Eutanásia: assassinato disfarçado
Dr. Rafael Vitola Brodbeck
Muito se comenta sobre a eutanásia, com opiniões favoráveis ou contrárias,
porém pouco se diz sobre o que ela é realmente. Imperioso, assim, precisar o
termo, afastar diferenças, marcar bem as nuances.
Eutanásia é a ação ou omissão que, na intenção ou por si, produz a morte, no
intuito de aliviar um sofrimento ou uma dor. Pelo conceito, vemos que pode
ser ativa (ação) ou passiva (omissão). Não ministrar os alimentos devidos ou
a água a um paciente (como no caso da moribunda Terry Schiavo), deixar de
prestar os cuidados normais ao doente, são exemplos de eutanásia passiva -
quanto à ativa, restam mais facilmente aferíveis: aplicar uma substância
mortífera qualquer, desferir um golpe etc.
Não confundamos, entretanto, a eutanásia passiva com a mera "interrupção de
procedimentos médicos onerosos, perigosos, extraordinários ou
desproporcionais aos resultados esperados", que, conforme o caso, "pode ser
legítima" (Catecismo da Igreja Católica, 2278). É o que se chama
ortotanásia, e, como vemos, não é necessariamente imoral. Embora pareça, a
princípio, com a eutanásia passiva, dela se difere por ser um modo de
"rejeição da 'obstinação terapêutica'. Não se quer dessa maneira provocar a
morte; aceita-se não poder impedi-la." (op. cit.)
Sem levar em conta os matizes próprios, alguns atacam a Igreja, acusando-a
de ser contrária também à ortotanásia, prolongando artificial e inutilmente
a vida, sendo, portanto, destituída de misericórdia para com os agonizantes.
Nada mais falso, podemos observar pelo Catecismo. O próprio Papa João Paulo
II preferiu abdicar dos meios extraordinários, vindo a falecer em seu
apartamento no Palácio Apostólico.
Por outro lado, não faltam os que, ainda confundindo a eutanásia passiva com
a ortotanásia, tiram conclusão diversa, quiçá mais nefasta. A de que só a
ativa seria imoral, e que, de modo passivo, poder-se-ia interromper a vida -
sem atentar para o colossal abismo entre o deixar de dar comida por uma
sonda, v.g., procedimento absolutamente ilícito, e a referida rejeição da
obstinação terapêutica, perfeitamente moral.
Se a ortotanásia é uma expressão da caridade cristã e da conformidade
piedosa aos planos de Deus, a eutanásia, ainda que passiva, é um modo
horrendo e radical de institucionalizar o egoísmo. A legalização da
eutanásia, defendida por alguns, mostrará que nossa sociedade está
gravemente enferma ao oficializar o assassinato, justo dos mais necessitados
de cuidados especiais.
vitola@veritatis.com.br
Editado 1 vezes. Última edição em 23/10/2006 10:40 por camilo.