paroquias.org
 

Notícias






Lições do Concílio ainda não chegaram a toda a Igreja
2005-12-22 21:43:49

Bento XVI considera que as lições do II Concílio do Vaticano, concluído há 40 anos, ainda não chegaram a toda a Igreja.

“Ninguém pode negar que, em vastas partes da Igreja, a recepção do Concílio decorreu de uma forma muito difícil”, disse no discurso que proferiu perante os membros da Cúria Romana, um dos mais importantes do ano.
Interrogando-se sobre qual teria sido o “resultado do Concílio”, o Papa – que na altura da realização deste grande evento eclesial era um jovem teólogo – explicou que os problemas surgidos com a sua aplicação se relaciona com “o facto que duas hermenêuticas contrárias se tenham confrontado e litigado entre si”.
Para Bento XVI, “de um lado existe uma interpretação que gostaria de chamar ‘hermenêutica da descontinuidade e da ruptura’”, a qual, segundo o Papa, é a mais favorecida pelos Media e por uma parte da teologia moderna. Do outro lado estaria a “hermenêutica da reforma”, que promove “uma renovação na continuidade do único sujeito-Igreja, que o senhor nos deu, um sujeito que cresce no tempo e se desenvolve, permanecendo sempre, porém, o mesmo, único sujeito do Povo de Deus em caminho”.
Bento XVI criticou os defensores da “hermenêutica da descontinuidade”, por consideraram que os textos conciliares não seriam a verdadeira expressão do Concílio, mas “o resultado de compromissos nos quais, para se chegar à unanimidade, se teve de incluir muitas coisas velhas que seriam, agora inúteis”. O Papa considera que esta postura provoca a “confusão” ao defenderem que se deve seguir “não os textos do Concílio, mas o seu espírito”, deixando em aberto uma grande margem de subjectividade.

Reforma na continuidade
O discurso papal deixa claro que o Concílio operou uma reforma na continuidade, citando os dois Papas que o promoveram, João XXIII e Paulo VI, para quem era importante “transmitir de modo novo” a verdade de sempre.
“Quarenta anos depois do Concílio, podemos dizer que há mais coisas positivas e vivas do que poderia parecer na agitação dos anos em volta de 1968. Hoje vemos que as boas sementes, apesar de se desenvolverem lentamente, crescem e, assim, cresce também a nossa profunda gratidão pela obra desenvolvida pelo Concílio”, acrescentou.
Segundo o Papa, muitos são tentados a seguir uma hermenêutica da descontinuidade por acreditarem que nela se abriria uma nova forma de relação entre a Igreja e a idade moderna, relação essa que, como lembrou Paulo VI no discurso conclusivo do Concílio, teve um início problemático com Galileu, continuando na filosofia de Kant e nas questões da Revolução Francesa.
Bento XVI assinala, contudo, que a própria idade moderna conheceu novos desenvolvimentos, começando por uma nova relação entre Igreja-Estado, e que se provou, no período entre as duas Guerras Mundiais e no pós-guerra que “pode existir um Estado moderno, laico, que não seja, todavia, neutro em relação aos valores, mas que beba das grandes fontes éticas do Cristianismo”. Outras mudanças aconteceram na relação fé e ciências modernas, não apenas no plano das ciências naturais, mas também nas ciências históricas, com especial impacto na interpretação da Sagrada Escritura.
Também o problema da “tolerância religiosa” exigiu da parte da Igreja” uma nova definição da relação entre a fé cristã e as religiões do mundo”, prosseguiu o Papa, dando especial destaque às relações com o Judaísmo.
A questão da liberdade religiosa surgiu contraposta à tentação do relativismo como opção de vida. "Uma Igreja missionária deve empenhar-se pela liberdade da fé e assegurar aos povos e seus Governos que a fé não destrói a sua identidade, nem a sua cultura, mas que, pelo contrário, é portadora de respostas dirigidas ao mais íntimo do homem e à paz entre os povos", indicou.

Desafios para o futuro
Todos estes temas implicam, de alguma forma, momentos de descontinuidade, como o próprio Bento XVI reconhece, sem que isso implique o abandono da “continuidade dos princípios”.
“O Concílio Vaticano II, com as novas definições da relação entre a fé da Igreja e certos elementos essenciais do pensamento moderno, reviu ou corrigiu algumas decisões históricas, mas nesta aparente descontinuidade manteve e aprofundou, contudo, a sua natureza íntima e a sua verdadeira identidade”, defendeu o Papa.
“A Igreja é, tanto antes como depois do Concílio, a mesma Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica em caminho através dos tempos”, precisou.
Perante os novos desafios que se colocam aos católicos, Bento XVI lembra que o Concílio não aboliu “a contradição do Evangelho no confronto com os perigos e os erros do homem”, pelo que se deve apresentar a exigência desta mensagem “em toda a sua grandeza e pureza”.
“O passo dado pelo Concílio rumo à idade moderna, que de modo muito impreciso é apresentado como ‘abertura para o mundo’, pertence em definitivo ao perene problema da relação entre fé e razão, que se apresenta sempre em novas formas”, destacou.
Em conclusão, o Papa fala com “gratidão” do Concílio Vaticano II, deixando um conselho: “se o lermos e recebermos, guiados por uma justa hermenêutica, ele pode ser e tornar-se, cada vez mais, uma grande força para a sempre necessária renovação da Igreja”.

Fonte Ecclesia

voltar

Enviar a um amigo

Imprimir notícia