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Fórum em tempo de guerra
2006-08-10 16:51:47

É um tema recorrente. Já aqui tive oportunidade de escrever, em várias ocasiões, sobre as relações entre a "guerra" em terras do Médio Oriente e o sentimento religioso daqueles povos. À primeira vista, diz-nos uma certa leitura simplista que há culpas de parte a parte, com muito "ódio" religioso - expressão desadequada e paradoxal - pelo meio. Só aprofundando a reflexão seremos tentados a separar definitivamente as águas.

Enchem-se muitos livros sobre o assunto, gastam-se muitas horas em conferências e colóquios inter-religiosos para reforçar essa separação. A guerra, em qualquer circunstância, não tem directamente a ver com as religiões dominantes na região. Mas as religiões têm muito a esclarecer sobre a guerra que as utiliza como escudo ideológico e estratégico (ver artigo de análise "Caricaturas boomerang" de 11-02-2006).

Num interessante debate organizado na SIC Notícias há poucos dias, uma representante da comunidade israelita de Lisboa e o representante da Autoridade Palestiniana em Portugal esgrimiram argumentos pró e contra a intervenção de Israel no sul do Líbano e nos territórios palestinianos. Voltámos a ouvir ambas as posições. Têm, consoante o ângulo, a sua legitimidade, baralhada pelo direito internacional e pelas mutáveis circunstâncias no terreno. Mas, nem mesmo quando se falou do Irão, houve quem abordasse a questão religiosa...

Neste tempo em que abundam as opiniões e as análises, nasceu em Portugal uma organização que pode exercer papel importante no debate. O "Fórum Abraâmico" é uma associação criada por membros das comunidades judaica, cristãs e islâmica, em Lisboa, filiada no Three Faiths Fórum, em Inglaterra. Tem como objectivos, e passo a citar o texto de lançamento da associação:

"a) aprofundar os pontos de diálogo entre as tradições judaica, cristão e islâmica;
b) dar a conhecer as três religiões;
c) realçar as afinidades e semelhanças, ou seja, as pontes que unem as três religiões reveladas através da Torá, a pessoa de Jesus e o Corão;
d) promover e dar a conhecer ideias de harmonia e concórdia que devem existir entre os praticantes das três religiões monoteístas, em que há, em muitos aspectos, unidade nas suas doutrinas sobre Deus, chame-se Elohim, Alaha ou Allah;
e) organizar e participar em encontros, seminários, conferências e eventos de âmbito nacional ou internacional que possam divulgar e dar a conhecer as três religiões e possam servir para demonstrar às comunidades religiosas e à sociedade civil em geral a vertente positiva das mesmas religiões e realçar a errada e indevida utilização e invocação de valores religiosos para a prática de actos contrários à dignidade humana, à religião e às leis de Deus;
f) levar a cabo iniciativas, de âmbito mais alargado, que possam gerar sentimentos de harmonia e concórdia na sociedade civil, nomeadamente entre os crentes de todas as religiões e entre estes e os não crentes.".

A experiência portuguesa de diálogo inter-religioso é rara no contexto mundial e única na Europa. Os líderes religiosos - cristãos, muçulmanos e judeus - têm dado sinais de verdadeira abertura para o "essencial". Aquele "essencial" em cada religião e respectivos livros "sagrados", que não admite a violência como resposta.

Joaquim Franco
Jornalista
opiniao@sic.pt


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