paroquias.org
 

Notícias






Instrumento expansionista ou missionário moderno?
2006-04-09 14:50:25

É na época da Reforma protestante de Lutero que nasce Francisco Xavier. Um dos primeiros companheiros de Inácio de Loiola, o "apóstolo das Índias" surge, inicialmente, como um instrumento do rei D. João III na estratégia de alargar o Império. Mas o voluntarismo de Xavier torna-o o inventor dos modernos métodos missionários.

Instrumento estratégico da vontade expansionista do rei D. João III? Primeiro missionário católico da modernidade? "Material duro", como lhe chamava o companheiro Inácio de Loiola? Nascido fez quinta-feira 500 anos, Francisco Xavier foi talvez um pouco de tudo isso. Inovou os métodos de evangelização, abriu o Império português a novas fronteiras, entendeu a necessidade de adaptar o cristianismo à cultura local.
Francisco Yasu d"Azpilcueta y Javier nasceu, ainda o reino de Navarra existia, em 7 de Abril de 1506, no castelo de Javier. Os seus pais eram de uma família nobre do reino que, em 1515, perderia a independência passando a integrar a coroa de Castela, Leão e Granada. Aos 19 anos, deixa a sua terra e parte para Paris. Estuda na Sorbonne e no Colégio de Santa Bárbara, uma escola financiada pelo rei português D. João III e dirigida por Diogo de Gouveia.
A Europa cristã vive os tempos de convulsão que se seguem à Reforma proclamada por Lutero contra a riqueza e o poder temporal do Papa. Em Paris, Francisco conhece Inácio de Loiola, tal como ele originário do norte da Península Ibérica (actual País Basco). Francisco converte-se e, em 1534, faz votos religiosos. Ele e Inácio são dois dos primeiros "companheiros de Jesus" (como se designa o pequeno grupo), que começam a encontrar-se com um objectivo: contribuir para a renovação da Igreja Católica em crise, protagonizando novas atitudes missionárias.

"Levar o evangelho"
até ao Japão
Em 1540, o Papa Paulo III aprova a Companhia de Jesus, que se coloca à disposição do papado para o serviço que for necessário à Igreja. O tempo é curto para o gigantismo do que se desenha: D. João III ouve falar do novo grupo, ao qual endereça o convite para evangelizar o Oriente. Inácio envia Xavier.
"Golpe de sorte? Intuição certeira" de D. João III? - pergunta o historiador João Paulo Oliveira e Costa num artigo sobre o rei e o missionário no último número da revista Oriente. Certo é que Xavier inova métodos e acção evangelizadora. E não se contenta em dar apoio aos cristãos da colónia portuguesa na Índia, mas procura "levar o evangelho mais longe", até ao Japão (onde está entre Agosto de 1549 e Novembro de 1551). O que agrada ao rei, que vê na acção do missionário a possibilidade de alargar o Império, nota o historiador.

O "voluntarismo"
e a "segunda conversão"
Com o tempo e a experiência, Xavier muda, ele próprio, de atitude: primeiro, faz baptizados em massa, na Índia. Prega sem se cansar, ensina as orações básicas do catolicismo: "Os braços cansavam-se-lhe e a voz enrouquecia com tanto repetir o Credo e os Mandamentos", escreve o padre jesuíta José Leite (Os Santos de Cada Dia, vol. III).
Num só mês, conta-se, baptiza mais de dez mil pessoas na costa de Pescaria. Um tipo de acção que leva o padre e historiador jesuíta António Lopes a escrever que Xavier manifesta "uma estranha insensibilidade a esse mundo e a essas civilizações prodigiosas" (De Javier a Sanchoão, em São Francisco Xavier - 450 anos da sua morte).
A mudança que se opera em Xavier virá pelo seu "voluntarismo", diz Oliveira e Costa. Não contente com o que via na Índia (e em Goa, nomeadamente), Francisco procura "novos povos que aceitassem o evangelho e a autoridade do Papa". Parte com mais dois companheiros para o Japão, onde chega em Agosto de 1549.

A modernidade
no modo de missionar
Quando chega, Xavier encontra uma cultura superior, na qual aprecia - dirá numa carta desse ano - a cortesia e a sobriedade, o facto de muitos saberem ler e escrever, a racionalidade e a espiritualidade. Muda então o paradigma da sua acção, adaptando-se aos costumes locais, aprendendo a língua e hábitos, como sentar no chão e comer com pauzinhos.
É a sua "segunda conversão", na expressão de António Lopes, quando ele entende que deve abandonar o "espírito de cruzada que até aí alimentara muita da sua própria missionação". Pelo contrário, veste-se como os mais nobres, pois só assim poderia ser escutado, e valoriza o conhecimento científico - uma atitude pioneira, que será depois seguida nos séculos seguintes por centenas de jesuítas.
Esta mudança nos métodos de Xavier levam o historiador António Camões Gouveia, na Oriente, a falar de modernidade no modo de missionar. Que se traduz em algumas características fundamentais: alarga o espaço a evangelizar, exige aos companheiros um ensinamento fundamentado do modo de ser cristão-católico (distinguindo-se do protestantismo nascente), ensina a ler para que os novos baptizados possam aceder aos textos da Bíblia ou das devoções.
Em 1552, depois de ter empreendido uma nova viagem em direcção à China, Francisco Xavier morre na ilha de Sanchoão, sem que o seu novo objectivo se concretize. O corpo regressa a Goa, onde é recebido por uma multidão calculada em 200 mil pessoas, que já lhe reconhece a fama de santidade. O "apóstolo das Índias" ou "São Paulo do Oriente", é beatificado em 1619, canonizado em 1622 e proclamado padroeiro das missões católicas em 1904.

Fonte Público

voltar

Enviar a um amigo

Imprimir notícia