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"O nosso compromisso pela unidade dos cristãos continua"
2005-12-27 22:08:43

A morte do mentor de Taizé não mudou a filosofia nem a missão da comunidade monástica. O seu novo prior reforça as ideias de união dos cristãos, de aposta nos jovens e da simplicidade na fé.

A paixão pela unidade dos cristãos está "inscrita na fundação" da comunidade de Taizé, diz o irmão Aloïs, o novo prior dos monges ecuménicos, depois do assassínio do irmão Roger. Em entrevista ao PÚBLICO antes do encontro europeu de jovens em Milão, o novo responsável da comunidade diz que a prioridade continua a ser o acolhimento dos jovens. E o facto de haver cada vez menos jovens nas igrejas exige "uma palavra credível" da parte dos cristãos.
PÚBLICO - A comunidade vai anunciar a realização de vários encontros continentais. Taizé quer chegar mais longe?
IRMÃO ALOÏS DE TAIZÉ - Há anos, para acompanhar os jovens e apoiar a sua esperança, o irmão Roger iniciou a "peregrinação de confiança através da terra" com uma energia inacreditável. Vamos continuar. Cada ano, haverá um encontro europeu: o do próximo ano será na Europa Central. E vamos alargar esta peregrinação a outros continentes: haverá, para já, um encontro na Ásia, em Outubro de 2006. Ir às fontes da fé e procurar construir a paz: eis o que nos vai guiar nesse caminho.
Tem ideias que gostaria de concretizar como prior da comunidade?
Gostaria de tudo fazer para que a benevolência, a bondade do coração, sejam sempre o mais importante da nossa vida comum. É exigente. É um desafio que queremos aceitar para que o evangelho possa ser comunicado através da nossa vida.
A sua tomada de posse foi feita sem conclave, sem entronização. A vida dos cristãos e da Igreja deveria ser mais simples, como tantas vezes se insiste em Taizé?
Somos uma pequena comunidade e não pretendemos dar lições a ninguém. Quando o irmão Roger envelheceu, fomos como que atirados para uma situação completamente imprevisível. Depois da sua morte, deixámo-nos literalmente guiar, hora a hora, o mais simplesmente possível. Não havia outra possibilidade. E sentimos que Deus estava próximo e nos apoiava.
Alguns protestantes franceses criticam o que consideram a excessiva catolização de Taizé. Agora, com um católico como prior, esse risco acentua-se?
O facto de eu ser originário da Igreja Católica é apenas um sinal de que o nosso compromisso pela unidade dos cristãos continua. A paixão da unidade está tão inscrita na fundação da nossa comunidade! Continuamos a acolher jovens de todas as tradições cristãs, encorajamo-los a comprometerem-se na igreja local, descobrindo que existe uma comunhão entre os baptizados e que em Cristo estamos já unidos
A opção pela reconciliação dos cristãos continua em Taizé? Com que caminhos?
A prioridade, para nós, é o acolhimento dos jovens. E, em todos os países europeus, vemos que os jovens são cada vez menos numerosos a frequentar as igrejas. Como ter uma palavra credível e continuar separados? Já quando era jovem, o irmão Roger punha a questão: como é que os cristãos podem falar de um Deus de amor e continuar divididos?
A carta do ano passado intitulava-se Um Futuro de Paz. A deste ano começa por falar da paz e diz que a paz mundial é urgente. De que modo pode cada pessoa contribuir para a tornar mais efectiva?
O irmão Roger sempre nos entusiasmou a ir ao encontro das situações onde os homens, as mulheres, as crianças sofriam, a não ter medo de tocar de perto tais situações. Se nós temos irmãos que vivem nos continentes do sul, muitas vezes partilhando as condições de pobreza daqueles que os envolvem, se prosseguimos depois de tanto tempo os encontros de jovens em Taizé ou outros lugares, é para participar na construção da paz, através de uma compreensão mais profunda entre os seres humanos. Se não, como ultrapassar as desconfianças e os preconceitos?
O irmão Roger escreve que a morte de um próximo é um sofrimento "que marca particularmente". De que modo a comunidade fez essa experiência com a morte do irmão Roger?
A sua morte trágica criou um vazio enorme e perturbou-nos. Mas vivemos também o tempo que se seguiu no reconhecimento daquilo que ele nos deixou. Este reconhecimento foi partilhado connosco por uma multidão incontável e isso apoiou-nos e consolou-nos. Éramos como que levados por Deus.
A confiança era uma palavra-chave na vida do irmão Roger. Pode dizer-se que foi a confiança sem limites que possibilitou as condições da morte dele?
Sim, pela sua morte o irmão Roger como que sublinhou a mensagem da sua vida que se tornou cada vez mais simples: confiança, paz, reconciliação. A sua morte foi como um uma confirmação da sua vida. Podemos dizer agora que essa palavra "confiança" não era vazia ou fácil. Através dessa palavra, o irmão Roger queria dirigir a todos um convite a abrir-se. Ele disse muitas vezes que a fé não estava reservada só a alguns: todos podem acolher o amor de Deus e assumir os riscos de o viver.
Se lhe pedisse para concluir a frase inacabada do irmão Roger, como a concluiria?
A frase não se acaba exactamente por palavras, é pela nossa vida que a devemos completar. "Ama e di-lo com a tua vida": esta palavra de Santo Agostinho era cara ao irmão Roger, é isso que desejamos viver dia após dia.

Por António Marujo

Fonte Público

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