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O evangelho do discípulo
2005-12-12 22:20:09

S. Marcos escreveu o seu evangelho para que os leitores, principalmente os pagãos, se entusiasmassem por Jesus Cristo. Marcos usa pela primeira vez a palavra «evangelho» com o significado de «boa nova» para levar os seus destinatários, tanto os do seu tempo como os actuais, a se tornarem discípulos e pôr-se a caminho seguindo o seu Mestre e Senhor.

1. Descobrir a identidade de Jesus é um caminho longo e o discípulo, para reconhecer em Jesus de Nazaré o Messias, o Filho de Deus, precisa de segui-lO sempre até no caminho da Cruz.
«Quem é este… e vós quem dizeis que eu sou?» (Mc. 4, 41; 8, 29). Estas interrogações atravessam todo o evangelho de Marcos tanto na boca dos discípulos como nos adversários do Mestre. Esta pergunta tem por finalidade levar o leitor a dar uma resposta pessoal, a fazer um acto de fé. No começo do Evangelho João Baptista mostra aquele que é «mais forte do que ele» e convida o povo a preparar-lhe o caminho. Jesus juntou-se aos pecadores no rio Jordão e vem pedir o baptismo. Deus Pai proclama-O seu «Filho predilecto». Desta forma, desde o princípio do evangelho o discípulo está consciente que Jesus é o Filho de Deus e que o Espírito Santo desceu sobre Ele.
Como pode o leitor compreender que o Filho de Deus se aliste entre o número dos pecadores necessitados do baptismo de penitência? Parece uma contradição, o Santo, o Filho de Deus carece de baptismo, ele que vem baptizar no Espírito Santo? Com estas interrogações o leitor deve continuar a aprofundar o conhecimento daquele Mestre que convida a seguir após Ele.
Por ocasião da tempestade no Lago da Galileia, amainada por Jesus, os discípulos interrogam-se uns aos outros: «quem é este a quem o vento e o mar obedecem?» (Mc. 4, 41).
Só os demónios parecem conhecer a identidade de Jesus (cf. Lc. 1, 24), mas o Mestre proíbe-os de falar, para que a sua obra, associada às curas e exorcismos, continue segundo o plano de Deus.
O momento central para conhecer Jesus, aconteceu na cidade de Cesareia de Filipo, junto do actual Golan: «Que dizem os homens que eu sou… e vós que dizeis que eu sou?» (Lc, 8, 27).
Pedro, inspirado pelo Espírito Santo faz uma profissão de fé e responde: «Tu és o Cristo». O Mestre é o Messias esperado pelas gerações que se sucederam desde Abraão até a aurora dos novos tempos.
A revelação mais profunda da identidade de Jesus é dada por um pagão junto da cruz: «Verdadeiramente este homem era o filho de Deus». Não é um discípulo, mas um estrangeiro, originário do império romano, que define da forma mais completa e mais bela quem é este Jesus que em todo o evangelho aparece e se esconde.
Só à luz da paixão, morte e ressurreição é possível descobrir quem é Jesus, o Filho de Deus, nascido da Virgem Maria.
O Jesus de São Marcos é um peregrino sempre a caminho em direcção a Jerusalém, dirigindo-se determinado para um momento dramático de sofrimento e morte.

Participar no seu destino
2 - Todos aqueles homens e mulheres que desde o Jordão se tornaram discípulos e O seguem, participam no mesmo destino de sofrimento, incompreensões e luta: «Se alguém quer vir após mim, renegue a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me» (Lc. 8, 34).
A doutrina de Jesus mostra o poder de Deus, a autoridade tão diferente da dos outros doutores da Lei.
A palavra do Mestre suscita a admiração e louvor, cura doenças, expulsa o demónio, atrai multidões, e ao mesmo tempo, Marcos mostra a oposição crescente dos diversos grupos de adversários, até à decisão última de o sacrificar.
A incompreensão atinge os seus familiares, os habitantes de Nazaré e até dos discípulos quando chega o momento final da sua morte.
A sua autoridade passa pelo serviço humilde, a sua glória de Filho de Deus esconde-se na debilidade da natureza humana.
O Messias esperado é um servo que no sofrimento cumpre na obediência a vontade do Pai, e salva o mundo. Extremo paradoxo para o discípulo que segue Jesus e tem de percorrer o mesmo caminho.
Per crucem ad lucem. Não se chega à luz sem passar pela cruz!

João, o que baptiza
3 - O tempo de Natal que se aproxima, o mistério da Encarnação que nos deleita com a narração da infância de Mateus e Lucas, culmina no Mistério da Redenção.
Natal e Páscoa fazem parte do mesmo plano de salvação, são duas faces da mesma medalha.
Marcos, o primeiro evangelista a escrever, não começa com o nascimento de Jesus, mas com o mensageiro João Baptista a pregar um baptismo de conversão, a anunciar factos novos e decisivos que dizem respeito ao plano de Deus sobre a libertação do homem.
Um deserto, um caminho, uma voz.
O deserto indica uma experiência religiosa muito intensa, nova e decisiva que João começou a percorrer como o antigo Israel de Deus através da montanha do Sinai.
O caminho a preparar é uma orientação nova e total, mudança de mentalidade interior que conduz ao arrependimento e perdão dos pecados.
A voz é o apelo à conversão porque começa um novo Êxodo, uma nova libertação dada por Jesus.
João Baptista começou no deserto o caminho do seu discipulado, só em Jesus ele encontrou sentido para o mistério do seu nascimento e da sua vida.
Ele é mais do que profeta, João encarna todo o Antigo Testamento na espera do juízo de Deus e na libertação do pecado. João é uma porta que abre para a novidade absoluta do evangelho. O seu baptismo prepara o baptismo de Jesus no fogo e Espírito Santo. Daqui nasce o apelo vigoroso à conversão, ao Deus que já está presente em Jesus Cristo.
Marcos traça desde o início o seguimento de Jesus (Mc. 1, 16-21) que foi sentido vivamente pelos apóstolos e primitiva comunidade cristã.
Marcos aproxima-nos de Isaías quando este fala do «Menino que nos foi dado e nasceu para nós».
Jesus Cristo não está fora da nossa terra, da nossa vida e da nossa história. Deus está aqui na pessoa de Jesus, Ele nada tira ao homem, a sua pessoa é a nossa vida presente e futura.
João, a voz, indica a estrada, a mudança total e contínua, em direcção ao futuro e a tudo o que de novo Deus faz nascer, no coração dos homens.
A «voz» é um grito de alegria porque o homem prisioneiro foi libertado. Deus está connosco. Eis o Natal!

Funchal, 11 de Dezembro de 2005

† Teodoro de Faria, Bispo do Funchal

Fonte Ecclesia

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