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fanatismo, fundamentalismo e "literalismo"
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 26 de September de 2006 00:47
O fundamentalismo e o fanatismo não são a mesma coisa nem implicam, no caso religioso, a interpretação literal dos textos sagrados.
Nem o fundamentalismo religioso se reveste das mesmas caracteristicas para as diferentes religiões. As diferentes religiões têm diferentes fundamentos, por isso é natural que se exprimam de formas diversasa.
Claro que estas afirmações são subjectivas porque depende do que considerarmos ser o significado de cada expressão, como o significado das palavras evolui e é até diferente em diferentes ambientes e contextos isto pode dar origem a enormes confusões.
É comum associar o fundamentalismo cristão à interpretação literal da Biblia mas nem essa associação é sempre correcta. A Biblia foi escrita ao longo de varios seculos e um dos seus fundamentos é precisamente a evolução da revelação divina até chegar à sua plenitude em Jesus Cristo.
Por outro lado se associarmos fundamentalismo à interpretação literal dos textos sagrados teremos de considerar a enorme maioria dos muçulmanos fundamentalista. Para a generalidade dos muçulmanos o corão foi ditado pelo arcanjo Gabriel e deve ser interpretado literalmente.
Para a enorme maioria dos cristãos a Biblia deve ser lida à luz dos Evangelhos. Mas mesmo os Evangelhos não podem ser interpretados à letra como o deve ser o corão para os muçulmanos. Os evangelhos contêm parabolas, sentenças morais genericas, enfim generos literarios que não se prestam a ser interpretados à letra.
Maomé foi um lider politico e militar para além de lider religioso. Quando um jovem interpela Jesus por causa de uma herança concreta Jesus responde dando apenas regra gerais sobre o que deve interessar-nos, sobre a justiça, o amor pelo proximo, a misericordia, o perdão. Maomé como governante e juiz decidiu concretamente como deviam ser feitas as partilhas. Daí existirem 4 escolas islamicas (mais o xiismo) que na pratica funcionam tambem como escolas de direito.
A origem das diferentes religiões é tambem diversa. O cristianismo na sua origem não provocou guerras nem perseguições, sofreu-as. O islamismo nasceu e cresceu no meio de guerras e pelas guerras. Maomé foi também um lider militar.
Como disse o José do blog guia dos perplexos no seu comentario das 12.51:
[ www.blogger.com]
a Igreja evoluiu para uma visão da paz que é o regresso à doutrina original mas o islão, depois de um periodo magnifico, evoluiu também para uma visão da violência que, há que dizê-lo, é um regresso à sua matriz original
Existiram as cruzadas. São Francisco foi seu contemporaneo. Teve certamente consciencia de que eram uma traição aos fundamentos do cristianismo. Talvez daí ter dito num dos seus textos (creio que numa especie de testamento) que as suas palavras eram para interpretar literalmente. Pelo pouco que conheço dos textos da epoca o problema não era a interpretação literal mas o uso sistematico de alegorias, com habilidade argumentativa extraia-se dos textos as mais espantosas coisas. Do alto da minha ignorancia especulo que as cruzadas e a inquisição tenham a sua origem não na literalidade interpretativa mas sim no uso abundante de liberdades interpretativas.
Fundamentalistas cristãos existem dos mais variados tipos. As testemunhas de Jeová são consideradas quase um paradigma do fundmentalismo cristão (embora em rigor não sejam consideradas cristãs) e não são propriamente dadas à violencia.
Existiram fundamentalismos hindus violentos (até aos finais do seculo XIX, com manifestações esporadicas no seculo 20 os adoradores da deusa Kali faziam sacrificios humanos) e fundamentalismo hindus de tal forma pacificos que os seus seguidores varrem o chão na sua frente para evitar pisar algum insecto.
Editado 1 vezes. Última edição em 26/09/2006 00:49 por camilo.
Re: fanatismo, fundamentalismo e "literalismo"
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 26 de September de 2006 01:01
Pelo pouco que sei o exarcebamento da interpretação literal da Biblia surge na sequencia dos conflitos entre catolicos e protestantes.
Os protestantes acusam os catolicos de menosprezar a Biblia. Na sequencia desse clima de acusações mutuas desenvolve-se a interpretação literal da Biblia.
Copernico publicou a sua visão heliocentrica sem sofrer incomodos e sem que esta levantasse problemas até surgirem os conflitos entre protestantes e catolicos.
[ pt.wikipedia.org]
O "literalismo" é uma pratica tipica da idade moderna que surge na sequencia das disputas entre catolicos e protestantes, tendo geralmente maior predominancia entre os protestantes. Pelo pouco que conheço actualmente o "literarismo" apenas tem expressão relevante entre as denominações protestantes. Não sei até que ponto associado a uma deficiente preparação dos seus lideres. Pelo menos na america latina sei que muitos dos lideres de denominações protestantes têm uma formação religiosa muito deficiente.
Re: fanatismo, fundamentalismo e "literalismo"
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 26 de September de 2006 01:03
Acho que seria interessante fazer um reflexão sobre estes temas. Isto são apenas algumas ideias soltas. Não tenho especial formação sobre estes temas e sou apenas um autodidacta.
Re: fanatismo, fundamentalismo e "literalismo"
Escrito por: Epafras (IP registado)
Data: 26 de September de 2006 02:21
Do dicionário
fundamentalismo
s. m., Relig.,
aceitação e defesa de um conjunto de princípios de natureza religiosa tradicionais e ortodoxos tidos por verdades fundamentais e indispensáveis a uma consciência religiosa (individual ou colectiva).
:)
Epafras
Re: fanatismo, fundamentalismo e "literalismo"
Escrito por: Albino O M Soares (IP registado)
Data: 26 de September de 2006 10:22
Não devemos ser fundamentalistas em função do que observamos ou do modo que interpretamos, pois que a nossa capacidade de observação e interpretação evoluem. Só o que está para além da observação e interpretação é fundamental. Talvez seja assim que nasce a Fé, como movimento de hoje e sempre para o futuro.
Como exemplo daria 1 Cor 13 (o amor ou a caridade é...).
*=?.0
Editado 1 vezes. Última edição em 26/09/2006 10:24 por Albino O M Soares.
Re: fanatismo, fundamentalismo e "literalismo"
Escrito por: Chris Luz BR (IP registado)
Data: 27 de September de 2006 21:41
Fanatismo , fundamentalismo e literalismo
Três formas de ficar cego, surdo, mudo e paralítico .
Três formas de deturpar a JUSTIÇA do Reino.
-)
Re: fanatismo, fundamentalismo e "literalismo"
Escrito por: Ovelha Tresmalhada (IP registado)
Data: 27 de September de 2006 22:48
O fundamentalismo, entendido como o projecto de imposição a toda a sociedade de uma qualquer ortodoxia - religiosa, política, ideológica, cultural - em termos que não deixam qualquer espaço à liberdade individual de pensar, de opinar, de discutir, de criticar e, sobretudo, de optar e agir é e será sempre um risco para a civilização e uma ameaça para o que de mais essencial existe no ser humano.
Se é verdade que visões fundamentalistas de cariz religioso têm tido efeitos perniciosos e terríveis, nomeadamente nas questões do comportamento sexual (lapidação das adúlteras, excisão, perseguição aos homossexuais, talibanização das mulheres, etc., para já não falar das guerras religiosas do passado), não é menos verdade que os fundamentalismos ateus, sobretudo os baseados na cartilha do materialismo científico, materialismo histórico, materialismo dialéctico e quejandos, têm tido consequências não menos devastadoras. Lembremo-nos, por exemplo, dos métodos desumanos de controle demográfico usados em certos países (punição das famílias com mais de 1 filho, abortos compulsivos, esterilizações em massa) e da imposição do ateísmo oficial, com perseguição de todos os comportamentos religiosos.
Todos os fundamentalismos, religiosos, laicos, ateus ou "científicos", com tudo o que têm de acrítico, cego, fanático, dogmático, totalitário, são perigosos.
Mas há que estar atento porque, como advertiu o Papa Bento XVI, também existe o fundamentalismo do "politicamente correcto". Muitas vezes, sob capa do laicismo e da neutralidade moral e religiosa, pode ir escondida, subrepticiamente, uma certa opção moral que se quer impor como indiscutível, como se fosse uma verdade científica inatacável, passando automaticamente a ser chamado de fanático, retrógrado e fundamentalista quem quer que não alinhe pelo mesmo diapasão...
Re: fanatismo, fundamentalismo e "literalismo"
Escrito por: camilo (IP registado)
Data: 27 de September de 2006 22:57
Ovelha tresmalhada, não é isso mais fanatismo que fundamentalismo?
Bem sei que na linguagem corrente não se distinguem as coisas mas nem sempre o fundamentalismo se reveste dessas caracteristicas.
Aliás não é necessario que os fundamentalismos sejam sequer integralistas:
a ler para perceber o que quero dizer com integralismo:
integralismo religioso
Pode existir fanatismo sem fundamentalismo (o fundamentalismo presume uma adesão a fundamentos religosos, politicos ou filosoficos), fundamentalismo sem fanatismo (sem que exista tentativa de imposição de seja o que for, basta lembrar os quarkers).
Aliás as religiões são diferentes, muitas vezes muito diferentes, logo é natural que as expressões fundamentalistas das mesmas sejam diferentes.
Editado 1 vezes. Última edição em 27/09/2006 23:06 por camilo.
Re: fanatismo, fundamentalismo e "literalismo"
Escrito por: Ovelha Tresmalhada (IP registado)
Data: 27 de September de 2006 23:11
Plenamente de acordo!
Por isso é que eu tive o cuidado de me referir ao fundamentalismo Citação:entendido como o projecto de imposição a toda a sociedade de uma qualquer ortodoxia - religiosa, política, ideológica, cultural - em termos que não deixam qualquer espaço à liberdade individual de pensar, de opinar, de discutir, de criticar e, sobretudo, de optar e agir .
Agora, se a palavra fundamentalismo for tida no seu sentido exacto, ela não tem nada de pejorativo, nem de perigoso. Os mártires cristãos dos primeiros tempos, por exemplo, eram fundamentalistas. E Cristo foi o mais radical fundamentalista...
Como bem dizes, pode-se ser fundamentalista sem ser fanático. Pode-se ser fanático sem ser fundamentalista. O erro está em ser-se acrítico, irracional, ignorante, arrogante, em perfilhar-se certas ideias sem as analisar reflectidamente, com serenidade, procurando o máximo esclarecimento e, depois, optar livremente. Mas quando a irracionalidade, a ignorância, a paixão ou a arrogância se tornam agressivas e violentas, com tentativas de imposição e de perseguição, então o erro transforma-se em tragédia.
Re: fanatismo, fundamentalismo e "literalismo"
Escrito por: Epafras (IP registado)
Data: 28 de September de 2006 03:26
E pronto já disseram praticamente tudo e têm o meu assentimento.
Aproveito para deixar um texto que tenho aqui à mão sobre os fundamentalistas originais, aqueles que estiveram na origem deste termo, que mostra que não eram assim tão conservadores quanto se possa pensar. Nem eram propriamente literalistas a interpretar o Génesis. Estávamos em 1910-1915
Alguns factos sobre os fundamentalistas originais.
1. Criacionismo e Fundamentalismo
"Hoje, o 'criacionismo' é tomado quase como sinónimo do 'fundamentalismo', porém devemos ter cuidado ao traçar o moderno 'criacionismo' aos fundamentalistas originais. Os primeiros fundamentalistas foram assim chamados com base nos 'cinco fundamentos' redigidos pela Assembleia Geral de 1910 da Igreja Presbiteriana Americana, que deviam representar as crenças fundamentais do cristianismo protestante: os milagres de Cristo; o seu nascimento virginal; o seu sacrifício na cruz, constituindo a expiação pelo pecado da humanidade; a sua ressurreição corporal; e a Bíblia como a Palavra de Deus directamente inspirada. Estes 'fundamentos' foram expandidos em quatro pequenos livros publicados entre 1910 e 1915, os quais incluiam um ensaio por James Orr, professor de Teologia Sistemática no Colégio de Glasgow da Igreja Livre Unida da Escócia. Ele arguiu que a Bíblia não é um manual científico; que o seu propósito não é descobrir a verdade científica, mas revelar a vontade e o propósito de Deus; que o mundo é 'imensamente mais antigo que 6 000 anos'; que o primeiro capítulo do Génesis é um 'poema sublime' ao qual a ciência 'não faz nada por subverter'; e que embora a evolução não estivesse ainda demonstrada, parecia haver uma crescente apreciação da força da evidência em favor de alguma forma de origem evolutiva das espécies. Outro contribuiente, George Wright, um geólogo distinguido, declarou firmemente que 'se se provasse que as espécies se desenvolveram de outras de ordem inferior como se supõe que o fizeram, isto fortaleceria em vez de debilitar o argumento normal em favor de desígnio. Ainda outro colaborador foi o distinguido teólogo de Princeton B.B. Warfield, bem conhecido como um autorizado defensor da autoridade e inerrância da Bíblia. Warfield cria que a evolução podia aportar uma sustentável 'teoria do método da divina providência' na criação da humanidade. Ele se comprazia em mostrar que a doutrina da criação de Calvino,'incluindo a origem de todas as formas de vida, vegetais e animais por igual, incluindo sem dúvida a forma corporal do homem', era 'um esquema evolutivo muito puro'."
Citações de Malcom A. Jeeves e R.J. Berry: Science, Life, and Christian Belief. Leicester: Apollo Press, 1998, p. 27-28
Re: fanatismo, fundamentalismo e "literalismo"
Escrito por: Maria José Ribeiro (IP registado)
Data: 06 de October de 2006 22:50
Penso que cabe bem aqui , para reflexão, o que João Paulo II escreveu na
Encíclica « Redemptoris missio », § 39
É um exemplo de defesa da Verdade sem fanatismos, nem fundamentalismo.
Para mim e acho que para todos cristãos está claro que o Senhor fez de nós seus apóstolos.É questão de pegar no Evangelho...
Aqui vai o texto:
"Quem vos escuta é a mim que escuta; quem vos rejeita é a mim que rejeita"
A Igreja deve ser fiel a Cristo, já que é o Seu Corpo e continua a Sua missão. É necessário que ela « caminhe pela mesma via de Cristo, via de pobreza, obediência, serviço e imolação própria até à morte, da qual Ele saiu vitorioso pela sua ressurreição ». A Igreja, portanto, tem o dever de fazer todo o possível para cumprir a sua missão no mundo e alcançar todos os povos; e tem também o direito, que lhe foi dado por Deus, de levar a termo o seu plano. A liberdade religiosa, por vezes ainda limitada e cerceada, é a premissa e a garantia de todas as liberdades que asseguram o bem comum das pessoas e dos povos. É de se auspiciar que a autêntica liberdade religiosa seja concedida a todos, em qualquer lugar, e para isso a Igreja se empenha a fim de que tal aconteça nos vários Países, especialmente nos de maioria católica, onde ela alcançou uma maior influência. Não se trata porém, de um problema de maioria ou de minoria, mas de um direito inalienável de toda a pessoa humana.
Por outro lado, a Igreja dirige-se ao homem no pleno respeito da sua liberdade: a missão não restringe a liberdade, pelo contrário, favorece-a. A Igreja propõe, não impõe nada: respeita as pessoas e as culturas, detendo-se diante do sacrário da consciência Aos que se opõem com os mais diversos pretextos à actividade missionária, a Igreja repete: Abrí as portas a Cristo!"
Parece-vos que na vida diária somos apóstolos? Se falarmos de Crito estamos a violentar alguèm?
Pergunto por parecer que, às vezes, se quere reduzir o cristianismo ao participar na Missa ou exercer determinadas funções nas celebrações litúrgicas?
Desde já afirmo que concordo plenamente com o texto da Redemptoris missio que coloquei
Re: fanatismo, fundamentalismo e "literalismo"
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 15 de November de 2006 11:51
“Em meu entender, o “fundamentalista” ou “integrista” seria aquele cristão que pretendesse que o Estado, em vez de se limitar a fomentar uma convivência ordenada e justa entre os homens, implantasse, de forma coerciva mediante leis, a integridade da doutrina moral e religiosa.
São fundamentalistas as atitudes que não distinguem o nível político e a integridade da verdade religiosa; as que não entendem a ideia do estado secular – quer dizer laico, o que significa neutral do ponto de vista confessional e, portanto, não laicista – e a própria Igreja, que hoje defende o carácter secular e laico do poder político.
Isto tem hoje particular interesse, porque nos defrontamos com o repto da cultura islâmica. Neste contexto devemos defender as raízes cristãs da secularidade moderna, que em certas ocasiões os próprios cristãos não reconheceram como tais.”
Martín Rhonheimer , Professor de Ética e Filosofia Política na Pontifícia Universidade de Santa Cruz em Roma, Opus Dei
Editado 1 vezes. Última edição em 15/11/2006 11:53 por catolicapraticante.
Re: fanatismo, fundamentalismo e "literalismo"
Escrito por: Chris Luz BR (IP registado)
Data: 21 de November de 2006 21:12
CP - opus Dei???
Re: fanatismo, fundamentalismo e "literalismo"
Escrito por: Cassima (IP registado)
Data: 13 de May de 2008 14:48
Nestas situações é muito difícil mesmo não querer aplicar a lei de Talião e fazer-lhes a eles o que fizeram a ela...
E a própria lei do país permite-lhes ficar impunes e até lhes gaba o gesto...
Do DN de 12-5-2008:
"A minha filha mereceu morrer por se apaixonar"
HELENA TECEDEIRO
Pai esfaqueou rapariga por falar com soldado
Abdel-Qader Ali não tem dúvidas: o mínimo que a filha merecia era morrer. O crime da rapariga de 17 anos? Ter-se apaixonado por um dos 1500 soldados britânicos estacionados na cidade iraquiana de Baçorá. "Se eu soubesse no que ela se ia transformar, tê-la-ia matado logo que a mãe a deu à luz", garantiu este funcionário público xiita, numa entrevista ao semanário britânico The Observer.
Dois meses depois de a morte de Rand Abdel-Qader - sufocada e esfaqueada pelo pai e irmãos a 16 de Março - ter chocado o mundo, Abdel-Qader Ali continua em liberdade. Foi no jardim da sua casa que o homem de 46 anos recordou como teve "o apoio dos meus amigos que também são pais e sabem que o que ela fez é inaceitável". A própria polícia, que chegou a deter Abdel-Qader umas horas, deu-lhe razão. "Todos sabem que os crimes de honra são impossíveis de evitar", disse o iraquiano, segundo o qual "os agentes ficaram ao meu lado o tempo todo a dar-me os parabéns pelo que fizera".
Rand Abdel-Qasser terá conhecido Paul, um militar britânico de 22 anos, numa acção de caridade na cidade do Sul do Iraque, em que ambos participavam como voluntários. Como qualquer adolescente apaixonada, apressou-se a contar tudo à melhor amiga Zeinab. "Ela gostava de falar do seu cabelo louro e olhos cor de mel, da sua pele branca e da sua maneira suave de falar", recordou a rapariga de 19 anos em declarações ao Daily Mail. Para as amigas, o britânico era "muito diferente dos homens de cá, rudes e analfabetos".
Estudante de Inglês na Universidade de Baçorá, Rand tinha a vantagem de poder falar com Paul sem intermediários. E rapidamente começou a usar todos os argumentos possíveis para prolongar o seu trabalho de voluntariado, que lhe dava a oportunidade de estar com ele.
Uma paixão que podia até nem ser retribuída. De facto, Rand e Paul não se terão encontrado mais de meia dúzia de vezes e sempre em locais públicos. "Ela nunca fez nada para além de falar com ele", garantiu Zeinab. Mesmo assim, esta não se cansou de alertar a amiga para os perigos desta amizade: "Disse-lhe vezes sem conta que ela era muçulmana e que a sua família nunca aceitaria que casasse com um soldado britânico cristão." Como confidente de Rand, era Zeinab quem guardava os presentes que este lhe oferecia, como um leão em peluche para o qual diz agora ser "difícil olhar".
E foi o que aconteceu. Quando o pai de Rand soube que a filha se andava a encontrar com o militar, perdeu a cabeça. "Entrou em casa com os olhos raiados de sangue e a tremer", recordou ao The Observer a mãe da rapariga. Quando viu o marido a sufocar a filha com o pé, Leila Hussein chamou os dois filhos, de 21 e 23 anos, para ajudarem a irmã. Mas quando o pai lhes disse o motivo da agressão estes ainda o ajudaram.
Considerada "impura", Rand não teve direito a funeral e os tios cuspiram sobre o seu corpo quando este foi lançado a uma vala. Incapaz de viver sob o mesmo tecto que o homem que matou a sua filha, Leila pediu o divórcio e está, desde então, escondida para evitar a vingança do marido. "Fui espancada e fiquei com o braço partido", disse a mulher, que agora trabalha para uma organização que denuncia os crimes de honra.
Em 2007, 47 mulheres foram mortas por terem violado "a honra" da família só em Baçorá e desde Janeiro deste ano a Comissão de Segurança da cidade garante que o número já vai em 36. Segundo a ONU, pelo menos cinco mil mulheres são anualmente vítimas de crimes de honra em todo o mundo, e, apesar de a maioria decorrer em países islâmicos, estão a acontecer cada vez mais a muçulmanas que vivem no Ocidente.
Apesar da presença britânica, Baçorá é em parte controlada pelas milícias, que definem regras estritas de comportamento. São elas quem impõem os códigos de vestuário, as práticas religiosas e determinam que a prostituição e a homossexualidade são puníveis com a morte.
Re: fanatismo, fundamentalismo e "literalismo"
Escrito por: catolicapraticante (IP registado)
Data: 14 de May de 2008 18:58
Cassima :
Uma coisa é certa - eis um homem nada moderado e nada morno[b] nas suas convicções religiosas.
Um exemplo, para quem considera que a [b]moderação é um mal em questões de " valores fundamentais".
Sinceramente não vejo grandes diferenças entre estes fundamentalistas islãmicos e os fundamentalistas católicos que por aí andam disfarçados de "verdadeiros católicos" ou "católicos hard" que criticam os outros como "light ".
católica AKA Bluesmile
católica praticante
Editado 2 vezes. Última edição em 14/05/2008 19:16 por catolicapraticante.
Re: fanatismo, fundamentalismo e "literalismo"
Escrito por: Cassima (IP registado)
Data: 16 de May de 2008 13:31
Citação:catolicapraticante Cassima :
Uma coisa é certa - eis um homem nada moderado e nada morno[b] nas suas convicções religiosas.
Um exemplo, para quem considera que a [b]moderação é um mal em questões de "valores fundamentais".
catolicapraticante
Este fundamentalismo é verdadeiramente de rejeitar e condenar! O problema não está tanto (!) no acto em si, mas na lei e sociedade que os deixa impunes e os louva pelo que fizeram.
Porém, se leste bem as mensagens onde se discutiu a moderação, este acto será sempre condenado por qualquer dos intervenientes. Uma das mensagens referiu um crime de violação cometido contra uma adolescente e criticava a sentença porque leve de mais e pela sua falta de castigo.
Cassima
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