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Férias e livros que dão para pensar
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 25 de June de 2003 01:26

Conforme devem ter reparado pela minha ausência, estive (e ainda estou) de férias! :-)
Pois, sei que é de fazer inveja a qualquer um, mas decerto em breve também vós ireis de férias. Estas férias foram muito produtivas: serviram para descansar, por alguma leitura e ideias em dia.

Dos cerca de meia dúzia de livros que consegui ler, houve um que me marcou pela sua objectividade, actualidade e sentido crítico. Estou a falar do livro The Catholic Church: A Short History..., de Hans Küng, sobre a história da Igreja Católica (embora breve).

Hans Küng é teólogo católico nascido na Suiça, professor na Universidade de Tubinga e director do Institute for Ecumenical Research da mesma universidade. Hans Küng esteve presente no Concílio Vaticano II como teológo consultor, nomeado pelo Papa João XXIII. Todavia, em 1979 Küng viu-lhe retirada a autorização eclesiática para ensinar em virtude do livro Infallible?: An Unresolved Enquiry
, ao colocar em causa a infabilidade papal em consequência da encíclica Humanae Vitae, publicada em 1968, por Paulo VI.

Neste livro sobre a história da Igreja Católica, Küng descreve o percurso desde as comunidades cristãs primitivas até à Igreja que temos hoje. O livro é recente. Foi publicado em 2001, mas a esta edição foi adicionado um epílogo em 2003 sobre a crise da Igreja Católica nos EUA e o escândalo do abuso sexual a menores.

Nesta história, Küng não é imparcial, o que favorece (em muito) o livro. Embora católico, Küng não é um conservador. Aliás, ele próprio já foi vítima da Inquisição (os mais susceptíveis leiam Santa Inquisiçao - Congregação para a Doutrina e Fé) ao lhe ser retirada a autorização eclesiática para ensinar, sem qualquer explicação ou oportunidade para justificação do próprio. Küng descreve algumas questões e posições da Igreja Católica de forma crítica, pois, segundo ele, não têm fundamento bíblico e tratam-se de alterações introduzidas pelos homens por motivos que não o do Evangelho. Estas alterações tem a ver essencialmente com a lei do celibato obrigatório dos padres e o afastamento das mulheres do sacerdócio, com a estrutura episcopal da Igreja demasiado "curialista" e muito pouco colegial; entre outros assuntos.

Foi um livro que me pôs a pensar, nomeadamente, da forma como vejo e sinto a Igreja em que vivo. Se pegarmos na Sagrada Escritura e lermos os primeiros versículos do terceiro capítulo da primeira carta de Paulo a Timóteo - «É digna de fé esta palavra: se alguém aspira ao episcopado, deseja um excelente ofício. Mas é necessário que o bispo seja irrepreensível, marido de uma só mulher, sóbrio, ponderado, de bons costumes, hospitaleiro, capaz de ensinar; que não seja dado ao vinho, nem violento, mas condescendente, pacífico, desinteressado; que governe bem a própria casa, mantendo os filhos submissos, com toda a dignidade. 5Pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará ele da igreja de Deus?» (1 Tm 3, 1-5) - como poderemos justificar o celibato obrigatório dos sacerdotes imposto de forma controversa no século XI? Será que não teríamos uma Igreja mais humana se se permitisse que os sacerdotes podessem optar pelo celibato ou não? Será que o celibato dos sacerdotes é mais benéfico ou prejudicial à própria Igreja?

Este é uma das questões que o livro levanta... Mas levanta muitas outras, importantes, pertinentes e fundamentais na Igreja de hoje.

Não hesito em recomendar este livro a todos os participantes deste fórum, bem como a todos os católicos e cristãos de uma forma geral! Não como um livro que se deva ler no sentido de apreender o "como" das coisas, mas para despertar o sentido crítico do leitor, por certo, adormecido ou quiçá inexistente. Embora não tenha a certeza, penso que o Círculo de Leitores irá lançar este livro, em português, mas numa colecção (ver Breve História, Grandes Temas).

Como é habitual, fico à aguardar a vossa opinião,
Luis

Re: Férias e livros que dão para pensar
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 26 de June de 2003 14:59

Li pouco do Hans Küng.

É muito claro, virado para o exterior da Igreja.Tenho muito boa impressão dele.

Tenho andado para comprar "O Cristianismo" (dele) também do Círculo de Leitores. Mas as mais de 800 páginas fazem-me pensar.

Talvez para as férias.

Apesar de ter um título panfletário, é interessante o livro de um outro teólogo, Herbert Haag "Liberdade para os Cristãos" (que comprei por causa de uma "discussão" aqui no fórum), do Círculo de Leitores.

Levanta questões semelhantes e sempre muito apoiado nos estudos bíblicos.

Por isso defendo a necessidade de novo Concílio.

João (JMA)

Re: Férias e livros que dão para pensar
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 26 de June de 2003 22:57

JMA,

Sobre o livro O Cristianismo, nestas férias, como passámos por Espanha, aproveitei para o comprar a tradução em espanhol (pois ando a ver se aprendo a língua dos nossos hermanos). Mas este livro sobre o Cristianismo, vem na sequência de outros dois livros: um sobre o Judaísmo, e outro sobre o Ser Cristão.

O livro sobre o Cristianismo, embora tenha mais de oitocentas páginas, lê-se muito bem pois a escrita de Küng é fácil e muito atractiva.

Luis

P.S. Os preços que estão no site da Trotta são um pouco mais elevados do que se consegue em outras livrarias, caso alguém considere a sua compra...

Re: Férias e livros que dão para pensar
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 08 de August de 2003 20:57

Um livro interessante para férias:
Última Palavra do Profeta - Igreja: Estímulos e Esperanças
Bernhard Häring, da editorial Perpétuo Socorro

Sublinho os 4 temas (da 2ª parte) todos já tratados aqui no fórum:
estruturas da Igreja de amanhã;
diaconado da mulher;
escassez de padres e celibato;
pastoral dos divorciados recasados.

Algumas "almas" mais conservadoras, sugiro que se abstenham.

João (JMA)

Re: Férias e livros que dão para pensar
Escrito por: Luis Gonzaga (IP registado)
Data: 08 de August de 2003 23:36

Pelos poucos parágrafos que consegui ler on-line de Bernhard Häring, suspeito que ele terá, por parte da Igreja, o mesmo tipo de tratamento que teve Hans Küng.


Comentando aquilo que disseste sobre a necessidade de um novo Concílio, em certa parte compreendo aquilo que queres dizer. Mas neste momento, um novo Concílio não iria servir para muito, pois penso que aqueles que estariam presentes no Concílio, não teriam qualquer motivação de mudança. Penso até que seria contra-producente pois poderia legitimar o actual estado da Igreja.

Mais que alterações nas questões mais polémicas e mais conhecidas, é necessário começar uma nova evangelização.

A semana passado o Papa João Paulo II surpreendeu-me ao lamentar (que eu me lembre, pela primeira vez) que a Bíblia é pouco lida entre os católicos e que não se aprofunda a catequese (ver notícia João Paulo II lamenta falta de "católicos adultos").

Quem sou eu para criticar o Sumo Pontífice, mas se em vez de se empenhar tanto na divulgação da meditação do Rosário, fosse equilibrando esse seu empenho com a divulgação do estudo bíblico, talvez a situação da Igreja e dos católicos em geral não estivesse como está.

Luis

Re: Férias e livros que dão para pensar
Escrito por: JMA (IP registado)
Data: 09 de August de 2003 00:48

O "problema" situa-se entre a catequese e a teologia: o Papa está mais à vontade com a 1ª que com a 2ª.

Note-se aliás que as iniciativas do Papa vão sempre no sentido da valorização da catequese em detrimento da Teologia.

Pela simples razão razão que a Teologia se encontra cada vez mais apoiada nos Estudos Bíblicos e esta "dupla" já provocou o resultado denominado como Vaticano II.

Sendo que o então Bispo de Cracóvia não se destacou pelo entusiasmo com as decisões conciliares.

Penso que esta alteração - deveras significativa e que devemos louvar - não é apenas da sua lavra: eu diria que há aqui uma mão do Ratzinger.

Muitas vezes acusado de ser um testa de ferra do Papa, foi um dos teólogos mais importantes do Concílio. Até foi ameaçado de excomunhão pelo seu antecessor, Ottaviani.

Quanto ao Concílio duvido que o Papa o convoque. Mas não duvido quanto ao resultado.

Dizia Yves Congar sobre o Concílio Vaticano II:
“Quando os bispos descobriram que estavam bastante de acordo, a Igreja Católica converteu-se ao ecumenismo em minutos, em horas no máximo, foi deveras extraordinário.”

Sobre grande parte das questões levantadas pelo Häring, estou certo que acontecerá o mesmo.

João (JMA)



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