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A «Biblioteca divina»
2006-08-23 16:12:16

Giovanni Maria Vian, catedrático de Filologia patrística da Universidade de Roma La Sapienza, analisa em um livro o significado dos textos da Bíblia desde suas origens até a atualidade.

«Filologia e história dos textos cristãos. “Bibliotheca divina”» foi publicado em Madri por Ediciones Cristiandad em sua coleção de Literatura Cristã antiga e medieval. Em italiano foi publicado por Carocci em 2001.

O professor Vian (Roma, 1952) indica nesta entrevista que o cristianismo não é uma cultura, pois ainda que faça parte das culturas, ele as transcende, e se detém a comentar qual é a melhor versão da Bíblia, segundo sua opinião de especialista.

--Como filólogo patrístico, o senhor considera preciso falar do cristianismo como «cultura»?

--Vian: Em absoluto não, sendo a crença em Jesus como revelação definitiva de Deus algo que supera cada uma das culturas.

Contudo, o cristianismo, fundado precisamente na encarnação da Palavra divina em um contexto histórico e cultural determinado, se arraiga em distintas culturas, que sem dúvida transcende, mas das quais é ao mesmo tempo inseparável.

--Desde quando podemos afirmar que existe uma cultura cristã?

--Vian: Pelo dito anteriormente, ainda que se possa falar de uma identidade cristã que começa a distinguir-se do judaísmo já na segunda metade do século primeiro, é necessário esperar as primeiras décadas do século II para identificar as marcas de uma consciência cultural cristã, com matizes diferentes segundo as distintas culturas do tempo.

Assim, no século II há uma cultura cristã asiática, ou seja, manifestada na atual Turquia, e no III se afirma com força a cultura cristã alexandrina, cujo máximo representante é Orígenes e que terá uma influência enorme na história.

A grande difusão do cristianismo durante o século III e o reconhecimento, com o imperador Constantino (306-337), da liberdade religiosa à Igreja cristã tem entre outros efeitos uma crescente influência da fé cristã no mundo greco-romano a todos os níveis culturais, desde intelectuais refinados, como Eusébio de Cesárea e Jerônimo, até a mentalidade popular.

Desde então, o cristianismo se une indissoluvelmente à história do mundo mediterrâneo e europeu ocidental e oriental. Sem esquecer naturalmente os cristianismos orientais não europeus: até Ásia central e a Índia, ao leste, e até Etiópia, ao sul.

--O senhor afirma que os textos patrísticos têm de ser considerados como os outros. O que quer dizer com «outros»?

--Vian: Simplesmente que é preciso estudar os textos cristãos -- inclusive os textos bíblicos -- como se investigam os textos profanos. Ou seja, em princípio, sem preconceitos -- favoráveis ou contrários -- ideológicos, tendo naturalmente em conta, desde o ponto de vista histórico, que se trata de textos religiosos.

--O que podemos aprender hoje da herança alexandrina?

--Vian: A atenção aos textos, por um lado: é preciso ir sempre às fontes, conscientes contudo de que cada escrito tem um sentido profundo, mais além da letra, especialmente os textos bíblicos.

Por outro lado, podemos aprender do afã de relacionar-se com o mundo cultural exterior.

--Em seu livro, o senhor cita muitas edições da Bíblia. Qual é, segundo seu ponto de vista de estudioso, a melhor?

--Vian: As melhores edições bíblicas são as edições críticas dos originais (hebraicos, aramaicos e gregos) e também das antigas versões (gregas e latinas): são edições elaboradas durante o século XX com um esforço filológico enorme, que continua sem cessar. São textos dirigidos aos especialistas e é impossível aqui nomeá-los.

Por sua origem e intento ecumênico é preciso, contudo, citar «The Greek New Testament» -- publicado pela primeira vez em 1966 pelas United Bible Societies, em sua quarta edição revisada, que é de 1993. É um texto dirigido a quem quer traduzir o original aos idiomas falados de hoje.

Entre as traduções contemporâneas se destaca -- em parte por suas excelentes notas -- «A Bíblia de Jerusalém», publicada em francês em 1955 pelos dominicanos da École Biblique (com edições corrigidas em 1973 e em 1998).

É uma edição muito importante, que agora está sendo revisada. Seu aparato foi amplamente utilizado em outros idiomas, entre os quais está o espanhol.

--Onde começa e onde termina, a «Bibliotheca» divina?

--Vian: «Bibliotheca» divina é uma expressão de Jerônimo que significa «livros de Deus». Começou, portanto com os primeiros autores dos textos bíblicos, que os compuseram ao longo do primeiro milênio anterior à era cristã.

Desde então, estes livros não cessaram de gerar outros textos, que os continuaram e os seguem comentando. Por uma razão simples: as palavras humanas não podem esgotar a Palavra divina, que existe desde sempre e não tem fim.
ZP06082202

Fonte Zenit

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