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"Conversão" do irmão Roger ao catolicismo gera polémica em França
2006-10-08 13:47:41

O irmão Roger Schutz, fundador da comunidade monástica ecuménica de Taizé, ter-se-ia convertido ao catolicismo? A dúvida sobre o percurso daquele que começou por ser um jovem pastor protestante calvinista foi lançada nas últimas semanas em França.

A comunidade de monges, que inclui católicos e protestantes (e desde ontem promove o seu primeiro encontro asiático de jovens), desmente a conversão e fala de um "percurso sem precedentes desde a Reforma: entrar progressivamente numa plena comunhão com a fé da Igreja Católica sem uma "conversão" que implicasse uma ruptura com as suas origens".
A dúvida surgiu numa notícia publicada há um mês pelo jornal Le Monde, que dava eco a um texto do historiador Yves Chiron na folha de informação Aletheia. O irmão Roger recebera a comunhão das mãos do cardeal Ratzinger, durante a missa do funeral do Papa João Paulo II, e esse facto já provocara uma pequena polémica. De acordo com o investigador, isso percebia-se, pois o fundador de Taizé, que morreu assassinado em Agosto de 2005, durante a oração da noite, convertera-se ao catolicismo em 1972.
O antigo bispo de Autun (diocese francesa onde se situa Taizé), Raymond Séguy, disse entretanto ao Monde: "O meu predecessor, Armand Le Bourgeois, afirmou-me que tinha recebido a sua profissão de fé católica [declaração suficiente para a conversão, uma vez que as igrejas cristãs reconhecem entre si o respectivo baptismo], em 1972, na capela do bispado de Autun, e que lhe tinha dado, a seguir, a comunhão." Ao próprio Séguy, diz o bispo, o irmão Roger disse que era católico.
Estas interpretações são abusivas e falsas, dizem a Comunidade de Taizé, a Federação Protestante de França e o bispo católico de Nanterre. Num texto distribuído à imprensa, a comunidade de monges afirma que tais afirmações "distorcem o percurso real [do irmão Roger] e põem em causa a sua memória". E o próprio bispo Séguy fez marcha-atrás nas suas declarações ao Monde. À AFP recusou o termo "conversão" e afirmou: "Eu não disse que o irmão Roger tinha renegado o protestantismo, mas que ele manifestou que aderia plenamente à fé católica."
Numa entrevista ao La Croix, o irmão Aloïs, sucessor de Roger Schutz como prior da Comunidade de Taizé, dizia entretanto: "Não, o irmão Roger nunca se "converteu" formalmente ao catolicismo. Se o tivesse feito, tê-lo-ia dito, porque nunca escondeu nada relativo ao seu percurso."
O que se passou em 1972, explicava o novo prior, foi que o bispo de Autun deu a comunhão católica, pela primeira vez, ao irmão Roger, porque a comunidade se preparava para aceitar o compromisso do seu primeiro membro católico. "Seria impensável" que os monges da mesma comunidade não comungassem "à mesma mesa eucarística", afirma.

"Posição desconcertante"
Em comunicado, a comunidade refere que o percurso do irmão Roger "nunca teve nada de secreto" e que o próprio o exprimiu publicamente em 1980, na Basílica de S. Pedro, num encontro europeu de jovens em Roma: "Encontrei a minha própria identidade de cristão reconciliando em mim mesmo a fé das minhas origens com o mistério da fé católica, sem ruptura de comunhão com quem quer que seja."
Esse percurso não foi entendido por todos, admite o irmão Aloïs, mas foi acolhido pelos papas, bispos e teólogos católicos e por muitos "responsáveis das igrejas protestantes e ortodoxas". E o pastor Gill Daudé, da Federação Protestante de França, perguntava: "Será que se poderia respeitar o seu percurso e não querer recuperar confessionalmente o que ele queria ultrapassar? Protestantes querem frequentemente catolicizá-lo; católicos querem ver uma conversão (como se estivessem a cantar vitória) naquilo em que ele via uma reconciliação, uma comunhão sem ruptura."
E concluía que o irmão Roger fizera um percurso pós-confessional, que ultrapassou "mentalidades limitadas": "Se se é católico, já não se é protestante; e se se é protestante, já não se é católico. É a realidade institucional e formal das nossas Igrejas. É também o seu pecado."
Foi uma "posição original, exigente e desconcertante", a do irmão Roger, resume o bispo de Nanterre (França) e membro do Conselho Pontifício para a Unidade dos Cristãos, Gérard Daucourt. Os textos sobre a polémica estão disponíveis na Internet (www.taize.fr).

António Marujo

Fonte Público

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