Conforme devem ter reparado pela minha ausência, estive (e ainda estou) de férias! :-)
Pois, sei que é de fazer inveja a qualquer um, mas decerto em breve também vós ireis de férias. Estas férias foram muito produtivas: serviram para descansar, por alguma leitura e ideias em dia.
Dos cerca de meia dúzia de livros que consegui ler, houve um que me marcou pela sua objectividade, actualidade e sentido crítico. Estou a falar do livro
The Catholic Church: A Short History..., de Hans Küng, sobre a história da Igreja Católica (embora breve).
Hans Küng é teólogo católico nascido na Suiça, professor na Universidade de Tubinga e director do Institute for Ecumenical Research da mesma universidade. Hans Küng esteve presente no Concílio Vaticano II como teológo consultor, nomeado pelo Papa João XXIII. Todavia, em 1979 Küng viu-lhe retirada a autorização eclesiática para ensinar em virtude do livro
Infallible?: An Unresolved Enquiry
, ao colocar em causa a infabilidade papal em consequência da encíclica
Humanae Vitae, publicada em 1968, por Paulo VI.
Neste livro sobre a história da Igreja Católica, Küng descreve o percurso desde as comunidades cristãs primitivas até à Igreja que temos hoje. O livro é recente. Foi publicado em 2001, mas a esta edição foi adicionado um epílogo em 2003 sobre a crise da Igreja Católica nos EUA e o escândalo do abuso sexual a menores.
Nesta história, Küng não é imparcial, o que favorece (em muito) o livro. Embora católico, Küng não é um conservador. Aliás, ele próprio já foi vítima da Inquisição (os mais susceptíveis leiam Santa Inquisiçao - Congregação para a Doutrina e Fé) ao lhe ser retirada a autorização eclesiática para ensinar, sem qualquer explicação ou oportunidade para justificação do próprio. Küng descreve algumas questões e posições da Igreja Católica de forma crítica, pois, segundo ele, não têm fundamento bíblico e tratam-se de alterações introduzidas pelos homens por motivos que não o do Evangelho. Estas alterações tem a ver essencialmente com a lei do celibato obrigatório dos padres e o afastamento das mulheres do sacerdócio, com a estrutura episcopal da Igreja demasiado "curialista" e muito pouco colegial; entre outros assuntos.
Foi um livro que me pôs a pensar, nomeadamente, da forma como vejo e sinto a Igreja em que vivo. Se pegarmos na Sagrada Escritura e lermos os primeiros versículos do terceiro capítulo da primeira carta de Paulo a Timóteo - «É digna de fé esta palavra: se alguém aspira ao episcopado, deseja um excelente ofício. Mas é necessário que o bispo seja irrepreensível, marido de uma só mulher, sóbrio, ponderado, de bons costumes, hospitaleiro, capaz de ensinar; que não seja dado ao vinho, nem violento, mas condescendente, pacífico, desinteressado; que governe bem a própria casa, mantendo os filhos submissos, com toda a dignidade. 5Pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará ele da igreja de Deus?» (1 Tm 3, 1-5) - como poderemos justificar o celibato obrigatório dos sacerdotes imposto de forma controversa no século XI? Será que não teríamos uma Igreja mais humana se se permitisse que os sacerdotes podessem optar pelo celibato ou não? Será que o celibato dos sacerdotes é mais benéfico ou prejudicial à própria Igreja?
Este é uma das questões que o livro levanta... Mas levanta muitas outras, importantes, pertinentes e fundamentais na Igreja de hoje.
Não hesito em recomendar este livro a todos os participantes deste fórum, bem como a todos os católicos e cristãos de uma forma geral! Não como um livro que se deva ler no sentido de apreender o "como" das coisas, mas para despertar o sentido crítico do leitor, por certo, adormecido ou quiçá inexistente. Embora não tenha a certeza, penso que o Círculo de Leitores irá lançar este livro, em português, mas numa colecção (ver
Breve História, Grandes Temas).
Como é habitual, fico à aguardar a vossa opinião,
Luis