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Re: Beata Alexandrina Maria da Costa
Escrito por: José Ferreira (IP registado)
Data: 11 de July de 2004 23:19

Consolar a Cristo

Já há bastante tempo que entendo que tudo o que se refere à Beata Alexandrina exige muito estudo. Cada dia isso se me confirma.
Quer o Pe. Pinho quer o Pe. Humberto citam uma encíclica de Pio XI, a Miserentissimus Redemptor (O nosso Misericordisíssimo Redentor), de 1928. Acabei por procurá-la na Internet e reconheço agora que ela é como que uma preciosa chave para nos introduzir no cerne do que foi a vida de sofrimento da Alexandrina. Sofrimento que, bem sabemos, muitos teimam em considerar insensato.
Esta encíclica data de 1928, o que é curioso, pois corresponde de perto (ou exactamente) ao ano em que a Alexandrina descobre a sua vocação de vítima. E note-se que ela tinha acamado em 1925, mas só conhecerá o Pe. Pinho em 1933; portanto não é sob influência da doutrinação dele que faz a sua descoberta…
A Miserentissimus Redemptor aparece repetidas vezes na Internet, mas nunca em português, que me desse conta. Por isso, vou citá-la em espanhol. O texto integral nesta língua pode-se ler por exemplo em: [www.vatican.va]
Vejam-se hoje estes parágrafos, que parecem ter sido feitos de encomenda para o nosso caso:

Mas ¿cómo podrán estos actos de reparación consolar a Cristo, que dichosamente reina en los cielos? Respondemos con palabras de San Agustín: «Dame un corazón que ame y sentirá lo que digo».
Un alma de veras amante de Dios, si mira al tiempo pasado, ve a Jesucristo trabajando, doliente, sufriendo durísimas penas «por nosotros los hombres y por nuestra salvación», tristeza, angustias, oprobios, «quebrantado por nuestras culpas» (Is 53, 5) y sanándonos con sus llagas. De todo lo cual tanto más hondamente se penetran las almas piadosas cuanto más claro ven que los pecados de los hombres en cualquier tiempo cometidos fueron causa de que el Hijo de Dios se entregase a la muerte; y aun ahora esta misma muerte, con sus mismos dolores y tristezas, de nuevo le infieren, ya que cada pecado renueva a su modo la pasión del Señor, conforme a lo del Apóstol: «Nuevamente crucifican al Hijo de Dios y le exponen a vituperio» (Hebr 5). Que si a causa también de nuestros pecados futuros, pero previstos, el alma de Cristo Jesús estuvo triste hasta la muerte, sin duda algún consuelo recibiría de nuestra reparación también futura, pero prevista, cuando el ángel del cielo (Lc 22, 43) se le apareció para consolar su Corazón oprimido de tristeza y angustias. Así, aún podemos y debemos consolar aquel Corazón sacratísimo, incesantemente ofendido por los pecados y la ingratitud de los hombres, por este modo admirable, pero verdadero; pues alguna vez, como se lee en la sagrada liturgia, el mismo Cristo se queja a sus amigos del desamparo, diciendo por los labios del Salmista: «Improperio y miseria esperó mi corazón; y busqué quien compartiera mi tristeza y no lo hubo; busqué quien me consolara y no lo hallé» (Sal 68, 21).
Añádase que la pasión expiadora de Cristo se renueva y en cierto modo se continúa y se completa en el Cuerpo místico, que es la Iglesia. Pues sirviéndonos de otras palabras de San Agustín: «Cristo padeció cuanto debió padecer; nada falta a la medida de su pasión. Completa está la pasión, pero en la cabeza; faltaban todavía las pasiones de Cristo en el cuerpo». Nuestro Señor se dignó declarar esto mismo cuando, apareciéndose a Saulo, «que respiraba amenazas y muerte contra los discípulos» (Hch 9, 11), le dijo: «Yo soy Jesús, a quien tú persigues» (Hch 5); significando claramente que en las persecuciones contra la Iglesia es a la Cabeza divina de la Iglesia a quien se veja e impugna. Con razón, pues, Jesucristo, que todavía en su Cuerpo místico padece, desea tenernos por socios en la expiación, y esto pide con El nuestra propia necesidad; porque siendo como somos «cuerpo de Cristo, y cada uno por su parte miembro» (1 Cor 12, 27), necesario es que lo que padezca la cabeza lo padezcan con ella los miembros (1 Cor 12, 27).



Re: Beata Alexandrina Maria da Costa
Escrito por: José Ferreira (IP registado)
Data: 13 de July de 2004 10:37

A ânsia ardente de expiar

A Miserentissimus Redemptor lê-se bem melhor em [www.corazones.org] que na localização que dei no domingo (nos Corazones.org há um dos mais antigos espaços dedicados à Alexandrina, que foi actualizado após a Beatificação). Esta encíclica, que o Pe. Pinho cita na capa de No Calvário de Balasar, é quase indispensável para quem queira estudar a nossa Beata, porque as pessoas reagem mal, não entendem o sentido do seu sofrimento. Ora isso fica aqui claro nas palavras autorizadas de Pio XI.
É bom notar a importância S. Margarida Maria Alacoque ocupa no texto. Como sabemos, esta surge nos escritos da Alexandrina em lugar de muita visibilidade.
Hoje vamos transcrever mais um parágrafo:

Cuantos fieles mediten piadosamente todo esto, no podrán menos de sentir, encendidos en amor a Cristo apenado, el ansia ardiente de expiar sus culpas y las de los demás; de reparar el honor de Cristo, de acudir a la salud eterna de las almas. Las palabras del Apóstol: «Donde abundó el delito, sobreabundó la gracia» (Rom 5, 20), de alguna manera se acomodan también para describir nuestros tiempos; pues si bien la perversidad de los hombres sobre manera crece, maravillosamente crece también, inspirando el Espíritu Santo, el número de los fieles de uno y otro sexo, que con resuelto ánimo procuran satisfacer al Corazón divino por todas las ofensas que se le hacen, y aun no dudan ofrecerse a Cristo como víctimas.
Quien con amor medite cuanto hemos dicho y en lo profundo del corazón lo grabe, no podrá menos de aborrecer y de abstenerse de todo pecado como de sumo mal; se entregará a la voluntad divina y se afanará por reparar el ofendido honor de la divina Majestad, ya orando asiduamente, ya sufriendo pacientemente las mortificaciones voluntarias, y las aflicciones que sobrevinieren, ya, en fin, ordenando a la expiación toda su vida.
Aquí tienen su origen muchas familias religiosas de varones y mujeres que, con celo ferviente y como ambicioso de servir, se proponen hacer día y noche las veces del Ángel que consoló a Jesús en el Huerto; de aquí las piadosas asociaciones asimismo aprobadas por la Sede Apostólica y enriquecidas con indulgencias, que hacen suyo también este oficio de la expiación con ejercicios convenientes de piedad y de virtudes; de aquí finalmente los frecuentes y solemnes actos de desagravio encaminados a reparar el honor divino, no sólo por los fieles particulares, sino también por las parroquias, las diócesis y ciudades.



Re: Beata Alexandrina Maria da Costa / Para: José Ferreira
Escrito por: José Avlis (IP registado)
Data: 15 de July de 2004 08:26


Amigo José Ferreira

Gostei muito de ler a carta encíclica "Miserentissimus Redemptor" (de Pio XI), embora em espanhol, assim como também li a encíclica similar de Pio XII "Haurietis Aquas" (sobre o culto do Sagrado Coração de Jesus), esta já em português...
[www.seminario-campos.org.br]

De facto, a nossa querida Beata de Balasar é um dos melhores exemplos de Expiação e Reparação, através da Oração e sobretudo do Sofrimento, com singular altruísmo e abnegação, ou seja, por via de uma ascese profundamente espiritual e mística!

Ela compreendeu melhor que ninguém, apesar de ser quase analfabeta, o valor infinito da Penitência, em desconto e remissão dos nossos pecados, em reparação dos terríveis ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Jesus Eucarístico é constantemente ofendido e profanado!

Ela assumiu isso mesmo como a sua mais importante missão neste vale de lágrimas, nesta efémera vida de tribulações e provações!

Ela apostou tudo o que tinha de melhor, todos os dons e carismas que Deus tão generosamente lhe confiou, e tudo venceu e ganhou heróica e santamente!

Nem poderia ser de outra maneira, que Deus nunca falta com a Sua infinita Misericórdia e Recompensa! Nem por um simples copo de água dado com Amor!

Tenho lido as vidas de muitos santos, com especial edificação, mas não encontro uma assim tão "sui generis", tão especial e fascinante, como é realmente a Beata Alexandrina de Balasar!

Ela é verdadeiramente uma jóia espiritual preciosíssima – um dos dois maiores tesouros de Portugal, a par de Fátima! - um sublime exemplo de santidade como nunca tivemos antes, mas que infelizmente tão pouco imitamos, quer por desconhecimento quer por negligência, quer por egoísmo quer por comodismo, quer por falta de piedade quer por falta de Fé!

Espero bem que não sejamos gravemente afectados por tudo isso, pois Jesus fez questão de avisar e pedir que a altíssima missão da Alexandrina deveria continuar, a todo o custo, por outras almas vítimas em especial e por todos os bons cristãos em geral...

Mas, aparentemente, muito pouco ou quase nada se tem feito, que eu saiba, oxalá esteja enganado!
Eu próprio sinto muitas limitações nos meus sinceros propósitos de tentar imitá-la tanto quanto possível, mas conformo-me humildemente na medida em que acho que não tenho tais condições, os talentos minimamente necessários, ao menos por enquanto... Mas continuo a pedir tais Graças, como é meu dever, quer para mim quer para os outros.

Que ao menos quem tem esses preciosos dons - sobretudo o clero e os religiosos - faça alguma coisa de grande e positivo, o mais e o melhor possível, desde já, para a maior glória de Deus e para a salvação das almas, tal como tão bem nos ensinou a Bem-aventurada Alexandrina, louvada seja!

Beata Alexandrina Maria, rogai por nós!

Saudações cristãs reconhecidas para si em particular e para todos em geral.

J. Avlis

P.S.: * Após ter-lhe enviado, via e-mail, alguns detalhes importantes sobre a minha identificação pessoal (tal como pediu com toda a razão), tenciono endereçar-lhe mais informações oportunamente. Era para ter feito uma lista curricular mais completa, mas surgiu-me então um pequeno problema, já resolvido.
* Por minha causa, não vale a pena prender-se demasiado a este fórum, até porque, infelizmente, quase ninguém liga ao que aqui escrevemos (por mais importante e transcendente que seja), ao menos aparentemente... Até sempre, amigo José Ferreira, e aproveito para desejar-lhe desde já boas férias! Felicidades para si e sua família, com a bênção da Beata Alexandrina!


Re: Beata Alexandrina Maria da Costa
Escrito por: José Ferreira (IP registado)
Data: 15 de July de 2004 13:07

DR. ABÍLIO GARCIA DE CARVALHO

Médico da Beata Alexandrina (1)



Em Balasar é preciso – a ideia nem é minha – um Centro de Estudos da Alexandrina: há tanta coisa a estudar e a fazer! Se a Alexandrina é, como muitos pensam que de facto é, candidata séria ao doutoramento, será preciso pôr muitas instituições científicas da Igreja a reflectir. E isso só se consegue com muito estudo e publicações regulares e ocasionais.
O que vou fazer aqui é dar um pequeno contributo para definir com mais rigor o lugar que teve junto da nossa Beata o médico Dr. Abílio de Carvalho.
São vários os médicos que se nos deparam na sua biografia. Uns com nomes sonantes, outros mais humildes; uns acompanharam-na por longos períodos e mais de perto, outros abeiraram-se dela mais pontualmente.
Entre os nomes sonantes, contam-se o Dr. Elísio de Moura, o Dr. Henrique Gomes de Araújo e o Dr. Roberto de Carvalho. Entre os que a acompanharam por mais longos períodos, destacam-se o Dr. Abílio Garcia de Carvalho, o Dr. João Alves Ferreira e o Dr. Dias de Azevedo. Médicos como o Dr. Pessegueiro e o Dr. Carlos Lima e outros tiveram uma intervenção ocasional.
O médico Dr. Abílio de Carvalho foi um homem lutador e empreendedor e católico militante; como muitas vítimas da Primeira República, viu em Salazar o redentor da Pátria. Orgulhava-se de pertencer à sua geração e propagandeou com convicção os ideais que o animavam. Durante alguns anos, esteve à frente dos destinos da Câmara poveira, onde deixou obra meritória.
Hoje interpela-nos. Como ele, muitos homens e mulheres, inteligentes e generosos, se colocaram sob a bandeira do salazarismo. Só por demagogia se pode pretender condenar em bloco tanta gente pensante e comprovadamente honesta.
Aliás nos estudos da Alexandrina, o lugar de Salazar, sem ser duma importância grande, é incontornável.
Para uma visão global da biografia do Dr. Abílio de Carvalho, consulte-se a minha Página de Cultura Poveira: [www.eseq.pt]
O Dr. Abílio de Carvalho aparece a cuidar da Alexandrina em dois mementos diferentes, mas relacionados: quando ela tem dezasseis/dezoito anos, ainda no contexto das sequelas do salto, e em 1938, quando, ao reviver a Paixão, readquiria a capacidade motora perdida.
Veja-se, para começar, esta citação do livro do Pe. Pinho No Calvário de Balasar, pág. 23:

Depois (a Alexandrina) sempre melhorou um pouquinho e foi para a Póvoa a fim de continuar o tratamento. Mas vendo que pouco adiantava, foi ouvir a opinião de outros médicos, entre eles o especialista do Porto Dr. Abel Pacheco, que a submeteu a uma exame rigorosíssimo. Nesta ocasião a Alexandrina chorava muito com dores e com vergonha. O Sr. Dr. Abel Pacheco informou o médico assistente, que nessa ocasião era o Dr. Garcia, de que a doente não tinha cura. É claro que ela não sofreu este desgosto, porque e a família soube encobri-lo.

Como consta da biografia do Dr. Abílio de Carvalho para que remeti, este abriu consultório na Póvoa em 1919. A ida da Alexandrina ao Porto ao especialista Dr. Abel Pacheco aconteceu em 1922. O mais provável é que ela já frequentasse o Dr. Garcia – que é o Dr. Abílio de Carvalho – talvez desde 1920. E foi ele com certeza quem lhe receitou a cura marinha.


Re: Beata Alexandrina Maria da Costa
Escrito por: José Ferreira (IP registado)
Data: 17 de July de 2004 11:21

O DR. ABÍLIO GARCIA DE CARVALHO

Médico da Beata Alexandrina (2)



Para o Dr. Abílio de Carvalho, a Alexandrina devia ser uma doente especial, pois terá visto nela desde o princípio uma heroína, ao modo de Santa Inês ou de Santa Maria Goretti (só canonizada mais tarde).
O seu consultório ficava perto do actual Quartel dos Bombeiros da Póvoa. A Alexandrina viveria no n.º 33 da Rua da Junqueira, a umas duas centenas de metros.
Continuemos a ouvir o Pe. Pinho:

Andou a pé durante dois anos, sofrendo fisicamente muito. Continuou sempre em tratamento. Sabendo a mãe que não havia esperanças de a curar pelo médico que a tratava (o Dr. Abílio de Carvalho), pediu-lhe que consultasse outro que vivia perto da sua aldeia, para evitar despesas que tinha em a levar à Vila (Póvoa de Varzim). Com isso, a Alexandrina desgostou-se muito, porque estava habituada com ele.

«Desgostou-se muito, porque estava habituada com ele», certamente também porque havia entre os dois muito clara comunhão de empenhamento religioso; ardia nos dois o mesmo fogo. Não vai o Dr. Abílio de Carvalho dissertar sobre o tema da Eucaristia no Congresso Eucarístico da Póvoa? E um dia não há-de inscrever a Alexandrina no Apostolado dos Doentes, que fundara?
Passou depois a ser médico assistente da Alexandrina o Dr. João Alves Ferreira, de Macieira de Rates.
Quando, muitos anos adiante, ao reviver a Paixão, a Alexandrina readquiria a capacidade motora, o Pe. Pinho sentiu necessidade de ouvir a voz dos médicos, como escreve em No Calvário de Balasar, pág. 146:

Convidaram-se, antes de mais ninguém, o médico assistente, Dr. João Alves Ferreira, e o Dr. Abílio Garcia de Carvalho, da Póvoa de Varzim, a presenciar alguns desses êxtases da Paixão.

O Pe. Pinho vivera alguns anos na Póvoa de Varzim (fora aí que criara a revista eucarística Cruzada) e certamente aí conhecera este dinâmico Dr. Abílio de Carvalho. Havia sido até na Basílica do Sagrado Coração de Jesus (então ainda em construção) que este lera em 1925 a sua intervenção no Congresso Eucarístico. Além disso, anunciava os seus serviços no jornal A Voz do Crente, a que indirectamente o nome do Pe. Pinho estaria ligado.
Mas havia outra razão, mais clínica: era razoável que começasse por ser ouvido o médico que tratara a Alexandrina ao tempo em que ela perdera a capacidade de se movimentar. Além disso, o Dr. Abílio de Carvalho fazia radiografias, o que devia ser raro no tempo e foi visto como o meio de diagnóstico prometedor.

Para o José Avlis

Mesmo que lhe pareça estranho, só ontem li a última mensagem que o José Avlis colocou nesta página. Daí não lhe ter feito nenhuma referência.
Como creio que já uma vez lho disse, o facto de colocar estes textos aqui tem, em meu entender, bastante de positivo. Talvez não venha aqui muita gente, mas os curiosos, aqueles que por qualquer motivo teimam em conhecer mais a fundo as coisas, esses procuram-nas até as encontrarem e estou convencido que será agradável para eles descobrirem-nas nesta página.


Re: Beata Alexandrina Maria da Costa / Um Anjo Crucificado!
Escrito por: José Avlis (IP registado)
Data: 18 de July de 2004 06:21


UM ANJO CRUCIFICADO – I


Alexandrina Maria da Costa nasceu a 30 de Março de 1904, em Balasar (Póvoa de Varzim, Arquidiocese de Braga).

Admiramos nela a criança viva, piedosa e amiga de rezar; depois, a menina cativante, heroicamente pura, que, aos 14 anos, para defender a sua virtude/virgindade (então seriamente ameaçada por um intruso na casa dela), salta de uma janela para o quintal – um salto de 4 metros!

Vítima da doença provocada por tão heróica queda, foi piorando, até que se viu algemada à cama, durante uns longos e penosíssimos 33 anos.
Entretanto, sempre perfeitamente resignada – por Amor de Deus e pela Salvação dos pecadores –, a todos encantava com o seu doce sorriso e bondade.
Favorecida com êxtases e colóquios místicos frequentes, distinguiu-se, sobretudo, no seu profundo Amor à Sagrada Eucaristia.

Admiramos, principalmente, a grandeza desta Alma singular, heróica no sofrimento, a oferecer-se constantemente a Deus como Vítima de expiação.
Que impressionante soma de dores e tribulações, no corpo e na alma, suportadas com plena abnegação pelos pecados do mundo!


Como demonstração, vamos transcrever algumas passagens mais expressivas da vida da agora já Beata Alexandrina, publicadas pelo seu Director espiritual Pe. Humberto Pasquale, S.D.B.

Aos 21 anos (em 1925) recolhe ao leito para sempre, e não tarda em pedir o amor ao sofrimento.
O Senhor escutou-a de imediato, de tal modo que experimentava bastante honra e alegria sempre que tinha grandes dores para oferecer, o que era frequente, a fim de consolar Jesus e de salvar-Lhe almas.

Através das suas cartas, encontramos maravilhosas frases como estas:

«Bendito seja o Senhor que me chamou a este mundo para sofrer... Peço todos os dias sofrimentos, e sinto grandes consolações nas horas em que mais padeço».

«Deslocaram-me algumas costelas. Não posso apoiar-me sobre elas sem grande sacrifício, nem sequer suporto a roupa. Tenho a impressão que as costelas do peito se unem às das costas».

«O sofrimento é a minha maior consolação, que não tocaria pelo mundo inteiro. Que ingrata eu seria se negasse dar este corpo, que nada vale, àquele Jesus que por mim sofreu tanto!»

«Sinto-me a toda a hora mais forte nos meus sofrimentos... Espero que Nosso Senhor me aumente a dor até morrer, abrasada no Seu Divino Amor, cravada na Cruz com Ele».


(Continua)


Beata Alexandrina Maria, rogai por nós.


José Avlis


Re: Beata Alexandrina Maria da Costa / Arquivo
Escrito por: José Avlis (IP registado)
Data: 18 de July de 2004 06:58


Tema n.º 1 / 1.ª Parte: Venerável Alexandrina de Balasar:

[www.paroquias.org]


ARQUIVO:

Venerável ALEXANDRINA DE BALASAR – Mensageira da Sagrada Eucaristia – I, II, III, IV e V


* * * * *

J. Avlis


Re: Beata Alexandrina Maria da Costa
Escrito por: José Ferreira (IP registado)
Data: 18 de July de 2004 11:08

DR. ABÍLIO GARCIA DE CARVALHO

Médico da Beata Alexandrina (3)



Num relatório de 24/4/45, o Pe. Pinho refere-se assim à actuação do Dr. Abílio de Carvalho neste período:

Eu mesmo fui o primeiro a ficar perplexo, não sobre os êxtases mas sobre os movimentos (que readquiria no momento da Paixão). Por este motivo interessava-me saber com certeza qual o género da sua paralisia. Falei disso ao Dr. Abílio de Carvalho, que já tinha tratado a doente; interessou-se e levou-a ao Porto, ao Dr. Roberto de Carvalho, em Dezembro de 1938.

O Dr. Roberto de Carvalho era um especialista de radiologia, que fora companheiro das lutas académicas do Dr. Abílio de Carvalho (mas não eram familiares, apesar do apelido comum) ao tempo do CADC. (Ele e o Dr. Pessegueiro, que também vai reaparecer adiante.)
A confirmar as palavras do Pe. Pinho, na biografia que o Pe. Gabriele Amorth dedicou à Alexandrina, vem uma fotografia em que o Dr. Abílio de Carvalho está de cócoras ao lado dela, que, em êxtase, revive a Paixão. Diz a legenda que o «Dr. Abílio tenta em vão separar as mãos de Alexandrina, unidas no momento da flagelação».
Na Autobiografia, a Alexandrina, referindo-se a este período, ditou:

Sucederam-se a estes (aos exames dos teólogos) os dos médicos, que foram bem dolorosos, deixando o meu corpo em mísero estado. Parecia-me que andava a ser julgada de tribunal em tribunal, como se tivesse praticado os maiores crimes. Quanto me custava vê-los entrar no meu quarto e, depois de me examinarem e observarem, vê-los reunir-se numa sala para discutirem e minha causa, deixando-me sob o peso da maior humilhação.
Se não me engano, foi na terceira crucifixão que vieram os médicos examinar o meu caso. É difícil e sei que não posso descrever todo o meu sofrimento. Deixavam o meu corpo martirizado, mas outras coisas havia que me custavam muito mais. A vergonha que me faziam passar! Triste cena eu fazia diante deles! Nem a maior criminosa seria julgada num tribunal com mais cuidado! Se pudesse abrir a minha alma e deixar ver o que nela se passa, porque estou a reviver esses dias, fá-lo-ia só com o fim de fazer bem às almas, mostrando quanto sofro por amor de Jesus e das almas. Foi só por isto que me expus a tais sofrimentos.
Quando o meu Director espiritual me falou em ser examinada pelos médicos, foi para mim um grande tormento, uma grande barreira que se levantou em minha alma.


E ainda isto era o princípio. Outras idas ao Porto, principalmente ao Refúgio de Paralisia Infantil, foram muito mais dolorosas.


Para o José Avlis

Fui ver aquela página no Terravista. Parabéns, que está muito bonita!


Re: Beata Alexandrina Maria da Costa / Um Anjo Crucificado!
Escrito por: José Avlis (IP registado)
Data: 20 de July de 2004 03:39


UM ANJO CRUCIFICADO – II (*)


(Conclusão)

Não se julgue que o peso do sofrimento tenha tornado triste aquela camponesa de Balasar, de carácter forte e alegre.

Alexandrina, desde o dia em que se ofereceu como Vítima, rezou sempre esta oração:
«Ó Jesus, colocai-me nos lábios um sorriso enganador, no qual eu possa esconder todo o martírio da minha alma. Basta que Vós conheçais o meu sofrer».

«Os meus sofrimentos
– atesta a propósito Alexandrina – aumentam sempre mais, mas não temo, porque o meu Jesus sofre comigo; por isso me sinto alegre e satisfeita, porque, aumentando os sofrimentos, posso melhor ajudar os pecadores e reparar Nosso Senhor».

Por ocasião de um exame médico, dizia ela:
«Não perdi a minha união com Deus, e, no meio de dores quase insuportáveis, não deixava de Lhas oferecer. Digo dores quase insuportáveis, por me custar muito a aguentá-las; mas insuportáveis não são, porque o bom Jesus não nos dá tribulação que não possamos sofrer».

Alexandrina, ensinada por Jesus na escola dos Sacrários, sobre a identidade entre a Eucaristia e o Calvário, penetrará até ao fundo, estimando-a devidamente, a riqueza do sofrimento, como meio de expiação satisfatória.

Com frequência, dirigia-se a Jesus nestes ou semelhantes termos:
«Ó Jesus, quero sofrer tudo, tudo... Mandai-me, Jesus, o que Vós quiserdes, para que eu possa reparar-Vos das ofensas que recebeis...
«Meu Jesus, seja tudo para consolação Vossa. Aceitai tudo o que em mim é dor, para salvação das almas».


As Vítimas generosas perpetuam, através do tempo, a Paixão Redentora de Cristo. Imolação essa que Ele valoriza com o Seu Mérito infinito em favor das almas.

Eis, por fim, o enternecedor testamento-proclamação, que Alexandrina dirige aos pecadores:

«Levei a minha vida a sofrer, e levarei o meu Céu a amar e a pedir a Jesus por vós, ó pecadores. Convertei-vos e amai a Jesus, amai a Mãezinha. Vinde, vamos todos para o Céu! Se conhecêsseis o Amor de Jesus, então morreríeis de dor por O terdes ofendido. Não pequeis! Jesus nos criou, Jesus é Pai».

A vida da Bem-aventurada Alexandrina, exemplar e impressionante nos seus aspectos, influirá, decerto e beneficamente, nas almas sensíveis e bem intencionadas.


Beata Alexandrina Maria, rogai por nós.



(*) Extraído e adaptado do livro "Tu Que Sofres – Sentido Cristão da Dor", de António Martins Barata, S.J.

José Avlis


Re: Beata Alexandrina Maria da Costa
Escrito por: José Ferreira (IP registado)
Data: 20 de July de 2004 10:42

DR. ABÍLIO GARCIA DE CARVALHO

Médico da Beata Alexandrina (4)



Na pág. 147 do livro do Pe. Pinho, transcreve-se uma carta do Dr. Roberto de Carvalho dirigida ao Dr. Abílio de Carvalho. Veja-se:

Meu prezado amigo e colega
O estudo analítico da coluna lombar, sacro, articulações sacro-ilíacas e articulações coxo-femurais não mostra a existência de qualquer lesão óssea evidente. Os corpos vertebrais, os espaços intervertebrais, os contornos ilíacos, dum modo geral, toda esta estrutura é regular e normal, como se verá pelo cliché junto, não havendo qualquer sinal que nos leve a pensar em lesões ósseas propriamente ditas, parecendo portanto, que as suas perturbações tróficas devem estar relacionadas com qualquer processo de mielite, lesão medular, que não é fácil de estudar, como é sabido, pelo exame radiológico. É um caso para ser internado e estudado convenientemente, porque com o estádio geral que a doente apresenta e sem um estudo cuidadoso do caso, não é possível formar qualquer hipótese.
Com os cumprimentos do amigo grato,
R.C.


Em Balasar há duas cartas deste Dr. Abílio. Uma dirigida ao P.e Pinho e outra talvez ao Prof. Roberto de Carvalho, trazendo o papel nas duas o timbre da presidência da câmara poveira. Nelas se mostra deveras interessado em concorrer para o esclarecimento das dúvidas sobre a doença da Alexandrina.
Exprime-se assim na que julgo dirigida ao Dr. Roberto de Carvalho:

Meu caro colega
Agradeço as suas notícias.
Entendo que terá a doente de ir ao Porto e lá permanecer dois ou três dias para ser observada. Espero a fineza de me dizer o dia em que ela vai, para eu lá ir com o meu colega num dos dias, a fim de que o Dr. Pessegueiro a veja, se o colega concordar.
Seu amigo e colega,
Abílio de Carvalho.


Veja-se agora a que é dirigida ao P.e Pinho:

Ex.mo Senhor P.e Pinho e meu muito prezado amigo

A minha vida muito trabalhosa e o meu estado de saúde muito precário durante alguns dias, entre os quais os últimos da semana finda, obstaram a que eu pudesse ir na sexta-feira à rua de Santa Catarina, como desejava.
O Dr. Pessegueiro
(companheiro de juventude do Dr. Abílio, como já se disse) fez-me a vontade indo ver a doente; acredito porém que a sua observação fosse superficial, porque se não tratava de assunto da sua especialidade; porém, o que eu despejava não era uma opinião sobre os factos, e antes um exame físico tanto quanto possível completo; não interpretou assim, o que foi pena.
Ao falar anteontem com ele, disse-me que na verdade se inclinava para a hipótese de alta histeria; porém, que a doente deveria ser observada com cuidado por especialista no assunto. Também assim o julgo; e por isso acho óptima a ideia de que seja vista pelo prof. Elísio de Moura, incontestavelmente uma das mais altas competências e sumidades no assunto; estou certo que a sua opinião dissipará nossas dúvidas.
Eu não tenho senão relações de cumprimento com S. Ex.a; não deseja V. Rev.a trazê-lo na sexta-feira, 30 do corrente? Eu conto cá estar e, caso V. Ex.a me previna de que vem, eu procuraria também assistir, para trocar impressões.
A radiografia que tenho e da qual envio o relatório (é o único) nada revela, não confirmando as minhas suspeitas de lesão vertebral.
Precisamos caminhar com toda a prudência, e para tal convém sobretudo a opinião do Prof. Elísio de Moura. Ainda bem que ele vem a Braga nas férias. V. Ex.a, se assim o entender, poderá mostrar-lhe esta carta, a fim de que ele faça a caridade de vir dissipar as dúvidas.
Agradecendo a acarta de V. Ex.a, tenho a honra de me subscrever amigo ...
14/12/938
Abílio de Carvalho


«Precisamos caminhar com toda a prudência, e para tal convém sobretudo a opinião do Prof. Elísio de Moura», afirma. Com prudência e insistência até ao esclarecimento completo, recorrendo às pessoas mais credenciadas. Mas esse esclarecimento só vai ser adquirido mais tarde.
O Dr. Abílio de Carvalho morreu em 26 de Janeiro de 1941, com um cancro no estômago. Ora fora nesse mesmo Janeiro que o Dr. Manuel Augusto Dias de Azevedo se apresentara ao Pe. Pinho a pedir autorização para visitar a Alexandrina. Mas o Dr. Abílio de Carvalho já se teria retirado de Balasar desde há algum tempo, não só pela doença que a acometera, mas também porque fora nomeado governador civil de Angra do Heroísmo. Como quer que fosse, a Alexandrina passou das mãos dum médico sábio e piedoso para as de outro com estas mesmas qualidades e com determinação, com aquela força de vontade que vence as barreiras.


Re: Beata Alexandrina Maria da Costa
Escrito por: José Ferreira (IP registado)
Data: 21 de July de 2004 14:34

DR. ABÍLIO GARCIA DE CARVALHO

Médico da Beata Alexandrina (5)

Antologia


«A Eucaristia e a Medicina»

O Dr. Abílio de Carvalho, como já está dito, foi um católico militante, daqueles que não deixam fugir as oportunidades que lhe surgem e as criam quando elas não aparecem. Por isso, quando, em 1925, – o ano em que a Alexandrina acamou – se realizou na Póvoa um Congresso Eucarístico Diocesano, ele interveio com uma conferência. Deu-lhe o título de «A Eucaristia e a Medicina».
Este título parece-nos hoje estranho, mas não o seria tanto na altura. O Pe. Leopoldino Mateus, que viria a ser pároco de Balasar, era então coadjutor da Matriz poveira. No escrito que publicou no opúsculo com que então se quis levantar o ânimo das gentes da Póvoa para o Congresso, encontra-se esta frase:

Depois, como no actual regime da Primeira República fosse proibido levar o Sagrado Viático aos Doentes, parece que tinha esmorecido a fé dos poveiros a Jesus-Hóstia, mas não!

Certamente as leis anticlericais de então davam acuidade acrescida ao tema «A Eucaristia e a Medicina». Ao justificar o imprimatur para a publicação impressa da conferência, o cónego L. de Almeida evocava o «funesto preconceito de que a recepção dos sacramentos agrava o mal dos doentes».
«A Eucaristia e a Medicina» é um título de glória para o Dr. Abílio de Carvalho, pois que mereceu ser transcrita em jornais portugueses, mas também espanhóis e franceses.
O autor pediu a vários notáveis do tempo apoio para o seu trabalho. E recebeu-o, por exemplo, de dois homens que mais tarde haveriam de intervir no caso da Alexandrina. Vejam-se estas «três sínteses que enviou o Dr. Henrique Gomes de Araújo, «especialista dos mais brilhantes em doenças nervosas, que todo o norte do país conhece e admira», e que havia de receber a Alexandrina durante 40 dias no seu Refúgio de Paralisia Infantil:

1.ª - «A Eucaristia, como todos os actos de alta sublimação espiritual, deve contribui, contribui com certeza, para a concentração da consciência num sentido bem determinado e preciso, capaz de impedir ou atenuar as manifestações ou ambições da carne, as funções da matéria (do prazer ou da dor) poupando assim a deturpação ou conspurcação, a depressão do ser humano.»
2.ª - «A Eucaristia, servindo de fulcro às manifestações da nossa vida mental, congrega-as em sal volta, dá-lhes forma especial própria, e isto constituirá um carácter – um tipo de vida psíquica purificada, sublimada, perfeita, perfeita sobretudo em confronto com a vida mental dos amorfos, mormente daqueles que não dispondo de um intenso potencial de inteligência, resolvem tudo pela via do menor esforço, segundo a expressão de um teísta francês.»
3.ª - «De resto a Eucaristia (e esse será o seu menor papel) pode como agendes de acentuadas emoções preparar o espírito com toda a receptividade para qualquer injunção sugestiva, em regra felizmente boa pela casta dos coniventes daqueles que procuram tão elevado sacramento.»


Re: Beata Alexandrina Maria da Costa
Escrito por: José Ferreira (IP registado)
Data: 23 de July de 2004 09:38

DR. ABÍLIO GARCIA DE CARVALHO

Médico da Beata Alexandrina (6)

Antologia

«A Eucaristia e a Medicina»
(cont.)

O Dr. Abel Pacheco, já acima referido, «um dos maiores cirurgiões portugueses na actualidade», foi menos sintético na resposta ao Dr. Abílio de Carvalho:

«A acção subjectiva que a sagrada Hóstia exerce em todos os crentes que a doença prostra não se discute. Tal a sua evidência.
Eu repto quem quer que seja a demonstrar-me o contrário.
Os incrédulos, aqueles que nunca souberam o que é o gozo espiritual da comunhão, não podem avaliar directamente o valor da graça divina concedida ao homem nesse sacramento, como o coo nada pode dizer de positivo sobre a luz, cujo efeito soer a retina eles desconhece em absoluto.
O que eles sabem, o que eles têm observado é que muitos doentes cuja crença vívida ou despertada pelo abalo moral que a doença causa ao espírito, vivendo em comunhão com Deus ou reconciliando-se com Ele pelo sacramento da penitência, passam, depois da administração da Sagrada Hóstia, por transmutações tão singulares que ainda os mais mal intencionados não podem deixar de registar.
E assim deve ser.
O homem não é só um bloco de matéria que se pulveriza quando as forças físico-químicas se desorganizam.
Junto ao coração que pulsa, há o espírito que pensa, há uma inteligência que perscruta o mistério insondável, quer no domínio da ciência empírica, quer no domínio do imponderável e imaterial, há uma razão que de dedução em dedução sobe dos infinitamente pequenos até ao Infinitamente Grande que rege o Universo, a Terra onde vivemos.
Ao lado das paixões que nos arrastam, sentimos todos a voz da consciência que nos acusa e somos amparados pela vontade que quer a felicidade, que a razão nunca encontrou no seio da Terra.
Ao contemplar a natureza, que muda ou que morre, seguindo uma lei imutável que a subjuga, a humanidade sobe até Deus ou seja pela filosofia simplista do rude, quer seja pelo douto raciocino do sábio.
Deus é o fulcro à volta do qual gira toda a humanidade sob o império do dever moral.
Todo o compêndio da religião se resume neste capítulo. A humanidade pois só descansa em Deus, porque vive só d’Ele e para Ele.
Sendo assim, a vida só é perfeita quando há equilíbrio dinâmico sob o ponto de vista orgânico e ligação estreita com Deus sob o ponto de vista espiritual.
Desviemos o homem do seu estado de equilíbrio orgânico, teremos uma doença cujos sintomas nos demonstram a qualidade e a sede do desequilíbrio.
Separe-se ele do seu centro espiritual de gravitação e tê-lo-emos sob o império do remorso que o definha e oprime.
Ambos os males são doenças que prostram, deprimem e matam.
As doenças do espírito não são menos inquietantes que as do corpo.
Depois destas breves considerações, que a mais íntima ligação da alma com Deus é um remédio de valor extraordinário, colocando o doente em condições de mais fácil cura?
Acaso o doente pode viver sem espírito?
E sendo a vida do espírito mais perfeita, não lucra por isso o corpo que o serve?
A propósito vem um dos mais extraordinários casos da minha vida de cirurgião.
Uma rapariga cuja conduta era mais que repreensível tinha de sujeitar-se a ma operação gravíssima, cujo resultado era tanto mais aleatório quanto frágil era a resistência cardíaca.
Foi preparada com todos os agentes medicamentosos que a ciência dita e, quando julguei o momento oportuno, intervim.
A operação não foi a termo porque uma grave síncope cardíaca impôs a suspensão.
Passaram-se horas aflitivas de angústia e ansiedade, visto que a terapêutica não lograva levantar o coração que a cada momento ameaçava nova síncope fatal.
Pois bem: a doente confessou-se, comungou, não tomou mais remédio algum e, no dia seguinte, eu fui encontrá-la livre de perigo.
O meu testemunho aí fica.
A lição recebemo-la nós, os médicos, todos os dias.»

Estas transcrições dão verdadeiramente o mote de toda a conferência. Mas ainda assim vale a pena citar um caso da experiência pessoal do conferencista – e portanto da experiência de muitos dos seus ouvintes poveiros. Conta ele:

«Há pouco ainda tive um caso que me parece interessante descrever para corroborar as afirmações feitas.
Por ocasião da última epidemia de gripe, em Março deste ano, fui chamado para tratar uma doentinha de oitenta anos. Eis o seu estado:
Um forte ataque de gripe, agravado de congestão pulmonar no terço superior do pulmão direito, temperatura a 40 graus, língua seca, abundante expectoração hemoptóica, etc.
O prognóstico, como V. Ex.as vêem, era mais que reservado.
Esta senhora é profundamente religiosa; nada lhe importa a morte, porque o seu desejo é ir para Deus.
Porém, para tão longa viagem desejava ir preparada com todos os sacramentos; e por isso estava um pouco excitada antes de eu chegar, para saber se o seu estado era de molde a receber A Extrema-unção; uma vez recebido este sacramento, ficou completamente tranquila; e tão santa indiferença pela morte permitiu que os remédios actuassem eficientemente.
O coração de oitenta anos manteve-se com a medicação habitual; a congestão pulmonar cedeu; a febre passou; e, ao fim de cerca de trinta dias, a doente levantou-se, e hoje vive entregue aos seus habituais lavores, ali na Rua da Igreja.

A conferência, ainda assim, é bem mais do que isto. Mencionam-se, por exemplo, vários milagres cientificamente comprovados no Santuário de Lurdes.

Re: Beata Alexandrina Maria da Costa / Sublime conversão!
Escrito por: Abelardo (IP registado)
Data: 25 de July de 2004 01:52


EXTRAORDINÁRIA E PRODIGIOSA CONVERSÃO

Por directa intercessão da Beata Alexandrina de Balasar



Em 10 de Outubro de 1940, a Beata Alexandrina Maria narra este sobrenatural e impressionante caso milagroso, em carta dirigida ao seu primeiro Director Espiritual, Pe. Mariano Pinho, S.J.:

«Para obedecer, e não porque sentisse coragem para o fazer, pedi a Nosso Senhor pela conversão da pessoa que o meu Padre me recomendou. Decidi fazê-lo, mas com grande receio, pois intuía grande dificuldade.
Efectivamente, não me atrevia a rogar a Jesus por essa pessoa. Sentia em mim que Nosso Senhor retirava-se dela e repelia-a. Ela estava em negra prisão espiritual e muito enraizada no pecado.

Mesmo assim, fiz novas tentativas para suplicar e Jesus por essa pobre alma, mas nada conseguia. Eu mesma estava presa, e por isso nem uma prece a favor dela conseguia dirigir a Jesus.
Mas fui insistindo, com grande esforço, até ao ponto de conseguir dizer:
– Jesus, permiti que aquela alma se salve.
E Nosso Senhor, então, respondeu-me severamente:
– Não, mil vezes não!

Caí em grande desânimo, sem poder dizer mais palavras.
Passaram-se longos e difíceis momentos. Finalmente, com muito custo, quase como quem caminha de rastos com um enorme peso, senti-me inclinada a recorrer à Mãezinha (era assim que costumava tratar a Mãe de Jesus e Mãe nossa), pois queria saber a sorte definitiva daquela alma. E então implorei:

– Mãezinha, vinde comigo, vinde em meu nome pedir a Jesus que aquela alma se salve.
E então ouvi uma voz melodiosa (de Nossa Senhora), cheia de doçura, a dizer:
– Ouve, Meu Filho, os rogos da Tua Mãe.
E Nosso Senhor ainda Lhe respondeu:
– Não posso. Tem-Me ofendido muito!
Voltou a Mãezinha:
– Ouve, Meu Filho, os rogos da Tua Mãe e da Nossa amada (Alexandrina).
E Jesus, mais meigamente, respondeu:
– Sim, Minha Mãe, não Vos posso negar nada.
E a Mãezinha, estreitando-me nos Seus braços maternos, acariciou-me e disse-me:
– Vai, Minha filha, pedir de novo a Jesus por essa alma. Já podes ir, toma o conforto que te dá a tua Mãe.

Senti imediatamente que a Mãezinha passava para mim não sei o quê, que me encheu o coração e a alma. Fiquei forte e capaz de tudo dizer a Jesus. Disse-Lhe então:
– Meu Jesus, pela Vossa Cruz, dai-me aquela alma. Permiti que ela se salve.
E Nosso Senhor, embora com brandura, de novo respondeu:
– Não, mil vezes não. Tem-Me ofendido muito.
Mas eu, cheia de coragem, confiada que pela Mãezinha tudo iria conseguir, pedi outra vez:
– Meu Jesus, pelas dores que a Mãezinha sofreu ao pé da Cruz, pela minha crucifixão, pelo Vosso Amor, etc..., permiti que esta alma se converta e venha para o Vosso Santíssimo Coração. Eu sei que Vós, se pudésseis, morreríeis de novo por ela. Mas, já que não podeis, deixai-me morrer a mim, deixai-me dar por ela o meu sangue.
Eis que então, Nosso Senhor, com toda a Bondade, Amor e Misericórdia, disse-me:
– Sim, Minha filha, ela será salva, mas quero por ela muitas orações; tem que sofrer muito, tem muito para reparar.

Fiquei em paz, finalmente. Pouco a pouco, o sofrimento foi-se-me tornando mais leve. Mas sentia o meu coração cansado, como se viesse duma longa viagem. A dor, porém, foi o meu descanso toda a noite...
A pessoa, aqui referida, converteu-se e morreu em Fátima, quando ali foi em peregrinação».


+ Beata Alexandrina Maria, rogai por nós.


Abelardo


Re: Beata Alexandrina Maria da Costa
Escrito por: José Ferreira (IP registado)
Data: 25 de July de 2004 12:09

DR. ABÍLIO GARCIA DE CARVALHO

Médico da Beata Alexandrina (7)

Antologia
(conclusão)

Em 1939, o cónego Vilar, natural de Terroso (que foi, como sabemos, um importante amigo da Alexandrina), foi nomeado Reitor do Colégio Português de Roma. O facto motivou merecida homenagem. Dela resultou o livro O Senhor Cónego Vilar. O Dr. Abílio Garcia de Carvalho participou na homenagem na qualidade de presidente da edilidade poveira:

«Finalmente levantou-se o Sr. Dr. Abílio Garcia de Carvalho, um trabalhador dedicado e desinteressado a bem da Póvoa de Varzim, sua terra adoptiva..., e outro amigo e admirador do Sr. Cónego Pereira Vilar. Perguntou se mais alguém desejava falar e, como ninguém se erguesse, apresentou a S. Rev.a os cumprimentos do Município inteiro, ali representado por todos os membros da Câmara.

‘Ex.mo Sr. Cónego Vilar e meus Senhores:
A Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, representada por todos os seus membros aqui presentes, quis vir de longada até esta cidade para apresentar a V. Ex.a, em nome do concelho da Póvoa, respeitosos cumprimentos de admiração e de despedida.
É-nos sumamente grato venerar e prestar homenagem ao poveiro ilustre que V. Ex. é, em quem o talento e a virtude se associam de tal modo e em comunhão tão íntima que todas as almas boas que um dia tiveram a felicidade de o conhecer tomam para si uma quota-parte dos seus triunfos, das suas alegrias, e também das suas tristezas; por isso aqui estamos, pois não podiam os edis da terra de V. Ex.a deixar de lhe apresentar os cumprimentos de despedida da Póvoa inteira, acompanhando a freguesia de Terroso nesta magnífica homenagem.
Temos como certo, Sr. Cónego Pereira Vilar, que dificilmente o espírito público do nosso concelho nos poderá um dia incumbir de delegação mais distinta e mais unânime; porque se V. Ex.a deixa vivas saudades entre nós, e ao mesmo tempo nos deixa a certeza da falta imensa que nos faz neste momento de graves preocupações sociais, em que a actuação da sua personalidade veneranda, quer pela palavra falada ou escrita, quer pelo trabalho canseiroso do seu apostolado são exemplo vivo e lição proveitosa e constante de que carecemos, também em compensação nossas almas sentem justa satisfação por reconhecermos com sumo prazer e honra que Sua Santidade, o insigne Pontífice Pio XII, tem os olhos postos em V. Ex.a, escolhendo-o para missão nobre e honrosíssima na Cidade Eterna.
A carreira de V. Ex. será sempre e justissimamente ascencional; e esperamos, Senhor, que a Póvoa será mais honrada ainda quando tiver a dita de contar, entre os seus filhos mais queridos, um Prelado sábio e piedoso, tão sábio quanto piedoso.
Que Deus o reconduza de novo à Pátria, para perto da sua ilustre e muito virtuosa família, são os votos que formulamos neste instante em que desejamos a V. Ex.a muito boa viagem e as maiores felicidades no desempenho do alto cargo para que foi justamente escolhido.’»


Tudo te hão-de chamar, Abílio

A dinâmica inovadora e criativa que o Dr. Abílio Garcia de Carvalho impôs à gestão municipal não conseguiu silenciar os detractores. Apesar de crer que ele tinha estofo de verdadeiro santo, talvez mesmo por isso, foi também sinal de contradição.
Ouçam-se as palavras que, em 1939, lhe dirige a este propósito o amigo Pedro Correia Marques, no prefácio das
Festas de homenagem a Braga, Barcelos, Guimarães e Famalicão:

Quanto às vilanias que topares pelo teu caminho, lembra-te daquelas palavras que o grande Camilo escreveu a respeito do Conde de Azevedo:
“Era um homem de bem. Para lhe chamarem nas gazetas facínora, caipira, besta e ladrão, foi necessário que governasse o distrito de Braga em 1845. Desde que esquivou na poltrona da sua biblioteca o osso sacro aos pontapés da política, volveu a ser, por comum assentimento de todos os partidos, um espírito recto, muito esclarecido e digno de exercer os cargos superiores do Estado.”
Tudo te hão-de chamar, Abílio, tudo farão para te desgostarem do trabalho, para te aborrecerem da obra que estás a realizar com tanto desvelo e tanto amor ao Bem Comum, ao Bem da Nação.


Re: Beata Alexandrina Maria da Costa
Escrito por: José Ferreira (IP registado)
Data: 27 de July de 2004 10:51

O SALTO - 1

A Beata Alexandrina defende a sua dignidade pessoal e a das amigas


O episódio do salto da Alexandrina é um dos inúmeros atentados da brutalidade masculina contra a dignidade feminina; como aquele que vitimou a adolescente Santa María Goretti - veja-se [www.corazones.org] - (1), do género do que levou ao martírio a também adolescente Santa Inês de Roma, etc. Mas é também um momento determinante da sua vida.
Embora bastante pobre, a Alexandrina há-de ter sido uma adolescente e uma jovem atraente. Os Signorile descrevem-na assim ao tempo da cura na Póvoa, uns dois anos após o salto:

Alexandrina não era mais a menina de 7-8 anos, mas uma bela jovem com fartos e longos cabelos negros que emolduravam um vulto expressivo avivado por dois olhos negros, vivos, luminosos e que às vezes o sorriso ilumina com uma bela fila de dentes branquíssimos.

E acrescentam:

É por isso compreensível que fosse objecto de atenções da parte de jovens, também sérios.

Ela mesma dá notícia de vários pretendentes que a cortejaram.
Foi uma adolescente vigorosa e determinada. Veja-se este jogo de força que ela conta na Autobiografia:

Quando tinha doze ou treze anos, tinha muita força. Um homem começou a fazer-se muito forte com outras raparigas. Ele estava sentado. Eu dirigi-me a ele e voltei-o. Ele pôs-se a gritar: «Deixa-me! Deixa-me!» Mas deixei-o só quando quis. O meu fim era só: como ele era homem, que mostrasse a sua força.

Que fosse determinada, nem precisa de justificação: a sua actuação ao defender-se e ao defender as companheiras confirma-o.
O mais sabujo dos três energúmenos que atentaram contra ela e contra as outras duas jovens foi sem dúvida Lino Ferreira, o seu ex-patrão e vizinho, já que era simultaneamente casado, conhecia-as, sabia as poucas possibilidades que elas tinham de se defender e foi o mais violento. A Alexandrina descreveu-o assim:

O patrão era um perfeito carrasco; chamava-me nomes, obrigava-me a trabalhar mais do que as forças que tinha. Tinha mau génio e pouca paciência – até os animais o conheciam, porque batia-lhes e assustava-os, sendo quase impossível chamar o gado, quando ele ia junto do gado. Envergonhava-me sem causa, fosse diante de quem fosse, e eu sentia-me humilhada. Apesar de estar no princípio da minha mocidade, não sentia alegria com aquele triste viver. Um dia fui à azenha levar a fornada, mas era já noitinha quando lá cheguei e, portanto, muito tarde quando regressei a casa, pois gastava no caminho uma hora. Depois que cheguei a casa, ralhou-me muito, insultou-me e até me chamou ladra.

Para agravar a fealdade do acto, ele aconteceu em Sábado Santo.
A casa da Alexandrina era diferente do que nos mostra mesmo alguma fotografia mais antiga. Ela mesma no-lo dá a entender:

Quantas vezes no meu jardinzinho, onde hoje é o meu quarto, fitava o céu, escutando o murmúrio das águas e ia contemplando cada vez mais este abismo das grandezas divinas!

O Pe. Humberto esclarece numa nota do Cristo Gesù in Alexandrina:

Da cave uma escada levava, através dum alçapão, ao quarto de cama, que servia também de sala de costura. A ala actual da casa, com varanda e quatro quartos de cama, não existia ainda. Naquele tempo havia aí uma horta e qualquer canteiro de flores que Alexandria cultivava para enfeitar os altares da igreja.


Seria interessante saber quando foi feito este acréscimo à casa. Terá sido em 1935, que é a data que se lê no portão da casa?

(1) Há um belíssimo texto, umas páginas antológicas, do Pe. Abel Varzim onde se fala Santa Maria Goretti, do tempo em que ele tentava ajudar as prostitutas lisboetas.


Re: Beata Alexandrina Maria da Costa
Escrito por: Abelardo (IP registado)
Data: 28 de July de 2004 15:05


Escreveu, com reprodução no Paroquias.org, o Reverendo Pe. Alpoim Alves Portugal, OCD:

«...Desta vez, e porque o tema base do estudo é a Eucaristia, este passeio terá como meta as terras de Balazar (Balasar) onde visitaremos o túmulo da beata Alexandrina, a «mártir da Eucaristia»: teremos oportunidade de conhecer melhor esta nova beata, a sua vida, o seu itinerário espiritual e místico e, sobretudo, conhecer melhor o seu amor «até ao extremo» pela Eucaristia que constituiu o seu único alimento durante os últimos anos da sua vida»...


Tomo a liberdade, com o devido respeito, de corrigir o seguinte:

* Onde diz «mártir da Eucaristia», deve ler-se/interpretar-se: «Vítima da Eucaristia»; ou, alternativamente: «Mártir da Pureza», pois:

a) A Beata Alexandrina é, ainda que teórica ou metaforicamente, justamente considerada "Mártir da Pureza"...
Vejam o porquê no seu resumo biográfico (p. ex.), no que diz respeito ao seu "heróico salto da janela" (em 1918, aos 14 anos de idade)...

b) Ela é considerada, em relação à Sagrada Eucaristia, uma «Vítima da Eucaristia» - à qual se consagrou inteiramente, para adorar, louvar e reparar continuamente Jesus Sacramentado (nos Sacrários de todo o mundo, sobretudo onde Ele é mais desprezado e profanado)...

- Não é por acaso que, certamente também devido a esse santo Carisma (entre tantos outros), esteve nada menos que os últimos 13 (treze) anos da sua atribuladíssima vida... sem comer nem beber absolutamente o quer que seja (nem sequer simples água!), para além, é claro, de receber, tão-somente, a Sagrada Comunhão frequente...
De tal sorte que... "nem seria necessário outro maior Milagre para a sua Beatificação e Canonização", para além da sua Heróica e Santa Vida!

c) Assim como é também conhecida/considerada "Vitima do Amor, Sofrimento e Reparação", pela Conversão dos pecadores, ou seja, por outras palavras, "Vítima dos Pecadores"...

d) E ainda: "Vítima do Calvário", pela sua participação efectiva, mística e frequente (em todas as sextas-feiras) na Paixão e Morte de N. S. Jesus Cristo...


Respeitosa e dedicadamente,

Abelardo


Re: Beata Alexandrina Maria da Costa
Escrito por: José Ferreira (IP registado)
Data: 29 de July de 2004 09:33

O SALTO - 2

A Beata Alexandrina defende a sua dignidade pessoal e a das amigas


Veja-se agora o relato do salto, seguindo a narrativa que vem na Autobiografia. O Pe. Humberto usa uma versão ligeiramente diferente. Eu mesmo possuo cópia duma versão manuscrita com uma ou outra palavra não coincidente. Mas a substância do relato é sempre a mesma. Com ele condiz também a narração da Rosalina (a aprendiz de costureira que estava com as duas irmãs) que vem no início do Apêndice de Cristo Gesù in Alexandrina e que transcreverei proximamente.

Uma ocasião, estando eu, minha irmã e uma pequena mais velha que nós a trabalhar na costura, avistámos três homens: o que tinha sido meu patrão, outro casado e um terceiro solteiro. Minha irmã, percebendo alguma coisa e vendo-os seguir o nosso caminho, mandou-me fechar a porta da sala.
Instantes depois, sentimos que eles subiam as escadas que davam para a sala
(que então não tinha essa função, como se viu) e bateram à porta. Falou-lhes minha irmã. O que tinha sido meu patrão mandou abrir, mas, como não tivessem lá obra, não lhes abrimos a porta. O meu antigo patrão conhecia bem a casa e subiu por umas escadas pelo interior da habitação e os outros ficaram à porta onde tinham batido. Ele, não podendo entrar pelo interior por um alçapão que estava fechado e resguardado por uma máquina de costura, pegou num maço e deu fortes pancadas nas tábuas até rebentar o alçapão, tentando passar por aí.
Minha irmã, ao ver isto, abriu a porta da sala para fugir, mas essa ficou presa, e eu, ao ver tudo isto, saltei pela janela que estava aberta e que deitava para o quintal. Sofri um grande abalo porque a janela distava do chão quatro metros. Quis levantar-me logo, mas não pude, porque me deu uma forte dor na barriga. Com o salto caiu-me o anel que usava, sem dar por ela.
Cheia de coragem, peguei num pau e entrei pela porta do quintal para o eirado onde estava a minha irmã a discutir com os dois casados. A outra pequena estava na sala com o solteiro. Eu aproximei-me deles e chamei-lhes “cães” e disse que ou deixavam vir a pequena ou então gritava contra eles. Aceitaram a proposta e deixaram-na ir.
Foi nesta altura que dei pela falta do anel e disse-lhes de novo:
“Seus cães, por vossa causa perdi o meu anel”.
Um deles, que trazia os dedos cheios de anéis, disse-me:
“Escolhe daqui um.”
Mas eu, toda zangada, respondi: “Não quero.”
Não lhes demos mais confiança; eles retiraram-se e nós continuámos a trabalhar. De tudo isto não contámos a ninguém, mas minha mãe veio a saber tudo.
Pouco depois, comecei a sofrer mais e toda a gente dizia que foi do salto que dei. Os médicos também afirmaram que muito concorrera para a minha doença.


É possível que a porta que hoje dá para a sala tenha a mesma localização que aquela por onde a Deolinda fugiu. As escadas que lhe davam acesso não existem.
Ao rebentar o alçapão, Lino Ferreira não deixa dúvidas sobre as suas intenções. As reacções das raparigas justificavam-se.
A determinação da Alexandrina não a deixa hesitar, quer quando se lança da janela, quer quando vem armada de varapau defender as amigas. É essa determinação que acobarda os intrusos e os corre de casa.


Re: Beata Alexandrina Maria da Costa
Escrito por: José Ferreira (IP registado)
Data: 29 de July de 2004 13:33

Uns fazem tanto e outros fazem tão pouco!

Mais umas palavras, agora no género notícia.
Já há a nova dição, a 7ª, da grande biografia da Alexandrina pelo Pe. Humberto. Tem uma impressão melhor, quer no texto quer nas ilustrações; chama-se «Beata Alexandrina».
Na Irlanda, em 15 de Agosto, no Catedral de Cavan, vai ter lugar uma grande celebração da Beatificação da Alexandrina. Com a permissão e a bênção do bispo todos os párocos da Diocese foram informados.
Uns fazem tanto e outros fazem tão pouco!


Re: Beata Alexandrina Maria da Costa / Rogai por nós!
Escrito por: Abelardo (IP registado)
Data: 29 de July de 2004 20:09


Tem toda a razão, estimado Amigo José Ferreira!

É de certo modo mentira aquele provérbio que diz: "Santos da casa não fazem milagres"... Oh, se não fazem!...

Até o próprio Jesus teve de se ausentar de Nazaré, pois alguns conterrâneos (por maldade e inveja) quiseram bater-Lhe, sob o falso pretexto: "Não é este o filho do carpinteiro?!"
(Como se quisessem insinuar: "Como se atreve "ele", igualzinho a nós, a fazer milagres, ou a tentar ser profeta, dando-nos lições de moral?!)...

Quanta cegueira, meu Deus, e actualmente muito pior!
Mas que isso ainda aconteça com pessoas incrédulas, ou ignorantes, vá lá, ainda se compreende...
Agora, com pessoas que se dizem cristãs, católicas praticantes, e, por vezes até, sendo religiosas consagradas, ou, pior ainda, com algumas pessoas que pertencem à hierarquia da Igreja (como Padres, e até Bispos)..., custa tanto a entender e muito mais a suportar -- pelo menos a mim, apesar de considerar-me um "pobre diabo"; digo, bastante pecador, na medida em que "invejo" tanto os Santos e Beatos (a começar pelos portugueses, naturalmente, e pela Bem-aventurada Alexandrina em particular...!), na medida em que sinto um profundo desgosto em não ser como eles, em imitá-los sequer minimamente...
Enfim, que Deus perdoe também a mim!

Apenas me consola o facto de ser geralmente aos mais pequeninos/humildes (que não/jamais aos orgulhosos e pecadores obstinados!) que Deus mais e melhor se revela, se dá, directa ou indirectamente, como aconteceu, por exemplo, aos Pastorinhos de Fátima, e à própria Alexandrina de Balasar, benditos sejam!...

E temos tantos exemplos na história da Igreja e do Mundo! Mas as pessoas não aprendem, não ganham juízo, sobretudo os mais rebeldes e libertinos, que infelizmente são a maioria esmagadora, cada vez mais e pior!...

É bem verdade o que Jesus disse/proclamou, sobre as Crianças (como fiéis exemplos de todos nós): "Quem não se fizer puro e simples como as criancinhas não herdará os Reino dos Céus!"

ORAÇÃO: Beata Alexandrina, rogai por nós; e abri os olhos da alma a todas as pessoas de bem, a todos os cristãos e católicos em particular, a começar pela hierarquia eclesial! Mas também aos descrentes e soberbos, porque isso não leva a nada, a não ser à perdição eterna, mesmo sendo cristãos, religiosos consagradas, ou clero...
Fazei-os mansos e humildes de coração, à semelhança do próprio Senhor Jesus. Convertei a todos, a começar por mim pobre pecador, e protegei os que vos professam singular devoção, como o irmão e vosso grande apóstolo José Ferreira. Amen.

Abelardo (servo dos servos de Deus)


Re: Beata Alexandrina Maria da Costa
Escrito por: José Ferreira (IP registado)
Data: 31 de July de 2004 18:18

O SALTO – 3 (conclusão)

A Beata Alexandrina defende a sua dignidade pessoal e a das amigas


Paga a pena ouvir a versão do salto nas palavras da Rosalinda, até por se tratar da jovem com mais idade; o seu relato foi registado sem que ela disso tivesse conhecimento, na altura em que decorria em Braga o Processo. Contou ela:

Tinha 19 anos e encontrei-me nesta sala com Deolinda e Alexandrina. Deolinda cozia à máquina, eu cozia à mão e Alexandrina passava a ferro. A certa altura, a Deolinda viu na estrada três homens. Estavam parados e pelos gestos que faziam Deolinda suspeitou alguma coisa; ficou preocupada e levantou-se logo para fechara porta de casa uma vez que não tivera tempo para fechar o portão do eirado.
Foi coisa de momentos. Um deles, Lino Ferreira, bateu à porta e à pergunta da Deolinda – Quem é? - respondeu:
- Seu criado. Abra por favor.
E Deolinda:
- Não se abre a ninguém senão a clientes.
Dito isto, Deolinda retomou o trabalho.
Pouco depois, Lino Ferreira, que conhecia bem a casa, tentou entrar através do alçapão que está na cave.
Deolinda, ao ouvir barulho, arrastou logo a máquina para cima do alçapão. O tipo começou então a bater fortes pancadas nas tábuas até as quebrar. Enquanto Deolinda se agarrou à máquina para evitar que caísse abaixo, foi presa pela saia pelo Ferreira que foi arrastado até à porta. Bateu com tanta força na grade da porta que foi obrigado a deixá-la. Então a Deolinda abriu para fugir e entraram os outros dois. De nada valeram os protestos. Camilo Faria veio contra mim e obrigou-me a sentar-me nos seus joelhos enquanto ele se sentava na cama. Vendo isto, Alexandrina foi até à janela e saltou para a horta. Pouco depois apareceu com um pau e a chorar porque a tinham feito perder um anel. Chamou-lhe «cães», ameaçou chamar gente se se não fossem embora. Um deles estendeu a mão com anéis e convidou-a a escolher um a seu gosto. A Alexandrina recusou com desdém e então saíram.


Não satisfeito com a sua malvadez, o Lino Ferreira ainda havia de tentar violentar Alexandrina um dia que ela já estava paralisada.
Por ocasião do salto, a Alexandrina estava no início da sua juventude. Para uma jovem como ela aquela queda constituiu uma verdadeira tragédia: mataram-lhe o direito de sonhar o seu futuro feminino.
Por isso é de suma importância notar como aquilo que humanamente foi uma catástrofe pôde ser encarado como um passo para uma caminhada extraordinária: a Alexandrina disse um dia que não trocava a dor por nenhuma coisa do mundo, pois nada havia mais sábio.
O Cristianismo tem destes paradoxos: os mais frágeis aos olhos dos homens podem tornar-se os mais úteis no plano da salvação. A dor pode encarar-se como um ganho enorme.
A Alexandrina pode tornar-se a bandeira de todos os que sofrem, de todos os que tem limitações, seja a que nível for. Recordem-se aquelas palavras que uma vez Jesus lhe dirigiu:

Vem cá, luz de quem Eu sou luz, farol de quem Eu sou farol!
Não posso Eu fazer-te brilhar com o Meu brilho?
Não posso Eu fazer que sejas farol como Eu sou farol?



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