento fundamental da nossa fé e que de alguma forma podemos dizer que o corpo foi introduzido na Trindade... Demonizar o corpo é anti-cristão... [Claro que encontramos já alguns elementos “gregos” nos livros deutero-canónicos e nalguns escritos paulinos, mas eles usam esta linguagem ainda no contexto hebraico e bíblico.]

Estudar e ver estas coisas em conjunto deve-nos ajudar a ser simultaneamente mais “compreensivos” e mais desejosos de aprofundar as questões, no sentido de ajudar “quem de direito” a refontalizar-se... Este era o desejo do Concílio Vaticano II.

Alef

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: taliban (IP registado)
Data: 17 de February de 2004 12:22

O que é extraordinário é como é que estes discursos pseudo intelectuais e moralistas , em que toda a gente está de acordo , se transformam depois em ameaças e insultos tão cristãos. Deve ser outro dogma católico inexplicável....



Diz a Alefa que há milagres de famílias numerosas onde tudo acontece milagrosamente. Ora, a não ser que esas ditas famílias numeroas tenham a sorte de ter uma privilegiada situação económica, com amplos e quase incontaveis rendimentos, não sei onde vai busacar a "graciosidade", melhor dizendo, a gratuitidade.

Provavelmente a alefa não tem de sustentar uma família, pois se tivesse de alimentar, educar e vestir uma ninhada de crainças, não seria tão radical nos discursos nem tão acriançado nos conclusões.

Quanto á clivagem corpo/e´spírito - claramente é uma herança grega mas foi assimilada integralmente pela filosofia cristâ.
A negação do corpo continua no âmago da teoroa católica da encarnação.
Assim como a negação do prazer, da vida, da vitalidade, da alegria!

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 17 de February de 2004 12:59

Alef,

Concordo contigo: a Igreja precisa de "refontalizar-se". Porém, sou um pouco céptico sobre se alguma vez alguém, na Igreja, venha contextualizar o pensamento de S. Agostinho ao seu tempo, e interpretá-lo aos dias de hoje. Como dizes, a filosofia grega "elevou" o Cristianismo à discussão filosófica, mas isso não obrigaria a que alguns conceitos fossem absorvidos - por exemplo, dualismo alma-corpo, entre outros.

Este dualismo aniquila o conceito de corpo do Antigo Testamento, e isto é grave. É grave que a hierarquia se tenha afastado do estudo Bíblico e que lhe sobreponha a Tradição e o Magistério, quando é precisamente o contrário que é dito no Catecismo.

Quanto à questão da Infabilidadel, não sei se não deveria ser reformada. Porque não uma estrutura de Igreja e o papel do Papa semelhante ao do Concílio de Constança? Como já foi aqui referido noutro tópico, será saudável a "Papolatria" que existe com João Paulo II? Conseguiremos ver a semelhança entre o papel de João Paulo II hoje, e o S. Pedro dos Evangelhos e Actos dos Apóstolos?

Voltando ao tema, penso que a rasgo humorístico do jornal em causa não poderia ser mais acertado. Há de facto pessoas, que não apenas na hierarquia, para as quais o sexo é errado (basta ver algumas mensagens deste fórum). Penso até que muitas delas, na questão do Aborto, estão mais preocupados por se tratar de uma consequência das relações sexuais do que propriamente pela questão da Vida em si.

Luis

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 17 de February de 2004 13:07

Taliban,

Não me parece que seja um simples discurso "pseudo intelectuais e moralistas", e muito menos, que todos estejam de acordo. Por exemplo, uma boa parte da hierarquia não concordo com ele, sem contar com muitos pastores que lhe são completamente indiferentes. Se não, perguntemos ao nosso pároco porque é que os casais não devem utilizar contraceptivos não-naturais, e vejamos a resposta.

Luis

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: taliban (IP registado)
Data: 17 de February de 2004 13:33

A maior parte dos católicos que conheço não faz perguntas dessas ao pároco. Não reconhece aos clérigos autoridade moral ou espiritual, muito menos conhceimentos que lhes permitem sequer opinar, quanto mais decidir o que é a essência da intimidade de um casal.
Os cristãos, tal como os muçulmanos só estão obrigados a reger as suas atitudes por duas coisas - Os mandamentos do Deus em que acreditam e a sua própria consciência. Parece que a proibição da contracepção eficaz não aparece em nenhum decreto divino.
E, uma consciência íntegra e bem formada saberá dar a resposta a cada casal.

AS restrições á sexualidade são letra morta.

SE fossem levadas em conta não haverai casais jovens a comungar nas vossas Igrejas, orque estariam todos em pecado.. Inda ppor cima um "pecado" de que não têm nem arrependemineto nem vontade de não deixar de fazer...
Porque a sua consciência lhes diz que não é pecado.

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 17 de February de 2004 23:27

"Quanto á clivagem corpo/e´spírito - claramente é uma herança grega mas foi assimilada integralmente pela filosofia cristâ.
A negação do corpo continua no âmago da teoroa católica da encarnação.
Assim como a negação do prazer, da vida, da vitalidade, da alegria!"

Um conjunto de expressões taxativas que merecem muitos matizes... Vejamos dois.

É discutível falar de "uma filosofia cristã". Qual? Basta pensar em dois modelos tão distintos como a filosofia agostiniana (ou augustiniana) ou a tomista, e tantos outros... Cuidado com algumas generalizações! É que também aqui a concepção de corpo é muito diferente...

"A negação do corpo continua no âmago da teoroa católica da encarnação." Parece-me absurda tal afirmação, porque eu diria exactamente o contrário. Que queres dizer com isso? Podias clarificar?

Alef

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: taliban (IP registado)
Data: 18 de February de 2004 00:51

A filosofia agostiniana impregnou toda a filosofia cristâ. Até hoje, a moral sexual actual da Igreja é a prova disso.

A teoris católica da rencarnação é a negação do corpo. O corpo de cristo não é verdadeiramente humano pois foi gerado - concebido de uma forma não humana. A própria palavra encarnar é uma expressão redutora. è como se houvesse um contimente passivo ( a carne) que é alimentada - insuflada pelo espírito ( alalma), o princípio activo. Esta terminologia é utilzada para definir o feminino e o masculino. Maria a passiva, deixa-se encarnar ... mas sem carne... quer dizer sem coito, porque o coito é a abominação e o pecado e o filho do Homeme não podia ser filho de um homem....
Contradição insanável e absurda.

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: taliban (IP registado)
Data: 18 de February de 2004 00:52

A esquizofrenia é isto mesmo.

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: taliban (IP registado)
Data: 18 de February de 2004 00:59

Correcção ortográfica:


A teoria católica da rencarnação é a negação do corpo.
O corpo de cristo não é verdadeiramente humano pois foi gerado - concebido de uma forma não humana.
A própria palavra encarnar é uma expressão redutora - como se houvesse um continente passivo ( a carne) que é alimentada - insuflada pelo espírito ( alma), o conteúdo, o princípio activo.
Esta terminologia foi também utilizada pela teologia católica para definir o feminino e o masculino. Maria a passiva, humildemente deixa-se encarnar ... mas sem carne... quer dizer sem coito, porque o coito é a abominação e o pecado ( santo Agostinho) e o filho do Homeme não podia ser filho de um homem e de uma mulher pois seria filho do pecado e não de deus.

Contradição insanável e absurda.

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: taliban (IP registado)
Data: 18 de February de 2004 01:10

Não é por acaso que o Papa JP II afirma que a Paternidade de Deus é meramente espiritual : "A paternidade em Deus é com certeza inteiramente espiritual".

Como é óbvio quer demarcar-se de outras mitologias em que a divindade dos semideuses ou homens deuses resultava de uma cópula entre um deus e uma mulher mortal.


Bem, mas se a "paternidade de Deus" é apenas espiritual, como surgiu Jesus Cristo, o ser humano?

Como é que "encarnou"???

Geração espontânea?????????

Se jesus Cristo é verdadeiramente humano - e parece que foi, essa é a única certeza que temos, biológicamente igual a todos nós, com as mesmas necessidades humanas básicas e o mesmo ciclo de desenvolvimento e vida, se Jesus cristo nasceu de um útero de uma mulher e foi parido normalmente, sem nenhum milagre, e se a paternidade divina foi apenas espiritual, como explicar a sua génese biológica?

Não teve origem num óvulo e num espermatozóide?


Se é um dogma da religião católica que jesus é plenamente homem, se é TOTALMENTE HOMEM, porquê renegar a essência da sua humanidade?

A essência da nossa humanidade está centrada na base biológia e no facto incontestável que descendemos geneticamente de um homem e de uma mulher, como resultado de uma relação sexual.


SE Deus queria afirmar a sua não humanidade - a sua Divindade plena, porque não surgiu na Galileia já adulto, porque não se materializou no deserto em plena maturidade e começou logo a pregar???

Não seria mais verosímil?


Se aceitou ser recém nascido envolto em sangue e em fezes, se aceitou ser feto e embrião, porque rejeitaria ser zigoto?

Porque não admitir que a sua génese é plenamente humana e não apenas parcialmente?

A reposta está no cenceito de que o acto sexual é abominável ( Santo Agostinho)

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: taliban (IP registado)
Data: 18 de February de 2004 01:13

Ou terão os talibans católicos outras respostas? ( que não apenas os insultos e as ameaças)?

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 18 de February de 2004 12:44

Absurdos e mais absurdos... Não existe nenhuma teoria da RENCARNAÇÃO (sic) na teologia católica... Será que não poderias ter mais atenção ao que escreves?

De resto, o que afirmas é completamente ao contrário. "Maria deixa-se encarnar"? Que absurdo! Afinal, quem encarna?

"A própria palavra encarnar é uma expressão redutora - como se houvesse um continente passivo (a carne) que é alimentada - insuflada pelo espírito (alma), o conteúdo, o princípio activo." Parece-me que a redução está noutro lado, porque fazes uma caricatura. Não há nenhum princípio activo nem passivo. "O Verbo fez-SE Carne".

A Encarnação de Jesus Cristo nada tem que ver com as concepções mitológicas de deuses que têm filhos de humanos. Basta pensar que na teologia católica Jesus não é um semi-deus, como nas mitologias, mas totalmente homem e totalmente Deus. A "falta de espermatozóide" é apenas uma "tergiversatio" que se coloca fora do paradigma teológico em questão. Porque para um crente não tem sentido. Mas poderia ter sentido para um não crente que Deus existisse ou Se comunicasse aos seres humanos?

A paternidade de Deus é, EVIDENTEMENTE, espiritual, pois Deus é espírito. Mas isso não significa que seja menos real! Lembro de novo que "O Verbo fez-SE Carne".

Gostava que me dissesses "ipsis verbis" onde diz Santo Agostinho que o acto sexual é abominável. É que não vi esse termo, pode ser que exista, mas gostava de ver. Agradecia a citação.

"A essência da nossa humanidade está centrada na base biológia e no facto incontestável que descendemos geneticamente de um homem e de uma mulher, como resultado de uma relação sexual." Uma afirmação "interessante", muito contestável. Confundir essência com etiologia? Já agora, será bom rever o sentido da palavra "essência"!

Enfim, para começar...

Alef

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 18 de February de 2004 12:49

Corrigenda:

No quarto parágrafo do meu "post" anterior escapou-me um "NÃO", para "não-crente".

Leia-se então:

«Porque para um NÃO-crente não tem sentido. Mas poderia ter sentido para um não crente que Deus existisse ou Se comunicasse aos seres humanos?»

Sorry

Alef

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: taliban (IP registado)
Data: 18 de February de 2004 14:06

1 - Que contradição!!!" Basta pensar que na teologia católica Jesus não é um semi-deus, como nas mitologias, mas totalmente homem e totalmente Deus"

Como pode ser totalmente homem se nem sequer tinha um cromossoma Y???

Se o tinha onde o foi buscar?

Como pode ser totalmente homem ? A essência - o substracto, o fundamento, o cerne da pessoa humana é o corpo, a base biológica e genética. ( Não é a etiologia - deves rever o conceito da palavra)

Não há pessoa humana sem corporalidade, sem base genética, biológica.

E a génese - essência da existência de qualquer ser humano , repito, está centrada na base biológia e no facto incontestável que descendemos geneticamente de um homem e de uma mulher, como resultado de uma relação sexual.

Se jesus não foi assim concebido não é totalmente homem.

Pode ser completamente deus, como vocês acreditam mas totalmente homem não foi... ( Por isso esta construção se aproxima muito da mitologia grega e romana dos semideuses, um pouco homens, um pouco deuses, mas nem uma coisa nem outra integralmente...)

È verdade que os seres humanos podem resultar de uma relação assexuada - mas por intervenção humana e não divina.

È verdade que proximamente poderá haver seres humanos fabricados a partir de uma relação não sexuada e sem espermatozóides - chama-se a isso clonagem de embriões. E isso resultará de uma intervenção humana e não divina, e o ser humano clonado será uma cópia perfeita do original.

Mas, que eu saiba, estas técnicas não existiam na Galileia há dois mil anos.
Portanto, se acreditais que o Jesus "Homem" foi gerado sem acto sexual, não acreditais na sua humanidade integral.


3 - Quanto ás palavras de santo agostinho, o seminarista e estudante de teologia católica és tu. Faz um bocado de pesquisa que talvez aumentes os teus conhecimentos.

4 - por último: "Porque para um NÃO-crente não tem sentido." Todos os sistemas filosóficos-religiosos-metafísicos e teóricos construidos pelos seres humanos fazem todo o sentido quando se está dentro deles. Vistos de fora é que parecem ilógicos e anacrónicos.

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: taliban (IP registado)
Data: 18 de February de 2004 14:10

A "teoria/doutrina"católica tem de facto traços esquizofrénicos...Não é por acaso que nas comunidades onde predomina a religião budista, a incidência de esquizofrenia é bastante menor....

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