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Mulher no Vaticano
2006-09-11 22:11:35

A doutora Rocio Figueroa, leiga consagrada da Fraternidade Mariana da Reconciliação (Fraternas), foi nomeada oficial do Pontifício Conselho para os Leigos. Sua especificidade é o tema da mulher.

Esta leiga peruana substitui Lucienne Sallé, que ocupou o cargo nas últimas décadas. Rocio Figueroa foi professora de teologia em Salerno e atualmente reside em Roma. Sua comunidade, a Fraternidade Mariana da Reconciliação, foi fundada pelo peruano Luis Fernando Figari, que também é fundador e superior geral do Sodalício da Vida Cristã.
Zenit a entrevistou em seu escritório, situado no Pontifício Conselho para os Leigos no Palácio São Calisto de Trastevere, em Roma.

--Bento XVI, em sua última entrevista, deixava entrever o desejo de uma maior participação feminina a Igreja. Você acha que isso já é uma realidade?

--Figueroa: Em sua última entrevista, o Santo Padre assinala que, desde o ponto de vista histórico, existiram mulheres que tiveram um papel de grande importância na edificação da Igreja. Apesar de situações e experiências concretas de discriminação, estas não hão de deixar que desconheçamos que a participação feminina na Igreja foi uma realidade que se deu sob a forma de evangelização, catequese, obras de caridade e promoção humana, educação na família, fundações de comunidades religiosas e presença na história de grandes místicas e santas. Realidade cujo ápice e modelo no desígnio de Deus se manifestou em Maria, a Mãe de Deus.

Sobre a realidade atual, no encontro que teve com o clero romano em 13 de maio de 2005, o Papa Bento XVI assinalou que «no âmbito carismático, as mulheres fazem muito pelo governo da Igreja».

Em sua última entrevista em vistas à sua viagem à Alemanha, constata a presença das mulheres não só na dimensão carismática, mas também na dimensão institucional: «Hoje, estão bem presentes também nos Dicastérios da Santa Sé».

Sobre esta realidade mais visível e ativa na vida da Igreja, pensemos também na presença de tantas mulheres em conselhos paroquiais, na liderança de movimentos e comunidades, serviços de administração e organização em tantas dioceses do mundo, docência escolar e universitária, teólogas e intelectuais em diversas áreas do saber.

Vemos, portanto, que ainda que houve sempre uma presença da mulher na Igreja, trata-se de uma realidade em crescimento, de uma presença que foi mudando e desenvolvendo-se na medida que a sociedade e as próprias mulheres foram adquirindo maior consciência de sua dignidade e sua missão no mundo e na Igreja.

Esta maior participação feminina na Igreja dependerá de dois fatores importantes que o Santo Padre mencionou em sua última entrevista: por um lado, o Papa Bento XVI convida as mulheres a «criar espaço para si», utilizando, como afirma, «seu impulso e sua força», sua «potência espiritual».

O Santo Padre confia nas mulheres e nos lança um desafio. A participação da mulher será consistente quando esta viva intensamente sua própria vocação e missão: antes de tudo, sua vocação a ser pessoa humana e, portanto, chamada a conformar-se com Jesus Cristo.

A santidade é essa «potência espiritual», essa potência que renova a história e a vida da Igreja. E com esse horizonte de santidade, a mulher responderá aos desafios que a sociedade atual apresenta para o anúncio do Evangelho, uma sociedade que cada dia vê claudicar a verdade e os valores que defendem a dignidade humana e a família, um mundo que se constrói prescindindo faticamente de Deus e que pede uma resposta que dê razões de nossa esperança.

É com esta consciência que a mulher, segundo suas características próprias, deverá concentrar suas forças e seu impulso e deverá com consciência formar e desenvolver suas capacidades humanas, intelectuais e espirituais para fazer o anúncio do Evangelho chegar às pessoas humanas nos diferentes âmbitos da sociedade: a família, a educação, os meios de comunicação, as ciências, as leis, a política etc. Podemos dizer que, como a Igreja é universal por seu chamado a evangelizar o mundo inteiro, o espaço que se abre ante a mulher é o mundo inteiro.

O outro fator para esta maior participação é, como assinalava o Papa Bento XVI, a necessidade de não pôr obstáculo à mesma: «E nós deveremos tentar colocar-nos à escuta de Deus, para que não sejamos nós a impedi-lo, é nos alegramos de que o elemento feminino obtenha na Igreja o pleno lugar de eficácia que lhe convém».

Faz-se necessária uma maior reflexão, por parte de todos, sobre a importância da reciprocidade de homens e mulheres batizados na missão eclesial. A reciprocidade só será possível quando homens e mulheres viverem em um processo contínuo de conversão e reconciliação em suas relações humanas desde a própria identidade.

Todos devemos continuamente ser evangelizadores permanentemente evangelizados, que vivamos um processo de purificação de toda busca de poder, de protagonismo, de busca de interesses pessoais. A humildade e o serviço fiel à Igreja promovem o outro porque o olhar está posto na edificação comum e na extensão do Reino.

--Como mulher e teóloga, qual deve ser, segundo você, a contribuição feminina à teologia?

--Figueroa: Considero que a primeira vocação da mulher, como assinalei antes, é a de responder à sua vocação de ser pessoa humana, chamada portanto a ser fiel aos seus dinamismos ônticos, criada à imagem e semelhança de Deus.

Uma mulher será verdadeiramente “mulher” na medida que responda à sua identidade cristã, e descubra em Cristo a revelação de sua própria identidade.

Neste caminho de vida cristã, algumas mulheres descobrirão sua vocação teológica e uma característica fundamental será a fidelidade à identidade de teóloga. A vocação do teólogo é a de aprofundar racionalmente nos conteúdos da Revelação e da fé da Igreja para poder viver seu dinamismo na história.

Portanto, a fidelidade à fé da Igreja e os ensinamentos do Magistério se convertem no fundamento desde o qual o teólogo pode levantar vôo com sua razão em uma compreensão mais profunda do mistério de Cristo.

As mulheres chamadas à vocação teológica têm a responsabilidade de adquirir uma séria preparação intelectual.

Hoje são mais as mulheres -- e isto é um aspecto positivo que ajuda a uma maior participação das mulheres na sociedade e na Igreja -- que têm a possibilidade de uma formação intelectual vasta e consistente.

Com estes sólidos fundamentos, aquelas mulheres com a vocação e as qualidades especulativas para o trabalho teológico, contribuirão desde suas características femininas em sua reflexão, desde seu «gênio feminino» como nos assinalava João Paulo II.

Edith Stein afirmava também que a diferença entre o homem e a mulher não só se encontra na dimensão psicológica, mas também chega até a configuração do espírito: «a relação corpo e alma é diferente, e dentro do anímico, a relação de espírito e sensibilidade, assim como a relação das forças espirituais entre si». Portanto, o fruto do trabalho teológico de uma mulher, o fruto de seu “fazer” teologia terá a marca de todas estas características próprias de seu ser: corpo, alma e espírito feminino, contribuindo com sua própria impostação uma reflexão teológica que enriquecerá a reflexão do homem. Em uma mulher teóloga, é a feminilidade, com suas características, a perspectiva que colore sua contribuição.

--Em que consiste seu trabalho dentro do Conselho para os Leigos?

--Figueroa: Meu trabalho, que apenas começou há alguns meses, consiste em acompanhar todas as questões relativas à vocação e missão da mulher na Igreja e na sociedade. Desde seu compromisso de pôr em prática os ensinamentos do Concílio Vaticano II concernente aos leigos, o Conselho Pontifício para os leigos teve sempre uma especial atenção por promover a igual dignidade entre o homem e a mulher como pessoas batizadas.

São diversos os seminários, encontros e publicações que o nosso Dicastério dedicou a este tema, sem deixar de mencionar a ativa participação da Santa Sé nas diversas Conferências mundiais sobre a Mulher.

Assim, portanto, trata-se de colaborar com associações, movimentos e organizações que trabalham na promoção da mulher.

O Conselho Pontifício para os Leigos se preocupa por promover a dignidade da mulher no âmbito internacional, tentando coordenar esforços e aumentar sua integração na missão da Igreja; ao mesmo tempo, nosso trabalho é promover um maior aprofundamento no âmbito filosófico e teológico sobre as questões concernentes à mulher.

ZP06091007

Fonte Zenit

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