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V SIMPÓSIO DO CLERO DE PORTUGAL - Comunicado Final
2006-09-10 14:31:33

Reuniu em Fátima de 05 a 08 de Setembro de 2006 o V Simpósio do Clero de Portugal, com a presença do Senhor Núncio Apostólico, D. Alfio Rapisarda, do Presidente da Conferência Episcopal, D. Jorge Ortiga e de 30 Bispos. Prosseguindo um itinerário de encontro, de comunhão e de formação de longo prazo que se iniciou em 1993, a Conferência Episcopal através da Comissão Episcopal Vocações e Ministérios organizou este Simpósio no qual participaram 417 sacerdotes, provenientes de todas as Dioceses de Portugal e de muitos Institutos Religiosos. Foram conferencistas D. Rino Fisichella, Bispo Auxiliar de Roma, Enzo Bianchi, Prior da Comunidade Monástica de Bose, Doutor João Duque, Professor da UCP-Braga e D. Manuel Madureira Dias, Bispo Emérito do Algarve e a participação de muitos outros intervenientes nos diversos painéis.

O Simpósio foi vivido num clima de alegria, de partilha, de participação e oração, e teve como tema central o Presbitério em comunhão ao serviço da comunhão eclesial.
A comunhão é uma das correntes mais fecundas da actual reflexão da Igreja com evidentes repercussões no ministério presbiteral, na sua acção e esforço e é simultaneamente assumida numa perspectiva de resposta serena e positiva às tendências pós-modernas do individualismo, do isolamento e do egoísmo e, aos perigos permanentes do desânimo, da ansiedade e da solidão.
Com a frontalidade de quem não foge às questões difíceis e não esconde a possibilidade de fazer mais e melhor, este V Simpósio deixa na memória de todos a relação fraterna que aqui se experimentou. E, o estímulo que brota deste encontro no sentido de partilhar as nossas convicções e assegurar os nossos compromissos de Bispos e Presbíteros na construção desta comunhão fraterna, assim como a intensidade da oração aqui vivida e a beleza do momento cultural que nos facultou a Banda da Armada, inspiram e incentivam um clima de unidade e de fraternidade no Clero de Portugal. Aqui se sentiu em múltiplas situações, celebrações e actividades a beleza e a alegria da vida dos presbíteros, o privilégio da sua fidelidade, a graça e a bênção dos que dão a vida pelo Reino mas recebem já cem vezes mais, segundo os critérios e os paradigmas do Evangelho. Em síntese, pode afirmar-se que os presbíteros são homens dados ao povo de Deus para viver a comunhão e construir em Igreja a comunidade.

1. Desafios ao sacerdote e à Igreja no contexto das transformações culturais
A interpretação da nova situação religiosa e cultural em que o sacerdote é chamado a realizar o seu ministério e vocação, caracterizada pelo individualismo pós moderno de um homem dilacerado pela ruptura entre a cultura e a fé e confundido pela mudança de alguns paradigmas de pensamento, desafiou os presentes a viver o contraponto da comunhão, anunciando aos filhos da modernidade a referência central da verdade do homem, Jesus Cristo.
Destacou-se a necessidade de redefinir e reafirmar uma identidade presbiteral eucarística, aquela que resulta da intimidade com Jesus Cristo e da solidariedade com os irmãos.
Foi solicitada uma maior visibilidade pública do presbítero no meio do mundo, onde leve a cabo a missão da profecia e da simpatia por esse mundo.
Urge, ainda, rever a própria pregação para que esta seja significativa e verdadeira proposta de sentido.
Ressaltou-se, também, que muitas das solicitações pastorais dirigidas aos presbíteros resultam da inoperância de muitos intervenientes ou agentes eclesiais com os quais o presbítero deve construir a comunhão eclesial e a corresponsabilidade pastoral.

2. Da Trindade à comunhão e à corresponsabilidade
Reflectiu-se de seguida mais directamente sobre a missão do padre, servidor da comunhão numa comunidade também ela responsável e participativa.
A comunhão eclesial de que o sacerdote participa é construída na relação a partir de Deus, Uno e Trino. Neste quadro foram evocados alguns pólos de relação do presbítero. O conceito de sinodalidade permitiu pensar a Igreja como caminho conjunto onde todos são um só corpo em Cristo. Bispos e Presbíteros reconheceram-se numa comum missão de sinodalidade e de construção de um caminho conjunto. A vida em comunhão comporta sacrifícios, exigência, generosidade, doação, dedicação e paciência. Para os presbíteros convocados e enviados a viver novas formas de comunhão, o empenho passa por viver o amor antes do conhecimento, amar o outro antes de o conhecer. Esta é a forma radical de comunhão com o outro que para mim é um dom de Deus. Neste contexto foi proposta a constituição de unidades operativas de várias paróquias como formas diversificadas e plurais de superar o individualismo moderno e a tendência isolacionista de alguns sacerdotes, mas também de superar a estreiteza da autarquia paroquial ou presbiteral.
A realidade dos Conselhos Pastorais e Presbiterais pensados como organismos de comunhão e mediadores de corresponsabilidade serão alguns dos muitos espaços de realização e de verificação da própria comunhão eclesial. Estas instâncias devem ser compreendidas não como meros órgãos consultivos mas como verdadeiros e privilegiados espaços de concertação, de corresponsabilidade e de comunhão.

3. Caminhos de comunhão eclesial e futuro do cristianismo
Finalmente, foi aberta a linha de reflexão sobre o Presbítero como homem dado enquanto inserido no caminho do Povo de Deus.
Num clima de aprofundada reflexão e de grande amplitude de horizontes, a comunidade foi pensada como lugar de unidade, de diversidade e de pluralidade a partir do conceito de “tri-unidade” para significar esta realidade de um Deus que não é estranho à nossa visão do mundo e da história. Pensar o mistério da “tri-unidade” possibilita conhecer Deus e o homem. Assumindo assim este conceito de mistério na sua raiz bíblica de desvelamento e de abertura de sentido e de revelação iniciada, a nossa profissão de fé cristã assenta num Deus que fala e que ama. Esta certeza constitui uma marca radicalmente diferenciadora face às outras tradições religiosas.
Neste contexto, o lugar do Espírito Santo assume uma importância primordial na teologia cristã e na espiritualidade eclesial.
A problemática da alteridade foi bastante desenvolvida ao longo destes dias e forneceu contexto teológico e espiritual a partir do qual é possível implementar a vida de comunhão.
Este Simpósio alertou ainda para o lugar eclesial do outro enquanto dom e possibilidade de participação no mistério “tri-unitário” do nosso Deus. Pretendeu-se deste modo superar o monolitismo eclésiológico, a uniformidade das decisões apenas justificadas pelo poder e algum tom autoritário porventura ainda subjacente no nosso tempo, nas nossas relações interpessoais.
Recorreu-se finalmente aos dados da antropologia para mostrar o húmus humano da recepção da identidade na alteridade: o rosto e o nome são conhecidos pelo outro e é através dessa dimensão que nós acedemos à identidade de nós mesmos. Estando esta alteridade na base da matriz cristã, aquela foi considerada como fundamental para ajudar a transmitir a fé às novas gerações nesta época de ruptura da memória. A exequibilidade do Evangelho e do projecto do Reino de Jesus será a proposta que dará consistência cultural, crédito e eficácia ao anúncio, à transmissão e ao acolhimento da fé perante um dos riscos do nosso tempo que é a indiferença. O amor obriga hoje a colocar este anúncio da fé não no espaço nem dos ritos nem dos dogmas mas na pura gratuidade do dom. O cristianismo não pode ser diluído na ética, não pode regredir para o restauracionismo nem deixar-se instrumentalizar pelo poder.
Olhando Cristo que dá a Vida, “que nos amou e Se entregou por nós como oferta”, e aprendendo com Ele como Bom Pastor, o presbítero é um homem dado ao povo, porque é um homem totalmente entregue a Deus por amor do povo.
O presbítero é um homem único e imprescindível no interior da humanidade, consagrado pela ordenação para servir e dar a vida por amor a favor do povo de Deus e de todo o mundo. Este serviço que é ministério sacerdotal que nos santifica e santifica aqueles a quem servimos, que nos faz felizes e constrói as bem-aventuranças do Reino deve ser realizado como testemunho de amor, de alegria e de paz.
Neste dia em que a Igreja celebra a Natividade de Nossa Senhora e neste Santuário a ela dedicado, colocamos no coração da Mãe a gratidão pelo dom deste Simpósio e confiamos-Lhe a vida e o ministério do Clero de Portugal que mais uma vez aqui se comprometeu a percorrer caminhos de comunhão presbiteral ao serviço da comunhão eclesial.

Fátima, 08 de Setembro de 2006, Festa da Natividade de Nossa Senhora

Fonte Ecclesia

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