paroquias.org
 

Notícias






Concílio, precisa-se
2001-09-08 09:25:07

Bispo carismático, remeteu-se a um silêncio invulgar desde que foi substituído por D. Jorge Ortiga no comando dos destinos da Arquidiocese de Braga. "É como estar na penumbra, mas é necessário que eu diminua para que D. Jorge cresça", diz.

No entanto, mantem-se activo: redige pedaços das memórias bastas, acumuladas numa vida longa e marcada pela polémica. Rotulado de conservador e reaccionário por alguns, proclamado progressista por outros, ninguém fica indiferente ao bispo emérito D. Eurico Dias Nogueira. Um homem em paz consigo próprio e com o mundo.

Afinal, é um homem conservador ou progressista?
Não percebo essas expressões. Sou conservador na doutrina (nos dogmas da Igreja Católica); sou progressista, na medida em que estou aberto a novos ventos e mudanças.

Como a questão do sacerdócio feminino, que D. Eurico já afirmou não ver inconvenientes. O Papa, porém, mostra-se refractário. O que é preciso para aceitar mulheres a presidirem à eucaristia na Igreja Católica, assim como padres casados?
As coisas só mudam com um novo Concílio. Alguns teólogos defendem que Cristo não quis mulheres porque só convidou homens para apóstolos; mas, por outro lado, quando ressuscitou (e esse é o mistério fundamental da Igreja) apareceu primeiro às mulheres... Mas não é uma questão dogmática, pode ser alterada, assim como a liberdade do celibato no desempenho da missão sacerdotal, que defendo abertamente. Mas temos que deixar passar o tempo...

E foi um pioneiro do ecumenismo...
Sim... de algum modo. Quando ninguém falava nisso, em 1948, fui convidado a fazer uma oração de sapiência numa universidade em que defendia precisamente o diálogo entre as diversas igrejas cristãs. Foi um escândalo. Depois, dava-me muito bem com a comunidade islâmica de Vila Cabral, em Moçambique. De tal modo que, quando a Santa Sé me transferiu para Angola, escreveram uma carta ao Papa pedindo-lhe que me deixasse ficar. Acho que é caso único.

Se fosse João Paulo II, se calhar teria acedido ao pedido...
Talvez. É uma das marcas deste Papa, que é uma personalidade muito complexa e maravilhosa, pregar o ecumenismo.

Mas, por outro lado, conservadora em algumas matérias. Influências da Opus Dei?
Não acredito. O seu conservadorismo deve-se à educação que teve. As suas atitudes são influenciadas pelo ambiente hostil em que viveu, com a União Soviética a querer destruir as tradições católicas da Polónia, o que o obrigou a apegar-se mais fervorosamente a alguns fundamentos da Fé. Aliás, a União Soviética tombou por estar cancerosa, mas é verdade que o Papa deu um contributo grande.

A Opus Dei adquiriu um grande peso na Santa Sé, substituindo os Jesuítas nos lugares privilegiados da hierarquia. Como é que encarou a rapidez da beatificação de Monsenhor Escrivá?
No Vaticano, há lugar para toda a gente. Quanto à beatificação, não gostei; surpreendeu-me pela sua rapidez. Agora querem fazer o mesmo com a Madre Teresa de Calcutá, mas é mais pacífico, porque era uma alma aberta. Mas defendo que se deve deixar passar 30 anos após a morte das pessoas visadas.

Esta semana, um bispo francês foi condenado a três meses de prisão por ter sonegado às autoridades dados sobre um padre alegadamente pedófilo, protegendo-o. Parece-lhe um precedente grave atentatório da Igreja?
Há nesse caso uma confusão entre segredo de confissão e sigilo profissional. Se o bispo tomou conhecimento por confissão, o facto não pode ser revelado porque, para todos os efeitos, nunca tomou conhecimento dele. O segredo de confissão não pode ser denunciado, e nem há memória, na história da Igreja, de alguém que tenha infringido esta regra.

O segredo de confissão é um valor que se sobrepõe ao da própria vida?
É. Não tenha dúvida.

Em confissão, já ouviu casos que o atormentassem? Como é que lida com esse fardo?
Houve coisas desagradáveis, até de pessoas conhecidas. Mas esqueço imediatamente a seguir. Simplesmente, esqueço.

Houve algo, na sua carreira, que tivesse pena de não ter conseguido concluir?
Sim: não conseguir construir a residencial do clero, que desse dignidade aos padres retirados. Mas custava 300 mil contos, o que era muito dinheiro.

Fonte JN

voltar

Enviar a um amigo

Imprimir notícia