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Memória com emoção
2006-04-09 14:07:43

Um ano depois de tudo se dizer sobre João Paulo II, sobram as palavras e os gestos para alimentar a memória. Nas actuais gerações, sobram principalmente os gestos.

O pensamento do papa polaco fica gravado na história da Igreja. Sendo mais ou menos compreendido e seguido. Mas os gestos permanecem apenas na memória das gerações que com ele se cruzaram. Um filme ou uma reportagem, por mais fiel que seja, não guarda a experiência de milhões de pessoas que, moldadas por uma grande admiração pessoal e formatadas na Fé, viveram a emoção da proximidade a João Paulo II.

Não se esquece, não se repete.

Portador de um magnetismo invulgar, próprio dos grandes mestres espirituais, João Paulo II dava sentido à emoção de cada gesto inesperado.

Com um sentido apurado de oportunidade, não se limitava aos preceitos do "marketing" pontual. Estávamos diante de alguém que não precisava de uma "máquina" de propaganda, por mais eficaz e profissional que seja.

É preciso conhecer minimamente a história de vida de Karol Woityla para se entender a história do pontificado de João Paulo II.

Um ano depois da morte, multiplicam-se as comparações. Mas este é um exercício ingrato. Ao escolher Joseph Ratzinger, os cardeais do Conclave reforçaram a continuidade com diferenças de "estilo", num tempo marcado pela valorização dos "estilos".

Lembrando uma metáfora bíblica, João Paulo II percorreu todo o campo e semeou sem olhar à terra. A fé cristã germinou, mas também a admiração pessoal pelo papa polaco. Esta terá sido a novidade do pontificado de João Paulo II. Pessoa na qual se reconhecia coerência e fidelidade a um projecto.

Bento XVI, em quem João Paulo II colocava toda a confiança, surge como o Papa que dá continuidade ao trabalho de campo do antecessor. Separa agora o fruto da sementeira. Ou seja, clarifica visões "relativistas" de uma certa maneira de viver a Fé.

Na primeira encíclica, "Deus é Amor", Bento XVI começa o trabalho. Sem esquecer outras formas de "amor" e de "amar", recupera e centraliza a mensagem exigente do "Amor" segundo a visão do cristianismo católico. Proposta que tem agora o peso da adesão, ou rejeição, dos homens e mulheres que fazem a Igreja.

Bento XVI está a revelar-se o Papa da sensibilidade e da razão. Aquela razão que indica caminhos concretos e valoriza as normas.

João Paulo II foi o Papa dos gestos e da emoção. Aquela emoção que dava margem para caminhos de improviso e relançava debates.

Joaquim Franco
Jornalista
opiniao@sic.p


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