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Em busca da verdade sobre Pio XII
2001-07-22 11:48:57

O comportamento do Papa Pio XII durante a Segunda Guerra Mundial é ainda motivo de polémica entre os historiadores. Robert Wistrich, docente na Universidade de Jerusalém desde 1981, explica os entraves à investigação nos meandros do Vaticano.

É membro da comissão judaico-católica que, desde 1999, investiga Pio XII e a era de Hitler. Há seis meses entregou no Vaticano uma lista de perguntas sobre a perseguição dos judeus e o conhecimento que Pio XII tinha desses factos. Quais têm sido as reacções?
Até agora, Roma nada disse, nem sequer se estava a estudar o assunto e não nos enviou nenhum relatório preliminar. É um comportamento muito frustrante.

Após Pio XII ter sido duramente criticado, sobretudo no livro "O Papa que se Calou", de John Cowells, foi o próprio Vaticano que criou essa comissão.
Foi o cardeal Edward Cassidy, ao tempo presidente do Conselho Pontifício para a Unidade dos Cristãos, quem tomou a iniciativa. Elogiou o nosso trabalho, em privado e publicamente.

Mas observadores ficaram com a impressão de que a comissão não estava a ser muito bem recebida em círculos da Igreja.
Porque o jesuíta Peter Gumpel, encarregado da beatificação de Pio XII, nos considera perturbadores da paz. Tivemos uma conversa de três horas com ele e, no fim, ficou claro que pretende deslegitimar a comissão.

Gumpel encara a comissão como tendenciosa e pouco científica?
Sente-se perseguido e conjectura na comissão uma campanha contra a Igreja, o Vaticano e o Papa. Pensa que somos sectários.

O argumento dos defensores de Pio XII parece ser este: os documentos do Vaticano referentes à guerra já foram publicados - 11 volumes com mais de cinco mil "dossiers". É possível recorrer-se a essa documentação.
Esses volumes apenas contêm documentos escolhidos a dedo. E até agora ninguém fez uma análise crítica: que documentos estão lá, que documentos faltam? Esqueceram-se de alguns? Ocultaram propositadamente outros? Por exemplo: porque é que o Papa não respondeu ao pedido expresso do bispo de Berlim, Konrad Preysing, no sentido de defender os judeus? Pio XII sabia perfeitamente das perseguições aos judeus. Outro exemplo: o Papa recebeu em audiência privada o líder fascista da Croácia, Ante Pavelic, responsável pela morte de dez mil pessoas. Que sentido teve essa audiência?

Só se pode responder a essas perguntas, depois de consultar os originais do arquivo secreto do Vaticano?
Evidentemente que queremos ter acesso aos documentos para termos uma imagem exacta do que se passou. Está menos em causa a resposta às nossas perguntas concretas do que a questão de princípio de consultar arquivos e produzir trabalho científico.

Há alguma hipótese?
O director do arquivo disse-nos que tem pouco pessoal e que ainda não conseguiu catalogar todos os dossiers. Alega, portanto, razões técnicas. Mas o padre Gumpel procura sabotar a investigação e diz-nos claramente não concordar com o trabalho da comissão e que é do interesse da Igreja manter-nos afastados dos arquivos.

Tal atitude deve-se ao facto de o processo de beatificação de Pio XII, após os atrasos sofridos, poder ficar eternamente bloqueado?
Talvez seja essa a razão.

Que resta à comissão?
Só João Paulo II nos poderá ajudar. Ele tem de chamar esta questão a si. Tenho grande esperança de que tome a decisão certa, por amor à verdade.


Fonte DN

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