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O herdeiro de Frère Roger
2006-02-02 21:53:20

De origem alemã, e nacionalidade francesa desde 1984, católico, o irmão Alois nasceu a 11 de Junho de 1954 na Baviera e cresceu em Estugarda. Os seus pais nasceram e cresceram no que era então a Checoslováquia.

Depois de várias passagens por Taizé, ficou como voluntário, ajudando no acolhimento de jovens durante vários meses, antes de receber o hábito de oração da comunidade em 1974. Desde essa data, viveu sempre em Taizé.
Como voluntário e depois como irmão, fez inúmeras viagens aos países da Europa central e oriental, a fim de apoiar os cristãos destes países, então sob influência soviética.
De acordo com a regra de Taizé que tinha publicado em 1953, o irmão Roger, com a concordância dos irmãos, designou-o sucessor na altura do conselho dos irmãos em Janeiro de 1998. Muito cansado pelo peso da idade, o irmão Roger tinha anunciado à comunidade, em Janeiro de 2005, que o irmão Alois iniciaria este ano o seu ministério.
Nestes últimos anos, o irmão Alois coordenou a organização dos encontros internacionais em Taizé e dos encontros europeus em várias metrópoles da Europa. Muito interessado pela música e pela liturgia, também dedicou sempre muito tempo à escuta e acompanhamento dos jovens.

Agência ECCLESIA – Como vai ser a comunidade de Taizé sob a sua orientação?
Irmão Aloïs – Frère Roger deixou-nos um caminho aberto, pelo que nos compete a nós inventar um futuro, para o continuar.
As intuições de base permanecem as mesmas: somos uma comunidade monástica, fundada sobre compromissos para toda a vida; vivemos do nosso trabalho e não de donativos; alguns irmãos vivem noutros continentes para partilhar a existências dos mais pobres; procuramos ser animados pela paixão da unidade dos cristãos, para tornar o Evangelho credível; gostaríamos, por isso, de ir às fontes da fé com todos os que nos vêm visitar
Frère Roger escreveu uma regra para nossa comunidade, a que chamou mais tarde “As fontes de Taizé”, na qual deixa um apelo a viver, em conjunto com todos os irmãos, “uma parábola de comunhão”. A bondade do coração e o perdão são realidades evangélicas que queremos recordar quotidianamente, para nos impregnarmos delas.

AE – Pensar em Taizé é pensar na reconciliação dos Cristãos?
IA – Claro! Senão, Taizé não seria Taizé. Para o irmão Roger, o facto de fundar uma comunidade monástica era já uma opção ecuménica, dado que a vida monástica tinha desaparecido das Igrejas da Reforma e ele vinha de uma família protestante.
Esta comunidade mergulha as suas raízes na Igreja indivisa, para lá do protestantismo, uma comunidade que pela sua própria existência se ligava de maneira indissolúvel à tradição católica e ortodoxa.
É preciso ver bem, contudo, qual é a exigência de hoje. Nós não podemos viver a vocação ecuménica como nos anos 50 ou 60, quando celebrar cada ano a semana de oração pela unidade era já um grande passo.
Hoje, a secularização na Europa e noutras partes do mundo coloca-nos perante outros desafios, sobretudo o de saber como transmitir a fé às jovens.
A busca pela unidade dos cristãos procura-se sem cessar, dado que se ela quisesse apenas colocar-nos uns diante dos outros para discutir, faltaria o essencial.

AE – E o que é o essencial?
IA – O essencial é virarmo-nos juntos para o Cristo sempre vivo, sempre presente. É isso que nós fazemos na oração comum.
Em Taizé, três vezes por dia, com os jovens ortodoxos, protestantes, católicos que ali estão, viramo-nos juntos para Deus e é-nos permitido realizar um sinal da comunhão profunda que une todos os baptizados.
Assim, de facto, queremos antecipar uma unidade visível dos cristãos. Não digo que todas as questões encontrem soluções fáceis, mas as questões que permanecem em aberto não devem impedir-nos de caminhar juntos para Cristo.

AE – Os temas da paz estão cada vez mais presentes na reflexão de Taizé. Porquê?
IA – A paz é uma interrogação que nos toca profundamente. Os jovens também lhe são extremamente sensíveis.
Encontros como o de Milão não são congressos, onde procuraríamos analisar e discutir problemas da sociedade. Os Encontros de jovens constituem, por si só, gestos de paz e de reconciliação: as famílias acolhem estrangeiros, os jovens de diferentes origens escutam-se uns aos outros para além do que os separa, por exemplo jovens sérvios e jovens croatas.
Tudo isto dá um sinal de esperança que mostra que nos podemos avançar rumo à paz: ouvir-nos uns aos outros é um primeiro passo indispensável, que está sempre por dar.
Nós procuramos viver esta abertura ao outro e os jovens interrogam-se sobre como agir para fazer face à violência e às crises internacionais. Numa mesma perspectiva, outros jovens interrogam-se sobre o acolhimento aos sem-abrigo, aos que sofrem por causa da pobreza ou da exclusão, aos imigrados; outros pensam ainda sobre como viver com os crentes do Islão.

AE – No encontro europeu de Milão, na passagem de ano, foram anunciados encontros noutros continentes. Taizé quer chegar mais longe?
IA – Há 28 anos que organizamos um encontro europeu de jovens e isso vai continuar: em 2006 será em Zagreb, na Croácia.
Acontece que, nos últimos anos, jovens de outros continentes também vieram a Taizé, num número cada vez maior. Por isso, colocou-se a questão de responder às suas expectativas.
Consideramos a sua participação nos encontros de Taizé como algo de precioso, porque ajudam os jovens europeus a ver para além da sua situação e das suas dificuldades. A globalização é um caminho irreversível e os cristãos vivem já numa comunhão universal, algo que sentimos fortemente em Taizé como um sinal dos nossos tempos.
Por isso, tínhamos de estar atentos e responder, algo que procuraremos fazer com estes encontros noutros continentes.
Nesta matéria, como noutras, Frère Roger estava à frente do seu tempo, dado que nos anos 70 e 80 já via a necessidade de ir ao encontro dos jovens de outros continentes, tendo ido ele próprio ao México, à Índia e às Filipinas. Nada disto é novo para nós, trata-se de retomar uma das intuições que nos marcaram.

AE – O aumento da presença de jovens de Leste é uma surpresa?
IA - Sim e não. Desde a abertura das fronteiras entre a Europa de Leste e do Ocidente, eles vieram logo, e em grande número. Já desde 1962, alguns irmãos iam a diversos países do Leste, pelo que durante 3 anos visitámos os cristãos dessas localidades, partilhando com eles uma situação difícil.
Obviamente que, nessa altura, não falávamos disso, tudo se fazia com a maior discrição, para não comprometer aqueles que visitávamos. Às vezes era possível promover encontros de jovens neste ou naquele país de Leste e, com a abertura das fronteiras, tornou-se viável promover encontros livremente, pelo que é normal que muitos jovens venham a Taizé.
Estamos, de facto, surpreendidos e felizes porque, ao fim de tantos anos, eles continuam a vier em grande número e encontram-se, na nossa colina, com jovens dos países do Ocidente: sem encontros pessoais, a Europa não de poderá construir.

Fonte Ecclesia

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