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Sínodo Estuda Papel do Bispo e Novo Lugar do Papa
2001-10-03 20:43:52

Redefinir o papel do bispo na Igreja Católica é o primeiro objectivo da
décima assembleia ordinária do Sínodo dos Bispos que desde anteontem, e até
dia 27, decorre no Vaticano sob o tema "O bispo servidor do Evangelho de
Jesus Cristo para esperança do mundo".


Uma assembleia que não deixará de
ficar marcada pelos atentados de 11 de Setembro nos Estados Unidos e das
questões religiosas por eles colocadas: o relator do Sínodo é o cardeal
Edward Egan, arcebispo de Nova Iorque, que já anteontem comoveu a assembleia
com o testemunho do que viveu na cidade; no final, o Sínodo deverá emitir
uma declaração evocando os atentados.
O próprio Papa já abriu caminhos para o debate que percorrerá a aula sinodal
nas próximas semanas. No domingo, durante a missa de abertura, João Paulo II
afirmou que os bispos actuais, para serem "credíveis", devem ter uma conduta
"desligada de interesses privados". Perante os 280 cardeais e bispos
participantes - dos quais 65 por cento vem da África, Ásia e Oceânia -
acrescentou, acerca da relação com os bens materiais: "Somos convidados a
verificar até que ponto, na Igreja, a conversão pessoal e comunitária se
traduz numa efectiva pobreza evangélica. É o caminho da pobreza que nos
permite transmitir aos nossos contemporâneos os frutos da salvação. Como
bispos, somos portanto chamados a ser pobres ao serviço do evangelho."
A afirmação do Papa vem ao encontro de alguns dos temas propostos no
"Documento de Trabalho", o texto preparatório do Sínodo que serve de base às
discussões dos próximos dias. O segundo capítulo é todo ele dedicado ao
"Mistério, ministério e caminho espiritual do bispo", abordando a acção e a
espiritualidade do bispo contemporâneo. Também no último capítulo, sobre o
"serviço do Evangelho para a esperança do mundo", se fala de temas como as
novas formas de pobreza, a justiça social, a paz, a relação com a sociedade
civil e política, ou ainda a cooperação missionária e o diálogo
inter-religioso.
O tema do primado do Papa também deverá ser abordado ao longo destas quatro
semanas de duração dos trabalhos. O próprio João Paulo II já tratou do tema
na encíclica dedicada à unidade dos cristãos "Ut Unum Sint" (Que todos sejam
um). Nesse texto, o Papa Wojtyla admite que a doutrina católica sobre o
primado é um obstáculo à unidade entre cristãos e pede aos teólogos que
estudem "uma forma de exercício do primado aberta a uma nova situação, mas
sem renunciar ao essencial". Embora o próprio não adiante soluções, todo o
primeiro milénio de história do cristianismo poderá servir de orientação. O
bispo de Roma era, então, um "primus inter pares" que só depois, com as
divisões de igrejas e a política à mistura, foi ganhando o poder que hoje
tem.
O "Documento de Trabalho" traça um retrato do bispo que deixou de ser a
figura principesca de séculos passados e deu lugar a uma pessoa "mais
próxima, mais simples e mais acessível", embora por vezes apareça como uma
figura "monárquica" e "autoritária". Mas as responsabilidades pastorais dos
4500 bispos do mundo inteiro - 80 por cento dos quais nomeados por João
Paulo II nos seus 23 anos de pontificado - redobraram: muitos bispos parecem
hoje afogados em "múltiplas tarefas" e surgem "como um sinal de
contradição".
O modo de governar que tantas vezes se assemelha às instituições civis e a
própria presença junto de autoridades públicas são apresentadas pelo texto
como aspectos vistos como negativos na figura do bispo actual.
Questões difíceis, mas talvez não tanto como a do cardeal colombiano Pedro
Rubiano Saenz, arcebispo de Bogotá, que ontem denunciou, na aula sinodal, as
actuações da guerrilha do seu país, ligada ao tráfico de droga, e que impede
padres e bispos de exercerem o seu ministério. Ou como a do bispo de Tainan
(Taiwan), Joseph Cheng Tsai-Fa, que manifestou o desejo de que a China
continental, depois de ter ganho a organização dos Jogos Olímpicos de 2008,
dê passos no sentido de "realizar o ideal olímpico de liberdade e igualdade,
assegurando a todos a liberdade religiosa".
No Sínodo, participam como representantes dos bispos portugueses o patriarca
de Lisboa, José Policarpo, e o arcebispo de Braga, Jorge Ortiga. Na
assembleia, participam os representantes das conferências episcopais, além
de 35 escolhidos pelo Papa e de 37 que ali estão por inerência, como é o
caso dos membros da Cúria Romana.

Fonte Público

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