Ora viva!
Há mais de 5 anos que não fazia uso deste fórum. :) É curioso ver que, pelo menos à superfície, quase tudo está igual. Aproveitei para visionar a entrevista ao Geração High Tech, que o confirmou, não pelas melhores razões como passarei a explicar. Como sempre fui um tipo meio rebelde, procurando enquanto jovem adulto assumir-me mais na radicalidade a alguma coisa que realmente faça sentido e faça a diferença, encontrei a força do Evangelho na Igreja Católica. É com essa perspectiva e motivação que tenho algo a dizer em resposta à criação deste tópico, já há 2 anos.
Parece-me que as religiões fazem uso das tecnologias, a internet como a imprensa ou os modernos sistemas de distribuição postal (só para dar vários exemplos), para comunicar, procurando uma comunicação ou propriamente dito, uma
divulgação (no sentido de "proselitismo positivo" como diz Joaquim Franco no vídeo), cada vez mais eficaz.
Aqui está o acesso facilitado, imediato e directo à informação. E melhor ainda, por essas razões, a possibilidade de a obter em formato mais claro e profundo, em que o
esclarecimento mútuo é possível através das interacções que proporciona. Daí que, a meu ver, tendo estes benefícios, o desafio da internet seja o da qualidade e fiabilidade dos conteúdos, não tanto o dos custos ou mesmo o da quantidade. Por exemplo, ao formato do livro (ou do artigo) são exigidos padrões altos de qualidade e autenticidade. Mas e na internet? É de experiência comum menosprezar algo "que se ouviu na internet". Mas numa rede de conteúdos disponibilizados pelos utilizadores, isso é praticamente o mesmo que dizer "ouvi isso na rua". Por isso a internet não se opõe estruturalmente à evangelização, a não serem - apesar de não ser esse o assunto do qual continuarei a falar - os efeitos da virtualidade no desenvolvimento da pessoa humana, evitáveis mediante a manutenção de hábitos de utilização equilibrados, mas de gestão cada vez mais complicada.
Existe isso sim a
necessidade de que a representatividade online seja de facto autêntica e fiável na exposição dos conteúdos, uma experiência que certamente nos últimos 5 anos cada vez mais se tem feito sentir quanto à necessidade dos sítios que representam alguma empresa ou instituição se distanciarem dos contributos dos utilizadores de qualquer parte do mundo, como também já consta da "Nota" de rodapé neste fórum.
Ora, aqui encontro um problema ao qual não sou indiferente, sobretudo quando levo a sério as palavras do Luís Gonzaga e tenho em conta as experiência informada que já tive a oportunidade de ter aqui.
Citação:Luís Gonzaga @ Geração High Tech
As pessoas procuram-nos, quando participam no fórum é porque têm uma questão, querem resolver; têm uma dúvida, algo que as impossibilita de crescer e nós aí tentamos ajudar. Pelo menos não temos prejudicado, ... parece-nos difícil conseguirmos fazer isso.
Bom, parece difícil expôr as pessoas a mais dúvidas do que as que traziam antes de chegar? Se entendermos ser prejudicial a situação de tais dúvidas, de arbitrárias e particulares que são, tornarem ainda mais difícil à pessoa chegar a uma conclusão (o mais certa possível quando o tema é essencial), então não, não parece nada difícil que o meio ou a orientação dada ao mesmo, prejudique as pessoas no seu caminho espiritual, sobretudo quando quem o gere possa permitir a legitimidade de contribuições individuais que nada representam a não ser o ponto de vista de alguém algures no mundo, sem ao mesmo tempo assumir que existem respostas boas que faltariam a ser dadas e que seria de sua responsabilidade, em nome das "Paróquias de Portugal" e da Igreja, contribuir para que a pessoa que procura ajuda não saia prejudicada.
Afirmar o contrário é, por isso, obra de alguma
falta de lucidez, diria mesmo falta de esclarecimento espiritual. Compreendo que o Luís, ao informar-nos quanto à sua procura por informação sobre doutrina, pouco encontrou de portugueses e que por isso criou a sua. Não sei que tipo de formação religiosa terá (avalio apenas o teor das suas palavras) mas é particularmente importante, no caso de auto-didactas, prestar atenção ao que se diz e munirem-se mais das fontes do que das suas opiniões (até das de autores que concordem com as suas). Ora, a primeira e mais significativa obra que o Luís criou não foi um livro sobre tudo o que de bom e melhor há sobre o catolicismo, mas... a presença das grandes religiões no mundo.
Penso que o fulcro da orientação não-magisterial deste fórum esteja nessa perspectiva pluralista. O problema é quando isso rebaixa a importância do que diz respeito às paróquias portuguesas, cujos participantes aqui vêm certamente em maioria.
O mais curioso é que, segundos antes da anterior citação, registou-se o seguinte, que me parece desajudar de facto, e é a parte em que o Luís parece estar mesmo a ensinar algo que é o seu grande ideal:
Citação:Luís Gonzaga @ Geração High Tech
...as pessoas se reúnem em casa, querendo algo mais próximo, por oposição às grandes reuniões questões distintas, caminho de crescimento espiritual... Aquilo que é importante nós percebermos, o que faz sentido é que mais do que irmos à missa, mais do que rezarmos o terço, mais do que termos este ritual que não nos liga provavelmente com o divino, ou até pode ligar, mas é algo muito ritual, muito de rotina. O que faz sentido é nós crescermos espiritualmente e para isso é preciso termos outro tipo de relacionamento...
Vê-se aqui razão para, quanto mais não seja pela ligeireza da explicação (que até pode ter boa intenção), considerar que isto possa
prejudicar aqueles que ainda não experimentaram verdadeiramente a Deus vivo e que até agora apenas têm ido com a "corrente". É
perigosamente ingénuo não considerar que há muita gente que
desiste e troca a Cristo realmente presente na Eucaristia ou as mais recomendadas orações da Igreja por
outra coisa qualquer - digamos, uns
debates ou leituras na internet sem voltar a pôr os pés numa igreja - precisamente por ideias mal esclarecidas que se vão tornando em preconceitos anti-católicos, que apontam o dedo às nossas pobrezas ao mesmo tempo que
relativizam a importância, neste caso, dos sacramentos e do valor da oração em si mesma.
Agora, para esclarecer.
Penso que as pessoas que sejam capazes de entender o tipo de discurso desta citação, já estão disponíveis para o aceitar - já têm um pé fora da porta, já não querem lá estar - porque os outros continuarão a ir, sabendo que a rotina lhes faz bem na mesma. Nessa medida, só se está a alimentar o
desprezo para com a vida comunitária ao lado daqueles "pouco iluminados", aqueles "anões espirituais" que vão à missa ou rezam o terço todos os dias,
seja porque razão for. Estou a dizer com isto algo que pode ser resumido, sim, mas considerem-me escandalizado com as razões apresentadas, de tão frágeis ou simples erro.
Mas vou acrescentar mais motivos,
para que possam perceber que compreendo a necessidade de equilíbrio e bom senso, que nestas citações encontrei demasiadamente pouco. Aliás, tudo o que aqui digo serve para a reflexão mais geral sobre o lugar e missão do Paroquias.org e não se deve limitar ao que o Luís quis ou não "realmente" dizer (no fundo, estamos mesmo a pôr em causa, pelo menos, que seja difícil ser mal entendido).
Fica por explicar então o
sucesso actual, e maior do que nunca, de congressos e encontros de jovens. E este "mandamento novo" do
individualismo radical, que não participa de nada rotineiro a não ser que já faça sentido para si, faz-me associá-lo mais ao
"novo ateísmo" dos arrogantes, dos crescidos ("espiritualmente") que acham a religião ser uma coisa da infância da humanidade, apenas uma replicação cultural que podemos e devemos agora repudiar.
No mesmo sentido, fica também por explicar de onde tirou a ideia que opõe os termos experiência religiosa a experiência espiritual, ou a "religiosidade" à "espiritualidade". O Luís bebeu como tanta gente hoje o faz, algures numa fonte certamente moderna, a ideia de que se pode ser espiritual sem ser religioso.
A ideia de que se pode ou deve quebrar a ligação com os princípios e tradições que realmente... estão na origem de toda a sua espiritualidade! Será que isto parece ser o comportamento de alguém "espiritualmente evoluído" ou coerente? Um católico tem essa boa e valiosa capacidade de dialogar com toda a gente, mas quando o faz sem cuidado
perde-se a si mesmo.
A meu ver, tudo isto dá razão para me escandalizar com as afirmações feitas. De que "aqui não se prejudica ninguém e que é difícil fazê-lo".
Que perigo alguém acreditar nisto, pensar que encontrou respostas "infalíveis", no fundo... A caridade implica falar do que vejo e acusar apenas em situação grave. Usei o nome do Luís, com toda a atenção ao pormenor e com sentido de justiça pelo bem dos fiéis (ou menos fiéis) das paróquias portuguesas. Peço também a sua caridade ao receber esta saraivada de críticas, consciente de que seria também "difícil" (para usar as suas palavras) que as viesse a aceitar.
Lamento a frontalidade com que falei do que tinha a apontar em resposta à questão "de que forma podemos melhorar a relação do Paróquias.org (Tecnologia, Internet) com o Catolicismo (Religião que representa)", mas penso que faço um serviço a todos. O meu desejo é que fiquem com Deus. (até vou rezar um terço por isso, mas não faz mal nenhum uma vez que não é rotina rezar por vocês todos os dias, certo?...) :)
...«Se permanecerdes fiéis à minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres.» ~ Jo 8,31-32
Editado 2 vezes. Última edição em 24/06/2010 08:44 por João Oliveira.