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“A Igreja nasce e vive do anúncio de «Cristo Vivo»” - Homilia de D. José Policarpo no Pontifical da Ressurreição do Senhor
2006-04-17 22:52:38

1. Hoje, Solenidade da Ressurreição do Senhor, celebra o seu aniversário natalício Sua Santidade Bento XVI. Há precisamente um ano a Igreja toda recolhia-se em oração, esperando a eleição do novo Papa. Na última Assembleia Geral do Colégio dos Cardeais, saudávamos o então Decano do Colégio pelos seus 78 anos de vida. Três dias depois aclamávamo-lo de novo, agora como Papa, Sucessor de Pedro. Entre esses dois momentos há um salto qualitativo na aclamação e no motivo da nossa alegria.

A segunda foi uma manifestação de fé na Igreja, este novo Povo nascido da Páscoa de Jesus, que amamos e em que acreditamos, reconhecendo no Papa o garante da sua unidade e impulsionador da sua autenticidade. Um ano depois, o primeiro do novo tempo deste Servidor da Igreja, queremos viver esta Páscoa em profunda comunhão com o Santo Padre, exprimindo o nosso júbilo pascal na alegria de pertencermos a esta Igreja a que ele preside.
O Papa é o Sucessor de Pedro no ministério de cabeça do Colégio Apostólico. As leituras desta celebração apresentam-nos, precisamente, o ministério do Apóstolo Pedro no início da Igreja. Quando Maria Madalena lança o alarme do Sepulcro vazio – “levaram o Senhor do Sepulcro e não sabemos onde O puseram” – Pedro e João não hesitam, nem perdem tempo; correm para o Sepulcro. Entrou no Sepulcro, viu as ligaduras no chão e o sudário e como confessa João, “viu e acreditou”, compreendendo só então o anúncio das Escrituras, segundo o qual Jesus devia ressuscitar dos mortos.
Aqui começa a Igreja, na fé na ressurreição. A fé destes dois Apóstolos, segundo a narração de João, tem um duplo fundamento: a verificação dos factos, iluminados pela Palavra da Escritura. Esse é um ritmo conhecido dos verdadeiros crentes de Israel: o acontecimento e a Palavra fazem um só na comunicação da verdade revelada. A fé pascal tem fundamento nos factos, mas não é uma mera verificação factual. Mas também não é, apenas, uma convicção transmitida de geração em geração, porque a Palavra sem a densidade do acontecimento, torna-se insignificativa em termos de História da Salvação. O anúncio pascal é o testemunho seguro de factos verificados, que a Palavra de Deus enquadrou no seu significado salvífico. Há duas objectividades convergentes, a dos acontecimentos e a da Palavra, constituindo ambas a objectividade da verdade acreditada. É essa objectividade da verdade que dá densidade e perenidade ao testemunho apostólico.

2. A Igreja começa, como processo histórico, no testemunho de Pedro e dos Apóstolos. Pedro reconhece que o Senhor ressuscitado “os mandou pregar ao Povo e testemunhar que Ele foi constituído por Deus Juiz dos vivos e dos mortos”. E qual é o testemunho de Pedro? Dos factos por ele verificados: Jesus, a Quem os judeus deram a morte, Deus ressuscitou-O ao terceiro dia. Mas é um acontecimento que encontra toda a sua verdade à luz da Escritura: “É d’Ele que todos os Profetas dão o seguinte testemunho: quem acredita n’Ele recebe, pelo Seu nome, a remissão dos pecados”.
A fé da Igreja não se limita à aceitação de um facto histórico; é também a sua plenitude de sentido, perene para todos os tempos, para a salvação de todos os homens. Isso supõe a ousadia da sua aplicação concreta às características da humanidade em cada tempo, levando-a a reconhecer, apesar das alterações próprias da evolução do mundo e da variedade cultural, em Jesus Cristo ressuscitado a fonte da verdadeira salvação do homem. A Palavra de Deus, que iluminou o acontecimento, garante-lhe a sua perenidade em todos os tempos e contextos.
Esta é a beleza e a exigência do Magistério Apostólico da Igreja, a que preside o Sucessor do Apóstolo Pedro: ser testemunha da ressurreição, com a objectividade de um facto histórico e com a densidade da sua interpretação vivencial para os homens de todos os tempos, comunicando-lhes a certeza de que Jesus ressuscitou e está vivo na Sua Igreja. A Igreja seria completamente diferente, se Cristo não estivesse vivo no meio dela, se a Sua mensagem não fosse o testemunho convincente, também ele radicado na experiência indiscutível, de que Jesus está vivo e ama a Sua Igreja. Cristo vivo define a Igreja como um Povo que Ele atrai, ama e reúne, em cada momento da História.

3. Sua Santidade Bento XVI é hoje, para nós, por força do seu ministério, a grande testemunha da ressurreição, anunciada aos homens do nosso tempo. Prepararam-no para este ministério a sua sólida caminhada teológica e espiritual, sempre repassadas de amor à Igreja; consolidou-o na solidez do testemunho a graça própria do ministério em que foi investido. Nós os Cardeais escolhemo-lo; mas foi o Espírito de Deus que o constituiu neste ministério decisivo para a fé da Igreja. Hoje podemos todos apoiar a nossa fé na solidez da sua fé, e considerá-la a graça actual que Deus dá ao Seu Povo.
Na sua Carta Encíclica ele disse à Igreja que a nossa fé, para ser testemunho, tem de se exprimir na caridade, pois só o amor infinito de Deus, em Jesus Cristo, continua a poder salvar o mundo. A caridade é o motivo e a força dinamizadora da Igreja. É ao ritmo da caridade que ela evangeliza, que celebra os sacramentos, que ama os irmãos. Porque vive de Cristo ressuscitado, a Igreja tem de ser, no mundo de cada tempo, a expressão do amor com que Deus abraça a humanidade inteira. Era já essa a interpelação feita pelo Apóstolo Paulo aos Colossenses: “Se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto, onde Cristo Se encontra, sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra. Porque vós morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, Se manifestar, então também vós vos haveis de manifestar com Ele na glória” (Col. 3,1-4).

4. Neste Domingo de Páscoa, dia do seu aniversário, a Igreja de Lisboa saúda o Santo Padre, um ano depois do início do seu Pontificado e queremos dizer-lhe que temos muita alegria em pertencer a esta Igreja, que nos sentimos seguros com a sua palavra Apostólica e que, coerentes com o anúncio do Congresso, “Cristo Vivo”, queremos fazer de toda a nossa acção pastoral uma expressão da caridade, do infinito amor de Deus em Jesus Cristo. Desejamos muito que a presença da Igreja na nossa sociedade a faça sentir-se amada por Deus.

Sé Patriarcal, 16 de Abril de 2006
† JOSÉ, Cardeal-Patriarca

Fonte Ecclesia

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