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Bispos Distanciam-se de Canal Católico no Cabo
2001-10-18 12:19:48

O conselho permanente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) decidiu escrever a todos os bispos distanciando-se da TV Canção Nova (TV-CN), um canal católico com origem no Brasil que, desde há dois meses, está a emitir no cabo.

Assinada pelo presidente do episcopado, D. José Policarpo, a carta, de duas páginas e em sete pontos, faz o historial da presença da Canção Nova em Portugal e diz que o conselho permanente da CEP "não se compromete com este projecto, nem directamente, nem através dos seus órgãos ou instituições que dela dependem".

A televisão Canção Nova, acrescenta o patriarca de Lisboa, "deve ser exclusivamente considerada uma iniciativa do movimento eclesial que a protagoniza" e que tem o mesmo nome do canal. A Conferência Episcopal, acrescenta o documento, "continuará a acompanhar este projecto" e da evolução do canal, da "visão de Igreja" por ele transmitida "e da validade pastoral das suas iniciativas" dependerá a atitude futura que a CEP venha a ter em relação à TV-CN.

A carta, a que o PÚBLICO teve acesso, corresponde a uma decisão tomada na reunião do conselho permanente realizada há um mês. Os bispos debateram que atitude tomar perante uma televisão que se apresentava, em anúncios publicitários, como "o canal 100 por cento católico na TV Cabo". Nem a CEP, "nem nenhum dos seus órgãos, particularmente o conselho permanente e a Comissão Episcopal para as Comunicações Sociais, nunca foram detalhadamente informados sobre este projecto". Os bispos nem sequer entenderam, pelas informações que receberam, "que estaria iminente a emissão para Portugal", não tendo havido, por isso, discussão do assunto e, muito menos, decisões sobre ele.

Único apoio foi do bispo de Leiria
O único apoio recebido pela TV-CN foi o do bispo de Leiria, Serafim Ferreira e Silva, que assinou um protocolo de colaboração com a televisão de origem brasileira. Uma atitude que, diz agora a carta enviada aos bispos pela presidência da CEP, "procurou situar-se no âmbito da sua missão e competências pastorais". O problema é que, acrescenta D. José Policarpo numa crítica velada ao bispo de Leiria, a televisão é "um meio que, por natureza, extravasa as fronteiras de uma diocese". O que significa que "seria normal que a Conferência Episcopal fosse ouvida e se pronunciasse sobre o projecto".

Só que, afinal, isso não aconteceu. Daí que, reconhecendo "a importância da televisão como meio de evangelização", o presidente da CEP e do seu conselho permanente promete que "qualquer projecto merecerá, da sua parte, um cuidado estudo e ponderada decisão".

Os responsáveis da TV-CN em Portugal afirmam "não ser costume" comentar este tipo de notícias, preferindo remeter para o bispo de Leiria. Ontem, no entanto, não foi possível encontrar D. Serafim Silva em tempo útil.

O mesmo D. José Policarpo já afirmara ao correspondente do PÚBLICO em Roma, Carlos Picassinos, que não havia "nenhuma espécie de envolvimento, nem de compromisso, nem de apoio da Conferência Episcopal Portuguesa" em relação ao projecto da Canção Nova. Pessoalmente, o patriarca afirmava mesmo ter as "mais sérias reticências" e "um certo distanciamento crítico" em relação ao projecto, "pelo tipo de emissão e pelo modelo de Igreja" apresentado na programação.

Não tem corrido bem a vida à TV-CN na sua implantação junto da Igreja Católica em Portugal: logo depois da assinatura do protocolo da Canção Nova com a TV Cabo, em Maio, a Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), uma organização católica de apoio aos cristãos em necessidade, decidira desvincular-se do projecto, depois de lhe ter dado apoio numa primeira fase. A AIS invocava "dúvidas" sobre a sintonia entre a Comunidade Canção Nova (o grupo carismático que está por trás da TV-CN) e o episcopado brasileiro. Ao mesmo tempo, manifestava discordâncias com o que considerava ser a orientação do canal: uma "mentalidade jansenista, intolerante, moralista e intimista", pouco preocupada com a "justiça no mundo" e com "pouca sintonia com a doutrina social da Igreja".

Fonte Público

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