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Mafias de imigrantes sem eco
2001-08-13 08:58:49

"Muita coisa que se sabe nas instituições públicas (sobre a intervenção das mafias junto dos imigrantes) não é dita", afirma o presidente da Comissão Episcopal de Migrações e Turismo, D. Januário Torgal Ferreira, que falou sobre o assunto em Fátima, no âmbito da peregrinação de Agosto.

O bispo acha que "de vez em quando é atirado um bocadinho (dessa realidade) para a opinião pública para lhe dar uma satisfação". E explica que isto "talvez (aconteça) por uma questão de bom senso, senão as pessoas ficavam extremamente aflitas".

Afirma ficar com muita pena por "estar a assistir a consequências trágicas de ucranianos, que aparecem esfacelados ou até mortos". Nestes casos, diz: "Entendo que há aqui questões de mafias. Não acredito que existam outros problemas. Há questões de dinheiro e de exploração."

"Estou a pensar", sublinha o bispo, "nos acontecimentos dramáticos, desumanos e marginalizadores que a prostituição está a ter hoje em Portugal." Para si, "esta anda sempre associada a irmãos gémeos como são a exclusão, a droga, as lavagens de dinheiro e outras formas de submundo". Eram por isso situações fáceis de detectar, para D. Januário: "Bastava ir a bares e (seguir) vidas de submundo que se descobriam de imediato, por ser nestas zonas que me parece se encontram as formas de exploração mais terrível e vão ser fontes possíveis de violência, de alteração de costumes e de ordem social."

Embora classifique "estes elementos como perturbadores", o bispo ressalva que "não podemos entrar em atitudes de perturbação social ou de pânico". Porém, sublinha: "Há um conjunto de margens sociais que são infiltradas no nosso meio que me interrogo porque não são descobertas?"

Acerca do que a Igreja sabe sobre isto, D. Januário responde: "A Igreja vai sabendo muitas coisas. Neste caso dos estrangeiros, muitos casos nos têm passado pelas mãos e depois muitas pessoas que estão no meio da emigração e que nós contactamos sabem." Para ajudar, o bispo diz que têm utilizado o forma que considera "mais inteligente", que é tentar ensinar-lhes a língua portuguesa, "a maior riqueza que podemos oferecer-lhes para se defenderem", assegura.

No entanto, estão também, ainda segundo o prelado, nas mãos da "corrupção, porque em Portugal tudo se compra". "Talvez a maior doença do mundo português seja a corrupção e temo-la a todos os níveis e as pessoas usam-na como arma".

Aos milhares de emigrantes em peregrinação anual a Fátima, D. Januário queria dizer que "é necessário afirmar que os emigrantes existem", porque "isso não acontece para a maioria dos portugueses". Estes, diz o bispo das migrações, "acham que os emigrantes não existem: fugiram daqui. Para estas cabecinhas inteligentes, os emigrantes foram uns traidores, uns vaidosos: tinham cá trabalhinho, mas quiseram ir ganhar muito dinheiro e agora andam por aí a chorar-se", afirma o bispo, sublinhando que "nem lhes passa pela cabeça o que é o drama da imigração".

Por isso, D. Januário apelava ontem à noite "ao respeito mútuo pelos que entram e pelos que saíram", explicando desejar que em cada paróquia se resolvam as dificuldades dos que vivem nas suas áreas geográficas.


Fonte JN

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