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Chuva ameaça procissão e tapetes de flores da Agonia
2001-08-20 15:42:29

"Só com um milagre da Senhora da Agonia, nossa padroeira, teremos tapetes de flores e procissão ao mar". Era este o estado de espírito das gentes da Ribeira, em Viana do Castelo, ontem à tarde, face ao mau tempo que, desde o fim da manhã, se instalou na cidade e ameaçava prolongar-se para hoje, dia do fecho da romaria.


Habituados a "ler o tempo", os pescadores sentem que "o sudoeste está muito amarrado", dando poucas hipóteses de realização de alguns dos números mais típicos das festas de Viana do Castelo, como são a confecção dos tapetes e a procissão da padroeira ao mar, acompanhada, em cortejo, por dezenas e dezenas de barcos apinhados de gente.
A hipótese cavou o desânimo nos organizadores deste típico fim de festa, que vêem ir por água abaixo o trabalho de três meses, com muitas noites por dormir, para que tudo "estivesse num brinquinho", na hora de demonstrar a veneração pela Senhora da Agonia.

Fitas e sal grosso
Caso o milagre não se dê, o JN foi ver os enfeites que os moradores da Ribeira preparavam para, na madrugada de hoje, engalanar as estreitas ruas por onde passará a procissão da Senhora, no regresso ao santuário, vinda do mar.
Maria Doroty ("Nunca percebi por que lhe puseram este nome"), mas por todos conhecida por Dora, é a responsável, há mais de dez anos, pelos arranjos do Largo Infante D. Henrique. Embora triste pela chuva, fala com entusiasmo dos desenhos, inspirados no ponto de cruz de uma revista, que haviam de "ficar bonitos no sal grosso e fitas de madeira pintadas".
Mas insiste em dizer que ainda está "nervosa e doente, por causa da falta de qualidade das anilinas deste ano, que não asseguraram a cor forte e garrida que era precisa nos desenhos". Mas, garante, se houver uma aberta no tempo, ainda salta com o material para a rua, decorando, com os seus vizinhos, familiares e amigos - muitos dos quais fazem férias nesta altura para ajudarem nos 80 metros de via que lhe compete.

Trabalho dos velhos
Ermelinda Guia, casada com Manuel - um experimentado marítimo que prognostica mau tempo para hoje -, tem a seu cargo a decoração de centena e meia de metros da Rua dos Poveiros, o que faz com ajuda de amigos e vizinhos, há mais de 20 anos.
Os tapetes, "tirados da imaginação", serão feitos com sal grosso, "pintado por três velhas como eu, qual delas a mais coxa, pois pouca gente aparece para ajudar, a não ser na colocação, de noite, dos enfeites na rua", comentou.
Espera, ainda, "por um milagre da padroeira", para que o tempo "permita cumprir a tradição".
É o que pensa, também, João Chavarria, trabalhador dos Estaleiros Navais casado com uma filha de pescador, que desde há 25 anos reside na Ribeira, onde se encarrega da adorno da rua monsenhor Daniel Machado, antiga rua do Loureiro.

Sal grosso e serrim
"Se o tempo o permitir, serão 200 metros de ondas com barquinhos ligados por um coração, confeccionados em sal grosso e serrim".
Igualmente ansiosos estão os responsáveis das outras ruas, como a Inácia da Góis Pinto e a Galeira da Frei Bartolomeu dos Mártires, cujas decorações são do mesmo tipo, com muita cor e muita imaginação, e que hoje poderemos admirar, caso o milagre se dê.

Mudança de horários é experiência
Pela primeira vez, a tradicional procissão da Senhora da Agonia _ sempre realizada no dia 20 de Agosto, dia da padroeira e feriado municipal _ não se efectua de manhã, pelas 11 horas, logo após a celebração, no santuário da Virgem, da missa solene. A Comissão de Festas entendeu propor a sua realização a meio da tarde, para dar mais tempo aos ornamentadores das ruas por onde passa a procissão e para que os tapetes colocados no chão _ habitualmente autênticas obras de arte popular _ pudessem ser admirados por mais tempo.
Os pescadores torcem o nariz à ideia, pois temem a destruição dos tapetes antes da passagem do cortejo, por causa do vento e da passagem de animais e de visitantes. Vai ser necessário mais vigilância por parte dos moradores, precisamente no dia da sua festa, com almoço melhorado para fazer e para servir aos convidados.
Embora cépticos, os moradores, como disse João Chavarria, ao JN, aceitam "a mudança para se fazer uma experiência. Depois, se verá".

Fonte JN

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