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A peregrinação a pé
2001-10-16 09:11:25

A peregrinação a pé - Documento final


IV Congresso Internacional das cidades-santuários

Fátima, 10 a 13 de Outubro de 2001

1- O IV Congresso das Cidades-Santuários consagra, pela reflexão a partir de dados sociologicamente tratados, a importância do fenómeno da peregrinação a pé, nas culturas contemporâneas da Europa, nele representadas. Trata-se de um fenómeno que flui, social e culturalmente, da estrutura antropológica do ser humano como homem e mulher a pé, fazendo caminho, e nele traduzindo anseios de permanente superação. De variadas formas, a peregrinação a pé aparece como a inscrição do êxodo que faz o ser humano ser mais, com aquelas marcas que constituem a sua singularidade. Neste êxodo integra-se o processo perfectivo da conversão, no plano meramente humano, como também religioso e «sobrenatural».

2- O santuário, como o lugar em que Deus «habita», dá sentido à peregrinação, determinando, como causa final, as suas características específicas. De facto esta experiência é fulcral para todo o ser humano, não só relativamente à vivência integral do seu corpo, representado nos pés, nos espaços que percorre, no tempo que oferece e recupera, nas pessoas que encontra e o acompanham, mas também e sobretudo pela sublimação que lhe proporciona como caminho privilegiado para o Sagrado.

3- A relevância do santuário no processo de peregrinação constitui um desafio a todos aqueles que nele estão envolvidos, em ordem a uma grande atenção cultural, organizativa e pastoral, que pode encontrar expressão já a partir dos subsídios que oferece para a própria caminhada. A relevância do santuário cresce na proporção da qualidade dos espaços, do ambiente, das estruturas de acolhimento e das celebrações, que são resposta a um autêntico desafio.

4- A pastoral do santuário, no intuito de obviar às normais fragilidades do peregrino, tenha em conta antes de mais o seu corpo e a comunidade que ele forma com os outros, ajustando-se na sua oferta de evangelização, litúrgica e devocional, àquelas necessidades a que o peregrino precisa de responder, ele que demanda o lugar sagrado para nele encontrar a experiência da plenitude.

5- A cidade e o santuário, que mutuamente se envolvem e determinam, tanto mais quanto mais a cidade tiver nascido do santuário, ou o santuário da cidade, precisam de deixar-se desafiar pela harmonia humana que deverão optimizar, e que se traduz nos serviços em que colaboram e que desenvolvem em coordenação, como resposta conjunta para a superação de limites, tão evidentes no peregrino a pé.

6- A ideia de uma associação de cidades-santuários, como ponto de encontro para reflexão, cujo desejo se vem acentuando desde o I Congresso, o qual teve lugar em 1995 na cidade-santuário de Loreto, é justificado não só pelo desenvolvimento de projectos transnacinoais que têm a ver com as culturas regionais, mas também pela ajuda que pode constituir em relação ao processo em curso de uma cidadania europeia, que os santuários de hoje, como do passado, ajudam a construir. Isto passará no respeito pela diferença do «pé» de cada um, e pela certeza de um «espírito» comum que em cada um desenvolve a peregrinação interior, alicerce de toda as peregrinações.

7- O futuro da Europa, do ponto de vista cultural e espiritual, terá assim muito a ganhar com um desenvolvimento estrutural e sistemático dos diversos caminhos de peregrinação que a atravessam. Eles podem tomar-se marcos do percurso de uma identidade comum, no respeito, no diálogo e na harmonização das suas diferenças. Reapreciando uma antiga tradição do nosso continente, sugerimos e pedimos que os caminhos de peregrinação a pé sejam revalorizados como itinerários de cultura e de identidade, ligando o nosso futuro à memória que nos habita, e na qual os lugares altos do cristianismo ocupam sem dúvida um lugar central.

Fátima, Centro Pastoral Paulo VI, 12 de Outubro de 2001.

Fonte Ecclesia

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