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Igreja está a perder jovens
2001-08-26 22:04:36

A Catedral de Díli, outrora local de grandes ajuntamentos juvenis, começa a sentir os efeitos de uma presença estrangeira consumista e hedonista. Agora há menos gente nas missas.

Símbolo do cristianismo timorense, a Catedral de Díli está a perder a animação juvenil existente no tempo da ditadura indonésia. "Com a chegada dos estrangeiros, os jovens estão a encaminhar-se para outro tipo de solicitações", disse ao DN o padre José António, responsável daquele centro pastoral.

O sacerdote está com esperança de que, após a retirada da comunidade internacional, seja possível o "regresso de alguns jovens que começaram agora a descobrir as discotecas". Isto, sublinhou, "se não forem entretanto levadoas pelas ideias anti-religiosas apregoadas por alguns partidos".

O certo é que já nada é como dantes. Paradigmático foi o que aconteceu com a cerimónia da cruz que todos os anos é deslocada de terra em terra. É da tradição que sejam os jovens de cada povoação a recebê-la e, depois de ficar uns tempos na paróquia, transportam-na para a localidade mais próxima. "Este ano não se verificou o normal ajuntamento juvenil de outrora", lamentou o padre José António.

"É preciso reenvangelizar Timor". Esta é a certeza do sacerdote. Por enquanto, explicou, o "comprometimento da fé na vida social é quase inexistente". Simultaneamente, prosseguiu, os cristãos tão depressa vão à missa, inclusivamente comungando, como, em seguida, podem ir ao "Matan dos" (feiticeiro).

Quando alguém morre, os familiares vão ao "Matan dos" para saber qual foi a causa da morte. Frequentemente, o procuram para tentarem descobrir as causas de uma doença ou de problemas familiares.

Em suma, as crenças animistas estão hoje tão enraizadas na sociedade timorense como há 24 anos, altura em que os indonésios começaram as pessoas a aderir a uma única religião.

Esta reevangelização passa, naturalmente, por um forte investimento na formação. Conforme explicou o sacerdote, a vida de fé na comunidade praticamente se restringe à participação da missa aos domingos, e já se nota que as presenças são muito menores do que há dois ou três anos atrás.

O abandono das actividades pastorais começa logo a partir dos dez anos de idade, altura em que as crianças fazem a primeira comunhão. Depois, só mesmo as celebrações litúrgicas, embora alguns, por volta dos 14 anos, se disponibilizem para frequentar um curso catequético com vista a receberem o sacramento da confirmação (crisma).

A religiosidade, conforme referiu o padre José António, ainda está muito marcada pelo pietismo popular. Esta situação é bem ilustrada com o facto de, em geral, as pessoas não gostarem de ver cristãos leigos a distribuírem a comunhão. Por isso, na Catedral de Díli só as freiras ajudam o padre nessa tarefa.

Incentivar os leigos a uma participação mais activa, começando por lhes proporcionar alguma formação teológica, é o principal desafio da comunidade cristã. Agora, a questão é saber quando e como. Questões que aquele responsável diz não saber responder e que o melhor é esperar para ver aonde vai o barco.

De facto, recordando os últimos artigos desta página, o ritmo de crescimento de católicos em Timor é único no mundo, passou de 23 por cento para 97 por cento em apenas duas décadas. Mas, tal como as pessoas se aproximaram da Igreja, também se podem afastar rapidamente. Só o tempo o dirá, mas é quase inevitável um decréscimo de participação na eucaristia dominical.

Estarão os padres preparados para este embate? Haverá um projecto pastoral por parte da diocese para enfrentar estes novos tempos? D. Carlos Ximenes Belo já prometeu que vai responder a estas e a outras perguntas numa entrevista que publicaremos no domingo.

Fonte DN

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