paroquias.org
 

Notícias






Pesquisa histórica sobre Jesus está em crise na Europa
2006-03-09 22:11:05

O croata Frédéric Manns, que tem estudado o contexto judaico do surgimento do Cristianismo, passou por Portugal para proferir a segunda conferência do seminário internacional sobre o “Jesus histórico” promovido pelo Centro de Estudos de Religiões e Culturas Cardeal Hoffner da Universidade Católica Portuguesa.
Este especialista do Studium Biblicum Franciscanum, de Jerusalém, fala em entrevista ao Programa ECCLESIA da importância dos recentes estudos sobre Jesus e da presença cristã, na Terra Santa, hoje em dia.


ECCLESIA – Há uma vontade menor, nos nossos dias, de mostrar ao mundo a evidência do Jesus histórico?
Frédéric Manns – A Igreja fala, muitas vezes, de Nova Evangelização. Ora, a Evangelização é apresentar a morte e a ressurreição de Jesus como fonte da salvação, que nos apela à conversão e nos dá o perdão dos pecados.
É verdade que a pesquisa histórica sobre Jesus se mudou da Europa para a América, onde hoje decorre a chamada “third quest” (terceira vaga de investigação sobre o Jesus histórico). Os cristãos europeus, contudo, não se podem resignar, não devem ter medo só porque Bultmann disse que não se pode escrever uma vida de Jesus.
Quem conhece bem o judaísmo pode escrever essa vida de Jesus.

E – Há diferenças entre esse Jesus histórico e o Cristo da fé?
FM - São João já colocou essa questão no seu Evangelho, quando mostra o chamamento dos discípulos no primeiro capítulo. Aí vemos a dificuldade de Natanel, que precisou de um sinal para acreditar.
No capítulo 20, é Tomé quem não acredita sem ver, mas recebe uma prova, fazendo uma profissão de fé. Aí, Jesus faz uma promessa: “Felizes os que crêem sem terem visto!”.
Estamos aqui na tensão entre o Jesus da história e o Jesus da fé. O mesmo problema dos discípulos se coloca hoje, para quem acredita em Jesus.

E – As pessoas continuam a querer provas?
FM - Com certeza. Elas sentem a importância da Arqueologia, que deu passos enormes sobre os dados que são apresentados nos Evangelhos.
Todos estes achados são testemunhos de que Jesus esteve entre nós, que não foi inventado, há uma realidade histórica, geográfica e arqueológica.

E – Esses testemunhos não são prova de que Ele era Filho de Deus?
FM - Não, a isso só se pode responder em Igreja, com efeito. O que a Arqueologia nos permite dizer, por exemplo, é que Jesus não foi inventado: há uma história da salvação e há uma geografia da salvação.

Jerusalém, o “quinto Evangelho”
E – Jerusalém é um local sagrado, mas também um sinal da violência entre os homens...
FM -Jerusalém é o nome da própria humanidade e tem uma responsabilidade enorme. Contudo, judeus e árabes proporcionam um espectáculo terrível.
Não se respeitam os Lugares Santos, é essencial dar lugar à liberdade religiosa. Pode-se dizer que Jerusalém é a nossa mãe, cada um nasceu ali, lá está a fonte das nossas religiões.
Por isso, se a fonte apenas apresenta violência, a vocação de dignificação dos povos que esta cidade tem não poderá ser cumprida.

E – Os cristãos na Terra Santa podem ser mediadores no conflito?
FM - Bem, a comunidade cristã representa 2% da população, somos uma minoria, mas com um papel essencial e com uma identidade própria – o que nos permite ser uma ponte entre judeus e árabes.
A verdade é que a maioria dos nossos cristãos são de cultura árabe, mas têm em comum com os judeus o valor da Bíblia. Quem melhor do que os cristãos para construir pontes entre esses dois mundos?

E – Os peregrinos devem começar a chegar à Terra Santa em grande número, durante o tempo da Quaresma e da Páscoa. A vitória do Hamas pode afastar os cristãos?
FM - Não acredito. Neste momento, ainda esperamos pelo resultado das eleições em Israel, mas será necessário que as duas partes dialoguem.
Os cristãos sabem da importância de amar estas populações e sempre superaram as dificuldades. As peregrinações são essenciais para as comunidades, que muitas vezes se sentem esquecidas.
As dificuldades são acentuadas pela construção do muro de segurança na Cisjordânia, que separa os cristãos, um verdadeiro muro de lamentações...

Fonte Ecclesia

voltar

Enviar a um amigo

Imprimir notícia