Talvez esta notícia do «Público» de hoje ajude:
Grupo Fundamentalista Contesta Diálogo Inter-religioso
Um grupo católico norte-americano, de cariz fundamentalista, apareceu nas últimas duas semanas a contestar a iniciativa de um congresso sobre os santuários nas diferentes religiões que se realizou em Fátima, em Outubro passado. O Fatima Center diz que o Papa deve mandar investigar "as alegações de má gestão e suspeita de heresia" do reitor que, alegadamente, teria afirmado que Fátima se irá converter "num centro inter-religioso onde as religiões do mundo se reunirão para prestar homenagem aos seus deuses". Em comunicado, o padre Luciano Guerra, responsável máximo do santuário, contestou a veracidade destas acusações, reproduzindo o texto da sua intervenção no congresso.
O Fatima Center já invadira as caixas de correio de muitos responsáveis católicos com uma longa carta em que criticava violentamente a iniciativa de Outubro. Nas últimas duas semanas, comprou páginas de publicidade em jornais portugueses para reproduzir a carta. Ao mesmo tempo, apelava para que as pessoas assinassem uma petição dirigida ao Papa João Paulo II, no sentido de mandar investigar o reitor e decretar o "fim imediato" das tentativas para transformar o santuário numa "pretensa instalação 'interconfessional'".
A petição pretende, diz Coralie Graham, do Fatima Center, a um pedido de esclarecimento do PÚBLICO, "impedir a profanação do Santuário de Fátima e evitar o escândalo entre os fiéis católicos". Até agora, os seus dinamizadores dizem que "ainda é cedo" para falar em número de adesões.
O comunicado do reitor do santuário diz que a posição do Fatima Center "é o resultado de uma longa orquestração, a partir dos Estados Unidos, por parte de pessoas que se opõem acirradamente ao Concílio Vaticano II, sobretudo no que respeita a todas as suas aberturas, com relevo para o diálogo ecuménico e inter-religioso". Os seus mentores, acrescenta Luciano Guerra, "entrincheiram-se, há dezenas de anos, atrás de uma argumentação cerrada, donde acusam as autoridades da Igreja, incluindo o próprio Papa, de hereges, apóstatas e infiéis à responsabilidade que lhes incumbe". Desta vez, no entanto, João Paulo II ficou de fora, apesar de ele próprio promover iniciativas claras que visam o diálogo inter-religioso.
Por A.M.
«Público», Domingo, 09 de Maio de 2004
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