paroquias.org
 

Notícias






Polémico Teólogo Homenageado na Suíça
2001-09-15 09:55:14

Uma homenagem a um polémico teólogo católico, o padre dominicano suíço Herbert Haag - que morreu há menos de um mês, com 86 anos, depois de lhe ter sido retirada a confiança pela Conferência Episcopal Suíça - decorre hoje em Lucerna (Suíça), presidida por Hans Küng, outro teólogo mal-amado pelo Vaticano desde há duas décadas.



Apesar da retirada de confiança de que foi alvo em Janeiro do ano passado, Haag escrevera no seu testamento: "Morro como filho da Igreja Católica, à qual me liga uma dívida de gratidão sem limites, mas na qual também tive muito sofrimento". O bispo de Basileia, de quem o teólogo dependia directamente, retirou-lhe a confiança por causa das teses que Haag defendia nos seus livros - nomeadamente em dois publicados em português: "Liberdade aos Cristãos" (ed. Círculo de Leitores) e "A Igreja Católica Ainda Tem Futuro?" (Edit. Notícias). O prefácio deste último - escrito para a edição portuguesa - foi, aliás, objecto de uma pré-publicação no PÚBLICO (ver edição de 20 de Maio).

Nascido em 1915 e professor emérito da Universidade de Tubinga, Herbert Haag reflectia nas suas obras o grande conhecimento que tinha da Bíblia - a publicação do "Dicionário Bíblico" entre 1951 e 56 deu-lhe reconhecimento internacional na sua especialidade. Mas seria na década de 60 que Haag se tornaria conhecido do grande público, com a "Despedida do Diabo", em que evidenciava não haver fundamento bíblico para a crença no Diabo.

O padre Anselmo Borges, membro da Sociedade Missionária da Boa Nova, que conheceu pessoalmente o teólogo suíço, recorda que Haag aprendeu português com o objectivo de trabalhar e apoiar os emigrantes portugueses que viviam na Suíça. "O que eu admirava nele era a bondade generosa, a liberdade de espírito, a simplicidade e a cultura", afirma Anselmo Borges em depoimento concedido ao PÚBLICO. Mas este teólogo português salienta os aspectos principais da pesquisa de Herbert Haag: "O conhecimento da Bíblia (dominava, para lá do latim e do grego, o hebraico, o aramaico, o árabe) permitiu-lhe a renovação de grandes questões teológicas, como o pecado original, a criação e a evolução, o mal, a moral sexual".

Nas suas obras, acrescenta Anselmo Borges, Haag "apresentava um Jesus próximo e amigo dos homens e das mulheres", mais do que "um Cristo dogmatizado", além de combater por "uma Igreja fraterna, onde se respeitassem os direitos humanos, sem duas classes - clero e leigos - e sem discriminação da mulher".

Fundador da Associação Liberdades na Igreja, Haag era favorável ao diálogo ecuménico e inter-religioso. No último livro publicado em Portugal, definia o que deveria ser uma espécie de Constituição da Igreja Católica para o século XXI - onde se inclui o papel da mulher e a importância do respeito pelos direitos humanos no interior da instituição eclesiástica. No livro "Liberdade aos Cristãos", debruçava-se também sobre a importância do amor e do erotismo na Bíblia. "Trouxe para o campo da teologia o amor erótico, concretamente a partir da exegese do Cântico dos Cânticos", sintetiza Anselmo Borges.

Fonte Público

voltar

Enviar a um amigo

Imprimir notícia