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Cardeal Carlo Maria Martini fala de "mal menor" no caso do preservativo e do aborto
2006-04-22 11:27:18

No debate entre aquele que chegou a ser apontado como provável sucessor de Wojtyla e cientista publicado no L"Espresso, o cardeal Carlo Maria Martini, ex-arcebispo de Milão e considerado uma das figuras mais liberais no topo da hierarquia católica, qualificou ontem como um mal menor o preservativo, o aborto legal e a adopção de embriões.

Martini, 79 anos, um jesuíta que hoje reside em Jerusalém, chegou a ser apresentado, há um ano, como um dos prováveis sucessores do Papa João Paulo II. Num diálogo com o investigador Ignazio Marino, ontem publicado pelo semanário L"Espresso, o cardeal aceitou discutir estes "casos limites" colocados à moral cristã por certas situações e pelo desenvolvimento da ciência.
"Certamente, a utilização do preservativo pode constituir, em certas situações, um mal menor" face ao risco da sida, diz o cardeal. "Mas a questão está em saber se cabe às autoridades religiosas fazer propaganda a favor de um tal meio de defesa."
Sobre o aborto, Carlo Martini julga "apesar de tudo positivo" que a sua legalização tenha contribuído para "reduzir e tenda a eliminar os abortos clandestinos". "É difícil que um Estado moderno não intervenha ao menos para impedir uma situação selvagem e arbitrária (...) o que não quer dizer dar "autorização de matar"", afirma o cardeal. O Estado, acrescenta, deve esforçar-se por tentar "por todos os meios" diminuir os abortos.
O cardeal italiano classifica ainda entre os males menores a adopção para implantação dos embriões congelados, mesmo para uma mulher sozinha - uma solução que prefere à da destruição, o que abre caminho, indirectamente, às famílias monoparentais.
"Quando há um conflito de valores, parece-me eticamente mais significativo propor uma solução que permita que uma vida exista, mais que deixá-la morrer."
Para o cardeal, o papel da Igreja é "formar as consciências", ajudando a "discernir o bem do mal em todas as ocasiões". Mas "os interditos e os "nãos" não servem a ninguém", acrescenta.
Martini diz ainda que se não se pode parar o progresso científico, deve-se "ajudá-lo a ser sempre mais responsável". E reafirma a sua oposição à utilização de células embrionárias para a investigação.
O Vaticano não fez qualquer comentário à entrevista - facto que é habitual neste tipo de declarações. Mas o presidente da Academia Pontifícia para a Vida, Elio Sgreccia, afirmou à AFP que reagiria às declarações depois de as ler atentamente. E admitiu que havia pelo menos uma "diferença de tom" entre a posição oficial da Igreja e a do cardeal.
A doutrina do "mal menor" existe para alguns casos na teologia católica, mas é raro um cardeal tomar este princípio como argumento para questões como o aborto ou o preservativo. PÚBLICO/AFP

Fonte Público

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