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O maior patrão de Timor
2001-08-05 10:12:24

Só na diocese de Baucau, a Igreja Católica emprega cerca de duas mil pessoas. D. Basílio do Nascimento, anteriormente professor de teologia e orientador espiritual dos seminaristas de Évora, tornou-se, de repente, no maior patrão privado de Timor.

As obras públicas, fora de Díli, são por enquanto ainda projectos que se diz que podem arrancar a qualquer momento. A nível estatal, praticamente nada se vê. Os empresários privados são poucos e, curiosamente, a maioria dos que já se encontram estabelecidos tiveram o apoio da Igreja. É o caso, por exemplo, do restaurante "Benfica". Todas as obras do estabelecimento, propriedade de uma família, foram financiadas pela Caritas Portuguesa. Infelizmente, já por várias vezes o restaurante foi incendiado e apedrejado por grupos mais radicais, sem que por trás disso haja motivações clubísticas. Quando o "Benfica" encerra, os clientes - quase exclusivamente estrangeiros - deslocam-se ao "Amália", ambos muito parecidos a nível da qualidade. O "Amália" tem a vantagem de lá se poder beber uma "Sagres" e umas "Superbock".

A verdade é que o desemprego predomina. D. Basílio, graças aos amigos, conforme ele diz, aplica todo o dinheiro que recebe na reconstrução, sobretudo de escolas, igrejas, casas paroquiais e aldeias. Neste momento, é ele o patrão de quase todas as obras que se vêem na diocese. O seu território engloba quatro distritos, numa área aproximadamente de seis mil quilómetros quadrados. No final do mês é preciso, pois, pagar os salários aos trabalhadores da construção civil e, claro, todos os materiais e também os comestíveis. Para além do salário, o bispo fornece ainda uma refeição.

E estes não são os únicos assalariados da diocese. É que o voluntariado só acontece nos países ricos. Numa nação em reconstrução, qualquer trabalho tem que ser pago, porque as pessoas não têm mesmo como sobreviver. Neste sentido, o prelado garante um salário não apenas aos padres como também aos catequistas, sendo estes cerca de 600 espalhados por toda a diocese. Para a maioria deles este é o único trabalho remunerado.

Na diocese trabalham ainda os funcionários da cúria, os porteiros, os motoristas, os responsáveis pela manutenção da câmara eclesiástica - que funciona também como a única pensão da cidade - e todos os que nas várias paróquias exercem serviços sociais e religiosos. A tipografia da diocese, cujas máquinas foram oferecidas pelo duque de Bragança, sendo a única em Timor, é por agora o sector que começa a auto-sustentar-se. Em suma, o bispo paga salários a cerca de duas mil pessoas, o que significa garantir o sustento a igual número de famílias, tendo cada uma, em média, cerca de sete filhos.

Ao final do mês, os seus cofres têm de dispor, sempre, de cerca de 10 mil contos para pagamento de mão-de-obra. Em contas ocidentais, o número não impressiona, mas recorde-se que o ordenado mensal de um comandante de bombeiros é de cerca de 25 contos.

D. Basílio, ainda a recuperar de uma recente intervenção cirúrgica ao coração, com certeza que se dedicaria apenas a gerir a diocese, preocupado com a dinâmica pastoral, sobretudo no campo da formação. Disso, diz perceber alguma coisa. Mas, conforme nos explicou, aqui não mandam as vontades, mas a realidade. E esta manda que, por agora, cabe à Igreja ser o motor da economia local. E, na verdade, fora de Díli, só o sector eclesiástico e algum pequeno comércio estão a criar emprego e riqueza. A nível estatal, praticamente não há obras.

Tudo isto é possível, graças aos amigos, sublinha o bispo, especialmente os portugueses. Recordou, a propósito, que, em Baucau, só a Caritas Portuguesa alimenta directamente cerca de 200 famílias, através de um programa em que uma família portuguesa se compromete a dar um subsídio mensal a outra família timorense. A Caritas lusa é ainda responsável pela criação de associações empresariais de pescadores, agricultores, uma fábrica de tijolos e telhas e outros projectos, nomeadamente na formação profissional. Anualmente, a instituição envia para Timor cerca de 80 mil contos.

Esta é a realidade, com os tostões todos aproveitados. D. Basílio, de repente, viu-se obrigado a ser pastor de almas e de corpos. Também por isso o prelado é a maior autoridade local. Os políticos não hesitam em se ajoelhar perante ele.

Fonte DN

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