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Bispos incómodos evocados hoje em Lisboa
2006-07-11 22:17:45

São duas "vozes incómodas" e duas "referências muito actuais": António Ferreira Gomes, o bispo do Porto que escreveu a Salazar contestando o Estado Novo, e Sebastião Soares de Resende, que na Beira (Moçambique) desafiou a política colonial, serão evocados hoje, em Lisboa, num debate promovido pelo Centro de Reflexão Cristã (CRC).

A iniciativa decorre a partir das 18h30 no Centro Nacional de Cultura. Intervêm o historiador e bispo Carlos Azevedo e o jornalista e responsável pela obra O Bispo Controverso - D. António Ferreira Gomes, percurso de um homem livre.
Além de outros pontos comuns no seu percurso, os dois bispos nasceram em 1906, comemorando-se este ano o centenário. Guilherme d"Oliveira Martins, presidente do CRC, que também intervém no debate, fala de ambos como figuras que souberam "interpretar os sinais dos tempos, fiéis às suas convicções e à sua fé".
Tendo sido evocados já em cerimónias e iniciativas distintas, esta é a primeira vez que a herança intelectual dos dois bispos será lembrada em conjunto. Ferreira Gomes, que morreu em 1989, ficou conhecido pelo texto que redigiu para uma conversa aprazada com Salazar e que ficou conhecido como "carta a Salazar". Nele, diz Oliveira Martins, o bispo afirmava a necessidade de a sociedade portuguesa "trilhar os caminhos da liberdade e da responsabilidade".
D. António "sofreu os efeitos da sua coragem, sendo obrigado a um longo período de exílio", recorda o responsável do CRC. A expulsão forçou-o a estar uma década fora do país, sendo o exílio interrompido apenas com a subida ao poder de Marcelo Caetano, em 1969.
Sebastião Soares de Resende, que morreu ainda na vigência do Estado Novo (1967), "apontou, com determinação e sentido de futuro, a necessidade de se compreender o futuro do continente africano e de se respeitar a dignidade das pessoas onde quer que estivessem", diz Oliveira Martins.
O presidente do CRC recorda ainda o antigo bispo do Porto como "um intelectual, cidadão e homem livre" preocupado em que a hierarquia católica abandonasse a "cumplicidade com o regime" que os conflitos da I República tinham determinado. E Sebastião Resende foi o homem que em África combateu "pela dignidade e pelo despertar de pessoas e povos", tornando-se controverso "como o padre António Vieira para os colonos brasileiros do seu tempo".

António Marujo

Fonte Público

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