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Alberto Ramos tem 72 anos, uma filha e tornou-se padre aos 67 anos
2006-07-24 22:24:05

A conversa veio interromper-lhe o estudo da Bíblia Sagrada. Alberto Ramos guarda os apontamentos, enfia a caneta Montblanc no bolso da camisa, recosta-se na cadeira e pede perguntas. Daí a pouco há- -de realizar um funeral. Por agora, apressa-se a desfiar o longo novelo da sua vida. Tem quase 73 anos, é vigário paroquial de Belas e S. Brás, concelho de Sintra, mas já foi casado e tem uma filha.

O padre Alberto Ramos nasceu em Nogueira, Vouzela. Cumpriu o serviço militar na Marinha e, terminado o liceu, ingressou na PSP (Polícia de Segurança Pública), nos serviços administrativos. Foi funcionário civil da polícia. Primeiro em Aveiro, depois em Viseu. Quis melhorar a vida e estudou. "Licenciei-me em Ciências Sociais e Política Ultramarina. E o Ministério da Justiça ofereceu-me um lugar de administrador em Moçambique. Não hesitei." Por essa altura já era casado com Maria de Fátima Matos. Juntos, tiveram uma filha, Filomena. Em Moçambique, não quis parar de aprender e tirou o bacharelato em Jornalismo.

Depois do 25 de Abril, veio para Portugal, esteve preso 22 meses por ter sido um representante do Governo em Moçambique, a seguir trabalhou na Cruz Vermelha e no Instituto Nacional de Estatística.

Pelo caminho, foi sempre fazendo parte de movimentos católicos. Ainda na Marinha, houve certo dia um capelão que o tentou convencer a ser padre. "Mas eu namorava, tinha o namoro muito avançado e não quis deixar tudo para trás." Mesmo assim, o padre Jacinto Farias devia ver nele a vocação para o sacerdócio. E quando Alberto Ramos saiu da Marinha, o padre ofereceu-lhe um livro de Teologia onde escreveu: "Se um dia ouvires a voz do Mestre, deixa tudo e segue-o."

A frase ficou a ecoar na sua memória durante anos. Mas foi com a morte da mulher, em 1989, e com a aposentação, um ano depois, que a ideia de ser padre voltou a ganhar forma. "O padre Jacinto Farias convenceu-me a estudar Teologia." Cinco anos depois, Alberto Ramos obtinha a sua segunda licenciatura. E depois de conversar com a filha, acabou por tomar a decisão de se entregar à vida de sacerdote. No dia da ordenação, no Mosteiro dos Jerónimos, foi a filha que lhe levou o cálice ao altar. "Foi um dia muito bonito. Já tinha tido várias promoções mas aquela foi, sem dúvida, a mais emotiva e a que mais me realizou."

Alberto Ramos tem uns óculos escuros Ray Ban pendurados na camisa e uma cruz de prata ao peito. Sorri quando conversamos sobre as críticas que muitos poderão fazer ao facto de já ter tido uma vida afectivo-sexual, com uma filha que é a prova física disso mesmo. "Poderá haver quem me julgue por isso. Mas julgo que se tivesse sido posto no seminário aos 11 ou 12 anos, era bem capaz de resistir e de me aguentar." Porém, hoje não teria a vida que teve e a filha que tem. "Pois, isso é bem verdade", conclui.

Ainda assim, está em crer que o celibato é a obrigação de um padre. E que é melhor que assim continue. Porque ser sacerdote é estar sempre disponível. "E se fosse preciso sair de noite, para ir velar um doente, a mulher podia não aceitar muito bem."

O padre Alberto Ramos tem fé no futuro da Igreja Católica e uma confiança inabalável nos jovens padres: "A juventude de hoje é mais firme nos seus propósitos. Porque estes rapazes estudam nas universidades, lado a lado com raparigas. E, ainda assim, optam por ser padres. São pessoas de convicção!"

Fonte DN

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