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Re: Confissão
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 08 de January de 2005 12:08

Amiga Sandra: quando tiveres filhos provavelmente a tua opinião mudará um bocadinho.

Concordo em absoluto contigo que"Eu penso que antes de se querer controlar dever-se-á ensinar que o bem tem que ser praticado, e que quando a criança faz algo de errado, deve pedir perdão a Deus, ao seu coração e ao seu semelhante, caso tenha sido esse mal praticado a alguém"
Concordo em absoluto. E. como a confissão não é mais do que uma forma de controlo, é perfeitamente inútil para uma criança. Tanto mais que, se as crianças não são pecadoras nem cometem pecados, e seu Jeusu foi o primeiro a dizer que devemos ser como as crianças, não fez qualuqer sentido um ritual que serve pra apagar as culpas aos pecadores...
Se, como tu dizes, "as crianças, são puras e essa pureza tem que ser explorada e não deteriorada", devermos cuidar dessa pureza, enquanto pais. Mais um argumento .....

Os meus filho vão á Catequese e fizeram a "Primeira confissão" a um pároco excelente e bem formado. Confissão essa que foi muitíssimo acompanhada pelos pais e o seu sentido desmistificado e comprenedido por ser uma forma ritual de aceder á Comunhão, segundo as regras da igreja... Mas, a apartir daí não têm autorização para se confessar e isso já foi transmitido aos catequistas. Claro que as crianças não sentiram nem manifestaram nenhuma necessidade de o fazer.

Re: Confissão
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 08 de January de 2005 12:17


Quanto á catequese de adultos, a sandra coloca aqui uma questão interessante - o facto de um estranho ter um conhecimento profundo nda intimidade das pessoas, das suas maiores fraquezas , da sua intimidadae dá-lhe um poder extremo sobre elas.
Por isso a Confissão é tão defendida.....

Re: Confissão
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 08 de January de 2005 12:37

Caro Luís Gonzaga:

Não tenhas dúvidas de que eu quiz saber o que se passou nessas confissões dos meus filhos. A ponto de perguntar o que o padre lhe perguntou, o que ele respondeu, o que o padre aconselhou a fazer, qual foi a penitência. Não é prteciso fazer um interrogatório inquisitorial. As próprias crianças, dialogam espontanemanete sobre o assunto...
Obviamente. É meu dever fazê-lo e corrigir algumas falsas interpretações que tenham ficado nas mentes das crianças.
Responder a interrogações que ficam... Explicar aos meus filhos que há "segredo" bons e "segredos " maus, que eles devem partilhar com os pais as suas dificuldades .

Desconstruir sentimentos de culpa ou a ilusão de que "sou um menino mau.."

Ensinar às crianças que há uma esfera da sua intimidade ( emocional) que não deve ser tocada por mais ninguém sem a sua autorização, seja quem for esse alguém, nem que seja um padre...

E por último, explicar que Deus é Bom, que Deus perdoa sempre, que Deus dá sempre colinho e que, assim como não precisam de se ajoelhar ou humilhar perante a mãe ou o pai para serem "desculpados" quando se "portam mal", também deus não precisa das suas humilhações e penitências, pois o seu amor é ainda mais incondicional e profundo...

Afinal a Confissão é uma uma conversa privada do meu filho com um estranho , em que eu não estou presente e em que esse estranho indaga e toca aspectos da intimidade mais profunda dos meus filhos, obrigando-os a expôr-se.

Assim como não me passaria pela cabeça, não estar presente nas consultas de Pediatria em que os meus filhos são despidos e observados por alguém, ainda que esse outro seja um excelente médico e uma pessoa da da minha mais absoluta confiança, é meu dever estar presente...


Re: Confissão
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 09 de January de 2005 08:13

Neste tópico foram já abordadas temas bastante interessantes, embora ultimamente se tenha virado mais para a questão da confissão das crianças. Deixo por agora este último tema de parte, porque me parece importante discutir primeiro outras questões.

1. O sacramento da Reconciliação e os seus nomes... A Ana fez muito bem em colocar este tópico e o título não é totalmente descabido, mas a palavra “Confissão” traz já consigo muitos equívocos. Boa parte dos problemas levantados pela catolicapraticante começam por aqui.

Pessoalmente considero teologicamente errado chamar “Confissão” ao sacramento em questão, porque se um sacramento é uma acção de Cristo, a palavra “confissão” não diz praticamente nada daquilo que é a essência do sacramento. E nisto a Ana fez bem usar também a expressão “Sacramento da Reconciliação”, porque é disso que se trata. A acção de Cristo é precisamente o (re)encontro e não simplesmente o “despejar do saco” daquilo que são os nossos “podres”. Não é este o espaço para longas considerações sobre a teologia dos sacramentos, mas, mesmo recorrendo à linguagem tradicional sobre os sacramentos, poderemos dizer que o sinal sensível do sacramento da Reconciliação é precisamente o encontro de duas pessoas e não o mero acto de “confessar pecados”.

Reduzir este sacramento à Confissão é, pois, muito redutor. Como lembra o P. João Luís, a confissão é um momento da Reconciliação, mas não o único. Ora, se por um lado aprecio a intenção da catolicapraticante de evitar visões reducionistas, por outro lado, o que até agora vi escrito por ela sobre este sacramento manifesta também um enorme reducionismo, precisamente porque ignora o mais importante do sacramento. Toda a sua argumentação pretende sustentar a tese de que o sacramento não é necessário, porque alegadamente é apenas o resultado de um “processo inquisitorial”, onde há uma pessoa em posição “muito pouco dignificante” e um padre, de quem são lícitas todas as suspeitas, que está numa posição de poder, procurando incutir no “pecador” sentimentos de culpabilização. Averiguaremos a pertinência deste tipo de argumentação.


2. Alguns termos: pecado, pecador, sentimento de culpa, culpabilização, remorso e arrependimento. Parece-me que em algumas das mensagens que foram aqui deixadas se confundem palavras algo relacionadas, mas não necessariamente idênticas. Aqui ficam algumas ideias que poderão ajudar.

a) Pecado – uma definição simples mas certeira parece ser a do António José Monteiro, que define o pecado como “o que nos afasta de Deus”. Ora – continua – , “como Deus é amor, pecamos sempre que afastamos o amor da nossa vida, dos nossos actos, das nossas relações”. Nem mais. Esta ideia é fundamental e cheia de importantes consequências. Uma delas é que tal visão evita ver o pecado e o sacramento em questão em meros termos “juridicistas”, que é o ver o pecado prioritariamente como uma violação de uma norma e a “confissão” como um processo “judicial” ou “expiatório”. Não é isso. O pecado é o ferir de uma relação.

b) Pecador – mais do que significar o sujeito que “faz” pecados, “pecador” define aquilo que somos: dependentes, necessitados em absoluto de Deus. Por nós próprios, não vamos a lado nenhum. Defender o contrário é puro pelagianismo.

c) Sentido de culpa e culpabilização – muito haveria a dizer sobre isto, sobretudo a partir das mensagens da catolicapraticante e a isto me referirei novamente. Para já, fique assente o seguinte: o sentido de culpa (não digo “sentimento” mas “sentido”) é cristão, a culpabilização não o é. O sentido de culpa é próprio de quem, de acordo com a definição do Tó-Zé, se sabe causador de “desamor”, ou tem consciência que feriu uma relação de amor, e “dói-se” por isso. É próprio de quem se sente responsável por aquilo que faz ou deixa de fazer. Experimentamos isso nas nossas relações com as pessoas que amamos. Se ferimos uma relação, temos o sentido de culpa, e isso é o “alerta” para partirmos para a reconciliação; não significa “culpabilização”, que isso, isso é outra coisa. A culpabilização é muitas vezes uma forma mais ou menos rebuscada de um orgulho ferido e pode não ter nada de cristão. A culpabilização é muitas vezes o fechar-se em si mesmo, sem coragem de partir para dar e receber a reconciliação.

Gostaria de deixar claro outro aspecto, a propósito da culpa. Diz o P. João Luís que «cabe ao ministro do sacramento desvalorizar essa mesma culpa [que acompanha o penitente]». Discordo. O penitente não espera isso. Desvalorizar a culpa não é o mesmo que perdoar. O penitente espera o perdão de Deus, não a desvalorização da culpa. São coisas distintas.

Da mesma forma, acho ambígua a formulação do mesmo P. João: «concordo que o sacramento deve ser dissociado de quaisquer sentimentos de culpa, pelo menos por parte do ministro do sacramento». A expressão «sentimentos de culpa» não significa nada neste contexto, porque os sentimentos não são bons nem maus e não têm que ser dissociados ou associados de forma provocada a esta ou àquela expressão religiosa. Na Reconciliação não se trata de «pôr paninhos quentes», para dizer que «não foi nada», mas trata-se de dizer que o que quer que tenha sido, o amor de Deus é muito maior. E aí «muito amou a quem muito se perdoou»!

d) Remorso e arrependimento – outro par de termos relacionados com o dito anteriormente. Não são a mesma coisa. O que é cristão é o arrependimento, não o remorso. Talvez possamos ver a diferença destes termos nas figuras de Pedro e Judas. Pedro arrepende-se e abre-se ao perdão; Judas desespera e o remorso leva-o ao suicídio.


3. Necessidade e obrigação do Sacramento da Reconciliação. Se colocamos a questão em termos meramente “normativos” (de facto, é um dos Mandamentos da Igreja a confissão anual), já estamos longe do essencial. Não percebemos nada.

É também verdade – e mesmo sabendo-o, vale a pena recordar – que em questões como esta tendemos a defender aquilo que melhor “justifica” a nossa vida, pelo que, implícita ou explicitamente falamos desde a nossa própria experiência. De qualquer forma, pessoalmente parece-me que é de alguma forma artificial a pergunta sobre a necessidade e obrigatoriedade do sacramento. Se me experimento pecador e é-me oferecido um sacramento que é sinal do reencontro com Deus, terá sentido dizer que não preciso? A resposta a esta pergunta depende essencialmente da experiência pessoal, pelo que não valerá a pena argumentar muito. Apenas testemunhar que sim, que para mim é uma necessidade que encaro sem ansiedade nem “escrupuleira”, mas com a tranquilidade de quem já sabe o fim da “história”: um amor infinito nos espera; a nós cabe-nos receber esse amor – isto é a essência do sacramento –. A Reconciliação não começa em mim, nem no “despejar do saco”, mas no Pai que me espera para me estender o abraço do perdão. Por isso, embora se entenda o que quer dizer o JMA quando diz que “terminada a confissão vem a reconciliação”, parece-me que se pode dizer quase o contrário: antes que “confessemos”, já estamos reconciliados. Como na parábola do “Pai da misericórdia” (ou “filho pródigo”), antes que o filho “confesse”, já o Pai correu a lançar-lhe ao pescoço e a oferecer-lhe o seu abraço de reconciliação. É o que Deus faz connosco.

É claro que para quem, como a catolicapraticante, se coloca desde um ponto de vista secularista e alheio à própria fé da Igreja (refiro-me apenas ao que vi aqui escrito, como é óbvio), é possível todo o tipo de discurso desclassificador sobre a recepção do sacramento e seus “actores”, mas parece-me aqui importante ter aqui algum cuidado e respeito. Sobretudo quando nos referimos a pessoas concretas e sucumbimos à tentação de querer julgar – sempre pela suspeita destrutiva – as suas motivações mais profundas.


4. As dificuldades e o que fazemos ou devemos fazer neste sacramento. Não vou aqui percorrer as usuais “objecções” contra a confissão, mas apenas indicar alguns aspectos que, devidamente tidos em conta, ajudarão a viver este sacramento como aquilo que deve ser: uma festa do perdão e da reconciliação.

Para além do que diz a catolicapraticante, pelo menos também a Cassima refere algumas dificuldades na prática deste sacramento. Parece-me que todos a sentimos, em maior ou menor grau, numa ou noutra situação. Por exemplo, pode ser embaraçoso confessar-se ao pároco, ou a um padre amigo ou alguns tipos de pecados podem apresentar-se como “embaraçosos”, particularmente os que dizem respeito à sexualidade (sempre o papão da moral sexual!). Incomoda-nos o que o padre vai pensar ou julgar de nós ou que uma confissão possa interferir na amizade com um padre. Que eu saiba, nada disto é objecção propriamente dita ao sacramento. Posso buscar outro(s) padre(s), da mesma forma que posso optar por não fazer determinadas terapias com um profissional que pertença à minha família ou núcleo de amigos!

Dependendo da prática, formação e estilo de vida da pessoa, o sacramento da Reconciliação é sempre exigente e naquilo que diz respeito ao exercício de “confessar” pode haver dificuldades. Tendemos a ver o sacramento como o mero “enumerar os podres” e disso ninguém gosta. A catolicapraticante fala de “humilhação culpabilizante”, outros falam de “acto de humildade”. A primeira formulação distorce a visão cristã do sacramento, a segunda é verdadeira, mas muitas vezes é mal entendida. “Humildade” não significa “rebaixar-me”, para ser mais pequeno do que sou, mas é olhar-me tal como sou, na minha verdade. Humildade é, como dizia Santa Teresa de Ávila, a verdade. Mas custa-nos parar e olhar para a verdade de nós mesmos. Contudo, isto tem também a ver com a imagem que temos de nós próprios e do que entendemos pelo famoso “exame de consciência” (outra coisa tão mal entendida!). Como ultrapassar esta dificuldade?

Sugiro dois pequenos “truques” (a palavra não é exacta) que ajudam a colocar as coisas no seu lugar.

a) O primeiro é não fazer da “confissão” apenas a lista dos pecados, mas enumerar também aquilo que foi positivo e bom, onde se percebeu a acção de Deus. Faço isto habitualmente e é por aí que começo quando me confesso. Não se trata de um mero querer “equilibrar as contas” do “deve” e “haver”, mas de um “confessar” a acção de Deus na minha vida e à luz dessa presença reconhecer também aquilo que mais me afastou d’Ele!

b) O segundo pode ser também de grande ajuda, sobretudo para jovens ou pessoas que têm pouca prática deste sacramento: começar por enunciar os bons desejos ou “sonhos” que “persigo” na minha vida e os meios que ponho (ou não) para os “realizar”. Não nos esqueçamos de que Deus nos fala através dos nossos bons desejos.

Estes pequenos “truques” têm a enorme vantagem de nos colocarem na perspectiva correcta de ver o pecado à luz do amor de Deus que eu próprio experimento na minha vida, afastando-nos de ideias mais ou menos estereotipadas e distorcidas de um “deus-polícia” que tem uns agentes inquisidores que se dedicam a inculcar sentimentos de culpabilização nas pessoas, para deste modo as controlar. Um tal “deus” escreve-se com minúscula, porque é um ídolo, não o Deus revelado em Jesus Cristo.


5. As mediações, as “listas de pecados” e as perguntas dos padres... Talvez se possa dizer que as mediações (neste caso, os padres) são a grande dificuldade para a catolicapraticante, mas também o são para muitas outras pessoas. Entendo, no entanto, que as mediações têm todo o sentido. O ministro do sacramento (que é o bispo, que também delega nos padres) representa Deus que dá uma palavra de perdão, mas representa igualmente a comunidade. Isto tem um enorme significado. Pelo pecado ferimos a nossa relação com Deus e também a nossa relação com a comunidade. Quando amamos menos, ou “desamamos” toda a comunidade sofre com isso. O ministro representa pois, também a comunidade com quem também me reconcilio. Esta visão é genuinamente cristã e contrária a uma certa visão secularista da religião (cfr. muitas das posições da catolicapraticante), entendida como acto puramente privado ou de sacristia. Ora, nenhum acto humano é inteiramente isolado. O “desamor” fere também a comunidade humana a que pertencemos e por isso é justo que a reconciliação seja encontro. Por outro lado – e isto é muito importante –, ninguém pode conceder o perdão a si mesmo, mesmo que vulgarmente as pessoas falem na necessidade de “perdoarem-se a si mesmas”. E nunca é de mais ver os textos paulinos sobre o Corpo místico de Cristo e ainda Jo 20:23 e Tg 5:16.

Outra questão tem a ver com as “listas de pecados”, indevidamente identificadas com o exame de consciência. Pergunta-se por vezes: mas é necessário contar a nossa vida ao padre? A este nível talvez baste lembrar que a nossa fé não se vive no “genérico abstracto”, mas no concreto da vida, naquilo que fazemos ou deixamos de fazer, naquilo que dizemos e pensamos. É por isso necessário que pelo menos em alguns casos desçamos ao concreto, não para alimentar a curiosidade do padre, mas apenas para “pôr o guizo ao gato”, isto é, para identificar aquilo que esteve mal e que deve ser corrigido. De resto, é precisamente esta perspectiva positiva que deve ter sida em conta: quando confesso o pecado X, estou já a dar um primeiro passo para o superar ou, pelo menos, manifesto a minha dor por tê-lo feito.

Vale ainda a pena referir as perguntas dos padres no sacramento da Reconciliação. É possível que a existência de perguntas tenha a ver com o modo como o penitente se preparou ou não, com a idade e com o estilo próprio do ministro do sacramento. Se uma pessoa estiver preparada, o padre não terá necessidade de fazer qualquer pergunta. Claro, se nada disser, o padre fará perguntas, creio que para ajudar.

6. Um tesouro subaproveitado. Reconheço um enorme valor ao sacramento da Reconciliação e parece-me que ele “esconde” um enorme tesouro que infelizmente não se aproveita convenientemente. Por um lado, vivemos de estereótipos como os enunciados pela catolicapraticante, por outro os padres parecem cada vez menos disponíveis para administrar o sacramento. É uma pena.

Bom Ano!
Alef

Re: Confissão
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 09 de January de 2005 08:16

Cara catolicapraticante:

Dada a enorme quantidade de frases e expressões problemáticas em algumas das tuas mensagens, aqui vão alguns comentários breves a alguns extractos:

1. Um sacramento pouco dignificante? «Este sacramento [...] parece-me muito pouco dignificante da condição de cristão. Trata-se de um ritual em que uma pessoa se ajoelha submissamente à frente de um desconhecido, em que vai respondendo a uma série de perguntas inquisitoriais». Comento:

a) Como diz o João, é precisamente o contrário. Respondes então que “todos os seres humanos possuem uma dignidade inalienável que não podem perder em circunstância alguma”. Mas não nos afastemos do fulcro da questão: o pecado torna-nos precisamente menos dignos, da mesma forma que nos tornamos “indignos” diante de uma pessoa que nos ama e a quem ofendemos esse amor. É desta indignidade que se trata. Que não é coisa pouca: o pecado torna-nos também menos humanos, desintegra-nos, porque é o fechar-se ao amor, que é o que nos constitui. Ora, acontece que a Reconciliação que Deus nos oferece vence essa indignidade; é Deus que nos reconcilia com Ele, não o contrário.

b) Creio que a tua nota sobre a “dignidade” tem a ver com a “posição”: «Trata-se de um ritual em que uma pessoa se ajoelha submissamente à frente de um desconhecido». Nenhum destes elementos é pertinente: qualquer posição é possível, o padre não é necessariamente um desconhecido e a “submissão” não é ao padre, mas a posição normal de quem esta atitude de fé diante de Deus.

c) Sobre as “perguntas inquisitoriais”, é uma formulação retorcida. Um processo inquisitório tem “sentido” (para corresponder a tal natureza) quando há um acusador e um acusado conhecido. Ora, este sacramento pode ser feito anonimamente, sem que o padre tenha a menor ideia de quem está a falar com ele. Que recebe o padre como proveito? Curiosidade pela vida das pessoas? Mas curiosidade sobre um desconhecido, para saber mais um entre talvez milhares de casos que já ouviu? E, mesmo admitindo, que há padres com esse tipo de curiosidade, serão todos assim? Será esta uma objecção real a um sacramento? E já pensaste que boa parte dos padres não faz qualquer pergunta, desde que a pessoa esteja preparada?


2. “Guilty makers”? «Trata-se de um ritual em que uma pessoa se ajoelha submissamente à frente de um desconhecido, em que vai respondendo a uma série de perguntas inquisitoriais sobre os aspectos mais íntimos e reservados da sua personalidade e da sua vivência, à procura de indícios de culpa. È depois necessário que essa mesma pessoa se sinta profundamente culpabilizado - mesmo relativamente a actos em que moral e eticamente não sinta culpa nenhuma. Após isto, e depois de uma "fórmula mágica" fica perdoado dos pecados». Comento:

d) É infeliz e inexacta a expressão “à procura de indícios de culpa” (e havia muitas alternativas). Em primeiro lugar, ninguém se vai confessar se não sente necessidade disso e se o padre vê que não há matéria de confissão, simplesmente manda a pessoa embora, sem absolvição (se a pessoa em consciência não vê em si qualquer pecado, não se podem inventar, não tem de que pedir perdão, logo não tem de receber a absolvição). Em segundo lugar, não se busca a “profunda culpabilização”. A culpabilização nada tem a ver com a Reconciliação. Uma pessoa que se culpabilize não está em condições de receber a Reconciliação, porque a culpabilização leva a pessoa a fechar-se em si e no seu orgulho ferido.

e) Outra afirmação infeliz é dizer-se que se busca a culpabilização «mesmo relativamente a actos em que moral e eticamente não sinta culpa nenhuma». Isto é, em si mesmo, absurdo. Ninguém pode estar arrependido por algo de que não sente culpa. Será necessário voltar a citar S. Tomás sobre esta questão?

f) Infeliz é igualmente a expressão “fórmula mágica” aplicada à absolvição. Seria também magia o que Jesus fazia quando perdoava os pecados? Seria magia o que Jesus ordenou aos Apóstolos? Se a fórmula é mágica, o sacramento é magia. Se é magia, porque lhe chamas sacramento? Ou não haverá diferença? Já agora, note-se que o padre perdoa não em nome próprio, nem pelo poder de umas quantas palavras mágicas, mas em nome de Deus. Possivelmente há aqui alguma diferença! Um pouco mais abaixo referes os «poderes especiais», como se os padres se apresentassem como «magos». É essa a teologia da Igreja católica sobre o sacramento da Reconciliação e sobre a função dos ministros do sacramento? É ou não possível distinguir «poderes especiais» de «ministério»? Não é uma «visão instrumental e redutora da imensidade do perdão de Deus», mas a continuidade da missão da Igreja que é sempre «mediada» e também um bom antídoto contra a visão individualista e intimista da vida cristã.


3. Opressão das consciências. «Como é privada - dá um poder imenso a quem fica detentor dos segredos mais íntimos das pessoas e é (aliás, foi) um instrumento poderoso na manipulação de consciências. A confissão ou "direcção espiritual" foi utilizada com eficácia com benefícios para a Igreja ao longo da história, pois constituiu um imenso trunfo político e económico». Comento:

g) Se o sacramento pode ser recebido sob anonimato completo, que poder tem o detentor de segredos íntimos de desconhecidos?

h) “Confissão” e “direcção espiritual” são aqui usadas como sinónimos, o que é um erro importante. Não são a mesma coisa. Basta ver que a confissão está reservada aos bispos e aos padres e a direcção espiritual pode ser feita por qualquer pessoa, homem ou mulher. De qualquer forma, a menos que prefiras tomar a anomalia pela regra, ao contrário do que afirmas, a boa direcção espiritual é tudo menos manipuladora. Se há coisa fundamental na direcção espiritual é o discernimento e nisso o bom director espiritual nunca se pode colocar no lugar do “dirigido”. Por isso, no que diz respeito à terminologia, têm razão os que preferem falar de “acompanhamento espiritual”. Mas acontece que a expressão “direcção espiritual” tem um grande peso histórico.

i) Dizes que «A confissão ou "direcção espiritual" foi utilizada com eficácia com benefícios para a Igreja ao longo da história, pois constituiu um imenso trunfo político e económico». É curioso notar o tipo de “eclesiologia” por que te reges nesta frase. Não é, de certeza a do Concílio Vaticano II. Nem sequer de Trento. Nem católica. De qualquer forma, creio poder adivinhar o que queres dizer. E até é bem possível que tenha havido muitos abusos, mas podemos tirar conclusões a partir das anomalias? Alguma coisa, organização ou pessoa escaparia a tal tipo de “hermenêutica da suspeita”?


4. Função terapêutica? «Algumas pessoas sentem-se reconfortadas, após uma confissão. Neste caso a "confissão" até pode ter uma função terapêutica - as pessoas desabafam os seus problemas e as suas ideias de culpa, sentem que alguém as escuta. Isso pode até ser positivo para a sua saúde mental e para o seu bem estar. Mas parece-me também uma visão bastante redutora». Comento:

j) Eu também acho que esta é «uma visão bastante redutora», mas não creio que ela seja «apadrinhada» como algo fundamental no sacramento. Afinal, não me parece justo fazer uma caricatura para depois se poder atacar como se ela fosse o retrato fiel da realidade... Afinal, que pretende o parágrafo? Desacreditar a confissão na sua função terapêutica? Mas quem a lançou aqui senão tu mesma?


5. A subordinação ao padre. «Como costumo dizer a um padre meu amigo, quando ele (um padre) se confessar a mim, confessar-me-ei eu a ele. Ou seja - um padre é uma pessoa como eu e não Deus na terra [...] Sendo assim, se entre duas pessoas se estabelece uma relação de subordinação, em que só uma revela a sua intimidade e se põe ao dispor do outro, negando a sua capacidade de discernimento e autonomia, isso é ou não uma forma de poder sobre o outro? Claro que é. Uma forma de poder infantilizante, mais nada.... Quando muito, uma "terapia" desculpabilizante, para algumas pessoas». Comento:

k) Creio que a falácia está bastante evidente nesta forma de argumentação. Será que é essencial ao sacramento o “equilíbrio de forças” entre penitente e confessor? Suponhamos que o dito padre teu amigo se confessava a ti. Nesse caso já reconhecerias legitimidade ao sacramento? Será que em todos os âmbitos da vida te reges por este princípio de «equilíbrio de forças»? Só vamos ao médico a quem previamente analisarmos e de conhecermos todas as suas doenças? Não tem ele então também uma forma de poder? E no caso do psicólogo ou psiquiatra? Não é necessário dar mais exemplos. Mas baste lembrar o seguinte: os padres também se confessam uns aos outros. Neste caso, já haveria – nessa visão tão “american way” do “poder” – equilíbrio de poder... Tem algum sentido usar este “argumento” para discutir a validade e licitude do sacramento da Reconciliação?

l) Outra coisa «extradordinária»: referes que em tal relação numa confissão em que «só uma revela a sua intimidade e se põe ao dispor do outro, negando a sua capacidade de discernimento e autonomia». Mas será que a confissão significa, por si mesma, a «negação da capacidade de discernimento e autonomia»? Ora, eu acho precisamente o contrário. De resto, aconselha-se o exame de consciência antes da recepção do sacramento. E o exame de consciência nada mais é do que um exercício de discernimento! Por outro lado, o arrependimento é um «acto» verdadeiramente autónomo. Nada nem ninguém me pode obrigar a tal!

Alef

Re: Confissão
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 09 de January de 2005 10:09

Caro Alef:
Lerei com tdod o cuidado as tuas reflexões. mas, desde já há uma frase tua que eu concordo em absoluto:
" ninguém se vai confessar se não sente necessidade disso. "
Acho que pratico isso mesmo.

Re: Confissão
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 09 de January de 2005 10:13

Ah e não tocaste no cerne da questão - o mágico apagar dos pecados através da penitência e sacrifício, cok a obrigatória da mediação de um homem que pode até ser mais pecador e perverso do que quem se "confessa"...

Aguardo também as tuas reflexões a proósito da Confissão das Crianças....

Re: Confissão
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 09 de January de 2005 11:05

São pecadoras ou não? E, se não são pecadoras, porque se devem Confessar ? Para serem perdoadas dos pecados que não têm?


Re: Confissão
Escrito por: Padre João Luis (IP registado)
Data: 10 de January de 2005 00:56

Como Padre, confesso muita gente. Entre tanta gente confesso como é obvio crianças.
Na Catequese antiga, ensinava-se que para haver pecado mortal, era necessário haver matéria grave, pleno conhecimento, e pleno consentimento. Depois do que li, sem qualquer duvida que posso afirmar que pecam sim. E pecam como qualquer ser humano que sabendo que não deve fazer algo que rompe a amizade com Deus, o faz na sua plena liberdade. Que uma criança não tenha pecados mortais, graves, na maioria dos casos é verdade. Mas parece-me muito farisaico andar a catalogar pecados, mortais e veniais, principalmente numa criança.
Esta deve sim ser educada na certeza de que tem um Deus que a ama infinitamente e que está sempre pronto a perdoar todas as faltas mas para isso é preciso pedir esse perdão. Ele não vem automáticamente caído do Céu. E que para isso deixou um Sacramento concreto, que é o sacramento da reconciliação. Quem não confessa pois terá dificuldades naturais em entender, mas é um facto que as crianças quando se abeiram da reconciliação sabem bem o que devem confessar, tem uma consciencia ja formada que lhes permite ajuizar o que não agrada a Deus e o que agrada. Pedir perdão nunca poderá ser visto como algo humilhante - isso dizem os arrogantes que semeiam as guerras deste mundo, achando que nada devem perdoar ou pedir perdão.
As consciencias formam-se. Ha as bem formadas, e as mal formadas. O facto de a consciencia não acusar de pecado, não quer dizer nada, uma criança que foi habituada a roubar, a ver os pais roubarem, acha o roubo a coisa mais natural do mundo. Será o roubo uma coisa certa so porque a consciencia não acusa?
Não existe uma idade a partir da qual uma pessoa passa a pecar ou não. O pecado acontece sempre que cometemos um acto de desamor para com Deus e para com os Irmãos. Quem não se habitua a reconciliar desde criança tende a desvalorizar o pecado, como se nada fosse pecado para alem de roubar e matar. E em adulto, nunca será capaz de se abeirar do sacramento da reconciliação.
Na paroquia onde estou, as crianças abeiram-se com frequencia do sacramento, não apenas nos tempos fortes. Quando sentem necessidade aparencem com alegria. Sinal que os catequistas fazem um excelente trabalho.

Re: Confissão
Escrito por: Sandra Isabel (IP registado)
Data: 10 de January de 2005 12:06

Amiga catolicopraticante,

Concordo, as crianças são puras e raramente cometem pecados que tenham necessidade de ser confessados. Mas o que eu quis dizer com explorar essa pureza, é através desses “ pequeninos” pecados ensina-las a pedir perdão! A explicar-lhes o que é o bem e o mal, explicar-lhes que por exemplo, se gozarem com um colega - porque eu tenho um estojo da Barbie e tu não tens?!, que isso é pecado porque poderemos estar a ofender o outro, pois eventualmente até queria ter um, mas os pais não têm dinheiro para o comprar... Este exemplo passou-se há bem pouco tempo na minha sala de catequese. Como são crianças de 2º volume e ainda não vão à confissão, expliquei-lhe que não devia ter dito aquilo e o porquê, e disse-lhe que Jesus tinha ficado triste com ela e devia pedir- Lhe desculpa e à colega também. Como já lhes tinha falado, numa outra lição do que era a confissão, foi com grande alegria para mim, que ela no fim da catequese me pediu para ir ao Sr. Padre para pedir desculpa ao Jesus.
Com esta história não pretendo, julgar-me mais ou menos que qualquer pessoa, o que eu acho é que não é difícil explicar a uma criança o que é pecar e o que é confessar(pedir perdão e receber esse perdão)...

Não sei o que vai ser quando tiver filhos, mas penso que não irei mudar a minha maneira de pensar, pois é assim que eu sinto e vejo o sacramento da reconciliação.
Talvez o facto de as pessoas terem tantos problemas com a confissão, é não conseguirem vê-la, como algo bom! Como algo que nos faz sentir tão bem! Que nos faz sentir “ nascer de novo”. E o problema se calhar de não a vermos assim, está na educação rígida e quase de vergonha que nos ensinavam antigamente....

Um grande abraço

Sandra Isabel

Re: Confissão
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 10 de January de 2005 13:07

"Para haver pecado mortal, era necessário haver matéria grave, pleno conhecimento, e pleno consentimento."


Portanto as crianças não têm capacidade psicológica emocional para pecar. Assim como não têm capacidade para ser responsabilizadas criminalmente por actos que tenham particado mesmo que esses actos sejam a morte de uma outra pessoa, são consideradas inimputáveis, porque o Direito Penal considera que não é exigível a uma criança o "pleno conhecimento" dos seus actos, isto é a plena capacidade de discernir o que é bem ou mal, o que é lícito ou ilícito, muito menos a plena capacidade de se autodeterminar de acordo com isso. Também face á nossa lei, uma criança não tem ainda pelna capacidade de dar o seu consentimento.

A leitura da doutrina da Igreja versada aqui por um clérigo aponta para uma Lei Divina muito mais rigorosa e implacável do que a Lei humana face aos comportamentos das crianças...

Parece então, que certas interpretações humanas de certas leis da igreja ou alguns dos seus agentes parecem ter uma especial exigência relativamente às crianças e à sua capacidade de pecar. Ficamos então a saber que, "sem qualquer dúvida", são pecadoras, e, mais, que até podem ter "pecados mortais"!!!!! E mais "Não existe uma idade a partir da qual uma pessoa passa a pecar ou não."

Portanto, atenção pais, que um bébé de um mês , seis meses ou até um aninho ou dois pode praticar e andar em pecado mortal ( istoé, se morer vai direitinho para o inferno, esmo que já tenha sido baptizado e limpinho do famosos "pecado original"...) e como serão estes pecados infantis? Qual a penitência?

Está plenamente justificada a minha opção pessoal relativamente á não autorização de que os meus filhos sejam alvo desta prática........


Re: Confissão
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 10 de January de 2005 13:40

Minha querida Sandra:

È verdade que é missão dos pais e educadores ( catequistas incluidos) ajudar as crianças a construír valores de conduta.
E que os valores cristãos, se vividos com simplicidade de coração podem ser estruturantes no desenvolvimento pessoal.
O episódio que tu contaste dos miúdos que gozam com outros é relativamente frequente em certos contextos e em certas fases desenvolvimentais.
Quando ajudamos uma criança a reflectir nas consequências do seu comportamento face a um outro concreto estamos e a estar atenta às necessidades e sentimenstos desse outro a ajudá-la a construir-se do ponto de vista psicológico...

Por exemplo, uma criança, até determinada etapa do seu desenvolviemento não tem, porquestões bioneurológicas a capacidade de se colocar no lugar do outro. Exemplo simples - a lateralidade - Se colocares uma criança de quatro ou cinco anos em frente de uma outra pessoa, em espelho, e lhe pedires para apontar a mão direita dessa outra pessoa, ela apontará inavariavelmente a mão correspondente á sua própria mão direita....
Do ponto de vista emocional , também é assim , a criança não tem ainda maturidade para se colocar "na pele do outro", assim como não tem capacidade para decidir livremente sobre as usas condutas....

Incutir numa criança a ideia de que não deve ter um comportamento só porque é Pecado é um absurdo....
Explicar a uma criança que determinados comportamentos não são socialmente aceitáveis porque prejudicam os outros e a prejudicam a si mesma é perfeitamente adequado....


Esse episódio das "barbies" ou doa game boys ou dos jogos da playstation é -me perfeitamente familiar e resulta de um outro contexto mais perturbante para mim e que resulta desta sociedade de consumo em que vivemos: Esta ideia que é incutida às crianças de que as pessoas só têm valor em função daquilo que possuem e ostentam.... Roupas de marca, mochilas e acessórios de marca X, bonecada e jogos de formato Y...

Face a situações como a que descreveste, eu aproveito logoa para fazer um outro tipo de pedagogia que não a do pecado....
A pedagogia de que o valor das pessoas não depende das Barbies nem dos sianis exteriores, a pedagogia de que vivemos nnum mumdo de diversidade e até pode haver muitas meninas que detestem barbies, a ideia de que ninguém tem o diretito de humilhar ou gozar com um outro só porque é diferente.. E isso não apenas oporque "jesus fica triste", mas essencialmente, porque esse outro, que é uma pessoa como nós, esse é que fica VERDADEIRAMENTE triste....

Então mais do que pedir perdão a Jesus, através da oração , é ainda muito mais importante pedir perdão á pessoa que magoámos e, sobretudo, tentar não voltar a magoar mais ninguém com certos comportamentos...





Outro aspecto que referiste tem a vêr com a ideia da obrigatória intercessão de um pdre

Mas tudo isso tem de ser contextualizado

Re: Confissão
Escrito por: Padre João Luis (IP registado)
Data: 10 de January de 2005 13:45

Carissima Sandra
Tens razão apontas esse exemplo, e muitos outros podem ser apontados como mentirinhas e coisas várias que não sendo graves como é obvio, não deixam de ser faltas de verdade e de amor. Educar uma criança para a verdade e respeito pelos outros leva necessariamente a educar e a dizer o que está errado. Qual é o pai que no processo de educação dos seus filhos não lhes aponta onde erram? Não haverá necessidade de pedirem perdão pelo mal que fazem conscientemente?
Deus não funciona connosco á luz das leis dos códigos civis e não pretende a punição dos homens. Não é um Deus de castigo mas de Perdão e misericórdia. Como muito bem diz o Alef, somos todos carentes da misericórdia de Deus, e o sacramento da reconciliação é o sacramento da Misericórdia. Quando o filho pródigo regressa á casa do Pai, este não o leva a tribunal, nem lhe aponta os seus pecados. Pelo contrário abre os braços para o acolher e o cobrir de beijos. Este é o sacramento. Qualquer visão juridica castigadora do sacramento do tipo tribunal onde se julga se o pecador é culpado ou não é perfeitamente descabida.
Volto a insistir que não comentendo as crianças pecados graves, como todos nós necessitamos do reencontro com o Pai, porque de um modo ou de outro, de uma forma mais forte ou menos forte a partir do momento que temos consciencia do bem e do mal, fazemos o mal que não queremos em vez do bem que gostariamos de fazer.
Por isso, continuo a confessar crianças, com a mesma docilidade e amor com que o Pai do Filho prodigo acolhe o filho que regressa.

Re: Confissão
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 10 de January de 2005 13:48

Eu pessoalmente considero que não é necessária.
Incutir nas crianças a ideia que Deus não lhes perdoa se não for um padre a pedir a deus para fazer isso... è uma visão muito redutora... Quanto aos Padres que confessam crianças olhando-as como umas "pecadoras", já te disse a minha opinião...


Não penses que desvalorizo o trabalho dos catequistas, muito pelo contrário... eu própria fui catequista durante muitos anos...
Um abraço e bom trabalho!

Re: Confissão
Escrito por: Padre João Luis (IP registado)
Data: 10 de January de 2005 13:57

Todos somos pecadores necessitados da misericórdia de Deus.

Re: Confissão
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 10 de January de 2005 14:02

Cada um sabe de si...

Re: Confissão
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 14 de January de 2005 22:23

Mais uma vez vou notando a tendência a resvalar(mos) para questões de casuística e passar ao lado do essencial. Reafirmo que antes de tratar da confissão das crianças, é necessário abordar questões mais centrais no sacramento da Reconciliação. Por isso, não tenciono tratar para já a questão da confissão das crianças. De resto, «surpreende-me» a (falta de) reacção ao que escrevi na minha última mensagem.

Seguem algumas notas breves, a propósito de algumas frases da catolicapraticante:

Dizes: «Ah e não tocaste o cerne da questão – o mágico apagar dos pecados através da penitência e sacrifício, com a obrigatória mediação de um homem que pode ser mais pecador e perverso do quem se “confessa”». É difícil dialogar quando algum interlocutor manifestamente opta pela «hermenêutica da suspeita» (vulgo «estar de pé atrás como o Senhor dos Passos»), mas, mesmo assim, aqui vão alguns comentários:

1. «Mágico apagar dos pecados»? Não, não é um apagar mágico. Sendo um sacramento, não é magia, porque o «poder» ou «eficácia» não depende de uma propriedade de um elemento, nem sequer da «qualidade» da pessoa encarregada de desenvolver tal acção, mas da acção do Espírito Santo, muito embora seja sempre preciso um elemento «sensível» e um «ministro». Seria muito longo explicar tudo isto e sobre a matéria existem muitos livros de teologia dos sacramentos, mas tenha-se em conta uma coisa tão simples quanto isto: o «argumento» da magia teria então que ser usado para todos os sacramentos e nesse caso a desclassificação do sacramento da Reconciliação, por magia, teria que ser válida para os outros sacramentos.

Vejamos: a água do baptismo e as palavras que a acompanham («Eu te baptizo...»), o óleo usado no Crisma ou na Unção dos Doentes, a imposição das mãos na ordem, as palavras da consagração na Eucaristia, tudo isto seriam pura magia. Seria bom ler um pouco mais sobre a magia e as suas características. Um dos aspectos típicos da magia é o recurso a elementos físicos mais ou menos «raros» aos quais se atribuem propriedades especiais (mágicas), como é o caso de determinados minerais ou mistelas raras ou ainda artefactos e fórmulas (palavras) estranhas (frequentemente em línguas desconhecidas). A combinação desses elementos confere um poder de controlar coisas, situações ou pessoas ou conseguir uma determinada transformação. Note-se que na magia tal poder reside sempre na combinação dos elementos usados.

Não é isso o que acontece nos sacramentos. Todos eles são acções especiais de Jesus Cristo, pelo Espírito Santo. Embora sejam necessários elementos sensíveis (matéria), a eficácia do sacramento não depende «qua tale» dos elementos físicos. O baptismo não depende de uma água especial, nem de umas quantas palavras mágicas. A água do baptismo é água corrente e as palavras são bem conhecidas e simples. O elemento físico é necessário, pelo que não se pode baptizar com parafina líquida ou álcool etílico, mas a eficácia do sacramento não está na qualidade da água. De resto, a eficácia do sacramento também não depende das qualidade morais do ministro, logo, não há lugar para se pensar em melhor ou pior mágico! Por muito que nos possa escandalizar, uma Eucaristia presidida por um padre em pecado mortal é tão válida como uma missa presidida por um grande santo, porque o sacramento não depende da qualidade do ministro. No sacramento da Reconciliação acontece o mesmo: mesmo que seja muito pecador, o sacerdote pode ministrar eficazmente o sacramento, porque este não depende das suas qualidades morais. O que não pode é ministrar o sacramento a si mesmo, pelo que necessitará também ele de recorrer a outro ministro para receber o mesmo sacramento. Da mesma forma que ninguém se baptiza a si mesmo, também ninguém se pode arrogar no «direito» de dar a si mesmo o sacramento da Reconciliação. Os sacramentos são sinais visíveis, pelo que tem todo o sentido que o sinal de Reconciliação seja o encontro entre duas pessoas, em que uma delas recebeu o ministério da Igreja de ministrar esse sinal especial de Reconciliação. Não é o único modo de Deus nos perdoar, mas é um sinal especial e eficaz.

2. O «cerne da questão». Dizes que a questão «mágica» é o cerne da questão. Como facilmente se pode adivinhar a partir do que já escrevi, discordo em absoluto que o cerne da questão seja o «mágico apagar dos pecados», que já comentei. O cerne será necessariamente teológico: que significa e realiza o sacramento da Reconciliação enquanto acção de Cristo? Que relação tem com os outros sacramentos? Daqui muitas outras questões se podem colocar, incluindo a da confissão das crianças, mas não esqueçamos de partir daquilo que é essencial. Tal perspectiva permitirá ver as coisas com mais calma e perceber também os exageros de muito «confessismo», ou quase «mania» da confissão «compulsiva» e «mecânica», que acaba por retirar importância ao próprio sacramento, tornando-o como mais uma prática de tipo devocional, bastante infantilizada e infantilizadora... Mas não tomemos o acessório pelo essencial, nem façamos da caricatura a «norma».

3. «Apagar dos pecados através da penitência e sacrifício». A «penitência» que se segue à «confissão» não é o «meio» do perdão (como sugere a palavra «através»). É um simples sinal de algo importante e pedagógico, que se entende melhor se olharmos para as nossas relações humanas de reconciliação. Quando pedimos a alguém sinceras desculpas por algo de mau que fizemos, se estamos realmente «tocados» pelo mal que fizemos a uma relação, mostraremos algum sinal que vai para além do «mero» desculpa. Dependendo dos casos, talvez lhe dediquemos um pouco de mais tempo para conversar ou estar com essa pessoa, talvez dêmos alguma prenda ou convidemos para um café... O que quer que seja, há-de haver sempre um qualquer sinal de que queremos refazer as coisas.

Ora, para além de discursos jurisdicistas, algo de semelhante se passa no sacramento da Reconciliação e a dita «penitência». Infelizmente, a «penitência» resume-se, na maior parte dos casos, a rezar uns quantos Pai-Nossos e/ou Avé-Marias, ou porque as pessoas preferem assim «arrumar o assunto» e não sabem outra coisa (?) ou porque os sacerdotes não querem ou não estão em condições de indicar outras coisas (mas muitos fazem-no). Não é que esteja de todo mal a penitência pelas habituais orações, se for bem entendido: a oração é então um «primeiro» sinal de que queremos realmente «voltar» e refazer a nossa relação com Deus. Mas é pena que se veja nisto uma forma quase mecânica de «limpar o cadastro» para se poder voltar ao mesmo de sempre. Alguns padres aconselham outras penitências mais variadas e talvez mais «apropriadas», como a leitura (e/ou meditação) de determinado texto bíblico ou algum gesto concreto, de acordo com algum pecado concreto de que a pessoa se acusa. Por exemplo, ouvi uma vez um conhecido padre falar de uma penitência que me pareceu bastante inteligente e pedagógica (não façamos casuística deste caso, pois apenas o refiro como exemplo, de que, obviamente, não conheço pormenores): a uma mulher que se confessava arrependida de ter provocado um aborto, o sacerdote sugeriu-lhe que como forma de «penitência» que a mesma quantia gasta para abortar o filho fosse oferecida anonimamente a um orfanato, como sinal manifestamente contrário ao que fizera antes. Ao que parece, a pessoa em questão ficou até contente com a sugestão e fê-lo sem hesitar. Há outros casos talvez mais complicados, como são os que têm a ver com o desvio de bens: em princípio, é preciso que aquilo que foi roubado seja restituído, a menos que a pessoa esteja realmente impossibilitada de o fazer. Pode-se dar a absolvição sob forma condicionada? Sobre isto, o P. João Luís poderá dizer como lida com estes casos...

Quanto ao sacrifício, há uma confusão generalizada, que a tua mensagem denota e que muita má literatura católica continua a espalhar, incluindo muita literatura «fatimiana». «Sacrifício» não é o que custa, mas o que é oferecido a Deus («sacrum» + «facere») com amor, mesmo que custe. Mais uma vez anda por aí muita confusão por se tomar o essencial pelo acessório e vice-versa. De qualquer forma, a ideia de que o que custa é o que nos limpa dos pecados, por si mesmo, não me parece sequer cristão. Veja-se 1 Cor 13:3: «Ainda que eu distribua todos os meus bens e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, de nada me aproveita». Já agora, convém notar algo que vi escrito noutro tópico pelo P. João que me parece ser perigoso: confundir o termo evangélico «cruz» com «mortificação» ao estilo da «mensagem de Fátima». A cruz é o caminho de todos, porque é o caminho do amor; a mortificação, pelo menos em muitas das suas acepções, chega a ser idólatra, porque implica a imagem de um «deus» sádico e sanguinário, imagem bem alheia ao Deus revelado em Jesus Cristo. É sempre o problema de algumas linguagens. Há, é verdade, sentido cristão para a ascese e também para a mortificação, mas não como fins em si mesmos e sempre como caminhos ou métodos (método = «metà» + «odós», caminho) para algo que está mais além. Mas isto levar-nos-ia longe e muito para lá do tema deste tópico.

Uma nota mais sobre isto da penitência e do sacrifício: a ideia de que por nós poderíamos «juridicamente» «satisfazer» ou «repor a justiça» do mal causado a Deus mediante a penitência e o sacrifício, é ridícula. Se a ofensa é tanto mais grave quanto mais importante for a pessoa a quem se ofende, que «penitência» e «sacrifício» iria «remir» uma ofensa contra Deus? Uma tal visão baseada nestas ideias é potencialmente pagã, porque esquece a missão de Jesus. N’Ele já estamos salvos e o perdão é-nos oferecido. Cabe-nos, isso, sim, recebê-lo. Mas há também que ter em conta que Deus é bom e não «bonzinho», como parecem sugerir algumas das mensagens escritas por aqui. Receber o amor de alguém significa comprometer-me com esse alguém. Por isso nos custa tanto receber o amor de Deus. Por um lado, não «acreditamos» a sério, por outro lado, temos medo que aceitar o perdão («per-dom») nos exija demasiado e subscrevemos muitas vezes o dito clássico: «Convertei-me, Senhor, mas não para já!».

4. Ainda sobre os «mediadores». Já escrevi suficientemente sobre a questão da alegada necessidade de que o padre seja mais «justo» que o «penitente». Com má vontade nada escapa, mas parece-me justo que se diga algo mais. Se é verdade que a formação de muitos padres deixa muito a desejar, também há que dizer que os há muito bem formados. Embora tenha ouvido alguns relatos em sentido contrário, pessoalmente nunca tive nenhuma má experiência de confissão. Não sei se todos os padres fazem isso (Padre João, diga-nos algo sobre isto!), mas sei que muitos padres têm cursos específicos para ouvir confissões, que em alguns sítios são bastante exigentes. Frequentei uma escola de Teologia onde esses cursos eram abertos a toda a gente, pelo que participavam também alguns leigos (ou melhor, não seminaristas, dado que os seminaristas que havia eram então também leigos), incluindo mulheres. Todos os alunos tinham que fazer de confessores e o exame final era uma «confissão» (na verdade, duas ou três), onde os professores faziam de penitentes e traziam sempre «casos complicados». Nada fácil. Ao longo do ano tratavam-se aspectos diferentes, pastorais, psicológicos, teológicos, num esforço de conjugar «doutrina», prática pastoral e, claro, bom senso!

Também me parece injusta a acusação de que os padres têm na confissão um mecanismo de controlo das consciências. Alguém que se convence que uma acção cuja obrigatoriedade é apenas anual e que para a maior parte das pessoas não chega a dez minutos é uma forma de controlar as consciências? Isso, sim, seria magia e da grande!

De resto, o que me parece importante ter em conta é algo que uma vez ouvi a um jovem padre e que me impressionou, porque não tinha pensado nisso: como ministros do sacramento, experimentam algo que passa «por eles» mas que não lhes pertence. São ministros que têm na Igreja a missão de comunicar a palavra de perdão sacramental mas são também testemunhas «privilegiadas» de algo muito importante que não lhes pertence.

5. A experiência de pedir perdão e perdoar. Como experiência humana que também é, a prática do sacramento da Reconciliação encontra as dificuldades que encontramos fora do âmbito estrito do sacramento. Aqui entra a questão da aceitação pessoal, bem como a maior ou menor facilidade da pessoa em perdoar e pedir o perdão. Mas isto é já outra conversa e hoje já escrevi q.b. ;-)

Alef

Re: Confissão
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 15 de January de 2005 15:03

Vejo que continuas sem opinar sobre a Confissão de crianaças. Continuo a aguardar.

Re: Confissão
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 15 de January de 2005 15:17

"Da mesma forma que ninguém se baptiza a si mesmo, também ninguém se pode arrogar no «direito» de dar a si mesmo o sacramento da Reconciliação."

Mas o baptismo não é um ritual exclusivo dos "exclusivo" dos padres, pois não? Um leigo pode "dar" o baptismo, para usar a tua expressão.

E há sacramentos que não podem ser "dados " por padres , mas só por leigos, não é verdade?

Porque é que a "confissão" é um exclusivo dos padres?


Dizes que há padres bem formados. Não duvido. Mas o contrário também existe. Existem situações gravíssimas nest domínio.

Até há padres que recusam a absolvição, como já foi aqui dito....
E há situação em que as pessoas se submetem á confissão, são absolvidas pelo padre, portanto, não têm pecados, mas depois estão proibidas de comungar...
Portanto a própria igreja desvaloriza este "sacramento"...


As próprias "regras daconfissão" impostas por alguns sectores do vaticano são bastante clarificadores quanto à Confissão como uma forma de manipular consciências. (Recomendo a leitura do Vademecum dos Confessores)


Uma coisa é o "sacramento da reconciliação", um RITUAL com normas próprias, instituido com finalidades muito específicas e justificado "porque os pecadores precisariam desse ritual para que os seus pecados sejam perdoados".

Outra coisa é o perdão de Deus e a reconciliação interior das pessoas, que não passa obrigatoriamente pelo ritual da confissão.


Re: Confissão
Escrito por: Ana (IP registado)
Data: 15 de January de 2005 16:01

Alef


A catolicapraticante é manipuladora... Manipula tudo e todos no Fórum, pensa que está sempre certa. Apenas, não manipula o Luis, porquê será? ehehehehehe

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