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Discurso do Papa na Vigília do V Encontro Mundial das Famílias
2006-07-11 22:33:58

Amados irmãos e irmãs:

Sinto um grande gozo ao participar desde encontro de oração, no qual se pretende celebrar com muita alegria o dom divino da família. Sinto-me muito perto, com a oração, de todos aqueles que viveram recentemente o luto nesta cidade, e com a esperança em Cristo ressuscitado, que dá ânimo e luz ainda nos momentos de maior desgraça humana.


Unidos pela mesma fé em Cristo, estamos congregados aqui, desde tantos lugares do mundo, como uma comunidade que agradece e dá testemunho com júbilo de que o ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus para amar, e que só se realiza plenamente quando faz a entrega sincera de si mesmo aos outros. A família é o âmbito privilegiado onde cada pessoa aprende a dar e a receber amor. Por isso, a Igreja manifesta constantemente sua solicitude pastoral por este espaço fundamental para a pessoa humana. Assim ensina seu Magistério: «Deus, que é amor e criou o homem por amor, chamou-o a amar. Criando o homem e a mulher, chamou-os no Matrimônio a uma íntima comunhão de vida e de amor entre si, ‘assim eles não são mais dois, mas uma só carne’ (Mt 19,6)» (Catecismo da Igreja Católica. Compêndio, 337)

Esta é a verdade que a Igreja proclama ao mundo sem cessar. Meu querido predecessor, João Paulo II, dizia que «O homem se converteu em ‘imagem e semelhança’ de Deus não só através da própria humanidade, mas também através da comunhão das pessoas que o homem e a mulher formam desde o princípio. Convertem-se em imagem de Deus, não tanto no momento da solidão, quanto no momento da comunhão» (Catequese, 14 de novembro de 1979). Por isso, confirmei a convocação deste V Encontro Mundial das Famílias na Espanha, e concretamente em Valência, rica em suas tradições e orgulhosa da fé cristã que se vive e que se cultiva em tantas famílias.

A família é uma instituição intermediária entre o indivíduo e a sociedade, e nada pode substituí-la totalmente. Ela mesma se apóia sobretudo na profunda relação interpessoal entre o esposo e a esposa, sustentada pelo afeto e pela compreensão mútua. Para isso, recebe a abundante ajuda de Deus no sacramento do matrimônio, que comporta uma verdadeira vocação à santidade. Tomara que os filhos contemplem mais os momentos de harmonia e afeto dos pais do que os de discórdia ou distanciamento, pois o amor entre o pai e a mãe oferece aos filhos uma grande segurança e lhes mostra a beleza do amor fiel e duradouro.

A família é um bem necessário para os povos, um fundamento indispensável para a sociedade e um grande tesouro dos esposos durante a vida toda. É um bem insubstituível para os filhos, que hão de ser fruto do amor, da doação total e generosa dos pais. Proclamar a verdade integral da família, fundada no matrimônio como Igreja doméstica e santuário da vida, é uma grande responsabilidade de todos.

O pai e a mãe disseram um ao outro um «sim» total diante de Deus, e isso constitui a base do sacramento que os une; igualmente, para que a relação interna da família seja completa, é necessário que eles digam também um «sim» de aceitação aos seus filhos, aos que geraram ou adotaram e que têm sua própria personalidade e caráter. Assim, estes irão crescendo em um clima de aceitação e de amor, e é de desejar que, ao alcançarem uma maturidade suficiente, queiram dar, por sua vez, um «sim» àqueles que lhes deram a vida.

Os desafios da sociedade atual, marcada pela dispersão que é gerada sobretudo no âmbito urbano, tornam necessário garantir que as famílias não estejam sozinhas. Um pequeno núcleo familiar pode encontrar obstáculos difíceis de superar se está isolado do resto de seus parentes e amigos. Por isso, a comunidade eclesial tem a responsabilidade de oferecer acompanhamento, estímulo e alimento espiritual para fortalecer a coesão familiar, sobretudo nas provações ou nos momentos críticos. Nesse sentido, é muito importante a tarefa das paróquias, assim como a das diferentes associações eclesiais, chamadas a colaborar como redes de apoio e braço direito da Igreja para o crescimento da família na fé.

Cristo revelou qual é sempre a fonte suprema da vida para todos e, portanto, também para a família. «Este é o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como eu vos tenho amado. Ninguém tem maior amor que aquele que dá a vida pelos seus amigos» (Jo 15, 12-13). O amor do próprio Deus foi derramado sobre nós no batismo. Por isso, as famílias estão chamadas a viver essa qualidade do amor, pois o Senhor é quem se apresenta como garantia de que isso seja possível para nós através do amor humano, sensível, afetuoso e misericordioso como o de Cristo.

Junto com a transmissão da fé e do amor do Senhor, uma das maiores tarefas da família é a de formar pessoas livres e responsáveis. Por isso, os pais têm de ir devolvendo a liberdade aos seus filhos, da qual durante algum tempo são tutores. Se estes vêem que seus pais -- e, em geral, os adultos que os cercam -- vivem a vida com alegria e com entusiasmo, inclusive apesar das dificuldades, crescerá mais facilmente neles essa alegria profunda de viver que os ajudará a superar com acerto os possíveis obstáculos e as contrariedades que a vida humana acarreta. Além disso, quando a família não se fecha em si mesma, os filhos vão aprendendo que toda pessoa é digna de ser amada, e que existe uma fraternidade universal entre todos os seres humanos.

Este V Encontro Mundial nos convida a refletir sobre um tema de particular importância e que comporta uma grande responsabilidade para nós: «A transmissão da fé na família». O Catecismo da Igreja Católica o expressa muito bem: «Como uma mãe que ensina seus filhos a falar, e com isto a compreender e a comunicar, a Igreja, nossa Mãe, nos ensina a linguagem da fé para introduzir-nos na compreensão e na vida da fé» (nº 171)

Como se simboliza na liturgia do batismo, com a entrega do círio aceso, os pais são associados ao mistério da nova vida como filhos de Deus, que se recebe com as águas batismais.

Transmitir a fé aos filhos, com a ajuda de outras pessoas ou instituições como a paróquia, a escola ou as associações católicas, é uma responsabilidade que os pais não podem esquecer, descuidar ou delegar totalmente. «A família cristã é chamada de Igreja doméstica porque manifesta e realiza a natureza de comunhão e familiar da Igreja como família de Deus. Cada membro, segundo o próprio papel, exerce o sacerdócio batismal, contribuindo para fazer da família uma comunidade de graça e de oração, escola das virtudes humanas e cristãs, lugar do primeiro anúncio da fé aos filhos.» (Catecismo da Igreja Católica. Compêndio, 350). E além disso: «Os pais, participantes da paternidade divina, são os primeiros responsáveis pela educação dos seus filhos e os primeiros anunciadores da fé a eles. Têm o dever de amar e respeitar os filhos como pessoas e como filhos de Deus (...) Em particular, têm a missão de os educar na fé cristã.» (ibid, 460)

A linguagem da fé se aprende nos lares, onde esta fé cresce e se fortalece através da oração e da prática cristã. Na leitura do Deuteronômio, escutamos a oração constantemente repetida pelo povo escolhido, a Shema Israel, e que Jesus escutaria e repetiria em seu lar de Nazaré. Ele mesmo a recordaria durante sua vida pública, como nos mostra o evangelho de Marcos (Mc 12, 29). Esta é a fé da Igreja que vem do amor de Deus, por meio das vossas famílias. Viver a integridade dessa fé, em sua maravilhosa novidade, é um grande presente. Mas nos momentos em que o rosto de Deus parece ocultar-se, crer é difícil e custa um grande esforço.

Este encontro dá um novo ânimo para continuar anunciando o Evangelho da família, reafirmar sua vigência e identidade baseada no matrimônio aberto ao dom generoso da vida, e onde se acompanha os filhos em seu crescimento corporal e espiritual. Desse modo, se contra-arresta um hedonismo muito difundido, que banaliza as relações humanas e as esvazia de seu genuíno valor e beleza. Promover os valores do matrimônio não impede de saborear plenamente a felicidade que o homem e a mulher encontram no seu amor mútuo. A fé e a ética cristã não pretendem, portanto, afogar o amor, senão torná-lo mais sadio, forte e realmente livre. Para isso, o amor humano precisa ser purificado e amadurecer para ser plenamente humano e princípio de uma alegria verdadeira e duradoura (cf. Discurso em São João de Latrão, 5 de junho de 2006)

Convido, portanto, os governantes e legisladores a refletirem sobre o bem evidente que os lares em paz e em harmonia asseguram ao homem, à família, centro neurálgico da sociedade, como lembra a Santa Sé na Carta dos Direitos da Família. O objeto das leis é o bem integral do homem, a resposta às suas necessidades e aspirações. Isso é uma ajuda notável à sociedade, da qual ele não se pode privar, e para os povos é uma salvaguarda e uma purificação. Além disso, a família é uma escola de humanização do homem, para que ele cresça até tornar-se verdadeiramente homem. Nesse sentido, a experiência de ser amados pelos pais leva os filhos a terem consciência de sua dignidade de filhos.

A criatura concebida deve ser educada na fé, amada e protegida. Os filhos, com o direito fundamental de nascer e de ser educados na fé, têm direito a um lar que tenha como modelo o de Nazaré, e de ser preservados de toda espécie de insídias e ameaças. Desejo referir-me agora aos avós, tão importantes nas famílias. Eu sou o avô do mundo, acabamos de escutar. Eles podem ser -- e são tantas vezes -- a garantia do afeto e da ternura que todo ser humano precisa dar e receber. Eles dão aos pequenos a perspectiva do tempo, são memória e riqueza das famílias. Tomara que, sob nenhum conceito, sejam excluídos do círculo familiar. Eles são um tesouro que não podemos arrebatar das futuras gerações, sobretudo quando dão testemunho de fé diante da proximidade da morte.

Quero agora recitar uma parte da oração que rezastes pedindo pelos frutos deste Encontro Mundial das Famílias:

Ó Deus, que na Sagrada Família
nos deixastes um modelo perfeito de vida familiar
vivida na fé e na obediência à vossa vontade,
ajudai-nos a ser exemplo de fé e de amor aos vossos mandamentos.
Socorrei-nos em nossa missão de transmitir a fé aos nossos filhos.
Abri o seu coração para que cresça neles
a semente da fé que receberam no batismo.
Fortalecei a fé dos nossos jovens,
para que cresçam no conhecimento de Jesus.
Aumentai o amor e a fidelidade em todos os matrimônios,
especialmente naqueles que passam por momentos de sofrimento ou dificuldade.
(...)
Unidos a José e Maria,
vo-lo pedimos por Jesus Cristo, vosso Filho, nosso Senhor.
Amém.

[Traduzido por Zenit do original em espanhol
© Copyright 2006 - Libreria Editrice Vaticana]

Fonte Zenit

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