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Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: taliban (IP registado)
Data: 22 de May de 2004 19:15

Cris, qual o método que você usa?

Já fez teste da sida?

Devia fazer com urgência.

Re: Moral católica esquizofrénica? / Boa, Cris!
Escrito por: Abelardo (IP registado)
Data: 22 de May de 2004 19:45


Caríssima Cris,

Parabéns e bem regressada, boa Amiga!
Aprecio muito as tuas mensagens, como essa última (embora um pouco longa).

Acho que já falei contigo, dando-te as boas-vindas e felicitando-te pelas tuas EXCELENTES MENSAGENS (usando eu o presente pseudónimo, ou o meu próprio nome José Avlis, pelo qual sou mais conhecido...), mesmo as mensagens baseadas em boas e puras cópias da Internet, de cariz 100% católico -- que, quanto a mim, jamais deverão ser removidas "só por constarem algures na Net", tal como alega, injusta e arbitrariamente, o "Lugo" (mas na realidade devido à forte antipatia dele pela minha pessoa e, sobretudo, pelas minhas ideias de aspirante a "puro Catolicismo e pura Evangelização", contra o "catolicismo comodista e oportunista" dele e dos que pensam como ele, a começar pelo Alef (que, infelizmente, se arma em "pseudo-ideólogo" deste fórum, de quem o Luís é obcecadamente subserviente, como um pau-mandado...!), e tal como ele (com a conivência do Alef) tem feito, abusiva e ofensivamente, com algumas mensagens minhas, e por vezes sem qualquer justificação; apesar dele mesmo dar liberdade, quando não apoio, a autênticas e frequentes barbaridades de certos intervenientes mesquinhos e nocivos, que só sabem provocar e insultar...! --, dada a super-importância e pertinência de tais mensagens (à semelhança da minhas, graças a Deus!), embora eu recorra pouco e moderadamente a certas cópias da Net, aliás devidamente adaptadas e identificadas, sempre que necessário...

Queria pedir-te, no entanto, mesmo que repetidamente (se me permites), para continuares assim, ou melhor ainda, se possível, pois fazes imensa falta num fórum como este, como deves calcular, ou como podes facilmente constatar...

Os teus testemunhos e ensinamentos cristãos/católicos são, efectivamente, deveras relevantes e em conformidade total com a Nova Evangelização, pela qual todos nós devemos lutar, a todo o custo, além de virmos a ser - mais tarde ou mais cedo, como prometeu Jesus - largamente recompensados...


D.A.T. (Deus Acima de Tudo) !

Um abraço reconhecido e dedicado, em Jesus e Maria,

Abelardo


Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: taliban (IP registado)
Data: 22 de May de 2004 19:46

Cris: Já fizeste o testa da SIDa?
quando ficares grávida, já sabes que é obrigatório...

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 24 de May de 2004 08:05

Avlis, não resistes a manifestar os teus sentimentos (nada) cristãos pelos outros. Agora roças a pura difamação, ao dizeres que me armo em ideólogo do fórum. Pelos vistos, para ti, tudo é válido, incluindo a MENTIRA. A mentira é coisa muito feia, Avlis!

Continuas a viver e a reviver o velho "complexo de Sansão"...

Que fique bem claro: não sei onde foste buscar essa do ideólogo ou do pejorativo "pseudo-ideólogo", mas isso a tua acusação é completamente falsa e deves-me a restituição da verdade. Não tenho qualquer função ou vínculo a este fórum. Não dependo deste fórum, nem ele de mim. Nada tenho que ver com a linha editorial deste fórum, que é da responsabilidade do Luís ou da Equipa do Paroquias.org, de que não faço nem nunca fiz parte. Exijo que deixes de lançar a cizânia a meu respeito!

Da minha parte, continuarei atento e, havendo tempo, garanto-te uma "marcação cerrrada". Já chega de abusos!

Alef

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 24 de May de 2004 16:20

Abelardo,
"embora eu recorra pouco e moderadamente a certas cópias da Net, aliás devidamente adaptadas"

Não é tão moderadamente assim, por um lado;por outro tens feito adaptações que "só" alteram o sentido para o que tu queres dizer como o fizeste até para a Bíblia com uma frase do género "só os que vós baptizardes serão salvos". Que obviamente não consta do Evangelho.

Por outro lado, devias pensar primeiro no que escreves para evitares teres de te arrepender depois de teres escrito.

Se aquilo de que acusas o Luís e o Alef fosse verdade as tuas mensagens tinham ido para o "index" (no computador a tecla delete), e elas aí estão para comprovarem o contrário do que dizes.

O que muitas vezes falta nas tuas mensagens é apresentares as tuas ideias e não te furtares ao diálogo. Para o que precisas de "colar" menos e escrever mais.

Quanto à Cris, vai praticamente pelo mesmo caminho.

João (JMA)

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 13 de June de 2004 15:08

Alef (12/05/04 19:49),

Peço que releias a citação que fiz:

«Há um "cisma moral dentro da Igreja", causado por Católicos que se distanciam do ensinamento do Magistério, tanto na teoria como na prática. Isto é algo novo na história. Uma emancipação da consciência Cristã da comunhão eclesial.»

Desde logo, não apoio a tua perspectiva, sendo que o vês como uma queixa frequente. Por outro lado, não te referes realmente à questão levantada nesta citação. Ou seja, falas apenas dos "Católicos que se distanciam do ensinamento do Magistério na teoria". Mas acho que se há algo a salientar como "grande drama" não são os debates teológicos marginais ao Magistério. O "grande drama" são as vidas de católicos sem autêntica aliança com Deus por causa desses debates e de outras coisas.

Peço-te que desenvolvas esse tópico aqui mesmo, assim que possas.


Rodrigo netto (18/05/04 14:57),

Não vejo que quem por aqui tem defendido a Igreja, a considere "acima de Deus". O problema é que você não percebe o que é a Igreja, e por extensão não pode perceber Quem é Deus, como é que a autoridade divina é concedida à Igreja, para que possamos verdadeira e plenamente conhecer e amar a Deus, sem pretender participar na omnisciência e omnipotência divinas, senão naquilo que é a própria vontade do Senhor, no que nos revelou. A Bíblia é tida como divina por causa da sua confirmação pela autoridade que Deus concedou à Igreja através das ordens sagradas.

A sua acusação de "paganismo" é infundada, ridícula e ofensiva. Seja mais correcto nas suas afirmações.


Cris (22/05/04 14:25),

Agradeço a sua contribuição, só é pena ter escrito de modo um pouco confuso, e ter usado letras maiúsculas. É bem possível que quem o leia identifique essa forma de escrever como uma gritaria furiosa e não ache respeitável nem as suas ideias nem a sua pessoa...

No entanto, não acho que seja de descridibilizar nada do que disse. Só tenho a opôr o que já disse, que expressões tipo "vai para o Inferno" são desnecessárias e muitas vezes contraproducentes (não estou a dizer que seja mentira, mas exagerado assim como foi dito).

Gostava mesmo que, peço-lhe, me dissesse de onde copiou esse texto, pois me parece que já li pelo menos parte dele em algum lado.



...«Se permanecerdes fiéis à minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres.» ~ Jo 8,31-32

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 13 de June de 2004 16:44

JMA (14/05/04 23:42),

Peço-te que revejas a irreverência com que falas do Catecismo como "medidor de catolicismo", pois estás a repetir-te e, aparentemente, a mostrares uma recusa de fidelidade... Eu apontei-te como referência a fidelidade na comunhão da Igreja. O Catecismo é uma evidência do que deve constar nessa unidade. A questão que referes sobre a aceitação da pena de morte, entendes mal. Na 1.ª edição do Catecismo refere-se apenas que não está excluído o recurso à morte do agressor injusto, num contexto de legítima defesa, como último recurso para prevenir a continuação desse mal. Praticamente o mesmo que se encontra ainda no actual. Isto já foi por aqui explicado. Segundo me lembro, a reformulação desse parágrafo (2267) tem de diferente essencialmente uma citação da Evangelium vitae reconhecendo os meios específicos actuais para restringir e redimir a actividade criminosa. Diferente disto é ter uma ideia sobre a punição criminal que se institui para saciação dos desejos de vingança dos ofendidos... Expostas as coisas como elas são, só se pode entender como preconceito que alguém acuse a Igreja de ter apoiado a "pena de morte" nos sistemas penais até à última década...

A doutrina da Igreja sobre a moral pessoal quanto à família e ao sexo, está bastante explicitada actualmente, no Magistério de João Paulo II, por exemplo, bem como nos contributos de diversos Padres, leigos e religiosos por todo o mundo, em que pastoralmente ajudam os fiéis a colocá-lo em prática.

A questão da falha na aceitação dessa doutrina é bastante "simples": falta de decisão, de convicção em se ser discípulo de Jesus Cristo. Juntamente, a ignorância, os preconceitos, que fora da Igreja -- fora do meio em que se vive realmente em Igreja e se procura estar em comunhão com Deus -- se vão transmitindo como falsos mitos acerca dela e da sua doutrina, faz com que nem sequer se distingam os católicos, baptizados com instrução e cuidados religiosos rudimentares, que dizem "acreditar em Deus" embora "não pratiquem" (??), dos outros que também não praticam mas não têm claridade sobre alguma aceitação, sentimental, intelectualizada ou intimista, de uma qualquer noção de Deus.

Como se pode, como é de tua opinião, inverter esta situação, dizendo que por causa dessa tremenda omissão e negligência por parte dos católicos, é a Igreja que tem de "reformar" -- na prática talvez se queira dizer abandonar -- a sua doutrina sobre estas questões exigentes que tanto nos separam da moralidade secular, "humanista"?

Há aqui uma confusão qualquer no que te referes por último, pois na tua mensagem de 23/02/04 16:57, o parágrafo que citaste é a continuação da exposição das tuas ideias acerca da "reforma" da doutrina exposta na Humanae Vitae (que basta ler para ver como fala incisivamente, quase apenas, sobre a ilicitude da contracepção como meio de regulação da natalidade na perspectiva da santificação, abordando-se a situação actual). Ora, precisamente o que falas acerca de D. Januário, vendo precisamente neste tópico a entrevista aqui colocada pelo Alef em 14/02/04 15:46, é que «(...) o bispo das Forças Armadas diz que a Igreja deve rever a sua posição em relação aos contraceptivos e reconhece que muitos católicos os usam.» Tal como a tua mensagem, que fala unicamente da Humanae Vitae, toda esta entrevista fala somente de questões que ela também aborda, ou seja: a contracepção!

Então, não vejo como possas não estar a referires-te à contracepção!! Que confusão é esta?

Ora, tenho ainda que "protestar" à tua reiteração de opinião sobre o assunto.

De facto, a doutrina da Igreja sobre o sexo não precisa nem vai ser "reformada", quanto à suposta necessidade de se aceitar a prática do uso da contracepção (DIFERENTE do que se entende por regulação da natalidade). Nada do que se tem aqui apresentado como argumento toca sequer os aspectos fundamentais da doutrina, mas referem-se apenas a situações de ignorância e desobediência que se querem tratar não com conversão, mas com soluções de compromisso não radicadas em Jesus Cristo.

A este respeito, estas ideias de D. Januário dão um testemunho escandaloso à Igreja, pretendendo "forçar" a doutrina da Igreja sobre o dever de preservarmos a vida, com "metodologias" que não são lícitas, e que a Igreja afirma igualmente como tal -- o uso de contraceptivo não respeita a dignidade nem o propósito do corpo humano, por razões tais como as que já disse, começando pelo facto do preservativo não proteger de todo o perigo e ficar muito longe disso na eficácia em si, e também na adopção da generalização do hábito do sexo "fácil", favorecendo em muito a propensão para o aumento dos contágios...

A questão é para mim bastante evidente: a tal suposta "esquizofrenia" trata-se, essencialmente, de uma situação de conjunto em que se vacila na Fé, não se põe em prática a exigência da plenitude da vida cristã, e a dualidade de vida que daí procede, de quem reconhece que Deus e a Igreja fazem sentido, mas não se aplica concretamente na sua conversão e santificação (e muitas vezes despreza os pormenores do "caminho estreito" que Nosso Senhor apontou como salvação e a Igreja aprofunda e realiza na prática). Isto tem que ver com todos os assuntos morais fundamentais, mas a castidade é, hoje em dia, uma fragilidade particularmente acentuada na sociedade em que vivemos, que vive obcecada e oprimida por insinuações sexuais.

É um drama de infidelidade a Deus que provoca tremendas divisões na Igreja, em que se coloca a dúvida sobre a sua infalibilidade -- será que a Igreja se irá desencaminhar, irá falir? A continuar assim, manifesta-se poderosamente o dom de Deus de que a Igreja não se perderá, que poderá sempre converter-se, reformar-se, para se transformar na santidade que deve ser. Ou seja, a Igreja jamais admitiu e jamais admitirá universalmente coisas contrárias às que Deus revelou! E a questão da contracepção não é discutível por não ser dogma (como se se aceitasse plenamente a autoridade da Igreja em todos os assuntos dogmáticos?? se fosse assim, ver-se-ia ), mas faz parte do núcleo essencial da doutrina da Igreja sobre o matrimónio, é realmente uma doutrina moral fundamental porque atenta contra o dom da vida humana!


«A autoridade do Magistério estende-se também aos preceitos específicos da lei natural, porque a sua observância, exigida pelo Criador, é necessária à salvação. Ao lembrar as prescrições da lei natural, o Magistério da Igreja exerce uma parte essencial da sua função profética, de anunciar aos homens o que eles são na verdade e de lhes lembrar o que devem ser perante Deus.»

«A Lei de Deus, confiada à Igreja, é ensinada aos fiéis como caminho de vida e de verdade. Os fiéis têm, portanto, o direito (Código de Direito Canónico, can. 213) de serem instruídos sobre os preceitos divinos salvíficos que purificam o juízo e, com a graça, curam a razão humana ferida. E têm o dever de observar as constituições e decretos emanados da autoridade legítima da Igreja. Mesmo que sejam disciplinares, tais determinações requerem docilidade na caridade.»

Catecismo, 2036 e 2037

«(...) [A] unidade, Cristo a concedeu à sua Igreja desde o princípio. Nós cremos que ela subsiste, sem possibilidade de ser perdida, na Igreja Católica, e esperamos que cresça de dia para dia até à consumação dos séculos.»

Concílio Vaticano II -- Unitatis redintegratio, 4 (decreto sobre o ecumenismo); Catecismo, 820

«A Igreja é [...], aos olhos da fé, indefectivelmente santa. Com efeito, Cristo, Filho de Deus, que é proclamado «o único Santo», com o Pai e o Espírito, amou a Igreja como sua esposa, entregou-Se por ela para a santificar, uniu-a a Si como seu Corpo e cumulou-a com o dom do Espírito Santo para glória de Deus.».

Concílio Vaticano II -- Lumen Gentium, 39 (constituição dogmática sobre a Igreja); Catecismo, 823



...«Se permanecerdes fiéis à minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres.» ~ Jo 8,31-32

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 13 de June de 2004 17:05


Errata:

No último parágrafo antes das citações do Catecismo, não completei o que está escrito entre parêntesis. Em vez de o completar, vou reformular esse comentário.

É dito frequentemente que a aceitação da contracepção, como a de diversas doutrinas, especialmente as morais, são facultativas por não pertencerem ao "essencial" da Fé. Normalmente referem-se aos dogmas, "a condenação da contracepção não é dogma", como se diz. Mas de facto, não faz sentido nenhum fazer um "dogma" de uma doutrina moral, pois os dogmas referem-se essencialmente aos fundamentos da Fé, os acontecimentos principais da Encarnação e seu significado, o estabelecimento incontornável das suas fontes e da autoridade. De facto, define-se os princípios da objectividade do que é bom e mau, em assuntos de Fé e de moral. Uma doutrina moral particular, por mais estabelecida que seja, não entra na categoria de "dogma". Por um lado, pode-se estabelecer como "dogmático" o carácter sagrado da vida humana, mas não estabelecer um "dogma" sobre a condenação da contracepção, sem que isso deixe de ser universalmente obrigatório... E ainda que fosse possível, quem usa essa lógica falível, não costuma aceitar plenamente a autoridade da Igreja em todos os assuntos dogmáticos! Se fosse assim, ver-se-ia uma menor crítica sobre o assunto, precisamente porque:

«A infalibilidade do Magistério dos pastores abrande todos os elementos da doutrina, mesmo moral, sem os quais as verdades salvíficas da fé não podem ser guardadas, expostas ou observadas.»

Catecismo, 2051


Isto para mim (e muitos outros), lucidamente, me parece com toda a clareza uma crise de fidelidade, e nada mais.



...«Se permanecerdes fiéis à minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres.» ~ Jo 8,31-32

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: Abelardo (IP registado)
Data: 14 de June de 2004 03:30


João Oliveira

Subscrevo inteiramente tudo o que tens escrito neste tópico -- assim como no "A Eucaristia é Deus, Sacramento da Redenção!", para já não falar noutros temas --, e agradeço que continues a debater o que considerares necessário, profícuo e oportuno, sobre moral e catolicismo em geral (sem qualquer receio), pois tens realmente esse dom, graças a Deus.

Quem dera que todos pusessem os seus dons/talentos a render, e ai de quem se recusa a fazê-lo por receio, egoísmo ou desleixo!

Abraço reconhecido e dedicado.

Abelardo


Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 14 de June de 2004 12:04

Caro João,

A tua mensagem aborda muitos pontos e, nete momento, o meu tempo é muito escasso, pelo que te irei respondendo "a prestações".

1- "medidor de catolicidade"
Tens sido muito rápido ao considerar um caso como bom e outro como mau. E em medires se alguém é católico e "quanto" católico é.

Como já disse mais de uma vez, não é possível - na minha opinião, sempre falível - ninguém medir o que "vai na alma" de cada um, nem ter a veleidade de conseguir saber se este ou aquele é ou não católico.

2- Catecismo
Quando referiste que o medidor de catolicismo seria o Catecismo, respondi-te que esse medidor estava errado pelo menos num caso. Consequentemente não podia ser medida certa para medir ninguém.

E respondi-te dessa maneira porque estavas a dar como final de discussão algo que é meramente construção humana - mesmo se dentro da Igreja que é assistida pelo Espírito Santo - e não Palavra Divina: o Catecismo, por muito valor que tenha - e tem-no, ninguém o nega - não está no mesmo patamar que a Palavra de Deus recolhida na Sagrada Escritura ou na Tradição da Igreja.

Esta sim, é verdadeira: a do Catecismo será ou não consoante esteja ou não de acordo com aquela. As várias reformulações dos Catecismos são prova concludente, física e histórica que a palavra humana não é final.

Pelo que como "argumento final" se pede que seja apontado algo de inequívoco na Escritura e / ou na Tradição da Igreja.

3 - Quanto à questão que aponto como erro no Catecismo, volto a explicitá-la: ou a vida é um valor absoluto, ou não é valor absoluto.

Defender que a vida é um valor absoluto é incompatível com a aceitação da pena de morte. Os valores absolutos não admitem excepções: as excepções, se as houver, não confirmarão a regra, mas sim que os valores ditos absolutos não o são.

Se a vida é um valor absoluto, a aceitação da pena de morte é um erro; se, por outro lado, considerarmos a aceitação da pena de morte como correcta, então a vida humana será um valor relativo.

Logo, essa formulação do Catecismo estaria errada num lugar ou noutro.

4 - Concordo contigo que é errado dizer que a Igreja apoiou a pena de morte nos sistemas penais até à última década.
Mas no que errou - e errou - foi em não ter cumprido a sua missão profética de condenar veementemente tal prática também no Catecismo. Porque, apesar da aceitação do Catecismo, a Igreja - nomeadamente a norte americana - condenou todas e cada uma das vezes que esta foi utilizada (abundantemente) no seu país.

No que a Igreja foi mais profética que o Catecismo. E foi também a prática da Igreja que "obrigou" - a par com o erro que padecia - à mudança do catecismo. Que, consequentemente não era - nem é - infalível. Nem a Igreja assim o considerou ou considera: vê lá se alguém considerou sequer a ideia de declarar o Catecismo como dogma...

4- Numa sociedade como a Portuguesa na qual a Igreja tem uma intervenção maior e de há muitos séculos, a pena de morte há muito que foi banida, e nem sequer é matéria de discussão.

Mais uma vez digo que é para mim motivo de grande satisfação participar numa Igreja como a nossa. Que, com momentos melhores e momentos piores, sempre se soube manter fiel à Escritura e à Tradição da Igreja.

Não sendo por isso nem "clerical" nem "tradicionalista" mas sempre Católica.



João (JMA)

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: molkyul mehushkhay (IP registado)
Data: 14 de June de 2004 13:40

Só sei que não é em igrejas que yhwh se manifesta, ja deme ter falado varias vezes isso aqui que nem sei se vale a pena falar disso de novo. quem não conhece a igreja não conehce deus???



molkyul

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 14 de June de 2004 14:24

JMA,

Bem, vou ter de te dar desde já algo mais a que responder! :o)

1 - Isso parece-me uma opinião sem fundamento sério. Mas o que é isso de "ir na alma" ou não? Qual é a tua confusão relativamente ao que os católicos devem acreditar e fazer? Por mim, dou ouvidos à Igreja e procuro a verdade e a unidade. Olho, como a Igreja sempre o tem feito, para a conversão a Jesus Cristo como o meio de o atingir. Acho que é de criticar mais o teu -- aparente -- desejo de indefinição, que a minha objectividade. Não pretendo dar o "benefício da dúvida" a ninguém, sem com isso faltar à caridade (disso me podem acusar justamente, se o fizer), porque em relação a Deus, a "dúvida" em si mesma não consiste como um "benefício" à nossa salvação, mas sim a busca, a entrega e o abandono -- a conversão.

2 - Antes de mais, procurei dizer-te que nunca achei bem essa definição de "medidor de catolicismo", que é irreverente. Em seguida, demonstrei que o caso que referes não está errado e é um preconceito teu (uma ideia mal feita que tens). Finalmente, fica por justificar pormenorizadamente o que te leva a considerar não só que eu não encare a Escritura, Tradição e Magistério como as autênticas fontes da fé (o Catecismo ensina isso!!), como o que terá o Catecismo em desacordo ou em que é que falha em dar uma síntese do que deve ser acreditado e praticado universalmente, confrontando-te a ti mesmo com algo que é validado precisamente pelo Magistério. É ele, um organismo vivo em que Deus nos fala pelo Espírito Santo, a quem devemos ouvir como se ouvíssemos Jesus, que continuamente purifica e valida o que é ensinado como Palavra de Deus, sem nunca ter vacilado, ao longo da História, no ensino universal. Isto é muito importante, porque demonstra que a Igreja pode negligenciar a doutrina na prática, mas, porque é como é, pode sempre reformar-se e tonar-se naquilo que é, o que é uma maravilhosa prova da inspiração divina (e é por isso que é infalível).

3 - Estás confundido na tua lógica, precisamente porque não enquadras a doutrina no contexto da legítima defesa. Devemos defender o valor absoluto da vida humana até ao limite. Isto implica por vezes ter de eliminar agressores injustos, quando em circunstâncias extremas, invulgares, a sua morte é o único meio de impedir injustiças ainda mais graves, como a de permitir passivamente a continuação das suas violações precisamente desse valor absoluto da vida humana. Acho que isto faz perfeito sentido (lê os parágrafos 2263-7). A Igreja sempre valorizou esta heroicidade e o martírio de lutar contra o avanço da injustiça, principalmente quando isso implicou o sacrifício daqueles que voluntariamente o realizaram entregando a própria vida. Isto também dá pano para mangas porque a "legítima defesa" tem de ser cuidadosamente tratada em cada caso concreto, e é preciso mesmo salientar que matar outrém é em absoluto o derradeiro dos recursos, mas não está excluído.

Recomendo ainda o tópico em que já se falou desta questão,
"Catecismo como consequência na Bíblia", no qual a tua primeira participação me pareceu indicar uma razoável compreensão tua deste assunto. Recomendo vivamente que se leiam as citações que lá faço da Evangelium Vitae. Faço o reparo de que na minha primeira mensagem nesse tópico, fui impreciso ao dizer que "a Igreja NÃO ADMITE A PENA DE MORTE SEJA EM QUE CIRCUNSTÂNCIA FOR". Estava a referir-me a uma situação em que não se tratasse de legítima defesa, penso que isso não ficou suficientemente explícito, mas depreende-se das minhas intervenções, pois se assim não fosse estaria em contradição.

4 + 4 - Aqui estás a dar testemunho de opiniões semelhantes às que colocaste lá no outro tópico, marcadamente no que falas sobre a "prática" da rejeição da pena de morte pela Igreja naquelas situações em que não seja o último recurso -- concordo perfeitamente contigo nisso.

Bom, acho que só se pode condenar o "profetismo" do Magistério nessa matéria quando não se pretende dar o espaço e tempo necessários para avaliar os métodos actuais. E há sempre as questões práticas da redacção do Catecismo, que na sua elaboração recebeu numerosos contributos. O facto de ter havido uma "2.ª edição", revista, é que pode parecer que se mudaram certas opiniões, quando o que apenas se fez foi uma melhor precisão e adequação com as possibilidades do nosso tempo, como ocorreu em todo o trabalho para chegar à "1.ª edição" (que por acaso foi inicialmente editada em Francês e foi ainda nessa altura encarada por muitos como provisória).

Quanto ao que se lê no parágrafo 2267 do Catecismo, achou-o perfeitamente aceitável, principalmente depois de retirado o ênfase da pena de morte como punição por um delito, como se encontrava no antigo parágrafo 2266 (que já pôde ser legítima, até ao ponto das possibilidades disponíveis a excluírem como meio de prevenção e redenção -- tal como aconteceu). Se lermos os actuais paragráfos 2265-6 encontramos essa exclusão da pena de morte como "uma pena adequada". É de facto um pormenor importantíssimo.

Não há propriamente aqui uma situação de conflito, não se "obrigou" à alteração do que se colocou no Catecismo. O que aconteceu foi a inspiração do Magistério a reformular esses pontos de uma forma mais correcta com o próprio Evangelho do qual é arauto. De facto, foi o próprio Papa, na sua "prática", que fez o discernimento de reconhecer isso (vê-se isso na Evangelium Vitae, escrita em 1995), sem ter sido "obrigado".

Com um Catecismo universal, acho que se compreende a objectividade da Igreja em ter de resumir o essencial (que ainda será mais resumido em breve, com o novo Catecismo abreviado), daí que uma expressa "condenação" de situações locais está contemplada no Catecismo, se o considerarmos no seu todo (nos parágrafos seguintes já se fala do homicídio voluntário, noutros pontos há diversas referências bastante "proféticas" e "missionárias" quanto à aplicação da caridade, ao fervor e necessidade do testemunho cristão, etc.).

Isso de falares em se considerar o Catecismo como infalível, muito mais "dogma", é completamente despropositado, especialmente tendo em vista que já abordei em pormenor essa questão na minha mensagem anterior...! O Catecismo dá testemunho do que o Magistério é capaz de fazer, e como obra do Magistério sobre assuntos doutrinais, contém matérias dogmáticas e infalíveis, quanto à fé e à moral.

De facto, a Igreja em Portugal tem uma presença assinalável e não tivemos "tantos" movimentos revolucionários com pretensões ideológicas hostis como ocorreram noutros países, e naqueles que ocorreram, a seu tempo, tivemos uma tenacidade devida à devoção do povo (com pouquíssima literacia mas admirável cultura humana) que o contrabalaçou. E tivemos entre nós a graça das visões de Fátima... Enfim, talvez tenha sido a nossa humildade e a importância dada à família, que ultimamente tem sido abandonada pelo povo em favor do materialismo, que nos têm poupado a muitos males. Isto também acontece noutros países com a presença de católicos, que proporcionam uma inspiração de virtude, sem a qual nenhuma verdadeira justiça é praticável...

Ainda bem que te dá "grande satisfação participar numa Igreja como a nossa". Espero que vás mais longe e que a ames. Rezo por isso e peço-te que rezes por todos os que tentam realizar o mesmo (e para que tentem melhor -- eu incluído), como é da vontade de Deus! :o)



...«Se permanecerdes fiéis à minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres.» ~ Jo 8,31-32

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 14 de June de 2004 14:38


molkyul mehushkhay (ex-rodrigo netto),

Eu não falei em "igrejas", falei em Igreja. Deus manifesta-se habitualmente nas graças que concede à Igreja, que são todos aqueles em comunhão com, pelo menos, os dogmas fundamentais da fé católica sobre o que revelou Jesus Cristo. A plenitude do que Deus revela encontra-se realmente na Igreja, embora Ele abençoe misericordiosamente a todos, a quem compele a se relacionarem com Ele, como Igreja.

Se ainda diz o que diz, é porque deve não só falar nisso, mas ler bem e com boa vontade o que lhe dizem.

Quem não conhece a Igreja, que se dá a conhecer através da fé, da vida e das obras dos seus membros, não conhece a Encarnação de Deus (se o conhecer, conhece algo da Igreja) e assim desconhece a verdadeira "identidade" de Deus.

Quanto às "igrejas", são templos em que a experiência de Jesus e a nossa contrição e gratidão profundas nos fazem derramar sobre Ele, presente na Eucaristia, tais honras belas, "perfumadas" (Lucas 7, 36-50).



...«Se permanecerdes fiéis à minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres.» ~ Jo 8,31-32

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: molkyul mehushkhay (IP registado)
Data: 14 de June de 2004 15:24

Autor: João Oliveira
Data: 14/06/04 14:38


molkyul mehushkhay (ex-rodrigo netto),

Eu não falei em "igrejas", falei em Igreja. Deus manifesta-se habitualmente nas graças que concede à Igreja, que são todos aqueles em comunhão com, pelo menos, os dogmas fundamentais da fé católica sobre o que revelou Jesus Cristo. A plenitude do que Deus revela encontra-se realmente na Igreja, embora Ele abençoe misericordiosamente a todos, a quem compele a se relacionarem com Ele, como Igreja.

Se ainda diz o que diz, é porque deve não só falar nisso, mas ler bem e com boa vontade o que lhe dizem.

Quem não conhece a Igreja, que se dá a conhecer através da fé, da vida e das obras dos seus membros, não conhece a Encarnação de Deus (se o conhecer, conhece algo da Igreja) e assim desconhece a verdadeira "identidade" de Deus.

Quanto às "igrejas", são templos em que a experiência de Jesus e a nossa contrição e gratidão profundas nos fazem derramar sobre Ele, presente na Eucaristia, tais honras belas, "perfumadas" (Lucas 7, 36-50).

João Oliveira

Pax Domini sit semper vobiscum!

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olha amigo joão yhwh não manifesta por meio de igrejas , pois ele não habita em templos de pedra segundo a biblia e o único intermediador entre ele é o homem éra seu filho yhwhshua que não mais se encontra entre nós , pois fora arrebatado em vida para as alturas celestiais e segundo ele, de minha segundo vinda somnete meu pai que está no céu é que sabe. Mas ele não nos deixou em vão.

ele falou antes de partir, a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda. [João 15:16 - Almeida Fiel e Corrigida]

ele deixou dito que tudo que pedirmos em seu nome o pai atenderá. por que.atos4:12 E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos.

Então não espero nada da igreja católica e nem de santo nenhum ,pois somente por meio do nome de yhwhshua é que o pai me atenderá nada mais.

ok a sim o templo dele são todos aqueles que acreditam que yhwh é o salvador e que nos salvará por meio de seu filho yhwhshua. por isso eu falo . todos esses que aceitam a yhwhshua como único e suficiente salvador é que são a igreja de yhwh.

Pois o arrebatamento da igreja de cristo nada mais é as pessoas que o aceitaram como único e suficiente salvador e não quem cre em dogmas de igrejas ou vai na missa etc etc etc ok pois igrejas e dogmas não salvam ninguém, só yhwh nos salva.

E não precisa conhecer a igreja para conhecer yhwh , quem conhecer yhwh é que conhecera sua igreja(casa) pois como yhwhshua falou, há muitas moradas na casa de meu pai.



molkyul

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: Padre João Luis (IP registado)
Data: 14 de June de 2004 15:39

Agora entendo as suas imprecisões Molkyul.... essa tradução da Biblia tem tantos erros e gralhas......

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 14 de June de 2004 17:30


molkyul,

Eu disse-lhe para ler com atenção. Não o fez. Não parece estar interessado no diálogo, nem em pensar sobre os assuntos, apenas nos "brinda" com (vãs?) repetições, porque já conhecemos e acreditamos que Jesus é o único mediador entre Deus e os homens, e que podemos participar nessa mediação salvadora.

De resto, todo o teor da sua mensagem não se dirige a nada do que eu disse, porque o confirma.

Eu falei precisamente nos crentes em Jesus Cristo como nos membros da Igreja! Como é que não percebeu isso? Não consegue ou não leu? Mas fui mais completo que isso, e entrei nalguns pormenores, que não deixam de ser bíblicos.

Você pensa conhecer a Deus através da Bíblia, sem reconhecer que a Bíblia é fruto da inspiração divina da Igreja. Por isso mesmo, a Bíblia é um resultado da inspiração de Deus em homens.

"Igrejas e dogmas não salvam ninguém"? Mas foi devido à sua exposição a dogmas e a igrejas que lhe foi comunicado o Evangelho, não foi? Ora, a salvação em Jesus Cristo é um dogma que você tem (e bem) por absoluto. E as igrejas comunicam frequentemente a Bíblia e indicam às pessoas precisamente como podem ser salvas, de acordo com as suas diversas interpretações sobre como isso acontece através de Jesus Cristo. Não é assim tão simples como pensa.

Você tem pelo menos uma coisa da Igreja Católica e dos seus santos: a Bíblia! Sim, pois foi através deles que se estabeleceu "o que é a Bíblia"! Mas como você não entende o que é a Igreja Católica, também não entende nem o que é um santo nem o que é a Bíblia!

Não devemos continuar neste tópico com mais pormenores, porque não é para isso que ele está originalmente dirigido. Continuemos num dos vários tópicos já existentes em que se fala do assunto, pode (?) até colar esta mensagem lá como fez com a minha anterior (desnecessariamente).



...«Se permanecerdes fiéis à minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres.» ~ Jo 8,31-32

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: rmcf (IP registado)
Data: 14 de June de 2004 17:52

Caro João Oliveira,

A observação que aqui faço é mais de tom do que de conteúdo, embora por vezes também o seja.

Referes, provavelmente com razão, que há uma crise de fidelidade entre os ‘ditos’ católicos, que, em face da doutrina católica, sobretudo em termos morais, mas também em relação à Eucaristia, sentem eventualmente dúvidas ou discordam abertamente do que a Igreja recomenda, sem com isso se sentirem minimamente penalizados ou diminuídos na sua condição de católicos. Para ser absolutamente franco, não vejo que isso seja um problema grave (embora possa vir a sê-lo), nem muito menos a considero ‘uma falta de decisão, de convicção em se ser discípulo de Jesus Cristo’. Há talvez aqui várias questões:

1) Penso antes de mais que o teu discurso é demasiado incisivo e decisivo: apresentas demasiadas certezas que a mim, como católico, talvez com pouca fé, me parecem, peço desculpa, um pouco arrogantes. Não é claro, nem se poderá dizer que a doutrina da Igreja não muda nem mudará jamais. Isso era conceber a doutrina como algo estático e exterior ao próprio Homem, quando é óbvio que isso não é verdade. Inspirada (ou não) pelo Espírito, a doutrina da Igreja tem sido filha do seu próprio tempo e das inquietações que tem suscitado. Devo dizer que, por exemplo, não penso que a doutrina da Igreja acerca da contracepção, independentemente de concordar ou não com ela, não vá mudar. Se mudaram, por exemplo, as concepções acerca do Modernismo, tão bem expressas na Quanta cura e no Syllabus… é uma questão de tempo… desculpa, se te pareço herege, mas se não for uma convicção minha, é pelo menos uma esperança. E nem sequer é verdade que toda a Igreja a siga. Estive no Peru durante quase um ano numa missão católica onde se ensinava os homens a usarem o preservativo… porque era impossível, ou quase, ensinar a curto prazo prevenção familiar… porque as famílias de 10, 11 filhos em que morriam 2 ou 3, por vezes no mesmo ano, eram impossíveis de manter com aquelas condições de vida, pelo menos num prazo curto. E não era eu que achava que devia ensinar ‘a usar o preservativo’… eram os próprios superiores que lá estavam que o defendiam. Não é verdade que essa seja uma doutrina universalmente aceite, nem sequer pelos próprios religiosos que estão no terreno… É por isso que penso que a doutrina da Igreja sobre o sexo, além de precisar de ser, mas essa é a minha opinião pessoal, tem possibilidades de ser ‘reformada’. Com a Humanae vitae, se houve uma parte da Igreja que a recebeu com loas, houve também uma outra parte (nem melhor nem pior por isso) que a recebeu com imensa tristeza. Eu pessoalmente não considero (nem vejo nos teus argumentos) que a contracepção atente de forma tão definitiva, crua e simples, contra a vida humana

2) Também me parece que vês a Igreja sobretudo como a hierarquia de onde dimanam as ideias que todos, por questão de obediência e para se manterem em comunhão, têm de aceitar. Acontece que Deus não apenas nos fez livres mas com capacidade de pensar, ter dúvidas, questionar, olhar para a nossa consciência, confrontar os outros e aceitar ou não o que nos é proposto. Não aceito que a falta de acordo seja considerada tout court como uma desobediência. Em primeiro lugar, porque acho que a obediência não é, nem pode ser nunca o que define o cristão. Ninguém é cristão por obediência, mas porque é chamado a sê-lo, talvez de forma imperfeita, admito-o… mas não se mede o ser cristão pela maior ou menor obediência à doutrina… nem ninguém pode julgar se X pessoa é ou não cristã… e se o fizer, penso que falta também ao Evangelho… o que mede o ser cristão é o seu Amor, que lhe vem de Cristo e do Evangelho … Repito que a Igreja não é só a hierarquia do Vaticano, com todo o respeito que tenho por ela… a Igreja somos todos nós, os que aceitam tudo, os que têm dúvidas, os que discordam, mas que se mantém na comunhão… mesmo os que têm pouco fé ou que são ‘demasiado’ imperfeitos… Será que a ânsia ou a procura de Cristo não é já ter fé… o não compreender, criticar e o rejeitar com consciência algo, dentro da caridade, não me parece que seja deixar de ser Cristão… O que o D. Januário disse, já D. Manuel Martins tinha dito e na televisão: não foi por isso que foi apodado de ‘escândalo’, de ter fugido à comunhão da Igreja… mau fora se a Igreja nos impedisse de ter opinião…

3) A própria Igreja, como intérprete da Palavra revelada, não diz que já sabe tudo ou que conhece tudo ou que disse a última palavra sobre tudo. A arrogância de quem pensa assim é que não me parece nada cristã. Dentro das doutrinas morais, houve e haverá modificações de entendimento, umas mais pontuais, outras decorrentes de melhor precisão. Pareces supor que a sociedade que envolve a Igreja, isto é, os Outros, são maus, pervertidos, ansiosos por acossar a Igreja e os que a ela se mantém ligados por fidelidade… ora, esse é um argumento que desde sempre alguns grupos de ‘puros’ defenderam… não é assim… a Igreja tem muito a aprender com a sociedade que a rodeia, com as suas ansiedades e sentimentos, no sentido em que a Igreja faz parte dessa sociedade, insere-se nela como estrutura base fundamental, pelo menos no Ocidente. Foram também a pressão, a evolução e o sentir da sociedade ‘exterior’ que estiveram na origem do Vaticano II.

4) Sobre o Catecismo, que globalmente acho muito bom, tem por outro lado uma série de expressões no mínimo infelizes e reveladoras de um clericalismo para mim insuportável. Os excertos que citas são bom exemplo disso: os fiéis têm o direito de serem instruídos. Concepção ‘pedagógica’ completamente infeliz porque supõe a passividade de quem escuta e é instruído… têm o dever de “observar” “determinações” que requerem “docilidade” na caridade… Eu sou filho do meu tempo, peço desculpa… e não gosto da formulação, que me parece excessivamente legalista e eivada de total clericalismo pelo modo como está formulada; a própria referência à docilidade da obediência, peço desculpa, mas não se aplica a seres humanos… que não são chamados a ser dóceis… mas a pensarem e a questionarem e, volto a dizê-lo, também a discordarem. As palavras valem o que valem… mas não são inocentes… nunca são inocentes. Na nossa sociedade as expressões que citaste diminuem claramente os leigos e o seu papel na Igreja.

5) Há algo que a Igreja tem de compreender… os leigos hoje não são os mesmos de há cem ou mesmo cinquenta anos… são mais instruídos, vivem numa sociedade mais livre, onde se tende a valorizar a formação, a capacidade de pensar, o dinamismo de actuação. Por vezes, sinto que há padres que querem remar contra tudo isto… que se escudam atrás da obediência (já ouvi mesmo um padre jovem dizer que o mais importante no Cristianismo, no ser cristão, era obedecer, porque isso resumia tudo… por amor de Deus… que bela definição) para dizer que os Cristãos têm de aceitar a doutrina e se têm dúvidas devem seguir tout court a doutrina sem mais… assim, penso eu, não se formam Cristãos. A propósito de dúvidas (morais, não domáticas) que uma vez manifestei a um padre, ele trouxe-me o catecismo, mostrou-me os parágrafos acerca da dúvida e disse-me ‘isto é aquilo em que tens de acreditar’… e pronto… Caro João… isso parece-me um pouco o que tu fazes nestas mensagens sobre a Eucaristia ou sobre a Moral Católica… a doutrina é X; quem não a aceita, quem tem dúvidas, quem não a critica, desobedece, é infiel e, em última instância, não é Católico… ah, e claro: é perverso, vive dominado pelo mundo, etc, etc… se em termos lógicos, assim parece ser, na prática penso que não é.

Por agora não posso continuar… depois vejo conforme o tempo,


Abraço

Miguel


dicit illis Iesus amen dico vobis quia publicani et meretrices praecedunt vos in regno Dei (Math. 21, 31).

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 14 de June de 2004 20:27

Caro Miguel:

Gostei do que escreveste e é bom que o tenhas escrito.

O espírito apologético-ontologista aplicado à ética e à moral é, a meu ver, um desastre. É muitas vezes um sinal de insegurança e de falta de fé no Espírito Santo. O agir humano faz-se por tentativas e por um aprender constante e a História da Igreja mostra que ela também tem aprendido, com correcções, avanços e recuos. Ao contrário do que o João diz, não há uma moral imutável como se fosse um "em si" atemporal, a-histórico. Levado às última consequências, isto leva à negação de algo essencial do Cristianismo, que é a Encarnação (acontecimento histórico) e a presença do Espírito Santo na Igreja (TODA a Igreja)...

Também na moral a Igreja tem sido filha do seu tempo. Basta pensar um pouco. Se noutros tempos sustentou e justificou a escravatura (Instituições da Igreja tiveram escravos!), hoje isso é indiscutivelmente inaceitável e ninguém se pergunta se os nativos americanos ou africanos têm ou não alma, como se questionavam os teólogos do século XVI. E muitas destas mudanças vieram também através de pessoas que estavam formalmente fora da Igreja. Durante séculos a democracia foi anatematizada pela Igreja. Os direitos humanos estão arraigados no Evangelho, mas ironicamente impuseram-se contra o querer da Igreja hierárquica. Será também bom lembrar que só no Concílio Vaticano II a Igreja aceitou formalmente o princípio de liberdade religiosa, que hoje consideramos um avanço, mas que a Igreja combateu durante séculos. Ainda no século passado Igreja opunha-se aos transplantes de órgãos; hoje reconhece-se-lhes o valor. Hoje defende-se, para que a oposição ao aborto não deixe margem para dúvidas, que a vida humana é inviolável desde a concepção, mas durante séculos defendeu-se a teoria da animação tardia. E quase todos os "preceitos" de moral familiar e sexual são muito recentes na História da Igreja.

Basta isto para ver que não existe tal imutabilidade. Isto é suficiente para antevermos que muita coisa continuará a mudar, porque a hierarquia perceberá então (espera-se) outros aspectos.

Vivemos, de facto, um drama de "des-sintonia" dentro da Igreja, que passa também por uma desconfiança básica (e mútua) nas relações entre a hierarquia e o resto dos católicos, sobretudo em matéria de moral. A verdade é que esta "des-sintonia" é ela mesma um problema teológico importante, que não se resolve com argumentos de tipo "ontologizante" aplicados à moral e com anátemas. O discurso da "moral imutável" é uma forma de não responder ao problema.

Não quero usar a Bíblia para acusar ninguém, mas dizer apenas que quando penso em questões de moral e quando leio alguns dos documentos (porque os leio!), penso em muitas das frases do capítulo 23 de S. Mateus e me pergunto a mim mesmo: será que a hierarquia não está a incorrer no mesmo erro imputado por Jesus aos fariseus? Ora, leiamos calmamente alguns desses versículos (destaques meus):
Citação:
1Então, Jesus falou assim à multidão e aos seus discípulos:
2«Os doutores da Lei e os fariseus instalaram-se na cátedra de Moisés. 3Fazei, pois, e observai tudo o que eles disserem, mas não imiteis as suas obras, pois eles dizem e não fazem.
4Atam fardos pesados e insuportáveis e colocam-nos aos ombros dos outros, mas eles não põem nem um dedo para os deslocar.
[...]13*Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, porque fechais aos homens o Reino do Céu! Nem entrais vós nem deixais entrar os que o querem fazer.
[...]23*Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, porque pagais o dízimo da hortelã, do funcho e do cominho e desprezais o mais importante da Lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade! Devíeis praticar estas coisas, sem deixar aquelas. 24Guias cegos, que filtrais um mosquito e engolis um camelo!
[...]27*Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, porque sois semelhantes a sepulcros caiados: formosos por fora, mas, por dentro, cheios de ossos de mortos e de toda a espécie de imundície! 28Assim também vós: por fora pareceis justos aos olhos dos outros, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e de iniquidade.
29Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, que edificais sepulcros aos profetas e adornais os túmulos dos justos, 30dizendo: 'Se tivéssemos vivido no tempo dos nossos pais, não teríamos sido seus cúmplices no sangue dos profetas!' 31Deste modo, confessais que sois filhos dos que assassinaram os profetas. 32*Acabai, então, de encher a medida dos vossos pais! 33*Serpentes! Raça de víboras! Como podereis fugir à condenação da Geena?
•O versículo 4 é muito forte e vejo-o sempre a pairar quando leio alguns dos documentos de moral sexual, em concreto o que é dito sobre a homossexualidade ou sobre os contraceptivos, denominados de "intrinsecamente maus"...

•Os versículos 29-30 ecoaram em mim há dias com alguma força quando ouvi num debate uma mulher que dizia mais ou menos o seguinte: «Que adianta que o Papa tenha pedido perdão também pelas ofensas do passado contra as mulheres, se agora não se vê qualquer propósito de emenda?». Podemos ficar indiferentes?

Alef

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: rmcf (IP registado)
Data: 15 de June de 2004 00:20

É isso mesmo Alef... acho que compreendeste bem o que eu quis dizer e algumas das minhas inquietações... é que não suporto esse contínuo falar «ex cathedra» ao qual falta muitas vezes a humildade de olhar para os outros... Eu sou um católico com dúvidas... sou um católico que não concordo com tudo aquilo em que me dizem 'que tenho de acreditar'... que detesto a ideia de que há um conjunto de contínuos iluminados que instruem os outros que devem obedecer com docilidade... eu sou filho do meu mundo... mas a Igreja também é!!! O Espírito sopra onde quer... e por vezes tenho medo de quem quer fechar o Espírito e a sua acção apenas por trás dos portões do Vaticano. Será que o Espírito não fala também na sociedade exterior cujas dúvidas ou sensibilidades se quer por vezes (felizmente nem sempre) silenciar atrás da obediência?

Não aceito que por criticar ou ter dúvidas, seja apodado de infiel... tentei procurar mas não encontrei: uma vez li que um jornalista perguntara a um jesuita francês, conhecido por continuamente criticar a Igreja pré e pós Vaticano II, por que razão o fazia, ele que era um homem de Igreja... e ele respondeu: se a critico e lhe aponto as imperfeições ou as coisas com as quais não concordo é porque Amo a Igreja.

Finalmente, fazem-me alguma confusão algumas das ideias dos que defendem uma crise de fidelidade, que hoje existirá. Parece-me que isso é supor que algum dia essa crise ou esquizofrenia não existiu... é querer projectar no passado uma imagem ideal de uma Igreja e de uma sociedade que, elas sim, nunca existiram: em termos rigorosos essa crise sempre existiu (desde a ANtiguidade ao Renascimento, ao Ilumismo, aos 'modernistas' do século XIX),essa crise entre o que a Igreja determinava e o que os fiéis faziam, concordavam ou não sempre existiu. Muitas vezes foi a repressão que impediu que essa crise se manifestasse mais abertamente... É perigoso pensar que 'dantes é que era bom'. Quando se defende isso e que agora se vive uma qualquer crise esquizofrénica ou de fidelidade, que rompe com a história da Igreja, fico um pouco assustado...

Abraço

Miguel

Re: Moral católica esquizofrénica?
Escrito por: Abelardo (IP registado)
Data: 15 de June de 2004 01:32


Miguel

Longe de mim - como depreendo também acontecer com o João Oliveira, por exemplo - julgar-te/anatematizar-te/condenar-te, ou achar-te mais pecador (menos fiel, menos puritano, menos perfeito...) do que eu mesmo, até porque me considero (como até os próprios santos se consideravam sinceramente...) grande e miserável pecador.
E isso só por eu ter uma visão ligeiramente diferente da mesma e única Igreja de Cristo, ainda que aparentemente mais austera, integracionista, puritana, idealista?...

Não tenho mais que concordar ou discordar contigo - tal como tu mesmo o fazes legitimamente connosco -, mas dentro do maior respeito e pura caridade cristã, evidentemente.
Se me apartar um só milímetro de tal compreensão e respeito (do afecto fraterno e evangélico) logo estou pisando o risco, mais ou menos gravosamente, com todas as consequências inerentes, geralmente nocivas...

Por isso, rogo-te que mantenhas sempre a calma e confies sempre na Divina Providência, e se alguém te criticar, ainda que negativamente, não leves isso a sério, mas desculpes tais excessos de zelo, que, bem no fundo, ou são bem intencionados, ou não visam, no mínimo, ofender a tua honra e dignidade, estou certo disso...

E acredito perfeitamente que também não digas nada por mal, antes pelo contrário, e aí está a principal virtude de todos nós, independentemente de parecer-nos mais ou menos pecadores, mais ou menos exemplares, mais ou menos correctos...

Felizmente que Deus é o nosso único ou principal juiz, e abaixo d'Ele só a consciência de cada qual...
Logo, quando muito, a Igreja, que professamos, vem em terceiro lugar, mas num terceiro que pode, eventualmente, coincidir - e felizmente que normalmente acontece - com o primeiro, sem deixar de passar, é claro, pelo segundo...

E mais: Sinto que já sabias isso mesmo, talvez ainda melhor do que eu, pelo que só pretendi pôr os pontos nos "ii's" como se costuma dizer (ou lembrar...), a fim de evitarmos, a todo o custo, certas más interpretações, reciprocamente, como lamentável e compreensivelmente costuma acontecer, como humanos que somos, ainda antes de cristãos...

Um abraço fraterno.

Abelardo


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