Sol / LusaPor 25 mil euros
Colaborador da mãe do menino azul confessa que a difamou
Um antigo colaborador da mãe do ‘menino azul’, que a acusou de vigarices com fundos recebidos para o filho, confessa que a difamou por 25 mil euros. Helena Silva não lhe perdoa e diz que o falso testemunho quase a matou
A vida da mãe desta criança - que sofre das doenças raras Síndrome de Alagille e Tetratologia de Fallot - mudou completamente no dia 31 de Março deste ano, quando foi primeira página do jornal 24 Horas por ser
«acusada de vigarice».
O jornal escrevia que uma empresa de limpezas, que doou dinheiro para os tratamentos do filho, tinha colocado Helena Silva em tribunal por esta
«não provar que o dinheiro que recebeu» tinha sido empregue na doença do filho.
A notícia incluía o depoimento de um ex-colaborador da mãe do chamado
«menino azul» que a acusava de ser
«uma mulher capaz de grandes vigarices».
Paulo Leal acusou Helena Silva de não gastar os fundos que recebeu nos medicamentos do filho e de esconder o verdadeiro valor dos subsídios que recebia.
Chegou mesmo a acusá-la de nunca ter viajado para os Estados Unidos, país onde Helena Silva disse ter estado com o filho internado.
Questionada pelo jornal, Helena Silva disse na altura que não tinha provas das despesas com o filho nem provas da viagem aos Estados Unidos porque Paulo Leal as tinha roubado.
Hoje, Paulo Leal confessou à Agência Lusa que todas as acusações que proferiu contra a mãe do ‘menino azul’ foram
«falsas» e que visaram
«denegrir» a sua imagem a pedido de uma empresa de limpezas que tem um litígio com Helena Silva e que lhe terá alegadamente pago 25 mil euros pelas acusações.
Paulo Leal, que gozava de uma saída precária durante o cumprimento de uma pena de prisão de dez meses por ter passado um cheque sem cobertura quando, em Março último, proferiu as acusações contra Helena Silva, contou que foi
«fraco» e que agiu
«por dinheiro».
Diz que recebeu 25 mil euros em troca de documentos que tirou à mãe do ‘menino azul’ para esta não os poder apresentar e defender-se das acusações de não empregar os subsídios em cuidados clínicos.
Roubou-lhe ainda o passaporte, pois era a única prova de que tinha estado nos Estados Unidos, prosseguiu.
Paulo Leal afirma-se
«arrependido» e diz que prefere ir novamente preso do que viver com
«o peso na consciência» de ter estragado a vida
«à melhor mãe que Portugal tem».
«Pensei várias vezes em suicidar-me. Prefiro morrer a ter de viver com o remorso de fazer isto ao Emanuel», disse.
Questionado sobre as repercussões de acusar uma empresa de lhe pagar para prestar falsas declarações e ainda roubar documentos, Paulo Leal não tem dúvidas:
«Se eu não tive medo de mentir e estragar a vida ao Emanuel, também não tenho medo de dizer a verdade».
Helena Silva recebeu a notícia de que o seu detractor confessou o crime com um choro profundo.
«Ele vendeu-me», disse hoje à Lusa.
Segundo contou, as acusações reproduzidas na primeira página de um jornal estragaram-lhe a vida.
«O povo tentou matar-me. Cuspiram-me na cara. Rasgaram-me os cheques do correio e fiquei sem dinheiro para comer. O Emanuel só comeu com a ajuda de vizinhos».
A mãe do ‘menino azul’ conta que ninguém quis saber se as acusações eram verdade ou mentira.
«Ninguém se preocupou com o meu filho, que ia tendo um ataque do coração, quando fui perseguida e pensei que me matavam», disse.
Helena Silva não entende as razões de Paulo Leal, em quem confiava e passava documentos para este digitalizar.
«Era uma pessoa de confiança, que me ajudava a organizar exposições e a ter os documentos em ordem», disse.
A mãe do ‘menino azul’ garante que nunca usou indevidamente um único cêntimo recebido para o Emanuel e afirma que é hoje uma
«outra mulher»,
«sem força para tirar os olhos do chão».
Diz que confiou em Paulo Leal
«como se confia num irmão».
«Estava sozinha [é natural dos Açores] e não conhecia ninguém» em Famalicão, onde reside.
Sobre o arrependimento de Paulo Leal, assegura que não lhe perdoará. Ele diz que não quer o perdão de Helena Silva, mas sim
«tirar um peso na consciência» que não o deixa andar em frente.
«Faço isto [a confissão] em nome do resto de dignidade que me resta», frisou.
O Emanuel está, entretanto, melhor de saúde.
«Está grande e forte e quase sem sinais da doença», disse a mãe do
«menino azul».
A criança, hoje com 12 anos, sofre de Síndrome de Alagille e Tetratologia de Fallot, doenças que afectam o coração e o fígado e que causam um tom de pele azul.
Lusa /
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