Sobre o Código da Vinci:
1 - O Livro.
Como obra literária ficcional não é nenhuma obra prima - mas cumpre a sua função de livro de suspense. Lê-se bem e tem uma estrutura narrativa cinematográfica. Um bom livro de praia ou de férias. Tem muitas incongruências históricas misturadas com
muitos episódios históricos verdadeiros.
2 – A Polémica
As reacções ao conteúdo do livro são uma consequência directa de três temas tabus explorados pela narrativa, por vezes de forma indirecta:
a)
A sexualidade de Jesus, tema absolutamente tabu ainda hoje para muitos católicos, que negam em absoluto a humanidade de Jesus na sua dimensão afectiva e sexuada, mesmo que tenha vivido em hipotético celibato. Se a Igreja católica tem esta dificuldade atávica de lidar com a sexualidade humana, o tema torna-se ainda mais “herético” se estivermos a falar de Jesus Cristo.
b)
O papel das mulheres na igreja católica, ou a forma como historicamente as mulheres foram relegadas de figuras centrais do Evangelho e figuras centrais da evangelização cristã dos primeiros séculos , a figuras decorativas ou meras serviçais pela hierarquia e tradição feitas exclusivamente por …homens, claro…
O reclamar a presença de Madalena numa história da igreja, ainda que ficcionada, veio trazer uma nova luz sobre essa santa mulher, uma autêntica discípula que acompanha Jesus em toda a sua vida pública, até ao fim, a primeira a testemunhar a Ressurreição, a quem Jesus confia expressamente o papel de proclamar a boa nova da Ressurreição,
Essa mesma que foi séculos depois transformada em prostituta por opinião papal…
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dn.sapo.pt]
Por isso o livro ( e a história ficcionada que encerra á volta de Maria Madalena) pode ser profundamente perturbador porque relembra que
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a Igreja histórica nem sempre lseguiu o exemplo ( de Jesus) , havendo mesmo um forte contencioso das mulheres com a Igreja oficial, isso deve-se a muitas razões, como heresias que desprezavam o corpo, o sexo e o feminino, questões ligadas ao poder e ao machismo. “
Padre Anselmo Borges
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dn.sapo.pt]
c) Uma das razões ( talvez a mais importante) que explicam a turbulência á volta do livro são as referências ao
Opus Dei e aos seus agentes que se entrelaçam na narrativa. E de súbito, o Opus Dei , habituado a manipular na sombra, um movimento de que muitos católicos nunca tinham ouvido falar , o que é normal numa sociedade rodeada de secretismo e manipulação silenciosa, vem parar á ribalta,
com acusações de proselitismo, manipulação política e económica, uma ideologia que desclassifica as mulheres, e o uso habitual do sacrifício físico ( cilícios e autoflagelações) dos seus membros, entre outras formas de controle de consciências eventualmente mais graves...
E que faz o Opus? Bem num primeiro momento tenta boicotar e diabolizar o livro e o seu autor. Passado o susto inicial, como esta estratégia foi ineficaz, os ideólogos da obra tentaram, num segundo momento, num golpe de rins digno de qualquer banal trama browniana, tenta aproveitar a onda mediática e aproveitar a publicitada para fazer o que melhor sabem – proselitismo ao mais alto nível e tentar lavar a imagem… pelo caminho,
os seus dirigentes não negam nada do essencial do livro – nem a sua estrutura tentacular, nem a sua ligação ao poder económico , nem o seu proselitismo elitista, nem sequer o uso de cilícios e chicotadas,nem o seu papel no escândalo do banco do Vaticano, etc, etc, etc,.. Ou seja reafirmam tudo o que sobre eles Dan Brown escreveu no livro e airosamente proclamam isso como uma normalidade e até uma supremacia espiritual. Fascinante
d)POr último, este livro vem pôer a nu a exsitência de outros Evengelhos apócrifos que não os oficiais, a existência de um outro reportório de possibilides doutrinárias e os facto das actuais "verdades de Fé imutáveis" resultarem de um processo discricionário de inclusão/exclusão de textos . Em suma,
de uma decisão muito humana. ( Inspirada pelo Espírito, dirão os mais sabedores, mas que isso não consola muito boas almas, que ignoravam por completo a forma como se chegou aos textos evengélicos oficiais de hoje,e se sentem perturbas com a #decoberta"..
Em suma, o Código da Vinci Indirecatemnte, vem por a nu a tremeneda ignorãncia da maior parte dos Católicos face á história da sua Igreja e aos fundamentos da sua doutrina. ( não digo da sua Fé porque isso é outra coisa). E quem é responsável esta profunda ignorãncia, que alimenta o misticismo, a superstição a fé popular, e também os movimentos católicos "elitistas" e neocon???
Em suma - o Código a Vinci ( livro e versão cinematográfica) está a ser um
fenómeno extremamente positivo. para a Igreja .