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Igreja Portuguesa Magoada com D. Ximenes
2001-10-09 09:38:56

A Igreja Católica em Portugal está magoada com D. Ximenes Belo, por causa das suas queixas relativas à alegada falta de apoio da hierarquia católica à Igreja timorense - e, concretamente, à diocese de Díli, da qual Ximenes é o administrador apostólico.


"As palavras de D. Ximenes sobre o apoio da Igreja em Portugal podem ser fruto de uma informação deficiente ou de ele não ter conseguido transmitir aos jornalistas as suas verdadeiras intenções", diz ao PÚBLICO o padre Victor Feytor Pinto, que tem coordenado, no Patriarcado de Lisboa, o processo para a construção de duas maternidades-escola (inicialmente era só uma) em Díli e em Baucau.

Concretamente, estão em causa afirmações recentes de D. Ximenes em entrevistas a jornais portugueses. Em 2 de Junho, em declarações ao "Expresso", o bispo ironizava dizendo que "a Igreja portuguesa tem ajudado com muitas orações". E dava o exemplo de que tinha pedido um professor à Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa (FT/UCP), sem qualquer resposta.

A esta acusação, respondeu no início de Junho o director da FT, padre Saturino Gomes. A UCP estava em contacto com D. Basílio do Nascimento, administrador apostólico de Baucau, que foi quem se dirigiu à UCP pedindo ajuda para as duas dioceses timorenses, dizia Saturino Gomes. E, além dos apoios já concedidos, havia outros a serem preparados. O Seminário de Díli era uma das instituições na lista de ajudas da UCP.

Já em Setembro, D. Ximenes voltou a queixar-se da hierarquia católica portuguesa. Em entrevista ao "Diário de Notícias", publicada no dia 2, afirmava que precisava de apoio urgente, mas que ele não chegava porque "os bispos portugueses estão muito zangados" com ele. Motivo, explicava Ximenes: "Dizem que falo mais para a imprensa do que para eles." Talvez seja verdade, admite uma outra fonte ligada ao apoio católico a Timor: "Quando D. Ximenes chega a Lisboa, quase nunca diz aos bispos nem ao patriarca que está cá. Às vezes, até parece que foge deles."

Sejam ou não verdadeiras estas zangas, o padre Feytor Pinto prefere apontar os dados concretos da ajuda que tem seguido, nos últimos anos, para ser administrada pelos bispos católicos no território, apesar de a própria Igreja em Portugal "ser pobre". A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) tem um Fundo de Solidariedade Eclesial, de onde já retirou "algumas dezenas de milhares de contos" para vários projectos das dioceses de Díli e Baucau.

Uma outra ONG (organização não-governamental) ligada aos padres jesuítas, os Leigos para o Desenvolvimento (LPD), está também presente em Timor Lorosae. Há quatro pessoas no terreno, cada uma delas a trabalhar por dois anos, que dão apoio na área educativa, social e de acção estritamente pastoral e eclesial. Escolas ligadas à diocese de Díli, a construção de uma ludoteca e biblioteca, o ensino do português nas paróquias e congregações, um curso sobre arte e religião, cursos de formação e promoção de mulheres, são algumas das acções deste grupo. Na estrutura católica, os LPD ainda dão apoio à formação de catequistas, a coros paroquiais e outras actividades paroquiais.

Feytor Pinto refere ainda o apoio, em dinheiro, que a Rádio Renascença tem canalizado para o território desde 1990, sempre através dos bispos, e na sequência de campanhas organizadas junto dos ouvintes: 20 mil contos em 1990, 65 mil contos em 1991, uma tonelada de livros escolares em 1995 e 100 mil contos em 1999, já depois do referendo e do "Setembro negro" de destruição provocada pelas milícias pró-indonésias. No último ano, seguiram mais algumas centenas de milhares de contos, distribuídas por vários projectos.

O projecto mais vasto será, porventura, o da construção das maternidades-escola. Iniciativa do Patriarcado de Lisboa no âmbito do Jubileu dos 2000 anos do nascimento de Cristo, a ideia foi depois adoptada pela Conferência Episcopal e alargada a Baucau (inicialmente, só se destinava a Díli). Médicos e enfermeiros já estiveram no terreno e o projecto de arquitectura está agora a ser desenhado. No âmbito da CEP, foi constituída a Fundação Mater Timor, para preparar o lançamento das maternidades com os parceiros internacionais - Federação Internacional de Médicos Católicos e Matercare International. Ambas as instituições pretendem, esclarece Feytor Pinto, "responder a situações de risco dentro da maternidade e apoiar as mães no domicílio".

O problema para estes amuos pode ter a ver também com outras questões, diz ainda a segunda fonte contactada pelo PÚBLICO: D. Ximenes não foi habituado a fazer relatórios ou a dar informações sobre a forma como o dinheiro foi sendo gasto. E essa inexistência já não é bem aceite nas instituições europeias - incluindo as da Igreja.

Fonte Público

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