Citação:JMA
Alguém tem experiência de criar um grupo bíblico numa paróquia?
Toda a informação é bem-vinda...
Para começar, sugiro definir bem os objetivos e combinar um roteiro com os membros, pois tudo vai depender muito do nível de formação dos participantes e dos interesses do grupo. A ajuda de alguém com boa formação nos temas abordados, embora não seja de todo essencial, facilita muito na caminhada do grupo, além de ser muito útil para evitar problemas. Seria bom vc coordenar no início e ao mesmo tempo ir preparando alguém para continuar depois. Entretanto, evite deixar o grupo sozinho muito tempo, e é bom que ele tenha contato constante com o pároco.
Sendo um grupo católico, acho importante destacar entre os objetivos a fidelidade com a igreja. Importante destacar a diferença nos papéis de um grupo bíblico e de um grupo de discussões teológicas, pq um grupo bíblico não é lugar para debater ideias novidosas! Mesmo nos meus piores tempos (snif) jamais levei qq ideia maluca para um grupo bíblico, graças a Deus! Meu anjo da guarda deve ter recebido algum troféu de honra ao mérito.
O grupo bíblico procura ajudar a criar a familiaridade com o "Mundo das Escrituras", o que não é exatamente o mesmo que esmiuçar as possibilidades exegéticas de cada passagem, nem perseguir curiosidades em textos difíceis. Um grupo bíblico deveria antes alimentar o "espírito profético" nos seus membros. Lembrando que existe uma diferença entre como é visto o papel do profeta no AT e no NT: enquanto no AT, o profeta era aquele que falava em nome de Deus e assim, de certa forma, "previa o futuro"; no NT, o profeta é muito mais aquele que ajuda a comunidade a perceber a ação de Deus onde outros não vêem nada, ou seja, ele faz aquele papel do visitante na passagem de Emaús, trazendo luz e esperança. No NT, o profeta é aquele que ajuda a ler a Palavra de Deus viva na vida de Igreja, algo impossível sem uma vida de oração. Um dos objetivos do grupo bíblico, portanto, é levar os membros do grupo a fazer a passagem da Letra para o Espírito. Portanto, o estudo da palavra escrita é antes um meio, e não o fim último. O fim último é o encontro com o Cristo vivo na vida da Igreja. Desde o início isso ficou claro nos objetivos do nosso grupo.
Sugiro iniciar com uma breve introdução sobre a Dei Verbum, e depois seguir pelo NT. Deixem o AT para qdo o grupo estiver mais maduro, mesmo que a curiosidade pelo AT seja grande.
Aconselho começar o Evangelho de Marcos, pois como ele foi escrito para pagãos, é de leitura mais fácil e vai direto ao ponto. No grupo que ajudei, adotamos uma abordagem narrativa, o que facilitou e deu bom resultado. O texto foi todo narrado no grupo, destacamos algumas passagens marcantes como "balizas", mostramos a ligação entre cada parte e como o Espírito esteve presente guiando todo o processo, fortalecendo os fracos, encorajando os medrosos. Ficamos uns três meses só nesse evangelho, mas ao final desse tempo, cada um no grupo conhecia o texto não só de leitura, mas tb de oração. Ficou combinado que cada um ia orar em casa sobre as passagens desse evangelho durante todo o tempo em que ele fosse abordado. Depois de tudo, cada um era capaz de narrar toda a boa nova de memória e falar com o coração, mesmo sem recorrer ao texto escrito. Isso foi um bônus adicional para aqueles que eram catequistas.
Depois do Evangelho de Marcos, continuamos pelos Atos dos Apóstolos, por mais uns dois meses. Foi muito interessante, pq durante esse tempo, o grupo teve a iniciativa de fazer um levantamento da história da comunidade. Como ela foi criada, quem foram os pregadores, os momentos de crise e como o Espírito agiu nas pessoas para manter a comunidade viva. Essa ideia partiu do grupo mesmo e o resultado foi muito bom, pois acabou envolvendo a comunidade e unido mais as pessoas. Fizeram entrevistas, acharam fotos, fizeram um mural e escreveram um texto sobre os "atos da comunidade". Depois desse tempo, de ter lido com eles os livros de Marcos e Atos, mudei-me e hj não sei como continua o grupo.
Espero ter ajudado.