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Mensagem do Cardeal-Patriarca para a Quaresma 2007
2007-02-22 22:42:59

1. Na sua Mensagem para a Quaresma, o Santo Padre Bento XVI convida os cristãos a encontrarem-se com Jesus Cristo, contemplando o Seu rosto de crucificado: “hão-de olhar para Aquele que trespassaram” (Jo. 19,37). Convido os cristãos da Diocese de Lisboa a seguirem a palavra do Papa, porque somos uma Igreja em comunhão com o Sucessor de Pedro, e queremos sê-lo mais profundamente neste tempo santo da Quaresma, início da celebração pascal deste ano. Por isso limitar-me-ei a dar sugestões para uma resposta sincera e profunda às palavras do Santo Padre.

Acolher o amor de Deus

2. Olhar o rosto de Jesus crucificado é abrir-se ao insondável amor com que Deus nos ama. Porque a morte de Jesus, o Filho de Deus, é a mais radical expressão do amor de Deus por nós, contemplar o Crucificado é o caminho mais directo para nos abrirmos a esse amor infinito. Também aí, sobretudo aí, Cristo é o caminho para o Pai.

Que Deus nos ama, é objecto da nossa fé. Começamos por acreditar nesse amor. Mas o amor de Deus por cada um de nós pode tornar-se experiência vivida e mesmo sentida. A generosidade absoluta desse amor comove-nos; a ânsia que Deus manifesta de nos amar e de receber o nosso amor, desperta dinamismos profundos, escondidos no nosso coração. Não é só Deus que se sente atraído por nós; no mais íntimo de nós mesmos sentimo-nos atraídos por Deus e essa é uma atracção de amor. A dimensão esponsal com que as imagens bíblicas nos apresentam o amor de Deus pelo seu Povo, revela-nos o mais profundo desejo de Deus: ser comunhão connosco. Para o conseguir, enviou o seu Filho, isto é, deu-no-l’O para nos amar com um amor humano, que é divino, e dar a maior prova de amor, deixar-se amar por nós.

Ao preparar a Páscoa deste ano, não desviando o olhar do rosto de Cristo crucificado, identifiquemos todos os sinais da nossa atracção por Deus, demos-Lhe o nosso amor manifestado em gestos simples de vida, que vão da adoração ao amor fraterno, e demos, neste tempo, à Cruz do Senhor um lugar especial na nossa vida, com muita gratidão e de ternura. E nunca esqueçamos que amá-l’O é cumprir a sua vontade obedecendo aos seus mandamentos, pois há formas de viver que abafam em nós essa experiência do amor de Deus.


Quaresma, tempo eucarístico

3. O Santo Padre diz-nos na sua Mensagem: “A Eucaristia atrai-nos para o acto oblativo de Jesus, somos envolvidos na dinâmica da sua doação. Vivamos então a Quaresma como um «tempo eucarístico», no qual, acolhendo o amor de Jesus, aprendemos a difundi-lo à nossa volta com todos os gestos e palavras”

O que é que nos sugere este convite de vivermos a Quaresma como tempo eucarístico?

* Tomar consciência, pelo modo como a preparamos e participamos nela, que a Eucaristia é o maior dom dado por Cristo à Sua Igreja: participar no acto de amor do Pai, que entrega o Seu Filho por nosso amor; participar no amor de Cristo ao Pai e a nós, “obedecendo até à morte e morte de Cruz”, abraçando a humanidade no amor infinito de Deus; participar na obediência de Jesus, procurando, em tudo, fazer a vontade de Deus Pai e participar no amor de Cristo pela humanidade, envolvendo, também nós, toda a humanidade com o nosso amor; entregar toda a nossa vida para a reencontrar em Deus.


* Procurar a Eucaristia, com uma fidelidade ainda mais delicada, sempre que possível, em todos os dias da semana.

* Cuidar, com particular zelo, da qualidade das celebrações, para que nelas se exprima a comunhão entre Cristo e a Sua Igreja, em comunhão e encontro de fé e amor.

* Preparar-se para elas, com especial cuidado e delicadeza, pela conversão e arrependimento dos nossos pecados, celebrando o sacramento da reconciliação.

* Partir delas, sentindo-se enviado em missão e testemunhando, pelas palavras e pela vida, a alegria de nos sentirmos amados por Deus.

A Eucaristia não é uma repetição. Em cada dia ela pode ser a surpresa do encontro com o Amor. É o momento em que Deus nos atrai e se nos revela, onde a Sua Palavra pode ter o impacto de uma manifestação de Deus. Só assim as celebrações eucarísticas, durante a Quaresma, nos prepararão para a Festa da Páscoa, onde nos cruzaremos com Jesus ressuscitado e descobriremos que contemplar o Seu rosto doloroso é o caminho para encontrar o Seu rosto glorioso.


A Quaresma, tempo de Caridade

4. A caridade, diz o Santo Padre, “é o amor oblativo de quem procura exclusivamente o bem do próximo”, que tem a sua fonte em Deus, que, ao dar-nos o Espírito Santo, inunda os nossos corações de capacidade e de desejo de amar os irmãos como Cristo os ama.

O nosso Programa Diocesano de Pastoral está repassado de um desejo: fazer de toda a acção da Igreja uma expressão da caridade. A Quaresma é um tempo privilegiado para darmos concretização a este desejo. São as próprias palavras do Papa a indicar-nos o caminho: “Contemplar «Aquele que trespassaram» estimular-nos-á desta forma a abrir o nosso coração aos outros, reconhecendo as feridas provocadas à dignidade do ser humano; impulsionar-nos-á, sobretudo, a combater qualquer forma de desprezo pela vida e de exploração da pessoa e a aliviar os dramas da solidão e do abandono de tantas pessoas. A Quaresma seja para cada cristão uma experiência renovada do amor de Deus que nos foi dado em Cristo, amor que todos os dias devemos, por nossa vez, «dar novamente» ao próximo, sobretudo a quem mais sofre e é necessitado. Só assim poderemos participar plenamente da alegria da Páscoa”.


5. Na nossa Diocese é já uma tradição que uma das expressões da caridade seja a nossa “Renúncia Quaresmal”, partilhando mais generosamente o que temos em favor dos mais carenciados, pessoas e comunidades de todo o mundo. Como sabem, o contributo da vossa Renúncia destina-se ao “Fundo Diocesano de Ajuda Inter-Eclesial”, que procura responder aos pedidos de ajuda que nos vêm de todo o mundo. Como o Santo Padre nos disse na sua Encíclica “Deus é amor”, a caridade deve ser praticada pelas pessoas e pelas Igrejas. Este “Fundo” é um dos modos que permite à Igreja de Lisboa praticar a caridade, ajudando as Igrejas mais pobres em bens materiais a socorrer os seus pobres e a viabilizar instituições de ajuda aos nossos irmãos. Não os conhecemos, mas Deus conhece-os e ama-os e recompensar-nos-á pela nossa generosidade. Que a nossa caridade proporcione a esses irmãos o sentirem-se amados por Deus.

Os resultados até agora recebidos da “Renúncia Quaresmal” de 2006 são da ordem dos 262.007,24€. Em anexo, a lista dos pedidos que contemplámos em 2006, depois de os analisarmos cuidadosamente. Um outro conjunto de pedidos de ajuda está já em estudo.

Construamos, desde já, a alegria da nossa Páscoa. Maria, que aos pés da Cruz, nos recebeu como seus filhos, estará connosco nesta nossa abertura ao amor de Deus.



Lisboa, 2 de Fevereiro de 2007, Festa da Apresentação do Senhor.

† JOSÉ, Cardeal-Patriarca

Fonte Ecclesia

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