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Unidade dos cristãos
Escrito por: Tozé Monteiro (IP registado)
Data: 05 de February de 2002 02:06

A unidade dos cristãos é uma utopia ou uma possibilidade crescente?

Será que experiências como Taizé não evidenciam desde já que a capacidade de estar juntos para debater, agir e rezar, independente das origens e tradições, sem preocupações a nivel das estruturas institucionais, não siginficam que o camiho da unidade passa pela base mais que pelo diálogo inter-hierarquias?

Gostava de saber as vossas opiniões!

Re: Unidade dos cristãos
Escrito por: Susete Gonzaga (IP registado)
Data: 05 de February de 2002 22:18

Penso que esta união é feita essencialmente pelas estruturas das várias religiões.
Os seus membros pela falta de conhecimento, não "permitem" essa união e respeito pelos outros.

Taize é um bom exemplo do respeito pelos outros mas não da união.

Cada um deve aprender e saber cada vez mais sobre a sua religião para poder compreender os outros

Re: Unidade dos cristãos
Escrito por: Tozé Monteiro (IP registado)
Data: 06 de February de 2002 00:37

Em Londres há 21 anos participei pela primeira vez num encontro europeu promovido pela comunidade de Taizé.
Foi a primeira vez que, num mesmo território geográfico, as estruturas paroquiais das diferentes igrejas cristãs tiveram que se juntar para preparar em conjunto o acolhimento dos que chegavam

Passados 5 anos regressei e verifiquei que o caminho desbravado permitira que os cristãos das diferentes igrejas aprendessem a construir projectos sociais em conjunto, mas também a encontrar espaços de refelxão e oração.

Tudo a partir da base...

Desculpa, mas o que Taizé construiu é muito mais que um espaço onde as pessoas respeitam as suas diferenças. É um espaço onde os cristãos provaram que é possivel ser comunidade independentemente das divisões que, na maioria dos casos tiveram sobretudo motivações politicas que religiosas, mas que obviamente, com o passar do tempo, resultaram em profundas diferenças na organização, nos rituais e nas abordagens teologicas e doutrinárias de um conjunto de matérias, normalmente não essenciais ao fundamento da Fé e que poucos compreendem.

Eu acredito que a unidade passa pela capacidade de cada um de nós sentir a presença de Cristo no outro.

Re: Unidade dos cristãos
Escrito por: Maria João (IP registado)
Data: 07 de February de 2002 19:18

Primeiro devo confessar a minha ignorância, ao dizer-vos que não sei o que é Taizé. Mas fiquei com uma vaga ideia pelo que escreveram.

Segundo, mesmo não sabendo concretamente o que é, posso dar a minha opinião sobre o tema.

A unidade dos cristãos é uma Utopia mas com grandes probalidades de passar a uma possibilidade crescente daqui a uns anos, mas terei que concordar com o Tozé quando diz que terão de ser as bases a promover essa união. Por mais diálogo inter-hierarquias cristãs que se realizem, o que é sempre de louvar, nada será conseguido se as bases não se juntarem a esse esforço. Ou promoverem elas essa união como parece ter sido conseguido pela comunidade Taizé. (é uma comunidade, não é?)

E porque não levar o esforço um pouco mais longe promovendo o dialogo entre as diversas religiões do mundo. Hoje em dia, mesmo com várias reuniões entre as diversas hierarquias das maiores religiões do mundo, o apoio de base não se concretiza e todos sabemos o resultado.

E aqui tenho que concordar com a Susete quando diz que devemos aprender e saber mais sobre a nossa religião , mas acrescento que devemos aprender e saber mais sobre as religiões dos outros, para podermos nos compreender uns aos outros.

Eu acredito que o respeito pela religião do outro fará com que a União deixe de ser uma Utopia. Ao mesmo tempo deixará, finalmente de servir de desculpa para certas coisas. Mas terá de partir de baixo, eu e tu é que temos de promover essa União.

Maria João

Re: Unidade dos cristãos
Escrito por: Susete Gonzaga (IP registado)
Data: 07 de February de 2002 22:07

João:

Para conheceres melhor Taizé visita o site não oficial, em português: [amigosdetaize.no.sapo.pt].
Ou então o site oficial: [www.taize.fr]

Um abraço,
Susete

Re: Unidade dos cristãos
Escrito por: Tozé Monteiro (IP registado)
Data: 07 de February de 2002 23:59

E se quiseres saber ainda mais...pergunta!

Taizé é uma comunidade monástica (um mosteiro) que teve na sua origem, pela primeira vez desde a Reforma, um grupo de monges protestantes.

Hoje tem cerca de uma centena de irmãos originários de diferentes igrejas cristãs, incluindo obviamente católicos.

Portugueses são 3, actualmente.

Desde os anos 60 que a comunidade, que fica situada numa pequena aldeia francesa, acolhe jovens (mas também adultos e familias com crianças) para viver uma semana de partilha e oração.

O interessante, e para não perder o fio á meada deste tema, é que a questão da igreja a que pertencemos praticamente não se coloca, nos grupos de discussão em que participamos e nas celebrações comuns em que todos participamos.

Evidentemente que é possível para os que queiram, participar na eucaristia católica, ou de outra qualquer igreja, que normalmente são celebradas na cripta da Igreja da Reconciliação ( o centro da comunidade), e que um católico que se queira confessar poderá obter a disponibilidade de um Padre.


Mas o que é interessante é que em Taizé é possivel, para lá da capacidade de discutir ou trabalhar em conjunto, encontrar formas de aprofundar a nossa fé e a nossa relação com Deus conjuntamente com outros que, numa visão inicial nos pareceriam como sendo pessoas de outra "religião" , mas que a final, no essencial têm a mesma fé que nós, eventualmente traduzida noutros rituais, simbolos e gestos.

A unidade dos cristãos é ali uma realidade concreta e possível, porque o segredo de Taizé é ninguém procurar doutrinar oo outro, mas sobretudo partilhar o que sente e ser capaz de escutar e respeitar o outro.

Será que, mesmo na nossa comunidade, sempre o sabemos fazer?


Eu tenho 4 filhos pequenos, e ultimamente temos ido a Taizé como família.

O interessante é que para a minha filha mais velha, que tem 10 anos e um percurso de formação cristã normal, (catequese , primeira comunhão, etc) a questão das diferenças faz muito menos sentido do que para nós, porque se habituou desde pequena a ter amigos que para lá de falarem outra língua, praticam a sua fé de uma forma diferente.

Imaginem agora a importância que esta capacidade de unir em sociedades profudamente divididas por motivos religiosos (irlanda, inglaterra, bélgica, para não falar da ex-juguslávia) e em que as fracturas passam precisamente pela divisão do cristianismo.

Nos últimos 10 anos Taizé tem acolhido muitos jovens de leste, designadamente russos, ucranianos e romenos que são maioritáriamente ortodoxos e naturalmente mais fechados à diferença que nós e os protestantes europeus ( a igrejas baptistas são um pouco diferentes), e o impacto que nas respctivas sociedades profundamente convusivas podem ter os milhares de jovens que, passando pot Taizé, concluem que há fracturas que não fazem sentido perante o essencial, que é acreditar que Jesus Morreu para nos salvar e que nos devemos amar uns aos outros, sem perdermos naturalmente os gestos, rituais e práticas que a nossa própria cultura nos legou.

Re: Unidade dos cristãos
Escrito por: Lugo (IP registado)
Data: 15 de February de 2002 00:36

Penso que os cristãos não se tem preocupado muito com a sua separação e, quando nela pensam, fazem-no principalmente para relembrar as diferenças do que para ver as semelhanças.

Existem algumas questões de fé que diferem entre os cristãos, e quando digo cristãos refiro-me aos "cristãos" (Católicos, Ortodoxos e Protestantes das várias Igrejas da Reforma). Mas no essencial estamos todos de acordo e disso não restam dúvidas. Aliás, todos nós temos o mesmo <a href=http://www.paroquias.org/oracoes/index.php3?vinc=orac&vsec=CMN&vid=4 target=_blank>Credo de Niceia-Constantinopla</a>, e o que é um Credo que não uma afirmação da fé?!

Há uns tempos atrás quando falava com o Pe. Alexandre Bonito, ortodoxo, ele próprio me dizia que as diferenças entre o catecismo da Igreja Católica e Ortodoxa se reduzem a pouco mais de três parágrafos.

Para unir os cristãos, na minha opinião, é primeiro preciso perguntar-se que tipo de união se pretende. Afinal de contas, neste momento, já nos poderemos considerar unidos pelo mesmo Deus em que acreditamos. Penso que talvez a união entre católicos e ortodoxos seja a mais viável. Tirando as questões históricas e políticas, e não fosse a insistência do Patriarca Alexis II de Moscovo e talvez já se pudesse ter avançado no diálogo entre católicos e ortodoxos. Mas neste caso, terá que ser a Igreja Católica a ceder (na minha opinião). A questão da infabilidade do Papa em matéria de fé seria um ponto que dificilmente faria sentido num cenário em que católicos e ortodoxos estivessem 'unidos'.

Se olharmos para a Igreja Católica, vemos que existe uma panóplia diversificada de movimentos e ordens religiosas, a ponto de haver lugar para todos. Se compararmos Jesuítas e Franciscanos, marianos e não marianos provavelmente concluímos que a diferença de pontos de vista é tal entre determinados grupos de católicos que a distância até aqueles que agora se dizem 'desunidos' por ventura será menor (não sei se me fiz entender ?).

Penso que antes de pensarmos em união, temos de pensar em tolerância e paz entre os cristãos. Quando essa existir, talvez a união já esteja concretizada.

Lugo

Re: Unidade dos cristãos
Escrito por: Tozé Monteiro (IP registado)
Data: 15 de February de 2002 02:08

Tens toda a razão, Lugo.
Mais importante que a questão institucional é, a meu ver, a questão pessoal, ou seja, a capacidade de reconhcer no outro um irmão, apesar da sua diferença.

É neste aspecto que penso que Taizé deu passos significativos.
Não sei se já tiveste oportunidade de por lá passar, mas acho que eles conseguiram construir dois momentos excepcionais: Encontrar uma forma de rezarmos juntos, cujo segredo é a simplicidade, a música e o silêncio, e a forma de aprofundarmos a nossa fé em conjunto, escutando-nos uns aos outros.

Por estranho que pareça, em Taizé nunca se pergunta a ninguém se é católico, protestante ortodoxo (ou até mesmo se és crente).

Agora, obviamente que Taizé não passa de um sinal e que a vida do dia a dia tem outras características e realidades...
Mas será os sinais não são um elemento fundamental da fé que professamos?

Re: Unidade dos cristãos
Escrito por: Lugo (IP registado)
Data: 15 de February de 2002 12:59

Olá Tozé, por acaso ainda não tive oportunidade de passar por Taizé. Normalmente as férias acabam por ser sempre no verão, e no verão acaba-se por ir para outras paragens, se possível, onde não haja muita gente, o que decerto não aconteceria em Taizé ;-).

Embora reconheça o mérito de Taizé, a questão ecuménica e da união dos cristãos vai muito mais além do que se passa em Taizé. Em Taizé não são analisadas as questões que nos unem e separam e, tanto quanto sei, não é feito um trabalho concreto na questão teológica. É, sem dúvida, um excelente espaço inter-religioso, mas não, a meu ver, algo que contribua duma forma directa para uma aproximação dos cristãos entre si.

Ainda há pouco lia uma <a href=http://www.paroquias.org/noticias.php3?id=1517 target=_blank>notícia</a> aqui no Paroquias.org sobre mais uma tomada de posição do Patriarcado de Moscovo que vai contribuir para dificultar ainda mais uma possível aproximação.

Lugo

Re: Unidade dos cristãos
Escrito por: Tozé Monteiro (IP registado)
Data: 25 de February de 2002 23:54



(com a devida vénia...)



"Não há alternativa ao ecumenismo", afirma Walter Kasper
2002-02-25 22:00:16

&#8220;O Ecumenismo é irreversível e agora há que rezar em conjunto&#8221;. Esta foi a mensagem deixada pelo Cardeal Walter Kasper no início das Jornadas Teológicas da Universidade Católica, que hoje começaram na Universidade Católica, no Porto, por iniciativa do núcleo local da Faculdade de Teologia.


Em declarações à Agência ECCLESIA, o Presidente do Conselho Pontifício para a Unidade dos Cristãos sublinhou que &#8220;a decisão do Concílio Vaticano II é final&#8221;. &#8220;Não há alternativa ao ecumenismo &#8211; frisou. Vivemos num mundo globalizado e nenhuma Igreja se pode isolar das outras. Num mundo cada vez mais secularizado, temos que dar um testemunho credível da nossa fé em Jesus Cristo&#8221;.
Apesar das diferenças (que, nos meandros do ecumenismo é sempre frisado, são menores que os pontos que unem as Igrejas), &#8220;porque temos a mesma Sagrada Escritura e o mesmo Credo, podemos rezar em conjunto, meditar as escrituras e trabalhar juntos pela paz, pela justiça, pelo ambiente, pelas questões sociais&#8221;. É este o caminho apontado pelo Cardeal Walter Kasper para que se crie uma &#8220;verdadeira comunidade de Igrejas; e isto não é uma Igreja uniformizada &#8211; ressalvou &#8211; mas uma unidade na diversidade e uma diversidade na unidade&#8221;.
Quanto às dificuldades que por vezes acompanham o diálogo ecuménico, o Cardeal Walter Kasper salientou que &#8220;são normais, pois há ainda muita suspeita e animosidade&#8221;, pelo que, relativamente aos crentes de outras confissões, o importante é &#8220;encontrá-los, conhecê-los melhor, à sua fé e apreciá-la também, não abdicando da nossa identidade católica mas respeitando a dos outros. Depois, mostrando preocupação e interesse por se fazer muito mais do que tem sido feito até agora&#8221;.
Dificuldades mais intensas têm surgido no relacionamento com a Igreja Ortodoxa de Moscovo, em especial após a criação das 4 dioceses católicas na Rússia, que levaram o Cardeal Walter Kasper a cancelar a sua visita àquele país, onde se encontraria com o Metropolita Alexei II. A este propósito, o Presidente do Conselho Pontifício para a Unidade dos Cristãos salientou que existem duas mentalidades diferentes nos Ortodoxos. Com os Ortodoxos russos, existe ainda &#8220;muita desconfiança e mal-entendidos&#8221; reconheceu o Cardeal Walter Kasper, pelo que o diálogo &#8220;exige mais paciência&#8221; e &#8220;requer encontros mais proveitosos&#8221;. Ainda assim, mostrou-se &#8220;esperançado na melhoria do relacionamento&#8221; e &#8220;seguro de que, passados uns meses, se possam ultrapassar estas dificuldades&#8221;.
Quanto a uma possível futura unidade dos cristãos, o Cardeal Walter Kasper respondeu com a história do seu país: &#8220;sou alemão e nós, durante muitas décadas antes da reunificação das Alemanhas, não podíamos sequer imaginar que o Muro de Berlim cairía. Mas se o Muro de Berlim caiu de repente, podemos também esperar que as Igrejas um dia se unam. O Espírito Santo é sempre bom e não podemos dizer durante quanto tempo mais isto será assim&#8221;.
Concluindo, o Cardeal Walter Kasper fez ainda questão de frisar que &#8220;não podemos desistir da nossa esperança e devemos, acima de tudo, rezar pela unidade. Não se trata apenas de como os humanos trabalham para essa unidade mas de como deixam actuar o Espírito Santo&#8221;.

Re: Unidade dos cristãos
Escrito por: Tozé Monteiro (IP registado)
Data: 26 de February de 2002 00:06

Sobre ir a Taizé:

Por acaso, depende da semana... para as famílias com filhos pequenos o espaço de acolhimento é afastado da confusão dos jovens pelo que. mesmo que estejam 4000 jovens, essa presença esmagadora só se sente nas orações... de resto é bem possível encontrar espaços de silêncio.

Quanto ao nível de profundidade do trabalho teológico, também depende da opção. Há naturalmente possibilidade de participar em grupos mais "leves" ou em grupos mais profundos, tem a ver com a caminhada de cada um e muitas vezes, com os parceiros.

Aquela imagem transmitida por muitos dos que vão a Taizé no verão ou na páscoa em alturas de grande movimento, de que é tudo aos milhares e que a grande força é a presença de muita gente de todo o lado não corresponde à normalidade. Na última semana de Agosto ou na primeira semana de Setembro já há muito menos gente e, sobretudo no grupo dos adultos ou das familias é possivel passar uma semana de calma, silêncio reflexão como em mais lado nenhum que eu conheça!

Um abraço...

Re: Unidade dos cristãos
Escrito por: Tozé Monteiro (IP registado)
Data: 13 de March de 2002 01:08

Um pouco a propósito dos temas de maior audiência neste forum, gostaria de repor a proposta de reflectirmos sobre esta matéria, agora que o número de participantes se alargou, incluindo alguns que aprentemente não são católicos.

A unidade é possível? como? quais os limites?

Re: Unidade dos cristãos
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 13 de March de 2002 15:04

Já muito se falou por estes tópicos acerca de "doutrinas cristãs" e diversas interpretações da Bíblia. Vou procurar ser objectivo e imparcial nesta exposição e demonstrar aquilo que considero ser essencial para a unidade dos cristãos e seus obstáculos.

O que divide os cristãos? Acima de tudo, teremos de começar pela própria definição daquilo que é "ser cristão". Ou seja, primeiro que tudo, terá que haver o esclarecimento daquilo que define alguém que se pode apelidar de "cristão". O que define isso? Porque é que existem cristãos a acreditar em coisas contrárias, se todos são cristãos?

Podemos reduzir isso ao mais essencial, que é ter fé em Cristo com vista à salvação. Há "cristãos" que não acreditam que Deus existe em três pessoas distintas mas com a mesma substância, a Santíssima Trindade, conforme definido por Jesus, ou seja, Pai, Filho e Espírito Santo. Depois, há "cristãos" que acreditam na reencarnação, há "cristãos" que o consideram uma perspectiva cristã absurda. Há "cristãos" que aceitam a intercessão e comunhão dos santos e em particular no papel colaborador na redenção desempenhado por Maria, enquanto outros não. Para além disso, existem sempre mais confusões do que verdades de fé diferentes e legítimas que dêem coerência à divisão, ou seja, ainda existe muita ignorância e falta de esclarecimento por parte de todos os crentes.

Os grupos "cristãos" também se dividem no formato de "igreja" e de "seita"/"culto". O conceito cristão de igreja também difere consoante os diversos grupos. Seita é mais fácil de definir universalmente: trata-se de um grupo fechado, onde o intimismo é permanente, onde se coloca a doutrina como verdade incontestável e que serve de escape a uma sociedade fria, anónima e consumidora, da qual se refugiam criando a sua comunidade "eleita por Deus" e que esperam na salvação a resposta à sua dura existência. A Bíblia serve para a fundação das seitas e a sua interpretação é baseada naquela dos fundadores e dos líderes. Existe a crença de que a liberdade religiosa serve para que cada um viva na sua seita, já que ninguém tem a verdade acerca destes assuntos e acreditam que é precisamente por se afirmar a liberdade de culto, que toda a gente deve formar o seu próprio grupo se não se enquadrar em nenhum dos já existentes. Nesta linha, desenvolvem ainda entre si "crenças" das quais se apoiam para se contraporem às instituições vigentes, considerando os poderes instituídos como causadores de todos os males do mundo, em que a presença de "Satanás" é evidente. São conceitos mal-fundamentados, e que denotam forçadamente cegueira e fanatismo, por não quererem indagar acerca da verdade dos factos e se prenderem a um conceito por mais comprovadamente errado que seja. Não existe espaço para exegese e hermenêutica bíblicas, a não ser o que é ditado pelos líderes. Muitas vezes, existem lacunas no conjunto de crenças, que os próprios membros preenchem por si. Dessa forma, a seita também é atraente por proporcionar uma realização pessoal, por mais mal fundamentada que seja. A par disso, as seitas são um problema social, porque se colocam por vezes à margem daquilo que deve ser dever de todos, consagrado constitucionalmente, como por exemplo, a desresponsabilização em relação à política e aos deveres cívicos e comunitários em geral. A igreja é outro formato, com estrutura hierárquica definida, de uma forma ou de outra, e com uma doutrina que se apoia numa tradição de interpretação bíblica e teologia própria e definida. Para além disso, a igreja tende a ter um papel mais presente e autêntico na vida da sociedade, preocupando-se em viver a fé com os outros, colocando-a em prática. Mas também muitas seitas aplicam o conceito de igreja com o sentido de serem todos os que acreditam em Cristo e n'Ele esperam a salvação, o que justifica a separação, formando uma espécie de "corpo místico variado e desconexo", sem estrutura universal. Falando entre igrejas, torna-se mais fácil o diálogo, quase impossível entre as seitas e as igrejas.

A partir daqui, sendo confirmado o interesse público por parte das igrejas, poder-se-à proporcionar ocasiões de diálogo entre os diversos líderes. A meu ver, hoje em dia, a separação entre as igrejas tem mais a ver com a forma como se pratica a fé, como se vive em comunidade, se se faz estudo bíblico, actividades desportivas, música, etc., do que propriamente uma diferenciação lógica e legítima em termos doutrinais. O que abunda, precisamente, é a falta de diálogo entre as igrejas e o isolamento que acontece, já para não falar de alguns ódios que se vão acumulando.

A unidade dos cristãos é possível. Quais as dificuldades, então?

Em primeiro lugar, há que considerar que a fé é algo de essencialmente pessoal e íntimo, e que dessa forma cada pessoa procura inserir-se num ambiente que lhe pareça mais adequado à vivência da fé, que o realize. É através de uma fé semelhante, de um conjunto de circunstâncias na vida de cada um que o impele para determinado grupo, que estes se formam. A vocação é um termo essencial para a compreensão da diversidade na unidade. Há diversidade de carismas... Se lermos I Coríntios compreenderemos o quanto isso é verdadeiro. Logo, se queremos unidade, terá que haver lugar para todos. Mas devemos observar também que a forma de prática, por mais evangelicamente correcta que seja, não justifica de modo algum uma doutrina bíblica errónea.

Um problema em particular quanto à relação entre as seitas e as igrejas é as raízes psicológicas que têm impacto em todas as considerações acerca da separação na vivência da fé: procura-se uma intimidade, um imediatismo e um lugar onde, através da religiosidade e do cristianismo em particular, uma pessoa se sinta acolhida e realizada, independentemente da verdade acerca do que quer que seja em que se acredita, desenvolvendo crenças heréticas acerca da doutrina e que inevitavelmente as separará das igrejas. Haverá espaço para tais "mentiras" no futuro? De facto, o diálogo ecuménico passa por um profundo esclarecimento em temas históricos e dogmáticos. Quando cada vez mais se criar consenso nesses aspectos, quanto mais se esclarecerem os fiéis, haverá cada vez menos lugar para a ignorância que, verdade seja dita, é abundante e está na origem nos meios das seitas, precisamente por serem comunidades fechadas ao diálogo ecuménico e ao aprofundamento conjunto da história e teologia. Por fim, o seu interesse é a salvação pessoal e tudo o resto não interessa, "tudo o que se precisa saber está na Bíblia e cada um interpreta como quer, tendo fé"(?).

A unidade terá de ser participativa e comunicativa. Também temos de identificar que estrutura de Igreja é a mais correcta, histórica e biblicamente. Isto compete ser discutido abertamente pelos líderes religiosos, que historicamente procurarão reconciliar as origens, a evolução, os pontos de discórdia e o seu esclarecimento, com a actualidade, e também com o sistema mais prático e, possivelmente, mais democrático. Uma democracia na Igreja terá de ser sempre acompanhada da devida participação de todos os fiéis, com respeito aos doutores que hierarquicamente definem as posições pelas quais se rege a Igreja em todos os aspectos, mas nunca esquecendo nem menosprezando a participação de todos, envolvendo as comunidades locais nas decisões e na compreensão das mesmas. A incentivação da participação local e de vitalidade e criatividade nas comunidades locais é garantia de futuro e de missão social, um caminho inevitável para toda a Igreja.

Quanto à estrutura, e seguindo tudo o que já disse, existem assuntos que só mesmo os líderes podem resolver em conjunto: dever-se-à optar em particular por aquilo que de mais marcante existe na Igreja Católica: o Papa. Todas as outras igrejas (outras católicas, ortodoxas e a anglicana) possuem uma estrutura mais descentralizada, distribuída pelos patriarcas ou arcebispos. De futuro, acabar-se-à com o papado ou terá apenas um papel menos relevante? Esta é uma consideração essencial. Aspectos como o estabelecimento de um papel mais relevante e participativo dos diáconos, o celibato facultativo para os sacerdotes e a ordenação das mulheres são aspectos igualmente importantes em ter em conta.

Caminhando para uma verdadeira "globalização" do Cristianismo, teremos de colocar sempre em prática e com autenticidade todas as nossas virtudes teologais: há que ter muita fé, esperança e caridade. Esses são os preceitos pelos quais acima de tudo nos devemos guiar no diálogo ecuménico, para que sejemos uma verdadeira comunidade de igrejas, com as mínimas diferenças de doutrina entre si.

Ubi caritas et amor, Deus ibi est!
João

Re: Unidade dos cristãos
Escrito por: Susete Gonzaga (IP registado)
Data: 13 de March de 2002 21:43

Olhem os tamanhos destas mensagem... já tinhamos combinado ... lembram-se?

Desculpem lá este desabafo :))

Susete

Re: Unidade dos cristãos
Escrito por: Lugo (IP registado)
Data: 13 de March de 2002 23:32

Desculpa lá, Susete, mas não concordo :-)

As mensagens não tem mal nenhum em serem grandes, desde que não se resumam a Copy/paste, como é evidente que não é o caso. Se o 'rapaz' estava inspirado, temos é que agradecer uma participação longa que merece ser lida :) LOL

Lugo

Re: Unidade dos cristãos
Escrito por: Tozé Monteiro (IP registado)
Data: 06 de April de 2002 02:13

Deixem-me puxar este tema de novo!

Só para dizer que achei notável o exemplo de unidade dado pelos responsáveis das diferentes igrejas da palestina na condenação da agressão israelita e na defesa dos lugares santos e do povo palestiniano.
Assim se daão passos para a unidade... mas será preciso tanto sofrimento?

Re: Unidade dos cristãos
Escrito por: Paula Margarida Cardoso (IP registado)
Data: 15 de May de 2002 16:24


A unidade é possível? como? quais os limites?

Parece-me interessante as questões que são colocadas e a forma como têm sido debatidos.
Percebo o Tozé quando diz que temos que olhar muito para o exemplo de Taizé para podermos perceber que o que nos une têm que ser mais importante que aquilo que nos separa, mas julgo que o Lugo têm muita razão quando diz que a questão da unidade dos cristãos vai muito mais além do que se passa em Taizé. Eu conheço muito bem a comunidade de Taizé e para mim é um verdadeiro espaço de comunhão, mas isso não basta e o problema/questão é mais complicada.

Relembro uma frase do Concilio Vaticano II: " Unidade no essencial, tolerância no restante mas acima de tudo a caridade".

Abraços
Paula

Re: Unidade dos cristãos
Escrito por: Tozé Monteiro (IP registado)
Data: 16 de May de 2002 00:22

E sobretudo realizarmos essa comunhão no nosso interior. Deixarmos de olhar para o outro como herege! Quanto ao resto o Espírito Santo nos inspirará... se ouvirmos!

Tozé

Re: Unidade dos cristãos
Escrito por: Ana Amorim (IP registado)
Data: 16 de May de 2002 13:18

Olá a todos!

Relativamente a este tema, penso que a unidade dos Cristãos deve ser pela base. A religião não é de todo a sua hierarquia, mas sim todos os seus seguidores.
E concordo contigo, Tozé, quando dizes que Taizé contribui para isso, uma vez que promove o respeito mútuo entre todos. Penso que a grande questão que desune os Cristãos é o facto de uns e outros ainda se considerarem donos da verdade sobre Cristo. Isso chama-se "arrogância".
E, como diz Lugo, não rezamos todos os mesmo Credo de Niceia - Constantinopla?
Em vez de nos separarmos, sempre podemos enriquecer-nos com a diversiddade de ritos, símbolos e gestos. Por isso é que penso que Taizé é esse lugar em que todos são respeitados na mesma fé, no mesmo Cristo.


Ana

Re: Unidade dos cristãos
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 19 de November de 2002 21:50


Ora, de tudo o que se disse aqui, restava ressalvar que a hierarquia da Igreja é fundamental. Poderia subsistir por si, e não "depende" dos leigos para existir, muito pelo contrário. Por outro lado, é sua missão pregar a Boa-Nova a todos, de forma a que a todos possa chegar a Verdade.

As divergências doutrinais da fé são reais. O problema coloca-se todo naquilo que se reza, segundo aquilo que se crê. Se se crê em coisas diferentes, porque será isso? E já agora, não é verdade que rezemos todos o mesmo Credo Niceno-Constantinopolitano. Para além disso, existem também vários entendimentos sobre o que ele exprime.

Aí tem a hierarquia a palavra definitiva: não é um "leigo" ou um "teólogo" que vai ter a pretensão de se arvorar em dono e senhor da doutrina, por substituição dos hierarcas que, aos seus olhos, estão errados e são arrogantes, etc.. O que é isso senão criar uma nova "hierarquia"? Ou seja, ou toma(m) a(s) hierarquia(s) isso nas mãos, ou então é como se se dissesse que a verdade não existe, que não existe nada a apurar como definitivamente verdadeiro. Isso é que não pode ser, não acham?

Quanto a "olhar o outro como herege", tem duas dimensões. A primeira, a da objectividade doutrinária. Nesse sentido, não há como deixar de olhar para o outro como herege, se for o caso, na medida em que vamos discernindo e apurando a verdade. A segunda, a que deve realmente ser eliminada, é a dimensão do repúdio para com a pessoa. No meu caso, encaro o diálogo ecuménico abertamente, tratando das heresias de todos os tempos que se levantam, inclusive as minhas... Não há nenhum problema em chamar "herege" a outro, se for com objectividade e justificação. Há que tomar a pessoa como alguém que ainda não foi convencido, ou que desconhece a doutrina. Sem ódios nem calúnias ("herege" é encarado ofensivo porque ninguém gosta que lhe digam que está enganado)... Depois, há pessoas que discordam mas não se baseando em heresias... E também há aqueles que pretendem dizer que não existe heresia, que é tudo uma questão de opinião... o que, de resto, também é heresia.

Vão lá ser "ecuménicos" com Testemunhas de Jeová, Mormons, "Nova Via" e que tais para verem como assim é, e em que é que resulta precisamente a falta da hierarquia, na sucessão apostólica, e a falta de consciência das heresias nossas antepassadas... Acho mesmo que não existem "novas" heresias, apenas reformulações de doutrinas já anteriormente refutadas pela Igreja...

Como pode a unidade ser fundada na mentira, ou como podemos nós ter unidade se não nos preocupamos com a verdade?

E quanto à infalibilidade papal, será que estão mesmo convencidos de que é algo em que se pode sequer ceder? Pelo amor de Deus, não fomos nós que o quisemos, foi Deus e por causa d'Ele somos chamados a conservar essa doutrina. O Papa não é de modo algum um Patriarca (D. José Policarpo é Patriarca, por exemplo). Acho que ainda não perceberam bem o que Jesus ressuscitado quis dizer quando requisitou a Pedro, três vezes confirmado pelo seu amor, que apascentasse as suas ovelhas, depois deste o ter negado três vezes, depois de Jesus edificar a sua Igreja sobre ele, orando e dando-lhe o múnus de confirmar na fé os seus irmãos, para que a sua fé não desfaleça. (cf. João 21,15-19; Mateus 26,33-37.69-75; Mateus 16,15-19; Lucas 22,31-32)

Acho que existe mesmo um completo desenraizamento bíblico na forma como o ecumenismo tem sido tratado neste tópico...

E como já ouvi dizer, para os católicos, o ecumenismo deve ser encarado como "you-come-in-ismo"... :o) Ou seja, reconciliem-se com a Santa Sé, entrem em perfeita comunhão com o Papa.

João

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