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Re: Feminismo e cristianismo
Escrito por: ana (IP registado)
Data: 10 de February de 2003 23:40

Vá lá susete, tenta participar mais. Afinal, fui a única mulher a debater este tema... LOL

Re: Feminismo e cristianismo
Escrito por: ana (IP registado)
Data: 11 de February de 2003 17:29

20.01.2003


No mundo inteiro tem vindo a registar-se uma maior consciencialização pela situação e discriminação das mulheres.

Há sete anos, a Cimeira Mundial da Mulher, em Pequim _a maior conferência jamais organizada pelas Nações Unidas_ considerou que a igualdade dos sexos, o desenvolvimento e a paz eram os temas-chave destinados a melhorar a situação e a vida das mulheres. Desde essa altura que os governos e parlamentos, organizações e empresas, partidos, associações, sindicatos, igrejas e instituições religiosas tiveram muito tempo e possibilidade de trabalharem na melhoria da situação das mulheres e na abolição da discriminação. Desde então, que as mulheres no mundo inteiro dispõem de um enquadramento político e económico que lhes permite exigir os seus direitos.

A pobreza no mundo continuou a ser também em 2002 um atributo feminino. As mulheres trabalham mais que os homens (dois terços das horas de trabalho são preenchidas por mulheres), mas ganham apenas um décimo do rendimento mundial e possuem menos que um décimo da fortuna mundial. A globalização da economia e a flexibilização dos mercados de trabalho e financeiros minou em muitos países do mundo os esforços em prol de uma igualdade de direitos entre os sexos.

Para Thoraya Obaid, da Arábia Saudita, e actual directora do Fundo Mundial de População das Nações Unidas, (UNFPA), a conexão é evidente:

“ As mulheres ocupam sempre os lugares inferiores na pirâmide da pobreza. Se têm emprego, são sempre elas as primeiras a serem despedidas. E se vivem na pobreza, não estão em condições de poder tomar uma decisão sobre a sua vida , uma vez que o ambiente onde vivem não as apoia com um sistema jurídico. Elas encontram-se sempre num círculo vicioso. A pobreza, quando atinge as mulheres, vai passando de geração em geração, a não ser que a comunidade, onde elas se encontram integradas, realize um grande esforço para as apoiar e haja ainda instituições onde elas possam requerer ajuda.”

Os especialistas da UNFPA consideram que a redução da taxa de natalidade em 0,4%, sobretudos nos países em desenvolvimento, seria uma grande chance para, a longo prazo, se poder diminuir a pobreza. No relatório de 2002, esses especialistas fazem ver claramente que a redução da pobreza só se pode alcançar com uma maior igualdade entre os sexos e com uma melhoria da situação da mulher. Mais chances na instrução, acesso ao planeamento familiar e uma redução da taxa da mortalidade infantil, possibilitarão às mulheres uma melhoria significativa das suas vidas, concedendo-lhes sobretudo a possibilidade de terem menos filhos, conclui o relatório da UNFPA.

Doenças como a Sida, o analfabetismo, instrução insuficiente e a impossibilidade de poderem decidir por elas próprias, são condições propícias ao fomento da pobreza, afirmam os especialistas das Nações Unidas. Mas apesar dos êxitos obtidos nestas estratégias, por exemplo na Ásia, os EUA recusaram-se a pagar os 34 milhões de dólares já prometidos. Devido a esta decisão, diz Thoraya Obaid, irão morrer ainda mais mulheres e crianças.

No ano passado, a situação das mulheres em África piorou drasticamente: cerca de 70% dos cerca de 40 milhões de seropositivos no mundo inteiro, vivem no continente africano. A Sida atinge cada vez mais as mulheres, afirma Peter Piot, chefe do programa das Nações Unidas sobre a Sida, ao entregar em Londres, o relatório mundial da sida de 2002.

“ Observa-se pela primeira vez, que metade dos doente contagiados com sida são do sexo feminino. Pelos vistos alcançàmos uma igualdade dos sexos muito macabra. Sobretudo na África austral 60% dos seropositivos são mulheres.”

No combate à sida, 18 primeiras-damas do continente africano reuniram- se há meses numa campanha de informação e esclarecimento. Elas pretendem exercer pressão nos governos chefiados pelos respectivos maridos, a fim de que as mulheres passem a ter um melhor acesso à instrução e possam estar á altura de poder pagar os preservativos. Se isto não acontecer, a miséria irá propagar-se ainda mais na África austral.

Um outro relatório das Nações Unidas sobre o nível de desenvolvimento no mundo árabe, apresentado em Julho do ano passado no Cairo, veio mostrar como a discriminação das mulheres na vida económica e social pode levar à estagnação de uma região inteira. Esta análise foi elaborada, pela primeira vez, por uma equipe de especialistas árabes.

Nenhuma outra região do mundo apresenta um índice tão baixo de produtividade. Instrução deficiente, e a interdição política quase total, levaram a que o potencial de mão-de-obra criativa e com boa instrução tentasse a sua sorte nos EUA e na Europa. Para trás ficaram 65 milhões de analfabetos, dois terços deles mulheres. As consequências desta situação são claras: é muito difícil uma sociedade desenvolver-se quando metade dessa sociedade é marginalizada. Esse relatório apela por isso a todos os países árabes, para que incluam as mulheres no seu processo de desenvolvimento, não só porque isso é um direito fundamental das mulheres, mas também porque só assim a sociedade pode evoluir como um todo.

Mas os direitos das mulheres de nada valem quando a depauperação já é uma realidade. A ministra alemã para o desenvolvimento, Heidemarie Wieczorek-Zeul, considera que é aqui que residem as origens de uma maior disponibilidade para se praticar a violência contra as mulheres. Por isso, ela anunciou que este ano, o combate à violência contra as mulheres constituíria o aspecto central da cooperação na política de desenvolvimento. Christime Luutu,que chefia no Uganda um projecto para mulheres traumatizadas, insiste no apoio internacional. A 26 de Novembro passado ela recebeu em Bona o Prémio UNIFEM 2002 (Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para as Mulheres).

« Acreditamos que a violência praticada contra as mulheres não é apenas um problema da mulher traumatizada, mas que irá ter consequências no seu agregado familiar e até mesmo na sociedade .”

No Afeganistão, as mulheres continuam a ser confrontadas com todas as formas de violência. Fora de Cabul, os senhores de guerra dominam a situação. Organizações internacionais de auxílio afirmam que nalgumas regiões as mulheres são de novo obrigadas a usar o schador. Além disso, sabe-se ainda que nas regiões agrárias, as mulheres são violadas.

Mas também nos países desenvolvidos e ricos, como a Alemanha, a noiva como mercadoria de importação e exportação foi um tema muito discutido no ano passado. Com acções de protesto contra os casamentos obrigatórios, a organização ”Terre des Femmes” chamou a atenção para o problema das jovens migrantes. Esta organização sabe de inúmeros casos em que mulheres na Alemanha foram obrigadas a casar ou ainda de casos de jovens mulheres que foram arrastadas à força, pelos pais, para o seu país de origem, para aí contrairem matrimónio.

Também nestes casos o que se precisa urgentemente é de instrução, esclarecimento e aprendizagem da língua alemã, afirma a organização ”Terre des Femmes”, pois na Alemanha já existe uma lei de protecção à violência doméstica. Muito embora na Alemanha o maior grupo de migrantes seja constituído por mulheres turcas, o casamento obrigatório não é apenas um fenómeno turco, diz Rahel Volz da ”Terre des Femmes”.

” As jovens mulheres obrigadas pelos pais a casarem-se provêem também da Albânia, do Marrocos, dos países africanos. Trata-se um fenómeno muito abrangente e que não se pode explicar apenas com a religião. Não são apenas as mulheres muçulmanas a sofrer essa sorte. O mesmo se passa igualmente em famílias cristãs. E muitas vezes, estes casamentos forçados nem sequer são legitimados pela religião. O motivo principal reside nas estruturas tradicionais e patriarcais.”

Estas estruturas encontram-se igualmente nos países africanos onde no ano de 2002 a mutilação genital feminina continuou na ordem do dia. Este ritual cruel assume frequentemente consequências fatais para as mulheres. Um outro caso muito ventilado pela imprensa mundial, passou- se na Arábia Saudita. Em Mekka, a polícia religiosa mandou uma menina entrar de novo no edifíco da sua escola, a arder, porque quando ela fugiu das chamas, à pressa para salvar a sua vida, não vinha vestida como exigia o regulamento. Pela primeira vez, a polícia religiosa saudita foi alvo de críticas violentas em todo o mundo, já que não foi possível ignorar os relatos das testemunhas deste caso vergonhoso.

Na Nigéria, a eleição da miss Mundo, levou a confrontos sangrentos neste país, e que causaram mais de 200 mortos. O concurso teve de ser adiado e acabou por se realizar em Londres, sob apertadas medidas de segurança. Mas, antes disso, a Nigéria já era conhecida da opinião pública mundial devido à aplicação da scharia em várias regiões do país. : no estado de Katsina, uma mulher foi condenada por um tribunal islâmico a ser apedrejada até à morte , porque depois do divórcio ela ficou grávida tendo dado à luz uma menina. Mas ela não foi a única a ser condenada à morte por ter relações sexuais extra-matrimonais. Até à data não foi ainda executada nenhuma das sentenças. Na opinião da escritora nigeriana Zaynab Alkali, ela própria muçulmana, essas sentenças não são sustentáveis. Desde há anos, que ela defende a tese de que a instrução é o único caminho para acabar com a ignorância e para se poderem preseservar os direitos fundamentais.

Na Europa, e especialmente nos países do leste, o tráfego de mulheres assume cada vez proporções maiores. No ano passado, centenas de milhar de mulheres foram vítimas deste tráfego. Devido à sua situação geográfica, a Sérvia é a via de passagem mais importante para a Europa Ocidental. Segundo informações divulgadas pela OCDE, estabeleceram-se nesse país, mas também na Bósnia, Macedónia e Kosovo, verdadeiras estruturas mafiosas. Muitas das mulheres provêem da Rússia, Ucrânia, Moldávia, Roménia e Bulgária.

A antiga comissária da Organização das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Mary Robinson, disse, pouco antes de terminar as suas funções, que a esta discriminação se junta uma outra: ela considerá intolerável que as mulheres e raparigas arrastadas para os países da União Europeia, e obrigadas a prostituirem-se, ainda fiquem sujeitas a serem presas, quando são apanhadas pela polícia.

“90% das mulheres, que trabalham como prostitutas nos Balcãs, têm de ser consideradas como vítimas dos traficantes de pessoas, tendo por isso, de ser tratadas como tal. O que não acontece. Até hoje, apenas 7% dessas mulheres e raparigas têm a oportunidade de ser abrangidas pelos programas de reintegração, para se adaptarem de novo a uma vida normal.”

Enquanto que na Alemanha o tráfego de mulheres e a consequente perseguição a que elas estão sujeitas é um motivo para se poder obter asilo, outros países há, na União Europeia, que não têm ainda uma legislação semelhante.Com medo dos actos de vingança dos seus sequestradores, são poucas as mulheres que se atrevem a levar esses homens a tribunal . Por isso, os investigadores crêem que somente um bom programa de protecção às testemunhas poderá combater de forma efectica a violência contra as mulheres.

De futuro, as mulheres irão desempenhar um papel central na solução dos conflitos. O Conselho Mundial de Segurança promulgou a resolução número 1.325 sobre a situação das mulheres nos conflitos armados, obrigando os estados a incluir as mulheres em todas as decisões e acções relacionadas com a gestão dos conflitos. E mesmo depois desses conflitos armados terminarem, está previsto que as mulheres irão participar activamente na reconstrução da sociedade civil. De futuro, a violência contra as mulheres durante a guerra poderá ser levada ao Tribunal Correcional Internacional, recentemente criado. A lista dos candidatos para a eleição dos postos dos 18 juizes, e que se realizará este ano, mostrou claramente que nos quatro primeiros escrutínios as mulheres estarão amplamente representadas, o que ainda não aconteceu em nenhuma instituição multilateral.

Re: Feminismo e cristianismo
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 11 de February de 2003 17:53

Ana, identifica a fonte, p.f. Obrigado!

Alef

Re: Feminismo e cristianismo
Escrito por: ana (IP registado)
Data: 12 de February de 2003 16:51

Resolução do Parlamento Europeu sobre as Mulheres e o Fundamentalismo

As mulheres e o fundamentalismo
Resolução do Parlamento Europeu sobre as mulheres e o fundamentalismo
(2000/2174(INI))

O Parlamento Europeu,

-Tendo em conta a Declaração Universal dos Direitos do Homem, designadamente os seus
artigos 2º, 3º, 4º, 5º, 6º, 7º, 8º, 13º, 14º, 16º, 18º, 23º e 26º,

-Tendo em conta o artigo 13º do Tratado que institui a Comunidade Europeia e a Declaração nº 11 anexa ao Tratado de Amesterdão relativa ao estatuto das Igrejas e das organizações não confessionais,

-Tendo em conta a Convenção das Nações Unidas sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW), de 1981,

-Tendo em conta a sua Resolução de 16 de Setembro de 1998 sobre o Islão e a Jornada Europeia "Averróis",

-Tendo em conta as conclusões da audição intitulada "A mulher e o fundamentalismo", realizada em 23 de Janeiro de 2001,

-Tendo em conta a Carta Europeia dos Direitos Fundamentais, de 7 de Dezembro de 2000, e, em especial, o segundo parágrafo do seu preâmbulo e os artigos 9º, 10º e 14º,

-Tendo em conta o documento intitulado "Memória e Reconciliação", apresentado pela Comissão Teológica Internacional da Santa Sé em 7 de Março de 2000,

-Tendo em conta o artigo 163º do seu Regimento,

-Tendo em conta o relatório da Comissão dos Direitos da Mulher e da Igualdade de Oportunidades e o parecer da Comissão das Liberdades e dos Direitos dos Cidadãos, da Justiça e dos Assuntos Internos (A5-0365/2001),

A. Considerando que a noção de fundamentalismo surgiu nos Estados Unidos, nos anos 20, e visava essencialmente a fé cristã; que esse fundamentalismo se caracterizava pela obediência cega aos dogmas da fé, que eram interpretados literalmente e colocados acima das leis do Estado de Direito e dos direitos dos cidadãos; que existem diversas formas de fundamentalismo, como o religioso, o político e o ideológico; que há actualmente diversas variantes de fundamentalismo em diferentes religiões e seitas,

B. Partindo do princípio de que urge dar uma resposta política ao grave problema dos fundamentalismos e das suas consequências para a vida das mulheres, e procurando apresentar propostas úteis para combater esse fenómeno,

C. Observando que, ao longo da história e também nos nossos dias, as mulheres foram e continuam a ser uma das principais vítimas dos fundamentalismos religiosos,

D. Constatando que a maioria das religiões sofreu este tipo de desvio fundamentalista ou integrista, sob diversos moldes, num dado momento da sua história,

E. Considerando que milhões de mulheres de todo o mundo estão privadas dos direitos políticos fundamentais, como o direito de voto e a elegibilidade; deplorando que, em virtude de pressões fundamentalistas, as mulheres sejam, em alguns países, excluídas dos processos de mutação democrática,

F. Considerando que o fundamentalismo não é um fenómeno alheio à União Europeia e que põe em perigo as liberdades e os direitos fundamentais dos indivíduos, pois pretende sujeitar os poderes públicos e as instituições a uma visão partidária, que exclui a igualdade de direitos dos que dela não partilham,

G. Tendo demonstrado a semelhança do fundamentalismo com os regimes políticos totalitários, pois quando os integristas se consideram em posse da verdade, monopolizam-na,

H. Salientando que as manifestações extremistas do fundamentalismo dão azo a abusos e à violência que costumam atingir aqueles que tomam posições antagónicas ou cujas convicções sejam diferentes,

I. Considerando que as tradições e os valores europeus em matéria de respeito dos direitos fundamentais, de democracia, de ordem jurídica e de carácter laico do Estado constituem uma riqueza inestimável e continuam a desenvolver-se na sociedade com base nas suas novas necessidades; considerando que importa proteger essas tradições dos ataques dos grupos extremistas e xenófobos,

J. Constatando que os fundamentalismos têm consequências negativas para a cultura, as artes e as ciências, implantando o totalitarismo intelectual, perseguindo e anulando o pensamento livre e a criatividade, ameaçando e assassinando intelectuais e artistas,

K. Rejeitando todos os métodos que historicamente fracassaram por combater o fundamentalismo com fundamentalismos de sinal contrário; considerando como antídotos a promoção dos direitos e das liberdades, o respeito de todas as pessoas, a secularização, a política de abertura, a emancipação das mulheres, a promoção da diversidade ideológica e cultural, a convivência pluralista, o exercício do diálogo e a flexibilidade política, a livre expressão de ideias, convicções e formas de vida, as concepções gradualistas e relativistas opostas

Re: Feminismo e cristianismo
Escrito por: ana (IP registado)
Data: 13 de February de 2003 18:15

O sacerdócio universal dos fiéis


Todos os fiéis partilham o sacerdócio de Cristo

"O Cristo Senhor, Sumo Sacerdote tomado de entre os homens (cf. Heb., 5,1-5), fez do seu novo povo "um reino de sacerdotes para Deus seu Pai" (Ap. 1, 6; 5, 9-10). Com efeito, pela regeneração e a unção do Espírito Santo, os baptizados são consagrados como casa espiritual e sacerdócio santo".

Vaticano II, Lumen Gentium, n° 10

Isto tem consequências enormes para as mulheres:

Cristo aboliu o sacerdócio do Antigo Testamento baseado na sacralização (= santidade pressuposta) do tempo, lugares, objectos cultuais e descendência sacerdotal.
Jesus instituiu um sacerdócio cuja dignidade fundamental todos os baptizados partilham.
Assim, isto implica que tanto os homens como as mulheres podem partilhar igualmente o sacerdócio ministerial de Cristo. Podemos dizer com toda a legitimidade que é essa a intenção implícita de Cristo.

Cristo aboliu o sacerdócio do Antigo Testamento baseado nas chamadas realidades "sagradas".
Jesus não foi um reformador social, se bem que os seus princípios religiosos devessem ter provocado enormes consequências sociais. Não desencadeou directamente uma revolução social. O mesmo não se pode dizer sobre o seu envolvimento na religião. Embora ele não tenha atacado directamente as estruturas sociais do seu tempo, não suportava as estruturas religiosas antiquadas e inadequadas. Neste domínio, a sua acção dificilmente poderia ter sido mais implacável. Aboliu completamente o sacerdócio tal como era entendido segundo as concepções do Antigo Testamento.

Para compreendermos todas as consequências da atitude de Jesus neste domínio, temos de recordar que o sacerdócio do Antigo Testamento repousava sobre uma filosofia que estabelecia uma distinção entre o sagrado e o profano. Certas realidades concretas, como as casas, os rebanhos, comer e dormir, fazer negócios, etc. eram consideradas vulgares, "profanas". Deus não estava directamente presente nessas realidades. Outras realidades do nosso mundo eram consideradas como tendo sido preenchidas pela presença de Deus e por isso tornavam-se "sagradas". É esta a origem dos dias "sagrados" (o sábado e os dias de festa), dos lugares "sagrados" (principalmente o Templo), dos objectos "sagrados" (por exemplo, os recipientes utilizados na liturgia) e as pessoas "sagradas" (os sacerdotes) que estavam consagrados a Deus. O sacerdote do Antigo Testamento estava separado dos outros homens da mesma forma que o sábado era considerado mais santo do que a segunda-feira ou o Templo mais sagrado que a piscina de Betzatá. O sacerdote era a encarnação de uma presença divina no seio de um mundo profano.

Em vez de substituir as antigas realidades sagradas por outras novas, Cristo foi mais longe. Extinguiu radicalmente a distinção entre o sagrado e o profano. Isto talvez perturbe certos cristãos que, inconscientemente, continuam a pensar à maneira do Antigo Testamento. Imaginam que o Novo Testamento é uma versão actualizada do Antigo. Pensam que as nossas igrejas substituíram o Templo de Jerusalém, que o nosso domingo ocupou o lugar do sábado judaico, que os nossos objectos litúrgicos correspondem aos do Templo e que o sacerdote do Novo Testamento é uma versão melhorada dos antigos sacerdotes. A causa desta confusão deve-se, por um lado, a evoluções verificadas no seio da Igreja no decurso da sua história e, por outro, à preocupação de responder à necessidade bem humana de dispor de realidades quase-secretas (tais como as igrejas), enquanto elementos integrantes de uma religão estabelecida. Mas, no fundo, o apego a realidades "sagradas" é uma regressão e uma contradição dos ensinamentos do Novo Testamento.

Tome-se como exemplo o conceito de lugar sagrado. Os Judeus só podiam oferecer sacrifícios no Templo (Dt 12, 1-14) e, mesmo no recinto do Templo, o lugar tornava-se tanto mais sagrado quanto mais próximo estava do seu centro. Só os sacerdotes podiam entrar na câmara interior do santuário, chamada o "Santo dos Santos" e, mesmo assim, só uma vez por ano (Heb 9, 7). Cristo não atribui nenhuma importância aos lugares santos. Santifica todos os lugares. No seu Reino, pode prestar-se culto não só em Jerusalém ou numa montanha santa, mas em todos os lugares, desde que seja "em espírito e em verdade" (Jo 4, 20-24). De facto, é o seu corpo que é o novo templo, o qual pode substituir o antigo em qualquer parte do mundo (Jo 2, 21). Quando Cristo celebrou pela primeira vez a missa, na Última Ceia, fê-lo numa sala de uma casa vulgar (Mc 14, 12-16). Para coroar tudo isto, o lugar que escolheu para oferecer o seu sacrifício ao mundo inteiro não foi o recinto do Templo, mas sim uma colina lúgubre onde se executavam os condenados (Heb 13, 12). Quando Cristo morreu a distinção entre sagrado e profano foi varrida de uma vez por todas. Os Evangelhos contam que o véu do Templo, que escondia o "Santo dos Santos", "se rasgou em dois, de alto a baixo" (Mc 15, 37). A Igreja dos primeiros tempos compreendeu o significado disso. Ela não tinha templos, nem igrejas nem capelas. Os primeiros cristãos celebravam a oração comum e a Eucaristia em qualquer sítio onde reunissem a comunidade. Isto permanece basicamente válido para a Igreja de hoje. Se bem que o costume de reservar certos locais para a oração seja louvável em si, este facto provocou, a partir do século IV, a reintrodução sub-reptícia do sistema religioso antigo.

O mesmo se pode dizer em relação aos dias sagrados. Para os Judeus, o sábado era um dia consagrado a Deus, durante o qual não se podia exercer actividade para proveito próprio. Jesus teve vários conflitos com os Fariseus porque recusava suspender o seu apostolado nesse dia. Surgiram conflitos quando os discípulos arrancaram espigas de uma seara (Mt 12, 1-8), quando Jesus curou um homem que tinha uma mão paralisada (Mc 3, 6), quando curou um homem hidrópico (Lc 14, 1-16), e quando restituiu a vista a um cego em Siloé (Jo 9, 1-16). No decurso da discussão, a afirmação mais revolucionária de Jesus foi: "O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado" (Mc 2, 27). Por outras palavras, o sábado não tem valor em si mesmo, por ser de alguma forma um tempo "sagrado", mas sim porque responde a uma necessidade humana.

Enquanto os sacerdotes do Antigo Testamento tinham de oferecer frequentemente sacrifícios em momentos sagrados bem específicos, Cristo santificou o tempo na sua totalidade pelo seu sacrifício oferecido de uma vez por todas (Heb 9, 25-28). Com a morte de Jesus, o sábado e todos os tempos sagrados perderam sentido (Gal 4, 8-11). Doravante, todos os dias e todas as horas são boas para rezar e celebrar o culto. O hábito cristão de celebrar a Eucaristia no "primeiro dia da semana", porque Jesus ressuscitou nesse dia (Jo 20, 1), originou a celebração da missa semanal ao domingo. Contudo, o domingo não era um novo Sabat para os cristãos. Foi, mais uma vez, por um retorno infeliz ao pensamento do Antigo Testamento que os cristãos dos séculos seguintes (e particularmente os cristãos das Igrejas protestantes) regressaram a uma observância do domingo decalcada do modelo farisaico.

Depois de termos examinado a atitude de Cristo em relação aos lugares e tempos sagrados, não ficaremos surpreendidos ao depararmos com a mesma atitude em relação ao sacerdócio sagrado. Jesus aboliu o sacerdócio enquanto instituição sagrada. Ele próprio não pertencia ao sacerdócio de Aarão. Como representante de todos os seres humanos, aboliu o sistema que transmitia a dignidade sacerdotal pela filiação carnal. Estabeleceu um novo sacerdócio instituído sobre "o poder de uma vida indestrutível" (Heb 7, 16).

As noções do Antigo Testamento são tão estranhas para Cristo, que nunca o vemos aplicar o termo sacerdote a si próprio ou aos seus discípulos. De facto, é só na Epístola aos Hebreus que o "sacerdócio" de Cristo é discutido em termos estritos e comparado ao sacerdócio do Antigo Testamento (ver em particular Heb 5, 1-4; 7, 26-28). É certo que Cristo confiou uma tarefa específica aos seus apóstolos e aos seus sucessores, mas nunca aceitaria que esse ministério fosse considerado como missão específica de um novo grupo de ministros sagrados distintos da população restante, como acontecia na época do Antigo Testamento. As evoluções ulteriores da Igreja que favoreceram essa separação/distinção (com vestuário "sagrado", dignidades eclesiásticas e prerrogativas específicas desse estatuto) tê-lo-iam, certamente, preocupado e entristecido profundamente.

Jesus instituiu um sacerdócio cuja dignidade fundamental todos os baptizados partilham.
Cristo exerceu o seu sacerdócio pregando e oferecendo-se a si próprio no Calvário. Para continuar estes dois ministérios, cada discípulo(a) tem de carregar a sua cruz (Mt 6, 24); tem de o testemunhar mesmo sob ameaça de perseguição ou de morte (Mt 10, 16-22). Todos os cristãos partilham, pois, o sacerdócio soberano de Cristo (1 Pe 2, 5-9). Todos podem ser chamados "sacerdotes para Deus seu Pai" (Ap 1, 6), "sacerdotes de Deus e de Cristo" (Ap 20, 6). Todos juntos formam "um reino e sacerdotes para o nosso Deus" (Ap 5, 10).

Este sacerdócio comum é dado pelo sacramento do baptismo. Saliente-se que este baptismo é exactamente o mesmo para todos. Não há absolutamente nenhuma diferença entre o baptismo de mulheres e de homens. S. Paulo afirma que o baptismo de Cristo transcende e apaga todas as diferenças sociais da humanidade. "Porque todos vós sois filhos de Deus, mediante a fé em Jesus Cristo; pois todos os que fostes baptizados em Cristo, vos revestistes de Cristo. Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem nem mulher, porque todos sois um só em Cristo Jesus" (Gal 3, 26-28).

A ordenação sacerdotal sacramental é um desenvolvimento da partilha profética e sacrificial fundamental que já foi conferida no baptismo. Se bem que o sacerdócio ministerial acrescente uma nova função aos poderes recebidos no baptismo, e por isso seja substancialmente muito mais que o baptismo, contudo o sacerdócio está intrinsecamente ligado ao baptismo.

"Embora se distingam essencialmente e não apenas em grau, o sacerdócio comum dos fiéis e o sacerdócio ministerial ou hierárquico, são ambos ordenados um para o outro, pois ambos participam à sua maneira no único sacerdócio de Cristo".

Vaticano II, Lumen Gentium, n° 10.

Quando o concílio diz que a partilha do sacerdócio de Cristo pelo sacramento da Ordenação é essencialmente diferente, isso significa que o baptismo por si mesmo não confia a missão de pregar, de dirigir e de oferecer o sacrifício em nome de Cristo. Não quer dizer que pela Ordenação sacramental uma série de valores diferentes e discriminatórios passe a ser admissível e louvável.

Quaisquer que sejam as condições requeridas para a ordenação sacerdotal, nunca esta pode ser considerada uma realidade "sagrada" que tornaria uma pessoa intrinsecamente superior a outra. O Vaticano II é claro neste ponto:

"A dignidade dos membros é comum a todos pela sua regeneração em Cristo; é comum a graça de filhos, comum a vocação à perfeição, a salvação é única, única a esperança e indivisa a caridade. Em Cristo e na Igreja não existe, pois, desigualdade alguma devida à raça , à nacionalidade, à condição social ou ao sexo. Embora alguns, por vontade de Cristo, sejam doutores, dispensadores dos mistérios e pastores, existe, contudo, uma verdadeira igualdade entre todos, no que se refere à dignidade e à acção comum de todos os fiéis na edificação do Corpo de Cristo".

Vaticano II, Lumen Gentium, n° 32.

Mas se o sexo não pode ser um factor de exclusão como realidade "sagrada" ou como consequência de uma desigualdade pré-baptismal, como pode então ter consequências ao nível do signo sacramental?

Conclusão
As Escrituras não permitem inferir que a diferença de sexo tenha significado no sacerdócio de Cristo. Cristo substituiu um sacerdócio baseado no sagrado por um sacerdócio repousando na graça. Seria ilógico concluir que as desigualdades extintas pelo baptismo fossem ressurgir no sacerdócio sacramental. Se cada cristão resplandece Cristo na sua vida, não parece haver qualquer razão para que não possam todos ser mandatados para o representar na Eucaristia.

O signo sacramental do sacerdócio é a personalidade humana do sacerdote ordenado, seja homem ou mulher. As Escrituras não dizem explicitamente que as mulheres podem ser ordenadas. Mas parece ser uma conclusão lógica da natureza do sacerdócio de Cristo que as mulheres possam e devam participar do sacerdócio sacramental.

Extracto de "Did Christ Rule out Women Priests?" ["Deus excluiu as mulheres sacerdotes?] por John Wijngaards, McCrimmon's, Great Wakering, 1986, pp. 64-68.

Re: Feminismo e cristianismo
Escrito por: ana (IP registado)
Data: 13 de February de 2003 18:25





Argumentos teológicos contra a ordenação das mulheres:

A - A história teológica da expressão ‘agir na pessoa de Cristo’.

1 - As concepções biológicas antigas que conduziram os Padres da Igreja e os teólogos medievais a pensar que as mulheres não podiam agir na pessoa de Cristo.

2 - O sacerdote age ‘na pessoa de Cristo’. Dado que Cristo era um homem, só um sacerdote do sexo masculino pode representar Cristo na Eucaristia.

Argumentos teológicos opostos;

1 - O sacerdote não representa a masculinidade de Cristo mas sim o seu papel de mediador. Este pode e deve ser também representado por mulheres sacerdotes.
. Porque mulheres e homens são iguais em Cristo;
. As mulheres são também imagem de Cristo;
. As mulheres agem já como um ‘outro Cristo’ quando ministram o baptismo e presidem ao casamento;
. As mulheres podem também representar o amor de Cristo que é a essência do seu sacerdócio.

Argumentos teológicos contra a ordenação das mulheres

B - No simbolismo da salvação, Cristo é o Esposo e a Igreja a Esposa. No ministério sacerdotal deve, pois, ser um homem a representar Cristo.


Argumentos teológicos opostos.

B - A acção do sacerdote em nome da Igreja é de importância menor.
A imagem do mistério nupcial não se aplica ao ministério sacerdotal. Quando essas alusões são feitas na liturgia, o simbolismo é ambivalente, pois todos os cristãos representam tanto o Esposo como a Esposa.
Além disso, na Eucaristia o sacerdote age não somente ‘na pessoa de Cristo’ mas também ‘na pessoa da Igreja’


Argumentos teológicos contra a ordenação das mulheres

C- Os direitos humanos, tais como a igualdade de homens e mulheres, não se aplicam aos ministérios.
Texto completo de Roma!

As mulheres que pensam ter vocação sacerdotal não são guiadas pelo Espírito. Porque só a Igreja tem o poder de decidir quem é chamado e quem não é.

Argumentos teológicos opostos

C - Embora ninguém tenha o direito de ser ordenado, excluir do ministério sacerdotal toda uma categoria de baptizados, constitui uma verdadeira discriminação, tanto mais que não existe nenhum argumento válido que o justifique, nem nas Escrituras nem na Tradição.

O facto de outras Igrejas cristãs ordenarem mulheres assim como o facto de certas mulheres católicas se sentirem chamadas ao ministério sacerdotal, são sinais evidentes do Espírito Santo que a Igreja não pode ignorar.


Conclusão: não existem argumentos teológicos válidos que proíbam a ordenação das mulheres.

Re: Feminismo e cristianismo
Escrito por: ana (IP registado)
Data: 13 de February de 2003 18:26

Los Derechos Humanos y la Ordenación de las Mujeres


La exclusión de las mujeres al sacerdocio católico es vista cada vez más como un acto de discriminación a pesar de las declaraciones opuestas de Roma.
Las últimas décadas han visto un fenómeno creciente de sensibilidad a nivel internacional con respecto a los derechos de las mujeres y la necesidad de reparar las injusticias cometidas en el pasado. El Reino Unido aprobó la Ley de Discriminación Sexual en 1975.
La Comunidad Económica Europea aprobó una ley en 1976 que incluía el principio de igualdad de trato para hombres y mujeres. El 18 de Diciembre de 1979 la Asamblea General de las Naciones Unidas refrendó una Convención Internacional sobre la eliminación de toda forma de discriminación contra las mujeres. Esto ha sido ahora ratificado y aprobado como ley en la mayoría de las naciones miembro. Ante cualquier excusa o laguna jurídica que los tradicionalistas puedan alegar en contra, un sacerdocio exclusivamente masculino sonará en el futuro a anacronismo discriminatorio.

Esto se ha dicho repetidamente a Roma. El caso más célebre fue la intervención de la Hermana Theresa Kane a Juan Pablo II en Octubre de 1979. Como presidenta de la Conferencia Directiva de Mujeres Religiosas, ella se dirigió al Santo Padre durante su visita a Washington con las siguientes palabras:

‘Como mujeres, hemos oído los poderosos mensajes de nuestra Iglesia que declara como algo importante la dignidad y el respeto para todas las personas. Como mujeres, hemos considerado estas palabras y nuestra reflexión nos lleva a plantear que la Iglesia, en su lucha por ser fiel a la llamada al respeto y dignidad hacia todas las personas, debe responder dando la posibilidad a las mujeres de ser incluidas en todos los ministerios de nuestra Iglesia’. Origins 18 de Octubre de 1979, p. 285.

El Papa rechazó entrar en el diálogo. Incluso en los años siguientes la Hermana Kane intentó varias veces conseguir una entrevista con el Santo Padre y no pudo. La versión Vaticana del hecho fue que ella había sobrepasado sus límites. Pero la enorme publicidad dada al acontecimineto por los medios de comunicación mundiales y el gran apoyo que recibió, muestran que ella había expresado algo que muchas mujeres católicas sienten: ‘la Iglesia nos trata injustamente’.

Cuando escribí ¿Cristo dictaminó sobre el Sacerdocio de las Mujeres? en 1976, reflexioné sobre la cuestión de la igualdad de los derechos. Decidí no entrar en esa discusión. Quería que Roma se encontrara en su propio campo teológico. También me di cuenta que no era fácil asociar ordenación y derechos. Pensé y todavía pienso que una persona debe ser llamada al ministerio - una llamada que es hecha por la comunidad, la Iglesia. Nadie puede reclamar el ‘derecho’ a ser ordenado, aunque también se pueden entender los ‘derechos’ desde otro punto de vista.

Hay una cuestión importante y es que ningún individuo tiene derecho a ser ordenado, pero menos se debe rechazar la ordenación porque él o ella pertenezcan a un grupo particular, clase o nación. ¿No deberíamos hablar de discriminación si todos los chinos, los mejicanos o los neocelandeses fueran excluidos del ministerio del sacerdocio simplemente porque pertenecen a esas naciones?. Excluir a las mujeres por el hecho de ser tales es un acto similar de discriminación.

Una Comisión Especial de la Sociedad Teológica Católica de América, en su informe sobre ‘La Tradición y la Ordenación de las Mujeres’, menciona otra razón importante de la teología moral: la prohibición a las mujeres ‘no tiene sentido’.

“El argumento de ley divina, de que ‘Cristo estableció las cosas de este modo’ (Ordinatio Sacerdotalis § 2), no es suficiente para satisfacer cuestiones de discriminación injusta. Esto no se debe tanto a la fragilidad de la escritura o a las justificaciones históricas para este argumento, cuanto a la falta de exigencias por parte de la tradicional teología moral Católica. Así pues, la tradición moral Católica ha insistido constantemente en la creencia de que la voluntad divina no es arbitraria, y que las normas morales deben por tanto tener “pleno sentido”. No basta entonces con decir simplemente: ‘Esta es la ley”. Dios no sólo pide que obedezcamos sino también y en cierto modo que comprendamos.”

El Informe ‘Tradición y la Ordenación de las Mujeres’ fue refrendado por la Sociedad Teológica Católica de América el 6 de Junio de 1997.

Pretender que no haya discriminación ‘porque era la voluntad de Cristo’, no hace más que echar la culpa a Cristo. El es entonces presentado como uno de los peores discriminadores en la historia del mundo -uno de los peores, puesto que discrimina a muchas personas y les priva de tales valores profundamente espirituales. Está claro en todo esto por la evidencia presentada en está página que esta reclamación sería absurda. No es Cristo quien ha impedido a las mujeres ejercer el ministerio de su poder salvífico.

Leer también:

Marie-Thérèse Van Lunen Chénu and Louise Wentholt, ‘El Estado de las Mujeres en el Código de Derecho Canónico y en la Convención de las Naciones Unidas’,Praxis jurídica y religión 1 (1984) pp. 7-18.
Marie-Thérèse Van Lunen Chénu, “Los Derechos Humanos en la Iglesia: ¿Un derecho que no es para las mujeres?” en Derechos Humanos. La contribución Cristiana,Julio de 1998.

Re: Feminismo e cristianismo
Escrito por: ana (IP registado)
Data: 13 de February de 2003 18:36

Carta às mulheres


CARTA DO PAPA JOÃO PAULO II ÀS MULHERES


A vós, mulheres do mundo inteiro, a minha mais cordial saudação!



1. A cada uma de vós dirijo esta Carta, sob o signo da solidariedade e da gratidão, ao aproximar-se a IV Conferência Mundial sobre a Mulher, que terá lugar em Pequim no próximo mês de Setembro. Antes de mais, desejo exprimir o meu vivo apreço à Organização das Nações Unidas, que promoveu uma iniciativa de tamanha importância. Também a Igreja se propõe oferecer a sua contribuição para a defesa da dignidade, do papel e dos direitos das mulheres, não só através da específica colaboração da Delegação oficial da Santa Sé nos trabalhos de Pequim, como também falando directamente ao coração e à mente de todas as mulheres.


Recentemente, por ocasião da visita que a Senhora Gertrudes Mongella, Secretária Geral da Conferência, me fez tendo em vista precisamente tão significativo encontro, quis entregar-lhe uma Mensagem, na qual estão recolhidos alguns pontos fundamentais do ensinamento da Igreja a este respeito. É uma mensagem que, para além da específica circunstância que a inspirou, se abre para a perspectiva mais ampla da realidade e dos problemas das mulheres no seu conjunto, pondo-se ao serviço da sua causa na Igreja e no mundo contemporâneo.


Por isso, dei instruções para que fosse transmitida a todas as Conferências Episcopais, para garantir a sua máxima difusão.


Retomando quanto escrevi em tal documento, gostaria agora de me dirigir directamente a cada mulher, para reflectir com ela sobre os problemas e perspectivas da condição feminina no nosso tempo, detendo-me em particular sobre o tema essencial da dignidade e dos direitos das mulheres, considerados à luz da Palavra de Deus.
O ponto de partida deste diálogo ideal não pode ser senão um obrigado. A Igreja escrevia na Carta apostólica Mulieris dignitatem « deseja render graças à Santíssima Trindade pelo "mistério da mulher" por toda a mulher e por aquilo que constitui a eterna medida da sua dignidade feminina, pelas "grandes obras de Deus" que, na história das gerações humanas, nela e por seu meio se realizaram » (n. 31).


2. O obrigado ao Senhor pelo seu desígnio sobre a vocação e a missão da mulher no mundo, torna-se também um concreto e directo obrigado às mulheres, a cada mulher, por aquilo que ela representa na vida da humanidade. Obrigado a ti, mulher-mãe, que te fazes ventre do ser humano na alegria e no sofrimento de uma experiência única, que te torna o sorriso de Deus pela criatura que é dada à luz, que te faz guia dos seus primeiros passos, amparo do seu crescimento, ponto de referência por todo o caminho da vida.


Obrigado a ti, mulher-esposa, que unes irrevogavelmente o teu destino ao de um homem, numa relação de recíproco dom, ao serviço da comunhão e da vida.


Obrigado a ti, mulher-filha e mulher-irmã, que levas ao núcleo familiar, e depois à inteira vida social, as riquezas da tua sensibilidade, da tua intuição, da tua generosidade e da tua constância.


Obrigado a ti, mulher-trabalhadora, empenhada em todos os âmbitos da vida social, económica, cultural, artística, política, pela contribuição indispensável que dás à elaboração de uma cultura capaz de conjugar razão e sentimento, a uma concepção da vida sempre aberta ao sentido do « mistério », à edificação de estruturas económicas e políticas mais ricas de humanidade.


Obrigado a ti, mulher-consagrada, que, a exemplo da maior de todas as mulheres, a Mãe de Cristo, Verbo Encarnado, te abres com docilidade e fidelidade ao amor de Deus, ajudando a Igreja e a humanidade inteira a viver para com Deus uma resposta « esponsal », que exprime maravilhosamente a comunhão que Ele quer estabelecer com a sua criatura.


Obrigado a ti, mulher, pelo simples facto de seres mulher! Com a percepção que é própria da tua feminilidade, enriqueces a compreensão do mundo e contribuis para a verdade plena das relações humanas.



3. Mas agradecer não basta, já sei. Infelizmente, somos herdeiros de uma história com imensos condicionalismos que, em todos os tempos e latitudes, tornaram difícil o caminho da mulher, ignorada na sua dignidade, deturpada nas suas prerrogativas, não raro marginalizada e, até mesmo, reduzida à escravidão. Isto impediu-a de ser profundamente ela mesma, e empobreceu a humanidade inteira de autênticas riquezas espirituais.


Não seria certamente fácil atribuir precisas responsabilidades, atendendo à força das sedimentações culturais que, ao longo dos séculos, plasmaram mentalidades e instituições. Mas, se nisto tiveram responsabilidades objectivas, mesmo não poucos filhos da Igreja, especialmente em determinados contextos históricos, lamento-o sinceramente. Que este pesar se traduza, para toda a Igreja, num compromisso de renovada fidelidade à inspiração evangélica que, precisamente no tema da libertação das mulheres de toda a forma de abuso e de domínio, tem uma mensagem de perene actualidade, que brota da atitude mesma de Cristo.


Ele, superando as normas em vigor na cultura do seu tempo, teve para com as mulheres uma atitude de abertura, de respeito, de acolhimento, de ternura. Honrava assim, na mulher, a dignidade que ela sempre teve no projecto e no amor de Deus. Ao fixar o olhar n'Ele, no final deste segundo milénio, vem-nos espontaneamente a pergunta: em que medida a sua mensagem foi recebida e posta em prática? Sim, é tempo de olhar, com a coragem da memória e o sincero reconhecimento das responsabilidades, a longa história da humanidade, para a qual as mulheres deram uma contribuição não inferior à dos homens, e a maior parte das vezes em condições muito mais desfavoráveis.


Penso, de modo especial, nas mulheres que amaram a cultura e a arte, e às mesmas se dedicaram partindo de condições desvantajosas, excluídas frequentemente de uma educação paritária, submetidas à inferiorização, ao anonimato e até mesmo à expropriação da sua contribuição intelectual. Infelizmente, da obra imensa das mulheres na história, bem pouco restou de significativo com os métodos da historiografia científica. Mas, por sorte, se o tempo sepultou os seus vestígios documentais, não é possível não perceber os seus influxos benfazejos na seiva vital que impregna o ser das gerações, que se foram sucedendo até à nossa.


Relativamente a esta grande, imensa «tradição» feminina, a humanidade tem uma dívida incalculável. Quantas mulheres foram e continuam ainda a ser valorizadas mais pelo aspecto físico que pela competência, pela profissionalidade, pelas obras da inteligência, pela riqueza da sua sensibilidade e, em última análise, pela própria dignidade do seu ser!



4. Que dizer também dos obstáculos que, em tantas partes do mundo, impedem ainda às mulheres a sua plena inserção na vida social, política e económica? Basta pensar como, com frequência, é mais penalizado que gratificado o dom da maternidade, à qual, todavia, a humanidade deve a sua própria sobrevivência. Certamente, resta ainda muito a fazer para que o ser mulher e mãe não comporte discriminação.


Urge conseguir onde quer que seja a igualdade efectiva dos direitos da pessoa e, portanto, idêntica retribuição salarial por categoria de trabalho, tutela da mãe-trabalhadora, justa promoção na carreira, igualdade entre cônjuges no direito de família, o reconhecimento de tudo quanto está ligado aos direitos e aos deveres do cidadão num regime democrático. Trata-se não só de um acto de justiça, mas também de uma necessidade.


Na política do futuro, os graves problemas em aberto verão sempre mais envolvida a mulher: tempo livre, qualidade da vida, migrações, serviços sociais, eutanásia, droga, saúde e assistência, ecologia, etc. Em todos estes campos, se revelará preciosa uma maior presença social da mulher, porque contribuirá para fazer manifestar as contradições de uma sociedade organizada sobre critérios de eficiência e produtividade, e obrigará a reformular os sistemas a bem dos processos de humanização que delineiam a «civilização do amor».



5. Pensando, depois, a um dos aspectos mais delicados da situação feminina no mundo, como não lembrar a longa e humilhante história com frequência, « subterrânea » de abusos perpetrados contra as mulheres no campo da sexualidade? No limiar do terceiro milénio, não podemos permanecer impassíveis e resignados diante deste fenómeno. Está na hora de condenar vigorosamente, dando vida a apropriados instrumentos legislativos de defesa, as formas de violência sexual, que não raro têm a mulher por objecto.


Mais, em nome do respeito pela pessoa, não podemos não denunciar a difusa cultura hedonista e mercantilista que promove a exploração sistemática da sexualidade, levando mesmo meninas de menor idade a cair no circuito da corrupção e a permitir comercializar o próprio corpo.


Por outro lado, diante de tais perversões, quanto louvor merecem as mulheres que, com amor heróico pela sua criatura, carregam uma gravidez devida à injustiça de relações sexuais impostas pela força; e isto não só no quadro das atrocidades que, infelizmente, se verificam nos contextos de guerras, ainda tão frequentes no mundo, mas também nas situações de bem-estar e de paz, não raro viciadas por uma cultura de permissivismo hedonista, na qual prosperam facilmente também tendências de machismo agressivo. Nestas condições, a escolha do aborto, que permanece sempre um pecado grave, antes de ser uma responsabilidade atribuível à mulher, é um crime que deve ser imputado ao homem e à cumplicidade do ambiente circundante.



6. Assim, o meu «obrigado» às mulheres converte-se num premente apelo a que, da parte de todos, particularmente dos Estados e das Instituições Internacionais, se faça o que for preciso para devolver à mulher o pleno respeito da sua dignidade e do seu papel. A este respeito, não posso deixar de manifestar a minha admiração pelas mulheres de boa vontade que se dedicaram a defender a dignidade da condição feminina, através da conquista de direitos fundamentais sociais, económicos e políticos, e assumiram corajosamente tal iniciativa em épocas em que este seu empenho era considerado um acto de transgressão, um sinal de falta de feminilidade, uma manifestação de exibicionismo, e talvez um pecado!


Como escrevi na Mensagem para o Dia Mundial da Paz deste ano, ao contemplar este grande processo de libertação da mulher, pode-se dizer que «foi um caminho difícil e complexo e, por vezes, não isento de erros, mas substancialmente positivo, apesar de ainda incompleto devido a tantos obstáculos que, em diversas partes do mundo, se interpõem não deixando que a mulher seja reconhecida, respeitada, valorizada na sua peculiar dignidade» (n. 4). É preciso continuar neste caminho! Estou convencido, porém, que o segredo para percorrer diligentemente a estrada do pleno respeito da identidade feminina não passa só pela denúncia, apesar de necessária, das discriminações e das injustiças, mas também, e sobretudo, por um eficaz e claro projecto de promoção, que englobe todos os âmbitos da vida feminina, a partir de umarenovada e universal tomada de consciência da dignidade da mulher.


Ao reconhecimento desta, não obstante os múltiplos condicionalismos históricos, leva-nos a própria razão, que capta a lei de Deus inscrita no coração de cada homem. Mas é sobretudo a Palavra de Deus, que nos permite identificar com clareza o radical fundamento antropológico da dignidade da mulher, apontando-o no desígnio de Deus sobre a humanidade.



7. Permiti-me, pois, caríssimas irmãs, que juntamente convosco, medite uma vez mais aquela página bíblica maravilhosa que mostra a criação do homem, e na qual se exprime bem a vossa dignidade e missão no mundo. O Livro do Génesis fala da criação, de modo sintético e com linguagem poética e simbólica, mas profundamente verdadeira: «Deus criou o homem à sua imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele os criou varão e mulher» (Gn 1, 27). O acto criador de Deus desenvolve-se segundo um preciso projecto. Antes de mais, diz que o homem é criado «à imagem e semelhança de Deus» (cf. Gn 1, 26), expressão que esclarece logo a peculiaridade do homem no conjunto da obra da criação.


Depois, diz que ele, desde o início, é criado como «varão e mulher» (Gn 1, 27). A mesma Sagrada Escritura fornece a interpretação deste dado: o homem, mesmo encontrando-se rodeado pelas inumeráveis criaturas do mundo visível, dá-se conta de estar só (cf. Gn 2, 20). Deus intervém para fazê-lo sair desta situação de solidão: «Não é conveniente que o homem esteja só; vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele» (Gn 2, 18).


Portanto, na criação da mulher está inscrito, desde o início, o princípio do auxílio: auxílio note-se não unilateral, mas recíproco. A mulher é o complemento do homem, como o homem é o complemento da mulher: mulher e homem são entre si complementares. A feminilidade realiza o «humano» tanto como a masculinidade, mas com uma modulação distinta e complementar.


Quando o Génesis fala de «auxiliar», não se refere só ao âmbito do agir, mas também do ser. Feminilidade e masculinidade são entre si complementares, não só do ponto de vista físico e psíquico, mas também ontológico. Só mediante a duplicidade do «masculino» e do «feminino», é que o «humano» se realiza plenamente.



8. Depois de criar o homem, varão e mulher, Deus diz a ambos: «Enchei e dominai a terra» (Gn 1, 28). Não lhes confere só o poder de procriar para perpetuar no tempo o género humano, masconfia-lhes também a terra como tarefa, comprometendo-os a administrar os seus recursos com responsabilidade. O homem, ser livre e racional, é chamado a transformar a face da terra. Nesta tarefa, que é essencialmente a obra da cultura, tanto o homem como a mulher têm, desde o início, igual responsabilidade.


Na sua reciprocidade esponsal e fecunda, na sua tarefa comum de dominar e submeter a terra, a mulher e o homem não reflectem uma igualdade estática e niveladora, mas tampouco comportam uma diferença abissal e inexoravelmente conflituosa: a sua relação mais natural, conforme ao desígnio de Deus, é a «unidade dos dois», ou seja, uma «unidualidade» relacional, que permite a cada um de sentir a relação interpessoal e recíproca como um dom enriquecedor e responsabilizador. A esta «unidade dos dois», está confiada por Deus não só a obra da procriação e a vida da família, mas a construção mesma da história.


Se durante o Ano Internacional da Família, celebrado em 1994, a atenção se concentrou sobre a mulher como mãe, a Conferência de Pequim torna-se ocasião propícia para uma nova tomada de consciência da múltipla contribuição que a mulher oferece à vida inteira das sociedades e nações. É uma contribuição, inicialmente de natureza espiritual e cultural, mas também sócio-política e económica. Devem realmente muito ao subsídio da mulher, os vários sectores da sociedade, os Estados, as culturas nacionais, e, em última análise, o progresso de todo o género humano!




9. Normalmente, o progresso é avaliado segundo categorias técnicas e científicas; ora, até sob este ponto de vista, não falta a contribuição da mulher. Mas, essas não são as únicas dimensões do progresso, antes, não são sequer as principais. Mais importante ainda é a dimensão ético-social, que diz respeito às relações humanas e aos valores do espírito: e, nesta dimensão, frequentemente desenvolvida sem alarde, a partir das relações quotidianas entre as pessoas, especialmente dentro da família, a sociedade é em larga medida devedora, precisamente ao «génio da mulher».


A este respeito, gostaria de manifestar particular gratidão às mulheres empenhadas nos mais distintos sectores da actividade educativa, para além da família: infantários, escolas, universidades, instituições de assistência, paróquias, associações e movimentos. Onde quer que se revele necessário um trabalho de formação, pode-se constatar a imensa disponibilidade das mulheres a dedicarem-se às relações humanas, especialmente em prol dos mais débeis e indefesos.
Nesse trabalho, elas realizam uma forma de maternidade afectiva, cultural e espiritual, de valor realmente inestimável, pela incidência que tem no desenvolvimento da pessoa e no futuro da sociedade. E como não lembrar aqui o testemunho de tantas mulheres católicas e de tantas Congregações religiosas femininas, que, nos vários continentes, fizeram da educação, especialmente dos meninos e meninas, o seu principal serviço?


Como não pensar com espírito de gratidão em todas as mulheres que operaram, e continuam a fazê-lo, no campo da saúde, não só no âmbito das instituições sanitárias bem organizadas, mas, com frequência, em circunstâncias muito precárias, nos países mais pobres do mundo, dando um testemunho de disponibilidade que toca não raro o martírio?



10. Faço votos pois, caríssimas irmãs, que se reflicta com particular atenção sobre o tema do «génio da mulher», não só para nele reconhecer os traços de um preciso desígnio de Deus, que há-de ser acolhido e honrado, mas também para lhe dar mais espaço no conjunto da vida social, bem como da vida eclesial.


Precisamente sobre este tema, de resto já considerado por ocasião do Ano Mariano, pude deter-me amplamente na mencionada Carta apostólica Mulieris dignitatem, publicada em 1988. Além disso, este ano, por ocasião da Quinta-Feira Santa, quis unir idealmente a Mulieris dignitatem à habitual Carta que envio aos sacerdotes convidando-os a reflectirem sobre o significativo papel que na sua vida desempenha a mulher como mãe, como irmã e como colaboradora nas obras de apostolado.


Esta é outra dimensão distinta da conjugal, mas importante também daquele «auxílio» que a mulher, segun do o Génesis, é chamada a prestar ao homem. A Igreja vê, em Maria, a máxima expressão do «génio feminino» e encontra n'Ela uma fonte incessante de inspiração. Maria definiu-Se «serva do Senhor» (cf. Lc 1, 38). É por obediência à Palavra de Deus que Ela acolheu a sua vocação privilegiada, mas nada fácil, de esposa e mãe da família de Nazaré. Pondo-Se ao serviço de Deus, Ela colocou-Se também ao serviço dos homens: um serviço de amor. Este mesmo serviço permitiu-Lhe realizar na sua vida a experiência de um misterioso, mas autêntico «reinar».


Não é por acaso que é invocada como «Rainha do céu e da terra». Assim a invoca toda a comunidade dos crentes; invocam-na como «Rainha» muitas nações e povos. O seu «reinar» é servir! O seu servir é «reinar»! Assim deveria ser entendida a autoridade, tanto na família, como na sociedade e na Igreja. O «reinar» é revelação da vocação fundamental do ser humano, enquanto criado à «imagem» d'Aquele que é Senhor do céu e da terra, e chamado a ser em Cristo seu filho adoptivo.


O homem é a única criatura sobre a terra «a ser querida por Deus por si mesma», como ensina o Concílio Vaticano II, o qual, de modo significativo, acrescenta que o homem «não se pode encontrar plenamente a não ser no sincero dom de si mesmo» (Gaudium et spes, 24). Nisto consiste o materno «reinar» de Maria. Tendo-Se feito, com todo o seu ser, dom para o seu Filho, Ela veio a tornar-Se também dom para os filhos e filhas de todo o género humano, gerando uma profundíssima confiança em quem a Ela recorre para ser guiado pelos caminhos difíceis da vida até ao próprio destino definitivo e transcendente.


Cada um chega através das etapas da própria vocação a esta meta final, uma meta que orienta o empenho na história tanto do homem como da mulher.



11. Neste horizonte de «serviço» que, se prestado com liberdade, reciprocidade e amor, exprime a verdadeira «realeza» do ser humano é possível acolher também, sem consequências desfavoráveis para a mulher, uma certa diversidade de papéis, na medida em que tal diversidade não é fruto de arbitrária imposição, mas brota da peculiaridade do ser masculino e feminino.


É um tema que tem a sua específica aplicação, mesmo no seio da Igreja. Se Cristo por escolha livre e soberana, bem testemunhada no Evangelho e na constante tradição eclesial confiou somente aos homens a tarefa de ser «ícone» da sua imagem de «pastor» e «esposo» da Igreja através do exercício do sacerdócio ministerial, isto em nada diminui o papel da mulher, como afinal sucede com os outros membros da Igreja não investidos do sagrado ministério, já que todos são igualmente dotados da dignidade própria do «sacerdócio comum», radicado no Baptismo.


Tais distinções de papéis, com efeito, não devem ser interpretadas à luz dos cânones em uso nas sociedades humanas, mas com os critérios específicos da economia sacramental, ou seja, daquela economia de «sinais» livremente escolhidos por Deus para Se fazer presente no meio dos homens. De resto, precisamente na linha desta economia de sinais, mesmo se fora do âmbito sacramental, não é de pouca importância a «feminilidade» vivida segundo o sublime modelo de Maria.
Há, de facto, na «feminilidade» da mulher crente, e especialmente da mulher «consagrada», uma espécie de «profecia» imanente (cf. Mulieris dignitatem, 29), um simbolismo fortemente evocador, dir-se-ia uma sugestiva «iconicidade», que se realiza plenamente em Maria e exprime bem o ser mesmo da Igreja, enquanto comunidade consagrada com a dimensão de absoluto de um coração «virgem», para ser «esposa» de Cristo e «mãe» dos crentes.


Nesta perspectiva de complementaridade «icónica» dos papéis masculino e feminino, ficam mais em evidência duas dimensões imprescindíveis da Igreja: o princípio «mariano», e o princípio «apostólico-petrino» (cf. ibid., 27).
Por outro lado lembrei-o aos sacerdotes na mencionada Carta da Quinta-Feira Santa deste ano , o sacerdócio ministerial, no desígnio de Cristo, «não é expressão de domínio, mas de serviço» (n. 7). É tarefa urgente da Igreja, na sua renovação quotidiana à luz da Palavra de Deus, pô-lo sempre mais em evidência, quer no desenvolvimento do espírito de comunhão e na promoção atenta de todos os instrumentos tipicamente eclesiais da participação, quer através do respeito e valorização dos inúmeros carismas pessoais e comunitários, que o Espírito de Deus suscita para edificação da comunidade cristã e serviço dos homens.


Neste amplo espaço de serviço, a história da Igreja nestes dois milénios, apesar de tantos condicionalismos, conheceu realmente o «génio da mulher», tendo visto surgir no seu seio mulheres de primária grandeza, que deixaram amplos e benéficos vestígios de si no tempo. Penso na longa série de mártires, de santas, de místicas insignes. Penso, de modo especial, em Santa Catarina de Sena e em Santa Teresa de Ávila, a quem o Papa Paulo VI, de venerável memória, conferiu o título de Doutora da Igreja.


E como não lembrar também tantas mulheres que, impelidas pela fé, deram vida a iniciativas de extraordinário relevo social, especialmente ao serviço dos mais pobres? O futuro da Igreja, no terceiro milénio, não deixará certamente de registar novas e esplêndidas manifestações do «génio feminino».



12. Vede, portanto, caríssimas irmãs, quantos motivos tem a Igreja para desejar que, na próxima Conferência, promovida em Pequim pelas Nações Unidas, se ponha em evidência a verdade plena sobre a mulher. Seja colocado realmente em devido relevo o «génio da mulher», tendo em conta não somente as mulheres grandes e famosas, do passado ou nossas contemporâneas, mas também as mulheres simples, que exprimem o seu talento feminino com o serviço aos outros na normalidade do quotidiano.


De facto, é no doar-se aos outros na vida de cada dia, que a mulher encontra a profunda vocação da própria vida, ela que talvez mais que o próprio homem vê o homem, porque o vê com o coração. Vê-o independentemente dos vários sistemas ideológicos e políticos. Vê-o na sua grandeza e nos seus limites, procurando ir ao seu encontro e ser-lhe de auxílio. Deste modo, realiza-se na história da humanidade o fundamental desígnio do Criador e aparece à luz incessantemente, na variedade das vocações, a beleza não só física, mas sobretudo espiritual que Deus prodigalizou desde o início à criatura humana e especialmente à mulher.


Ao mesmo tempo que, na minha oração, confio ao Senhor o bom êxito do importante encontro de Pequim, convido as comunidades eclesiais a fazer do ano em curso ocasião para uma profunda acção de graças ao Criador e ao Redentor do mundo precisamente pelo dom de um bem tão grande como é o da feminilidade: esta, nas suas múltiplas expressões, pertence ao património constitutivo da humanidade e da mesma Igreja.


Que Maria, Rainha do amor, vele pelas mulheres e pela sua missão ao serviço da humanidade, da paz, da difusão do Reino de Deus!



Com a minha Bênção Apostólica. Vaticano, 29 de Junho de 1995, solenidade dos Apóstolos S. Pedro e S. Paulo.

Re: Feminismo e cristianismo
Escrito por: ana (IP registado)
Data: 13 de February de 2003 18:37

"Que dizer também dos obstáculos que, em tantas partes do mundo, impedem ainda às mulheres a sua plena inserção na vida social, política e económica? Basta pensar como, com frequência, é mais penalizado que gratificado o dom da maternidade, à qual, todavia, a humanidade deve a sua própria sobrevivência. Certamente, resta ainda muito a fazer para que o ser mulher e mãe não comporte discriminação.


Urge conseguir onde quer que seja a igualdade efectiva dos direitos da pessoa e, portanto, idêntica retribuição salarial por categoria de trabalho, tutela da mãe-trabalhadora, justa promoção na carreira, igualdade entre cônjuges no direito de família, o reconhecimento de tudo quanto está ligado aos direitos e aos deveres do cidadão num regime democrático. Trata-se não só de um acto de justiça, mas também de uma necessidade.


Na política do futuro, os graves problemas em aberto verão sempre mais envolvida a mulher: tempo livre, qualidade da vida, migrações, serviços sociais, eutanásia, droga, saúde e assistência, ecologia, etc. Em todos estes campos, se revelará preciosa uma maior presença social da mulher, porque contribuirá para fazer manifestar as contradições de uma sociedade organizada sobre critérios de eficiência e produtividade, e obrigará a reformular os sistemas a bem dos processos de humanização que delineiam a «civilização do amor».



5. Pensando, depois, a um dos aspectos mais delicados da situação feminina no mundo, como não lembrar a longa e humilhante história com frequência, « subterrânea » de abusos perpetrados contra as mulheres no campo da sexualidade? No limiar do terceiro milénio, não podemos permanecer impassíveis e resignados diante deste fenómeno. Está na hora de condenar vigorosamente, dando vida a apropriados instrumentos legislativos de defesa, as formas de violência sexual, que não raro têm a mulher por objecto. "

Re: Feminismo e cristianismo
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 14 de February de 2003 20:39


Ana, estás a exagerar absurdamente na afixação de textos!! :o) Ainda, por cima, variando de assuntos... Calma, vamos aos comentários.

Em relação ao que colaste aqui no dia 11/02/03 às 17:29.

E aqui vai um valente brado contra a hipocrisia "feminista".

É PRECISO LEMBRAR QUE A UNFPA É A ORGANIZAÇÃO QUE MAIS PROMOVE E APOIA A CONTRACEPÇÃO E O ABORTO NO MUNDO INTEIRO - QUE RAIO DE HIPOCRISIA QUANDO SE VÊM AFIRMAR EM PROTECTORES E DEFENSORES DA CONDIÇÃO FEMININA!!! NOTE-SE QUE A SUA IDEIA É BAIXAR A TAXA DE NATALIDADE PARA MELHORAR A SITUAÇÃO DAS MULHERES!

Acho isto COMPLETAMENTE INACEITÁVEL!!! Trata-se de uma mentira cruel, uma estupidez contraproducente, e de uma política ideologicamente parcial! Ainda por cima revestida de falsas solidariedades e exigências totalmente demagógicas!!

Gostava também de saber porque é que as suas políticas resultaram na Ásia!! E é caricato que tenham premiado os resultados conquistados no Uganda, que foram atingidos através do apoio à abstinência pré-marital, não com preservativos - isto baixou drasticamente os contágios por SIDA e, como vemos, melhorou significativamente a situação das mulheres!

João

Re: Feminismo e cristianismo
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 14 de February de 2003 20:45


Ana, por favor cita as fontes...

Em relação ao texto que aqui colaste sobre a «Resolução do Parlamento Europeu sobre as Mulheres e o Fundamentalismo» em 12/02/03 às 16:51, faltou-lhe as conclusões, aparentemente.

Quanto à ordenação de mulheres (um feminismo inveterado e tão mal-entendido, reivindicativo e fundamentalista), deixa-me cá ler os textos que já respondo...

Na Carta às Mulheres, que já tinha arquivado para ler, nem me atrevo a tocar-lhe por agora devido à sua extensão.

No entanto, uma advertência: estás a colocar a ordenação de mulheres no mesmo saco de questões ditas "feministas" legítimas e isso é que não pode ser, porque as coisas não são assim.

João

Re: Feminismo e cristianismo
Escrito por: tripeiro (IP registado)
Data: 14 de February de 2003 20:51

AS fontes estão citadas.
Tanta ler, interpretar e digerir os textos, em vez de começares a GRITAR absurdos.

ana

Re: Feminismo e cristianismo
Escrito por: tripeiro (IP registado)
Data: 14 de February de 2003 21:17

Devias ler a carta de João Paulo II ás mulheres, onde o Papa pede perdão pelos crimes paraticados contra as mulhers pela Igreja...
Não queres comentar porque é muito densa e profunda ou porque é muito feminista? Lê:


"Assim, o meu «obrigado» às mulheres converte-se num premente apelo a que, da parte de todos, particularmente dos Estados e das Instituições Internacionais, se faça o que for preciso para devolver à mulher o pleno respeito da sua dignidade e do seu papel. A este respeito, não posso deixar de manifestar a minha admiração pelas mulheres de boa vontade que se dedicaram a defender a dignidade da condição feminina, através da conquista de direitos fundamentais sociais, económicos e políticos, e assumiram corajosamente tal iniciativa em épocas em que este seu empenho era considerado um acto de transgressão, um sinal de falta de feminilidade, uma manifestação de exibicionismo, e talvez um pecado!


Como escrevi na Mensagem para o Dia Mundial da Paz deste ano, ao contemplar este grande processo de libertação da mulher, pode-se dizer que «foi um caminho difícil e complexo e, por vezes, não isento de erros, mas substancialmente positivo, apesar de ainda incompleto devido a tantos obstáculos que, em diversas partes do mundo, se interpõem não deixando que a mulher seja reconhecida, respeitada, valorizada na sua peculiar dignidade» (n. 4). É preciso continuar neste caminho! Estou convencido, porém, que o segredo para percorrer diligentemente a estrada do pleno respeito da identidade feminina não passa só pela denúncia, apesar de necessária, das discriminações e das injustiças, mas também, e sobretudo, por um eficaz e claro projecto de promoção, que englobe todos os âmbitos da vida feminina, a partir de umarenovada e universal tomada de consciência da dignidade da mulher. "

SE fosse eu a escrever isto era logo insultada... Mas e o Papa, acham que é um feminista radical?

Sobre ìntima conexão entre feminsimo ( libertação das Mulheres) e cristianismo, João Paulo II não pode ser mais explícito:

". Que (...) se traduza, para toda a Igreja, num compromisso de renovada fidelidade à inspiração evangélica que, precisamente no tema da libertação das mulheres de toda a forma de abuso e de domínio, tem uma mensagem de perene actualidade, que brota da atitude mesma de Cristo. !"

ana

Re: Feminismo e cristianismo
Escrito por: João Oliveira (IP registado)
Data: 14 de February de 2003 21:59


Em relação ao que comentei, interpretei e digeri-o muito bem. Por isso, gritei, usando de uma forma expressiva que tu muito mais do que eu tens usado!!

Ana, não interpretes mal as palavras do Papa. Ninguém te criticaria por dizeres essas coisas, mas louvariam o teu humanismo, assim como eu o faria.

Olha, vou pegar nesta citação, por exemplo, e aplicá-la aos contraceptivos, que são matéria necessária à maioria dos feminismos ainda actuais.

É preciso libertar as mulheres "de toda a forma de abuso e de domínio" contraceptivo, que nega e desvaloriza a sua feminilidade ao ponto de doença indesejável.

Estou certo que encontrarás eco desta interpretação em variados documentos do Magistério, bem como de testemunhos pessoais de mulheres que deixaram de usar contraceptivos e passaram para os métodos naturais...

João

Re: Feminismo e cristianismo
Escrito por: sofia (IP registado)
Data: 21 de February de 2003 17:37

"É preciso libertar as mulheres "de toda a forma de abuso e de domínio" contraceptivo, que nega e desvaloriza a sua feminilidade ao ponto de doença indesejável."

A contracepção eficaz , se conscientemente usada, é libertadora e libertária...

POr isso perturbe tanto certas mentalidades castradoras...
A liberdade dos outros - se forem MULHERES, é dífícil de suportar.......
A feminilidade não é fertilidade...

Re: Feminismo e cristianismo
Escrito por: Alef (IP registado)
Data: 23 de May de 2003 18:04

Uma notícia do "Expresso Online", de 22 de Maio de 2003:

Papa defende «novo feminismo»


O papa João Paulo II defendeu hoje o nascimento de um «novo feminismo» capaz de evitar «a tentação de correr atrás dos modelos machistas». O papa falava aos responsáveis de uma associação italiana anti-aborto dirigida por Carlo Casini, que foram recebidos ao fim da manhã no Vaticano.

João Paulo II formulou o desejo de que «esse novo feminismo saiba reconhecer e mostrar o verdadeiro génio feminino em todas as manifestações da coexistência civil, lutando para que todas as formas de discriminação, de violência e de exploração sejam superadas».

Por outro lado, pediu à associação para «trabalhar intensamente para convencer todo o mundo, crente e não crente, de que a defesa da vida humana desde a sua concepção é a condição necessária para se construir um futuro digno do Homem».

De acordo com o Santo Padre, «não se pode ter uma paz autêntica sem o respeito pela vida, sobretudo quando se trata de inocentes sem defesa, como as crianças que ainda não nasceram».

«O vosso movimento não é apenas para a vida, é também um movimento para a paz», afirmou.

A associação Movimento Italiano para a Vida foi criada no ano de 1978, na mesma altura em que a interrupção voluntária da gravidez foi legalizada em Itália.

[online.expresso.pt]

Re: Feminismo e cristianismo
Escrito por: Cátia Iris (IP registado)
Data: 23 de May de 2003 19:15

o ké k o papa sabe de mulheres? fale do k sabe pra nao dizer asneiras.

Re: Feminismo e cristianismo
Escrito por: taliban (IP registado)
Data: 24 de May de 2003 00:21

Claro que fala do que não sabe- a demência senil dá nisto. O homem até disse que não existe paz mundial porque as mulheres fazem abortos... Tadito. Deve andar a comer muitos happy meals....
A culpa da guerra é das mulheres que abortam. Não é da indústria de armamento nem da sede imperialista, nem da estupidez dos homens. nada disso.
Desta nem eu me tinha lembrado. ;)

Re: Feminismo e cristianismo
Escrito por: Cátia Iris (IP registado)
Data: 24 de May de 2003 00:46

a kulpa da guerra foi das maes do bush blair e saddam ke dviam ter abortado...

Re: Feminismo e cristianismo
Escrito por: taliban (IP registado)
Data: 24 de May de 2003 10:40

LOLOL bem, isso é inegável. E se a mãe do hitler e de outros tantos ke tal tivessem feito o mesmo , aí sim, era um grande contributo para a Paz Mundial.
Moral da História: Argumentos ridículos dão sempre origem a contraargumentos ridículos.

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